Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

31/03/2016

Pro memoria (303) – Alguma falta de bom senso e de previsão

Sobre a contratação de Maria Luís Albuquerque pela Arrow Global já aqui e aqui escrevi e não fui meigo. Contudo, impõe-se acrescentar que segundo informação do ministério das Finanças de Centeno ao parlamento:

  • Os benefícios fiscais da Arroz Global são, «benefícios de natureza automática, não dependendo de qualquer decisão particular ou discricionária, nem de contratos específicos»;
  • «Não foi encontrado registo de eventual relação jurídica ou contratual entre o Estado Português e as referidas empresas, nem de operações financeiras, emissões de dívidas e outras em que as referidas empresas tenham participado»;
  • «No que diz respeito às empresas participadas pelo Estado, não se dispõe de informação sobre qualquer eventual relacionamento das mesmas com as empresas referidas pela subcomissão».

Confirma-se assim não só não haver qualquer ilegalidade como nada fazer supor uma contratação para pagar favores. O que resta? Manuela Ferreira Leite, que aceitou ser administradora do Santander de Negócio 20 meses depois de ser ministra das Finanças, classificou a aceitação de MLA como «ausência total de bom senso».

Foi um manifesto exagero. Talvez alguma falta de bom senso de MLA ao esquecer que um político, ainda que acidental, não precisa só de ser sério, também precisa de parecer – um cínico diria basta parecer – e ao não ter previsto que a esquerdalhada lhe saltaria à garganta – a mesma esquerdalhada que ainda hoje entende que o problema de Sócrates é a violação do segredo de justiça e o problema de Lula e de Dilma é a «república de juízes». MLA, como pessoa competente que é, facilmente encontraria outra alternativa de trabalho. Não havia necessidade.

SERVIÇO PÚBLICO: As asneiras na origem do Estado Islâmico

Citando a review ao livro «Blood Year: Islamic State and the Failures of the War on Terror» de David Kilcullen, um oficial australiano que actuou no Iraque como estratega de contra terrorismo, onde se analisam os papéis de Bush e Obama e se extraem conclusões desalinhadas do pensamento convencional a este respeito:

«There is plenty of blame to go round. Mr Kilcullen’s contempt for George W. Bush’s defence secretary, Donald Rumsfeld, is searing. If invading Iraq was an irresponsible distraction from the real fight against al-Qaeda, Mr Rumsfeld’s insistence on a “light footprint” strategy meant that the number of troops available to contain the entirely predictable (and predicted) chaos following the removal of Saddam Hussein was “criminally” inadequate. (…)

30/03/2016

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: O efeito do tempo sobre o pensamento miraculoso

Secção George Orwell

De cada vez que a fé keynesiana esmorece ou que falta o dinheiro dos contribuintes para as obras públicas, alguém descongela o professor doutor Alfredo Marvão Pereira e lhe coloca um gravador à frente. O professor doutor Marvão Pereira, catedrático no Departamento de Economia do College of William and Mary nos Estados Unidos, é o teórico das SCUT que em parceria com Jorge Andraz publicou em 2006 o estudo «O impacto económico e orçamental do investimento em SCUT».

Naquele estudo, as duas luminárias usaram um modelo econométrico que lhes permitiu demonstrar que por cada milhão de euros que o governo investisse em infra-estruturas rodoviárias o efeito acumulado no PIB seria de 18 milhões de euros a longo prazo. Como o custo total das SCUT até 2051 foi estimado em 26 mil milhões, a «longo prazo» o PIB a preços constantes cresceria uns 468 mil milhões ou seja o equivalente a quase 3 PIB de 2006. Se houvesse dúvidas sobre a bondade do modelo econométrico estariam desfeitas cinco anos depois com a chegada da troika para resgatar o país na bancarrota.

