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05/03/2012

CASE STUDY: quem é o deus ex machina da Ongoing? (14)

[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12) e (13)]

Em complemento dos 13 posts anteriores onde dissequei a criatura Ongoing, como criação dos seus criadores Espíritos Santos que os transcendeu, a partir das parcas informações que passaram no filtro do jornalismo de causas, vou recorrer a Nicolau Santos porque não li a artigo completo de Cristina Ferreira para completar a dissecação. Por uma vez, este pastorinho dos amanhãs que cantam consegue manter-se a uma distância higiénica do complexo político-empresarial socialista. Infelizmente, receio que seja um caso irrepetível devido apenas ao seu ódio de estimação ao duo Vasconcellos-Mora.

«A excelente investigação da jornalista Cristina Ferreira do "Público" sobre a Ongoing permite chegar a algumas conclusões.
1) A Heidrich & Struggles foi o cavalo de Troia, através do qual a dupla Nuninho-Rafa (como se tratam) passou a gerir as carreiras de milhares de quadros médios e superiores;
2) o Compromisso Portugal, que teve Rafael Mora por trás, visou a ligação à geração de empresários, gestores, políticos e jornalistas na casa dos 40 anos;
3) em 2003, o ex-ministro Pina Moura passa a consultor da H&S e transita depois para a Ongoing. Será presidente não-executivo da Media Capital e ascende a presidente da Iberdrola Portugal;
4) António Mexia, enquanto ministro, foi decisivo para abrir à H&S o acesso às grandes empresas públicas - e Mário Lino fundamental a alargar esse acesso: TAP, ANA, PT, EDP, Águas de Portugal, CTT, Carris, Estradas de Portugal;
5) foram essas avenças de empresas públicas (algumas escandalosas e outras sem justificação), que permitiram à dupla ganhar estofo financeiro para se abalançar a outros voos;
6) o salto em frente é dado com a OPA da Sonaecom sobre a PT, em que Ricardo Salgado utiliza Nuno Vasconcellos (a quem financia) como testa de ferro para ajudar a travar a operação;
7) Mora elabora o novo modelo de governação do BCP, que vai conduzir à rutura entre Jardim Gonçalves e Paulo Teixeira Pinto;
8) quando PTP abandona o banco e a solução Pinhal falha, é Mexia quem mexe os cordelinhos para colocar a administração da CGD à frente do BCP;
9) o BCP vai tornar-se em seguida o principal financiador da Ongoing;
10) o sistema de remunerações da administração da EDP, que tem proporcionado enormes bónus a Mexia, foi elaborado por Mora;
11) a estratégia exige uma imprensa submissa: o primeiro passo é a compra do "Económico", por €27 milhões. O controlo da TVI falha, o domínio sobre a Impresa também;
12) a estratégia exige uma enorme alavancagem financeira. A Ongoing lança fundos de investimento de alto risco, no qual investem PT (75 milhões), BES (180 milhões) e Montepio Geral (30 milhões);
13) a escalada exige também acesso a informações privilegiadas (a Ongoing contrata quatro espiões);
14) ... e ligações ao PSD e PS (vários ex-políticos trabalham para o grupo).
Avenças de empresas públicas, financiamento de bancos amigos, influência empresarial e política, ligações à maçonaria e às secretas: assim se construiu o império daquele que ia ser o maior empresário português do século XXI.»

[Anatomia da Ongoing, Nicolau Santos, no Expresso]

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