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30/07/2020

CASE STUDY: O caso da Nova SBE versus o caso do ISCTE

Para quem não saiba, a Nova SBE foi acusada de limitar a liberdade de expressão ao recomendar aos professores que não assinassem artigos de opinião envolvendo a escola. A ocasião foi a economista Susana Peralta que escreve no Público e a consequência foi o equivalente a meter a vara no ninho de vespas. No mesmo dia a comentadoria do regime começou a malhar na suposta cedência da Nova SBE às empresas privadas que são mecenas da escola e financiaram a maior parte do campus de Carcavelos. Poucos dias depois, Daniel Traça, o director da escola que deveria estar em regime de exclusividade, foi criticado por ser administrador não executivo do Banco Santander, apesar de autorizado. Na semana seguinte, outra vez pela pena da antiga namorada e companheira de férias do Sr. Eng. Sócrates, um expoente da comentadoria independente, voltou a zurzir-se na Nova SBE.

Pelo meio dos episódios citados, áctivistas de várias universidades publicaram o abaixo-assinado «Contra a higienização académica do racismo e fascismo do Chega» e defenderam que na universidade deles não deveria ter lugar o autor do estudo em causa Riccardo Marchi, professor do ISCTE.

As reacções do áctivismo a estes dois casos é muito interessante porque revela a dualidade subjacente. No primeiro caso, a proximidade entre a universidade (pública) e as empresas privadas é em si mesma condenável e não carece de demonstração. Pelo contrário, no segundo caso a presença e controlo da universidade (pública) pelo áctivismo ideológico e partidário são em si mesmos perfeitamente legítimos, como é positiva a consequente tentativa de censura do trabalho universitário.

Trato este tema com atraso a propósito do artigo "Liberdade académica" de Luís Cabral, professor da Universidade de Nova Iorque e da ESE Business School, no Expresso do fim de semana passado, que põe em confronto os dois citados casos e se foca sobre a questão central do governo das universidades, do qual respigo os parágrafos seguintes.

«A parte mais interessante do caso é o problema do governo. Há dois perigos no governo das instituições académicas, perigos que de alguma forma se relacionam com os casos do mês: primeiro, o perigo do mecenato académico, o perigo de que o apoio de instituições privadas comprometa a liberdade e isenção académicas (ver caso Nova). Segundo, o perigo do corporativismo, o perigo de que a academia como colégio de professores se cerre sobre si própria numa fortaleza que efectivamente veda o acesso à variedade de opinião (ver caso ISCTE).

O caso da Nova preocupa-me menos: iniciativas inovadoras inevitavelmente sofrem acidentes de percurso. Por um lado, exigir ou mesmo recomendar que os professores escondam a sua afiliação académica faz pouco sentido: o leitor entende perfeitamente que o que escrevo aqui é a minha opinião, não a opinião da Universidade de Nova Iorque. Por outro lado, conflitos de interesses com empresas doadoras existem, e espero que a Nova SBE proceda às medidas necessárias, quer no que respeita à transparência com que as coisas são feitas, quer no que respeita à interferência dos mecenas no governo da instituição.

O caso do ISCTE preocupa-me muito mais pois reflecte o paradigma português. Enquanto que, desde o princípio, a Nova SBE (então FEUNL) se preocupou por contratar professores ‘de fora’ (incluindo eu próprio em 1983), a típica universidade portuguesa é um clube de professores que contrata os seus próprios discípulos, um incesto intelectual que resulta numa hegemonia ideológica com contornos de cancel culture.»

1 comentário:

Emídio disse...

Vivemos na era da MENTIRA! Mentira descarada e sem pejo. Dou aqui um de entre muitos exemplos: https://endercratus.blogspot.com/2020/07/e-preciso-desmontar-as-tretas.html.