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06/07/2020

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (40) - Em tempo de vírus (XVII)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

Mayday mayday. A queda anunciada sobre os contribuintes da TAP tripulada pelo pedronunismo

Numa demonstração de ignorância pesporrente, o Dr. Pedro Nuno Santos, ministro das Superestruturas, transformou a renacionalização da TAP numa vitória pírrica. Sem se dar conta, fez a vontade ao accionista David Neeleman, ansioso por ir à sua vidinha e deixar a TAP aos cuidados do governo português, e ainda lhe pagou 55 milhões de euros.

Uma bagatela, aliás, face aos 1.200 milhões que o governo vai sacar aos contribuintes a título de empréstimos e aumentos de capital, como primeira prestação dos muitos milhões que irão ser torrados num operador que entregue ao Estado Sucial irá dedicar-se ao que sempre se dedicou: explorar as carreiras em que os operadores comerciais não estão interessados. Mesmo para os serviços mínimos, a TAP precisará de um gestor profissional que, dando de barato ser o governo capaz de o contratar, custará mais por ano do que o milhão de prémios que o governo impediu que fossem distribuídos a 180 trabalhadores. Como brinde, conseguiu ainda, com a sua «bravata ideológica», que a TAP fosse a única companhia europeia que não vai receber um apoio Covid porque o Dr. Pedro a declarou falida em público antes da epidemia. É muito para um homem só.

O ministério da Verdade vai vigiar os crimideias nas plataformas online

A ministra Vieira da Silva, filha do ex-ministro com o mesmo nome, anunciou no parlamento que o governo vai criar uma Polícia do Pensamento para «perceber a forma de propagação deste discurso nas plataformas online, as mensagens que contém, identificar autores, monitorizar processos de queixas, entre outros aspectos». Aguarda-se com expectativa para saber quais são os outros aspectos e as medidas punitivas que o futuro ministério do Amor reservará aos crimes de ódio.

Querendo, o Dr. Costa poderia ser humorista

Foi um verdadeiro sucesso a presença do primeiro-ministro no programa «Isto é Gozar com Quem Trabalha» do Humorista Oficial da Situação. Em particular, foi muito saudada a sua piada em que. abandonando a sua tese de «à justiça que é da justiça», abundantemente usada para evitar explicações sobre o Operação Marquês, exaltou a acção patriótica para a recuperação das armas, as quais no limite poderiam até não ter sido furtadas, como disse então o seu ex-ministro da Defesa agora arguido na «narrativa» do ministério público.

Gostamos muito da democracia, mas nada de excessos

É conhecido o entranhado desvelo do Dr. Costa pela democracia e ficámos agora a conhecer que esse desvelo só tem paralelo no do Dr. Rio, informalmente no lugar de vice primeiro-ministro. O Dr. Rio, talvez para poupar as suas viagens a Lisboa, propôs terminar os debates quinzenais no parlamento para o Dr. Costa ter mais tempo para governar.

A bazuca das Senhoras Merkel e von der Leyen poderá só disparar depois do tanque passar

A celebrada bazuca das senhoras Merkel e von der Leyen que se espera irá disparar 35 mil milhões em cima do Portugal dos Pequeninos é nesta altura a principal arma do arsenal imaginário do ilusionismo do mago Dr. Costa. Porém, além das reservas dos «frugais», há ainda um outro pequeno problema, como escreve sempre bem informado semanário de reverência os «Milhões podem só chegar em 2022».

Cuidando da freguesia eleitoral

Todos os dias o governo do Dr. Costa nos mostra a atenção que dispensa aos seus funcionários públicos cujos efectivos não cessam de aumentar: concluída a selecção de 800 técnicos superiores inicia-se em Agosto uma segunda fase do recrutamento de mais 200.

Contudo, a freguesia, apesar de ter sido poupada ao lay-off e aos despedimentos que estão a dizimar os que não desfrutam do estatuto de utentes da vaca marsupial pública, não se mostra muito agradecida e os seus sindicatos já fizeram saber que só aceitam o teletrabalho com aumentos de salário e progressões na carreira.

