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06/09/2016

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: A caminho de um país de dependentes do Estado Sucial

«António Costa promete restituir à função pública os salários com que José Sócrates ganhou as eleições de 2009. Eis a sabedoria política que resume a actual governação: é possível mandar no país desviando todos os recursos para os que dependem do Estado: quem tiver do seu lado os funcionários, os pensionistas, os subsidiados, os parceiros, os protegidos e os instalados, não precisa dos outros, dos jovens, dos activos, dos independentes, de todos os que em Portugal estão por sua própria conta. Primeiro, porque os dependentes do Estado são suficientemente numerosos e motivados para formar um bloco eleitoral decisivo, e previsivelmente inclinado para quem estiver determinado a sacrificar o resto da sociedade a seu favor, como se viu em 2009; depois, porque faz sentido esperar que, sendo as vantagens da dependência tão óbvias, esta se torne um ideal social, de modo que, para quem está de fora, o objectivo não seja mudar o sistema, mas um dia ser admitido nele.

Mas dir-me-ão: isso talvez seja assim, mas o governo faz questão do défice orçamental. Sim, é verdade: um governo e uma maioria parlamentar que se propunham ser julgados pelo crescimento da economia, esqueceram-se entretanto da economia e do seu crescimento, e esperam ser avaliados pura e simplesmente pelo cumprimento da meta do défice combinada com a UE. Uma contradicção? Só aparentemente. O valor do défice é uma questão de sobrevivência, na medida em que é a condição de acesso ao dinheiro europeu que, através da dívida pública, permite manter o sistema sem apertar ainda mais o garrote fiscal. O governo e a sua maioria parlamentar todos os dias maldizem a UE, mas dependem totalmente da Comissão Europeia e do BCE, e nada fazem para diminuir essa dependência. É este o mecanismo da dependência em Portugal: quanto maior a dependência da população em relação ao Estado, maior a dependência do Estado em relação às instituições europeias. (...)

Toda a gente já sabe que temos um problema económico. Mas quem sabe que também temos um problema político? Não é possível imaginar a liberdade política sem cidadãos independentes e uma sociedade civil forte.»

«O problema não é só a economia», Rui Ramos no Observador

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