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02/03/2016

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: O Estado-galinha sustenta-se dos Pais-galinha

«Uma das medidas mais extraordinárias deste Governo, ou mais estupidamente extraordinárias, é a da extensão da ADSE, o subsistema de Saúde dos funcionários públicos, a filhos até aos 30 anos. Em que consiste exatamente, para efeitos de proteção social, a figura do "filho" de 30 anos? Qual a sociedade avançada, ou mesmo a sociedade primitiva e tribal, em que um adulto de pleno direito, com idade para ser pai/mãe de família, e que deveria ser idealmente pai/mãe de família, deva ser considerado um filho - família, dependente do sistema de Saúde dos pais? Bom, parece que será apenas, para efeitos restritos, um filho de 30 anos que viva em casa dos pais e que não exerça atividade remunerada. Foi o que li em todas as notícias. Ou seja, um desempregado que vive à custa dos pais e que não foi encorajado a deixar de depender dos pais. E não estamos a falar, penso, de filhos com deficiências ou incapacidades que gerem a dependência, e sim de filhos adultos sem modo de vida autónomo. Ou com modo de vida que escape ao controlo da lei, o que não será difícil. Todos sabemos que a crise e a austeridade geraram modelos abstrusos de convivência social em que filhos de 30 anos vivem em casa dos pais e à conta dos pais, e mesmo das pensões dos pais, mas não podemos culpar a crise e a austeridade de um estado de coisas que em Portugal é socialmente aceite como normal há décadas. A do filho que não mexe uma palha para se desenvencilhar, não arranjou emprego, não tentou arranjar emprego, não emigrou, não se safou. Se aos 30 anos não saiu de casa, é menos provável que venha a sair aos 35 ou aos 40 anos. Em muitas famílias, a situação é considerada normal e convida-se o filho hiperprotegido, com o seu iPhone e o seu bilhete do concerto rock, a deixar- se estar. O Estado, tal como os pais, vela por ele. Na minha geração, como nas anteriores e nas seguintes, os filhos saíam de casa para se casarem ou porque os pais tinham dinheiro para lhes comprar uma casa, depois de terem comprado o primeiro carro. Era socialmente aceitável, num país europeu no final do século XX, que os pais continuassem a pagar as despesas e os luxos do filho além da sua capacidade económica. A alternativa era a permanência em casa. Em Portugal, nunca se encorajou a saída de casa aos 20 anos de idade, nem a partilha de apartamentos ou casas alugadas por jovens que se recusem a ficar em casa dos pais. Isto só acontecia quando os jovens saíam de casa para irem estudar numa universidade longe, obrigando-os a cortar com os maus hábitos, a lavandaria em casa da mãe, a empregada da mãe, a cozinha da mãe e a cama feita pela mãe.»

Excerto de «Filhos de um Estado-galinha» de Clara Ferreira Alves (é capaz do melhor e também do pior) na Revista do Expresso.

2 comentários:

Anónimo disse...

Até posso concordar com o que a CFA diz. Neste caso. Até porque não citou três autores americanos e não falou da sua última passagem por Nova Iorque onde se perdeu naquela livraria que todos conhecemos ao lado da padaria francesa super prática.

Mas continuo a pensar que faz parte do grupo de jornalistas e comentadores (cada vez consigo distingui-los menos) que baseiam a sua vida no "achismo". Eu acho isto, eu acho aquilo. Pior, o que acho está alicerçado no que ele diz que acha do que o outro achou.

A frase «Foi o que li em todas as notícias» ilustra bem o que quero dizer.

Agent Provocateur

Anónimo disse...

Quando os responsáveis pela hiperprotecção ficarem inválidos ou morrerem, o que irão fazer os hiperprotegidos. Roubar, chular, negócios ilícitos ou lavagens de dinheiro. Uns azeiteiros de bardamerda.
O portuga sempre foi estúpido, mas há excepções que justificam a regra.
Como estúpidos, são os responsáveis pelo estado da nacinha e pelo estrondoso nível de governação da nacinha.
Agora, como é uso dizer, palhaços.