O desemprego na novilíngua chama-se inactividade

A taxa de desemprego do INE desceu de 6,3% para 5,5% em Maio, o que é mais um feito atribuível à governação do Dr. Costa. Apesar de no mesmo mês terem sido perdidos 104,9 mil empregos o número de desempregados reduziu-se em 50,9 para 267,9. Para onde foram então os 104,9 mil empregos perdidos? Foram classificados como «inactivos disponíveis mas que não procuram emprego». Quando se retirar o Dr. Costa ainda vai zerar o desemprego. Ditosa Pátria que tal filho teve.

O orçamento opaco

O Conselho das Finanças Públicas (CFP) está a ser cada vez mais uma força de bloqueio à governação do Dr. Costa, para usar a expressão que ficou famosa, inventada pelo Dr. Cavaco para o Tribunal de Contas. É o cenário macroeconómico que não é prudente, são as insuficiências na informação, é em particular a falta de informação sobre o custo das medidas relacionadas com a pandemia (que o CFP estima tenham um impacto de 80% no saldo do OE). Podemos assim concluir a a mudança do Dr. Centeno para o Dr. Leão é uma mudança na continuidade, como disse o Dr. Marcelo, não o dos beijinhos mas o padrinho dele, quando sucedeu ao Dr. Salazar.

Continuidade que se confirma nas mudanças na Lei de Enquadramento Orçamental que se fossem adoptadas nas alterações propostas pelo parlamento durante a discussão do OE 2020 dariam à Unidade Técnica de Apoio Orçamental um quarto de hora para quantificar o impacto nas despesas e nas receitas públicas de cada uma das 1.332 propostas apresentadas.

«Estamos preparados»

Poderia pensar-se que a redução de mais de 900 mil consultas e 85 mil cirurgias até Maio em relação ao ano passado ou os 75 mil rastreios ao cancro da mama adiados, teriam resultado de proporcionar os melhores cuidados ao controlo e tratamento da pandemia. Parece que não, dada a falta de acompanhamento de centenas de infectados e o descontrolo da DGS que o Dr. Medina, nem mais nem menos do que sucessor do Dr. Costa na câmara e putativo sucessor no PS, criticou fortemente no espaço de comentário na televisão que é atribuído aos futuros líderes do PS. O descontrolo estende-se ao domínio da intendência e os hospitais acusam a DGS de não contabilizar todos os casos.

Acabou a gentrificação, recuperámos as cidades e as praias só para nós

Segundo o INE, o alojamento turístico teve uma queda homóloga em Maio de 93,9% do número de hóspedes e de 95,0% do número de dormidas, com a ajuda da pandemia e certamente com grande alegria do radicalismo chique.

O estado do Estado Sucial administrado pelos socialistas

Por força do efeito conjugado da redução das contribuições e do aumento das despesas das medidas relacionadas com a pandemia que o governo adoptou, o saldo da Segurança Social teve uma queda de 65,2%. Também relacionadas com a pandemia, o governo anunciou a contratação de mais professores e 500 assistentes operacionais e 200 assistentes. Recorde-se que o número de alunos dos ensinos básicos e secundários diminuiu 20% nos últimos 10 anos, continua a diminuir e durante o primeiro mandato do Dr. Costa reduziu-se em 5%. É um bom exemplo da aplicação no Estado Sucial das conhecidas leis de Parkinson que as conceptualizou a partir do estudo do departamento das Colónias do ministério da Marinha cujos efectivos aumentavam à medida que o Reino Unido perdia colónias - em tempos o contribuinte fundador publicou um post onde explica a coisa.

«Pagar a dívida é ideia de criança»

Este governo é herdeiro de uma longa tradição dos governos socialistas deixarem aos seus sucessores uma dívida pantagruélica e o do Dr. Costa não vai deixar os créditos em mãos alheias. Em vez disso, vai só deixar as dívidas que em Maio já estavam em 264,4 mil milhões de euros - um novo recorde -, ou seja um robusto aumento de quase 30 mil milhões desde que o Dr. Costa tomou conta da equipa em que militou o Dr. Centeno, o Ronaldo das Finanças agora no banco dos suplentes a caminho do BdP.

1 comentário:

Anónimo disse...

O 'post' de 2006 aonde se explica a coisa [a teoria de Northcote Parkinson] é um dos pilares [e marca] do vosso Impertinências. Pela honestidade do texto, pela graça, pela piada, do que ali se pranta.
Abraço