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25/04/2021

DIÁRIO DE BORDO: Um 25 de Abril impertinente. A tradição aqui ainda é o que sempre foi

O meu 25 de Abril foi o dia em que comecei a descobrir que as coisas não eram o que pareciam ser.

Em que comecei a descobrir que o país estava coalhado de democratas, socialistas e comunistas nunca antes vistos, nascidos nos escombros do colapso por vício próprio do edifício decadente do Estado Novo. Pouco a pouco, nos dias e meses seguintes, para minha surpresa, o coalho derramou-se pelo país numa maré do coming out, como lhe chamaríamos hoje. Em cada empregado servil, venerador, de espinha dobrada e mão estendida, havia um heróico sindicalista pronto a lutar pelos direitos dos trabalhadores e pelo «saneamento» do patrão.

Em que comecei a descobrir como tinha sido possível o marcelismo ter-se mantido de pé 6 longos anos, depois do Botas ter caído da célebre e providencial cadeira. Que nunca tinha havido uma oposição digna desse nome. Que a mole imensa do povinho lá tinha feito pela vidinha, esgueirando-se pelas frestas das fronteiras, pelas cunhas da tropa e pelas veredas das guerras do ultramar.

Em que comecei a perceber que o leitmotiv do drama não era uma ditadura suportada por uma direita retrógrada e infinitamente estúpida. Nem era uma ditadura provinciana, bafienta, decadente, de brandos costumes, que mantinha um número de presos políticos que envergonharia qualquer ditadura à séria (112, depois dum mês agitado de prisões).

Em que comecei a perceber que também não era a guerra colonial, que em 25 anos fez o equivalente ao número de mortos de 4 ou 5 anos de guerra rodoviária. Nem a guerra cujo fim foi uma humilhante fuga às responsabilidades (nem mais um só soldado para as colónias, berravam os bloquistas avant la lettre) que desencadeou em Angola, Moçambique e Timor a enorme hecatombe humana dos 20 anos seguintes.

Em que comecei a perceber que o leitmotiv do drama era a resposta à pergunta: como foi possível a uma tal ditadura manter-se quase 50 longos anos sem ter sido seriamente ameaçada?

Em que comecei a perceber que o 25 de Abril foi princípio do fim das nossas desculpas como povo. Que nada adiantaria sacudir a água do capote, e mandar a coisa para cima dos eles que escolhemos para nos desgovernarem.

E foi neste 25 de Abril que descobri que já não me restava pachorra para aturar, mais um ano, as comemorações do gang do esquerdismo senil que se julga proprietário da data.

[Este post foi publicado no trigésimo aniversário da chamada revolução dos cravos e republicado posteriormente. Hoje poderia escrever o mesmo, mas não foi preciso porque já estava escrito.]

3 comentários:

Anónimo disse...

"Em que comecei a perceber que o leitmotiv do drama era a resposta à pergunta: como foi possível a uma tal ditadura manter-se quase 50 longos anos sem ter sido seriamente ameaçada?"

Caro Senhor

Talvez a resposta mais simples à sua pergunta que acima transcrevo seja muito simples: 16 de república jacobina que destrui o país em termos económicos, sociais e culturais, e nos envolveu desnecessariamente numa guerra ( A grande guerra) em que morreram mais Portugueses do que na dita guerra do ultramar".

Só receio é que, daqui a alguns decénios, alguém venha a fazer idêntica questão...

Melhores cumprimentos

Vasco Silveira

Anónimo disse...

O Senhor «nónimo» V.S. é engraçado. Mantém, sempre, umas escritas calmas, tranquilas, bem-educadas. E Pertinentes [tinha que ser].
Muito bom post, com o seu comentário a condizer.
Abraço

Bilder disse...

Cem anos depois do 28 de Maio de 1826 e da Revolução Liberal( Uma Cronologia histórica ) veio o 28 de Maio de 1926 o qual terminou com a 1ª República criada em 1910.

Passo a transcrever um documento assinado por Gomes Da Costa após a Revolução de 1926:

"Portugueses!
A Nação quer um Governo Militar,rodeado das melhores competências,para instituir,na administração do Estado,a disciplina e a honradez que há muito perdeu.
Empenho a minha honra de soldado na realização de tão nobre e justo propósito.Não quer a Nação uma ditadura de políticos irresponsáveis,como tem tido até agora.Quer um Governo forte,que tenha por missão salvar a Pátria,que concentre em si todos os poderes para,na hora própria,os restituir a uma verdadeira representação nacional,ciosa de todas as verdades -- representação que não será de quadrilhas políticas --dos interesses reais,vivos e permanentes de Portugal.
Entre todos os corpos da Nação em ruína,é o Exército o único com autoridade moral e força material para consubstanciar em si a unidade de uma Pátria que não quer morrer.
À frente do Exército Português,pois,unido na mesma aspiração patriótica,proclamo o interesse nacional contra a acção nefasta dos políticos e dos partidos e ofereço à Pátria enferma um Governo forte,capaz de opôr aos inimigos internos o mesmo heróico combate que o Exército deve aos inimigos externos.
Viva a Pátria!
Viva a República!

Gomes Da Costa, General,Comandante em Chefe do Exército nacional."


Esse texto foi retirado do Livro " História Do 28 de Maio" de Eduardo Freitas Da Costa.