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08/07/2020

Lost in translation (339) - Com o pedronunismo nos comandos da TAP haverá rupturas nos bolsos dos sujeitos passivos

Como resultado da sua «bravata ideológica», o ministro das Superestruturas pagou 55 milhões ao accionista David Neeleman para ele se libertar do pesadelo TAP, comprometeu-se a considerá-lo credor privilegiado do seu empréstimo de 90 milhões a uma generosíssima taxa de 7,5%, conseguiu que a TAP fosse a única companhia europeia a não receber um apoio Covid, vai enterrar naquele cemitério 1.200 milhões como primeira de várias prestações a sacar aos contribuintes, despediu o único gestor que conhece o negócio de aviação e garantiu que irá recrutar para a gestão da TAP uma equipa de topo. A respeito desta última garantia só me ocorre o que escreveu José Diogo Quintela: «faz tanto sentido como a minha filha contratar o Chef Kiko para preparar o chá imaginário que ela serve às suas bonecas».

O Dr. Pedro Nuno Santos, a berrar há meses que a TAP está falida, teve de aceitar que a CE considerasse a TAP inviável, apesar dos capitais próprios e os resultados operacionais ainda serem positivos. E, a propósito, recorde-se que quem está de facto falida é a holding TAP SGPS porque uma das participadas é a TAP Manutenção e Engenharia que tem perdido milhões parcialmente compensados pelos lucros na operação da TAP. Recorde-se também que na compra e na gestão desta participada andaram as mãozinhas de Lacerda Machado, o amigo do Dr. Costa, e de outros socialistas (Almeida Santos, por exemplo).

Ah!, quase esquecia, o Dr. Pedro Nuno Santos ainda garantiu que «Não haverá rupturas. Não vamos deixar isso acontecer» o que é uma ameaça assustadora para os sujeitos passivos.

Qual o racional de comprometer os portugueses com o desastre anunciado? Salvar uma companhia de bandeira (leia-se o post there is no such thing as flag carrier)? Dos 10 milhões de portugueses só uma pequeníssima parte viaja regularmente na TAP e os outros milhões de portugueses não residentes, dispõem da oferta das low cost. Querem proporcionar voos baratos aos residentes nas Regiões Autónomas? Subsidie-se se necessário (e talvez não seja) os voos das low cost para as RA- já agora recorde-se que o turismo para os Açores só se começou a desenvolver quando a Ryanair e outras passaram a operar. Querem salvar dez mil postos de trabalho ao custo de 120 mil euros cada, só para começo de conversa?

E qual foi o resultado de tudo isto? Para citar Helena Garrido, «o Governo cavou um buraco ainda maior na TAP e salvou um dos accionistas privados de referência. Com a cumplicidade do primeiro-ministro, do Presidente da República e de todos os partidos. As vítimas desta gestão irracional do processo da TAP serão mais de dez mil famílias, os contribuintes portugueses e o dinheiro que vai faltar noutras áreas em que o Estado é importante

Há, porém, um hipotético, ainda que desmesuradamente caro, resultado positivo se o pequeno oráculo Marques Mendes tiver razão e a TAP vier a ser um «grande crematório político ... (que) pode queimar ministros a torto e a direito».

[Para uma recapitulação da saga veja-se etiqueta TAP]

Aditamento:

Já depois de publicado este post, li este artigo de André Abrantes Amaral citando alguns números comprovando a fraude da TAP ser uma "companhia de bandeira": «apenas 28% dos passageiros que chegam ao Funchal o fazem através da TAP. Para Ponta Delgada são apenas 17%. Quanto ao Porto só 20% dos passageiros que chegam à invicta o fazem por via da TAP. Mas a cereja em cima do bolo diz respeito a Faro. Sabia que a TAP foi responsável por apenas 3% (repito, 3%) dos turistas que chegaram ao Algarve no terceiro trimestre de 2019?» 

3 comentários:

Jrock disse...

Cuidado com a língua portuguesa : Haverá rupturas

Pertinente disse...

Obrigado. Tem toda a razão, o verbo haver só é usado na terceira pessoa do singular quando significa existir.

Adauto disse...

Se uma transportadora , a principal função é transportar , neste caso, passageiros, todos os voos de Lisboa para São Paulo e de São Paulo para Lisboa, os aviões da TAP, vão com lotação esgotadas. Porque não deixam as rotas em que não há passageiros suficientes para pagar, pelo menos, o combustível que o avião gasta???