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27/01/2013

A maldição da tabuada (14) - se não sabem fazer contas não deveriam citar números

Comentando com o habitual ressabiamento com que escreve sobre algum resultado conseguido por este governo constituído por gente sem pátina, Miguel Sousa Tavares conclui na sua peça habitual no Expresso que «4,891% de juros (o yield do leilão de OT da semana passada) … não deixa de ser 5 vezes a taxa de inflação». Não se sabe qual a taxa de inflação a que MST se refere, mas se fosse a taxa média de inflação anual em Dezembro passado seria 2,77% (INE), de onde resultaria ser o yield do leilão 1,8 vezes a taxa de inflação e não 5 vezes. Daqui inferimos que a tabuada de MST, eventualmente construída num sistema que não o de base 10, o levou a um erro «colossal».

Erro ainda mais colossal foi o de Maria José Morgado que nas suas elucubrações também no Expresso sobre o Campus de Justiça na Expo escreve que «a renda e o condomínio custam ao contribuinte € 9600 milhões e €1,3 milhões respectivamente». Ora por muito disparatada que seja a renda (o valor real deve ser um por mil do indicado) ninguém acredita que seja mais do que o défice do OE 2012.

Erros acontecem a qualquer um (basta ler os nossos posts para o confirmar), mas estes são erros do tipo sistemático, resultam da incapacidade de relacionar grandezas e são recorrentes em elites sofrendo de inumeracia (ou inumerismo, segundo a Academia das Ciências) atávica, a maioria com uma cóltura essencialmente literária e pouca vivência no mundo real em que sobram dias aos salários. São da mesma natureza da incapacidade de Mário Soares distinguir milhões de milhares de milhão ou de biliões ou ainda da célebre boutade de Guterres especulando sobre o valor do PIB e culminando com «é só fazer as contas».

Isso explica muita coisa. Por exemplo, porquê só um pequeníssimo número de luminárias ter percebido atempadamente a falência do estado e do país para que caminhámos durante décadas. Ou porquê a maioria dessas luminárias continua com os delírios do «crescimentismo» (aguarda-se que a Academia das Ciências abençoe este neologismo).

1 comentário:

Maria disse...

Da esquerda, só zeros à esquerda... Mais uma vez, quanto a MST, como é que Teresa Caeiro o aguenta é completamente transcendente para mim.