Dez anos decorridos, a luminária do multiplicador vem explicar-nos em entrevista ao jornal i com o título «Podemos ter autoestradas a mais, mas os nossos netos vão ficar muito contentes por tê-las» que o falhanço das SCUT se deve à introdução das portagens – sem elas, as AE em que hoje percorremos quilómetros sem ver um único veículo estariam coalhadas deles e, evidentemente, o PIB multiplicar-se-ia. Vem também alertar-nos para os preconceitos contra o investimento público, agora que a geringonça aprovou um orçamento que reduziu o investimento público em 5,6% em relação ao orçamento neoliberal.

Como prémio de carreira, concede-se ao emérito catedrático 5 (cinco) bourbons por nada ter aprendido nem esquecido e outros 5 (cinco) chateaubriands pela confusão entre causas e efeitos.

Outros posts do (Im)pertinências sobre o mesmo tema:

Mitos (227) – O terrorismo resulta das políticas de direita

Na verdade, o mito completo é: resultam das políticas de direita «o terrorismo, a pobreza, a fome, o desemprego, os baixos salários, a criminalidade, a guerra, a degradação cultural, artística, social e ambiental». Fiquemo-nos, por agora, pelo terrorismo e vejamos alguns exemplos de terroristas indignados com as políticas de direita.

Para evocar um exemplo histórico, lembro Osama bin Laden, o fundador da al-Qaeda, filho do multimilionário Mohammed bin Awad bin Laden. Teve uma epifania em 1979 com 22 anos e alistou-se nos Mujahidin para combater a União Soviética no Afeganistão. Fundou em 1988 e financiou durante anos a al-Qaeda com dinheiro da família.

Nizar Trabelsi um tunisino envolvido nos atentados do 11 de Setembro chegou à Bélgica para jogar no Standard de Liège, transferiu-se para o Fortuna de Dusseldorf, e aí «perdeu-se no álcool, nas drogas e no sexo, tornando-se um alvo apetecível para a Al-Qaeda». (Fonte)

Os dois irmãos Brahim e Salah Abdeslam implicados nos atentados de Paris e Bruxelas antes da epifania induzida pelo Daesh, por alturas de Fevereiro de 2015, «fumavam, bebiam, dançavam e gostavam de mulheres. ... (No) café dos Abdeslam (...) fumavam cannabis, jogavam poker a dinheiro e viam jogos do Real Madrid na televisão». (Fonte)

Podia continuar porque abundam os exemplos de almas perdidas atingidas por uma epifania que lhes mostra o caminho para a redenção. É esse o padrão mais comum no terrorismo islâmico. Veja-se por exemplo o item «Profiles of terrorists» na entrada «Islamic terrorismo» da Wikipedia onde são citados vários estudos.

Também é observável um outro padrão entre as almas que tendem a explicar o terrorismo pelas políticas de direita, ou pela pobreza, pela fome, pelo desemprego, pelos baixos salários, pela criminalidade, pela guerra, o que vem a dar no mesmo. Esse padrão, segundo os meus «estudos», é um QI baixo associado a um sectarismo doentio.

29/03/2016

Pro memoria (302) - A doutrina Somoza infecta irremediavelmente o trotskismo embalsamado do professor Louçã

«O fim pode justificar os meios
se houver algo que justifique o fim
Para quem não saiba, o professor Louçã foi um fundador da Liga Comunista Internacionalista (LCI) representante em Portugal da IV Internacional, uma dissidência de inspiração trotskista da Internacional Comunista. Depois de 3 décadas a tentar vender com pouco sucesso o produto LCI, Louçã fez uma fusão com os maoístas da UDP e outros grupelhos trânsfugas do PCP e inventou a nova marca Bloco de Esquerda.

Aliviado da ditadura do proletariado e da revolução permanente e de outras tretas trotskistas e maoístas, o BE adoptou as «causas fracturantes» do marxismo cultural, isto é do politicamente correcto. O que Louçã não se aliviou foi da moral dupla, dos dois pesos e duas medidas, em suma do que aqui no (Im)pertinências baptizámos de doutrina Somoza.

O exemplo mais recente é o seu artigo «Brasil: um golpe de Estado em transmissão directa» que João Miguel Tavares dissecou entrando «Na cabeça de Francisco Louçã».

