[Uma série potencialmente infinita de aflições e estados de alma partilhados com os mídia sem propósito aparente: (1), (2)]
«Os reformados já não têm forças para conseguir corrigir o percurso, o rumo das dificuldade e, por isso, nós não podemos de forma nenhuma empurrá-los para o grupo dos novos pobres, aqueles que passam por uma pobreza envergonhada», suspirou aquela alma sensível estacionada em Belém, durante a visita às criancinhas do Centro de Bem-Estar Infantil de Santo Estêvão,
Das duas, uma: é só conversa para encher o tempo de antena e ficar no rodapé da estória como «o provedor dos mais fracos, o provedor das angústias e das aspirações dos portugueses» e, a ser assim, acabaria aqui este post, ou Cavaco Silva quer significar ter descoberto estarem os velhinhos mesmo a ser empurrados «para o grupo dos novos pobres».
Na 2.ª hipótese a coisa é mais séria. Quem são os empurrados para o grupo dos novos pobres? Só podem ser os reformados que no próximo ano perdem os subsídios de férias e de Natal, isto é os reformados que têm pensões superiores a 1.100 euros, porque todos os outros na pior hipótese não terão as suas pensões actualizadas.
Em 2010 havia cerca de 92 mil ou menos de 6% em 1,6 milhões de pensionistas do regime geral com pensões de velhice superiores a 1.000 euros. Com pensões de invalidez eram 5,6 mil ou menos de 3% em cerca de 197 mil. No conjunto não atingirá 100 mil o número de pensionistas do regime geral com pensões que serão reduzidas em 2012.
É claro que na CGA dos funcionários públicos, outro galo canta e a proporção de pensões superiores a 1.000 euros sobe para mais de metade, com cerca 220 mil. En passant, eis aqui um exemplo da falta de equidade - mas não do tipo que tanto preocupa Cavaco Silva.
No total dos dois regimes as pensões que sofrerão cortes no próximo ano serão, portanto, menos cerca de 300 mil ou cerca de 13% do total. Num país em que a remuneração base média não chegava a 900 euros em 2009, serão os menos de 300 mil pensionistas com pensões superiores a 1.100 euros os novos pobres de quem Cavaco Silva quer ser provedor? Se perguntasse a opinião a um dos 470 mil reformados por velhice do regime geral com pensões inferiores a 250 euros, o provedor Cavaco Silva poderia ouvir como resposta que esses a quem ele chama novos pobres seriam melhor chamados velhos ricos.
[Dados da Pordata]
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Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
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Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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23/12/2011
¿Por qué no te callas? (3) – o provedor e os velhos ricos
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