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13/07/2012

O SNS poderá falecer dos cuidados intensivos

As greves dos médicos e dos enfermeiros são anunciadas para defesa do SNS. Parece paradoxal mas talvez não seja. Afinal o SNS existe para os médicos e os enfermeiros pela mesma razão que o ministério da Educação existe para os professores: para lhes dar emprego.

E para defender o SNS todas os pretextos são bons. Como, por exemplo, as queixas do bastonário da Ordem dos Enfermeiros da «exportação» de enfermeiros para o estrangeiro ao ritmo de 10 por dia, queixas partilhadas pelo bastonário dos Médicos.

Contudo a realidade é um pouco mais complexa do que as bastonadas. A começar porque cerca de 10% dos médicos a exercer medicina em Portugal são estrangeiros porque o número de licenciados em medicina tem sido insuficiente porque, como é do conhecimento público, o lóbi dos médicos tem conseguido elevar para níveis estratosféricos as notas mínimas de admissão para tornar rarefeita a oferta. Isso explica que existam cerca de 1.300 estudantes de medicina no estrangeiro (Fonte).

A continuar, espanhóis (sobretudo galegos) serão cerca de 1.800 médicos e 1.000 enfermeiros. O que aliás explica a existência de uma Associação de Profissionais de Saúde Espanhós em Portugal (apsep). E existem igualmente pelo menos 40 cubanos cujos contratos foram já este ano renovados, 42 colombianos, entre outras nacionalidades, totalizando cerca de 4.000. Por falar nisso, recorde-se que a razão principal para estas «importações», como diria o bastonário dos enfermeiros, tornaram necessárias pela indisponibilidade dos profissionais portuguess de irem defender o SNS para o interior.

Estranhamente, perante esta realidade, o bastonário dos médicos disse recentemente que «um estudo em 2002 calculou que o país precisaria nos próximos anos de 1175 médicos formados por ano. Já estamos a formar 1500 e dentro de pouco teremos 600 a mais. Os médicos a mais são prejudiciais para os doentes: serão indiferenciados, por não haver internato para todos e contribuirão para a mercantilização da medicina

É por estas e por outras que me parece deverem os sujeitos activos do SNS («utentes») e sobretudo os sujeitos passivos (os contribuintes para o SNS) ficar preocupados com a defesa do SNS a cargo destas corporações - uma espécie de bombeiros incendiários.

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