Pelo meio dos episódios citados, áctivistas de várias universidades publicaram o abaixo-assinado «Contra a higienização académica do racismo e fascismo do Chega» e defenderam que na universidade deles não deveria ter lugar o autor do estudo em causa Riccardo Marchi, professor do ISCTE.
As reacções do áctivismo a estes dois casos é muito interessante porque revela a dualidade subjacente. No primeiro caso, a proximidade entre a universidade (pública) e as empresas privadas é em si mesma condenável e não carece de demonstração. Pelo contrário, no segundo caso a presença e controlo da universidade (pública) pelo áctivismo ideológico e partidário são em si mesmos perfeitamente legítimos, como é positiva a consequente tentativa de censura do trabalho universitário.
Trato este tema com atraso a propósito do artigo "Liberdade académica" de Luís Cabral, professor da Universidade de Nova Iorque e da ESE Business School, no Expresso do fim de semana passado, que põe em confronto os dois citados casos e se foca sobre a questão central do governo das universidades, do qual respigo os parágrafos seguintes.
«A parte mais interessante do caso é o problema do governo. Há dois perigos no governo das instituições académicas, perigos que de alguma forma se relacionam com os casos do mês: primeiro, o perigo do mecenato académico, o perigo de que o apoio de instituições privadas comprometa a liberdade e isenção académicas (ver caso Nova). Segundo, o perigo do corporativismo, o perigo de que a academia como colégio de professores se cerre sobre si própria numa fortaleza que efectivamente veda o acesso à variedade de opinião (ver caso ISCTE).
O caso da Nova preocupa-me menos: iniciativas inovadoras inevitavelmente sofrem acidentes de percurso. Por um lado, exigir ou mesmo recomendar que os professores escondam a sua afiliação académica faz pouco sentido: o leitor entende perfeitamente que o que escrevo aqui é a minha opinião, não a opinião da Universidade de Nova Iorque. Por outro lado, conflitos de interesses com empresas doadoras existem, e espero que a Nova SBE proceda às medidas necessárias, quer no que respeita à transparência com que as coisas são feitas, quer no que respeita à interferência dos mecenas no governo da instituição.
O caso do ISCTE preocupa-me muito mais pois reflecte o paradigma português. Enquanto que, desde o princípio, a Nova SBE (então FEUNL) se preocupou por contratar professores ‘de fora’ (incluindo eu próprio em 1983), a típica universidade portuguesa é um clube de professores que contrata os seus próprios discípulos, um incesto intelectual que resulta numa hegemonia ideológica com contornos de cancel culture.»
«A parte mais interessante do caso é o problema do governo. Há dois perigos no governo das instituições académicas, perigos que de alguma forma se relacionam com os casos do mês: primeiro, o perigo do mecenato académico, o perigo de que o apoio de instituições privadas comprometa a liberdade e isenção académicas (ver caso Nova). Segundo, o perigo do corporativismo, o perigo de que a academia como colégio de professores se cerre sobre si própria numa fortaleza que efectivamente veda o acesso à variedade de opinião (ver caso ISCTE).
O caso da Nova preocupa-me menos: iniciativas inovadoras inevitavelmente sofrem acidentes de percurso. Por um lado, exigir ou mesmo recomendar que os professores escondam a sua afiliação académica faz pouco sentido: o leitor entende perfeitamente que o que escrevo aqui é a minha opinião, não a opinião da Universidade de Nova Iorque. Por outro lado, conflitos de interesses com empresas doadoras existem, e espero que a Nova SBE proceda às medidas necessárias, quer no que respeita à transparência com que as coisas são feitas, quer no que respeita à interferência dos mecenas no governo da instituição.
O caso do ISCTE preocupa-me muito mais pois reflecte o paradigma português. Enquanto que, desde o princípio, a Nova SBE (então FEUNL) se preocupou por contratar professores ‘de fora’ (incluindo eu próprio em 1983), a típica universidade portuguesa é um clube de professores que contrata os seus próprios discípulos, um incesto intelectual que resulta numa hegemonia ideológica com contornos de cancel culture.»
1 comentário:
Vivemos na era da MENTIRA! Mentira descarada e sem pejo. Dou aqui um de entre muitos exemplos: https://endercratus.blogspot.com/2020/07/e-preciso-desmontar-as-tretas.html.
Enviar um comentário