Apesar de arriscar agoniar os leitores vou ainda abordar as trapalhadas da Caixa, lembrando que as preocupações por parte da geringonça de protecção dos dados pessoais de Centeno e Domingues (como se pudessem ser considerados pessoais comunicações sobre uma empresa pública entre duas pessoas que exercem ou vão exercer cargos públicos e, ainda para mais, quando a empresa pública em questão pagou os advogados e a consultoria de Domingues) foram alegremente esquecidas quando se tratou do inquérito ao GES (um grupo privado, recorde-se) em que a esquerdalhada exigiu acesso aos emails trocadas entre os vários figurões que nem sequer exerciam cargos públicos (sem prejuízo do DDT subornar os que exerciam esses cargos).
Recorde-se também que um governo que bramiu insinuações a propósito da transferência dos 10 mil milhões para offshores (conferir as not Frequently Asked Questions acerca do caso) está a tentar esconder os empréstimos da Caixa concedidos aos amigos do regime pela administração dos apparatchiks de Sócrates durante o seu governo.
Depois da leitura das citadas not FAQ, recomendo a leitura da seguinte frase de Costa no parlamento que deve constituir um novo record de demagogia e insulto à inteligência de quem o ouvia: «é absolutamente escandaloso que um governo que não hesitou em acabar com a penhora da casa de morada de família por qualquer dívida tenha tido a incapacidade de verificar o que aconteceu com 10 mil milhões de euros que fugiram do país».
Ficou agora claro que um dos custos da «reversão» da privatização da TAP foi o governo ter ficado no colo com a renegociação das dívidas e a garantir o seu pagamento.
Segundo os dados publicados pelo Expresso este fim de semana, entre o final de 2011 (o primeiro ano do resgate) e 2016 os efectivos da função pública reduziram-se de 727 mil para 664 mil. É preciso acrescentar que a redução superior a 63 mil se deu exclusivamente até 2014, já que em 2015 e sobretudo em 2016 os efectivos voltaram a aumentar. Convirá saber que, segundo o levantamento feito pelo governo, se encontram na fila para somar aos 664 mil mais cerca de 40 mil «precários» (a propósito leia-se o artigo de José Manuel Fernandes «E porque não se calam com isso dos “precários”?»).
Em conclusão, com a redução em marcha do número de alunos por turma para contratar mais professores, num país que já tem um dos números mais baixos por professor entre os membros da OCDE, e com mais uns aconchegos para colocar boys, a geringonça deixará de herança quase o mesmo número de utentes da vaca marsupial pública existentes no ponto que os seus predecessores socialistas chefiados pelo grande líder Sócrates deixaram a administração pública.
Por tudo isso, é bom sabermos que Costa, falando pela boca do seu adjunto Eduardo Cabrita em entrevista ao
Forças políticas que na oposição bramiam furores contra a suposta governamentalização do regime, agora que controlam o governo borrifam-se para a oposição no parlamento. Alguns exemplos: não foram respondidas quase 1.400 (mais de 60% do total) das perguntas e requerimentos ao ministério da Educação; foi feito tudo para evitar o inquérito parlamentar à nomeação da administração de Caixa.
Numa economia descapitalizada de um país endividado, o investimento estrangeiro é crucial para o crescimento. Veja-se o diagrama seguinte e tenha-se em conta que uma parte significativa, e a que mais cresceu, é o investimento imobiliário que nada acrescenta à capacidade produtiva do país.
Jornal de Negócios |
É um sinal dessa ilusão é o aumento de 44% do crédito à habitação para acrescentar mais casinhas às mais de 700 mil não habitadas.
Ainda quanto ao grande sucesso da execução orçamental de 2016 que deu o prodigioso défice de 2,1%, vamos aguardar os números em contabilidade nacional e, entretanto, não esqueçamos que um dos factores do milagre escondido debaixo do tapete foi o aumento da receita do ISP (alegadamente para cobrir a redução de IVA proveniente dos baixos preços do petróleo) que era para ser de 465 milhões e ficou em 1.142 milhões e que o diferencial que tinha sido prometido devolver foi esquecido. O outro facto foi o chutar para a frente, decorrente do expediente das cativações, dos pagamentos das entidades públicas que no final de Outubro estavam em quase 1.200 milhões de euros.
É claro que tudo isto não impede o optimismo de Costa - uma reedição do mesmo optimismo suicidário de Sócrates - no que não é acompanhado, uma vez mais, nem pelo FMI que vê a economia vulnerável com baixo potencial crescimento, nem pela Comissão Europeia que além disso ainda ameaça com uma multa de 190 milhões de euros - ler aqui um bom resumo do que pensa a troika.
Inevitavelmente há algumas áreas que a gestão ruinosa do Estado pela geringonça não atingiu (ainda?), como o comércio externo em que a exportação de bens aumentou 0,3% (muito menos do que nos anos anteriores) e de serviços, principalmente turismo que aumentou 4,4%,
Tem sido este comportamento do sector exportador que está a permitir desde 2012 reduzir gradualmente o endividamento do sector privado não financeiro que, ainda assim, com 3,9 vezes o PIB é dos mais altos do mundo. Em consequência, também a dívida externa líquida tem vindo a descer, apesar de ainda representar 95% do PIB.
Uma última palavra de homenagem ao grande criador de «factos alternativos» António Costa que só no últimos debate parlamentar produziu mais quatro: a respeito da Caixa, do ISP, da eletricidade e do Novo Banco.
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