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13/02/2017

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (70)

Outras avarias da geringonça.

Na semana que terminou, a OCDE divulgou o seu relatório sobre Portugal ao qual houve duas reacções notáveis: a do presidente dos Afectos para o qual está tudo como dantes, quartel-general em Abrantes, e a do ministro das Finanças que nas trombas de Angel Gúrria, o secretário-geral da OCDE, acusou «as instituições internacionais de falharam as suas previsões e não compreenderem a essência da política económica do Governo». Ele que, como se sabe, está a pôr em práticas políticas contraditórias com as que anunciou e tem sido um prodígio em matéria de previsões.

E o que conclui o relatório da OCDE? Ora, nada de surpreendente para quem tenha andado pelo planeta Terra nos últimos meses. Que foram as (poucas) reformas estruturais entre 2011 e 2014 que sustentaram a (pouca) recuperação da economia, reformas ajudadas pelo quantitative easing do BCE e os baixos preços do petróleo; que o crescimento anémico continuará anémico (1,3% em 2017); que o aumento do salário mínimo irá impedir a descida mais forte do desemprego; que a redução do IVA da restauração não criará emprego e só favoreceu os consumidores com maior poder de compra; que a queda do investimento comprometerá o crescimento futuro; que a falta de ímpeto reformador da geringonça piora o clima de negócios; que o elevado malparado da banca limita a capacidade de financiamento; que os efectivos da função pública estão a aumentar; que há polícias e professores em excesso; que os direitos adquiridos prejudicam os trabalhadores mais novos; que a generosidade das pensões é insustentável para os jovens e futuros pensionistas; etc. Um etc. bastante grande. Tirando isso, corre tudo pelo melhor, como diz o Costa.

Estima-se que a Formação Bruta de Capital Fixo tenha contraído 1,7% o ano passado depois de um crescimento de 4,5% em 2015. A propósito veja-se a evolução prevista do potencial de crescimento da economia (fonte) para se perceber melhor as consequências da falta de investimento que, mais do que comprometer o crescimento a curto prazo, está a descapitalizar a economia comprometendo o crescimento a longo prazo.


Para tapar o sol com uma peneira, Costa apresenta o «Programa de Valorização das Áreas Empresariais» que em 5 anos prevê investir 180 milhões de euros, ou seja 20% dos 900 milhões que de uma só vez o governo cortou no investimento orçamentado em 2016.

Se o crescimento (por inércia?) das exportações foi positivo nos 3 primeiros trimestre (no 3.º teve a ajuda da venda dos F16 à Roménia), crescimento muito celebrado por Costa em coro com o presidente, no final do ano ficou-se por menos de 1% (contra 3.7% em 2015) e foi o pior crescimento desde 2009. Por isso e pelo aumento de 1,2% das importações, o défice da balança comercial aumentou quase 280 milhões. É claro, como seria de esperar, a máquina de propaganda do governo mandou logo a seguir o calimero ministro da Economia anunciar que «Janeiro foi um bom mês em termos de exportações».

Não é só a OCDE que não vê as maravilhosas realizações da geringonça. A agência Moody's sublinha a extrema fragilidade da banca e vê riscos na dependência do governo em relação aos partidos da extrema-esquerda. O Instituto económico Ifo de Munique vê o clima económico a melhorar em toda a Europa, excepto em Portugal, Grécia e Itália.

Quanto à dívida pública continua o seu belo trajecto confirmando a crescente insustentabilidade. Repare-se no crescimento da dívida líquida de 14 mil milhões em dois anos, cortesia do ano pré-eleitoral do governo PSD-CDS e do primeiro ano da geringonça.

Fonte
Por isso, só os distraídos se admirarão com o aumento dos custos de financiamento. Exemplos: as emissões de OT a 7 anos aumentaram nos últimos 8 meses para o dobro de 1,8% para 3,7%; o prémio de risco da dívida portuguesa é agora o mais alto desde Fevereiro de 2014.

Não satisfeito com os 116 mil «precários» que, sob pressão de comunistas e bloquistas, se prepara para «vincular» como utentes vitalícios da vaca marsupial pública, o governo pretende também dar autonomia às câmaras para contratarem pessoal. É fácil de adivinhar o resultado de mais de 300 câmaras, cujo número total de munícipes é pouco maior do que o de várias grandes cidades mundiais com uma única câmara, a contratarem amigos, familiares e correlegionários à tripa forra.

O folhetim Caixa teve novos desenvolvimentos com a confirmação de que Centeno mentiu no parlamento ao negar ter aceite as condições de António Domingues. Este, que deve estar pelos cabelos com tanta aldrabice, fez chegar, ou alguém o fez por ele, aos jornais documentos que comprovam não só a aceitação de condições como a participação de advogados em representação de Domingues para desenhar a solução.

E o que dizer do BdeP que parece contaminado pela geringonça, criando uma espécie de porta giratória por onde saiu um seu administrador (Carlos Albuquerque) directamente para a Caixa e entrou em substituição um outro (Luís Costa Ferreira) que há dois anos tinha saído para a PwC?

Quanto à vida familiar da geringonça, por trás dos beijinhos e abraços começa a disputa da herança. O ministro do Trabalho Arménio Carlos já fala em esgotamento dos acordos e que as coisas vão-se complicar se o governo não tiver respostas claras.

Termino com um excelente resumo de Rui Ramos do que é o governo da geringonça: «Este governo não é um caminho, mas um equívoco. É um governo que executa as políticas orçamentais do euro com o apoio parlamentar dos inimigos do euro. É um governo que enche a boca com o Estado social, ao mesmo tempo que o reduz a um mero Estado clientelar, castigando os contribuintes e sacrificando os serviços públicos para concentrar os recursos na remuneração de certos grupos de dependentes. É ainda um governo onde nunca há responsabilidades, e a quem as coisas acontecem

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