O artigo de Louçã começa assim
«Assistimos no Brasil a um golpe de Estado em transmissão directa, por vezes em câmara lenta, outras em aceleração frenética. É assim que se procede no século XXI: em vez de tanques nas ruas, tudo começa com um juiz que quer derrubar um governo, declarando guerra ao princípio da soberania democrática. É golpe curto, bem sei, prender para eliminar politicamente e depois deixar as coisas seguirem o seu destino.» 
É claro que Louçã não é parvo e não faz um discurso como o dos comunistas mumificados do PCP. Ele não nega os factos inegáveis mas, uma vez mais, para ele o problema não está na corrupção do PT, o problema está em o que para ele é a «direita» se estar a aproveitar do facto para derrubar o pêtismo. Evidentemente não seria um problema se a «direita» estivesse no poder e o pêtismo tentasse derrubá-la pela mesmíssima razão.

A cleptocracia angolana também quer roubar as vidas dos que se lhe opõem

Pela intervenção do Governo português na libertação de Luaty Beirão

ASSINE AQUI (*)


(*) Apesar dos promotores e do apelo ao governo.

SERVIÇO PÚBLICO: A Internacional da Indignação (9)

«Segundo o jornal O Globo:

“A ONU Mulheres, entidade das Nações Unidas para a igualdade de gênero, condenou nesta quinta-feira, por meio de uma nota pública, a ‘violência política de ordem sexista’ contra a presidente Dilma Rousseff, primeira mulher a assumir o cargo no Brasil. Segundo o comunicado, a discordância política não pode justificar a banalização da violência de gênero, uma prática patriarcal e misógina que invalida a dignidade humana.”

Quando Lula, nas conversas gravadas, chama a deputada Maria do Rosário de “mulher de grelo duro” e afirma que Clara Ant “achou que era um presente de Deus ver tanto homem na casa dela quando os agentes da polícia federal chegaram”, a ONU Mulheres não considerou isso uma prática patriarcal e misógina que invalida a dignidade humana».

Um comentário de Doublet a este post do Blasfémias.

A mentira como política oficial (14) – Adivinhe quem disse a quem

Para exemplificar a perenidade da cooperação afectuosa entre o primeiro-ministro Dr. António Costa e o presidente da República professor doutor Marcelo Rebelo de Sousa, Camilo Lourenço deu como exemplo a relação entre um outro PM e o PR em exercício, citando o primeiro que disse então ao segundo:
«Quero dizer-lhe senhor Presidente, em nome do governo, o quanto apreciamos o comportamento absolutamente impecável da Presidência da República na cooperação institucional com o governo».
Se não souber quem disse a quem veja aqui a resposta.

28/03/2016

BREIQUINGUE NIUZ: CCIG apresenta queixa contra Jerónimo de Sousa

Mostrando um grande equidade, a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género apresentou queixa contra Jerónimo de Sousa, a exemplo do que fez contra Pedro Arroja, pela seguinte expressão sexista, discriminatória e ofensiva da igualdade de tratamento dos géneros dita para justificar ter o PCP como candidato a PR uma espécie de múmia de Lenine:
«Podíamos arranjar uma candidata engraçadinha, mas não somos capazes de mudar».
Na queixa apresentada, a CCIG considera como agravante o facto de ter como propósito ofender a candidata do BE mais tarde vítima dos assédios verbais de Pedro Arroja. Como atenuante, apesar de tudo, a CCIG considera o reconhecimento implícito por Jerónimo de ter vontade de mudar mas não ser capaz.

(Esta notícia que só é falsa porque a CCIG não pratica a Igualdade de Género - e por isso deveria apresentar queixa de si própria - foi inspirada neste post do Blasfémias)

ACREDITE SE QUISER: Depois do AllGarve, o Lisbon South Bay - é uma espécie de venda dos centros de localização nacional

Uma câmara socialista (Lisboa) e três comunistas (Almada, Barreiro e Seixal) coligaram-se para vender terrenos ao capitalismo internacional para novos projectos imobiliários e industriais sob a insígnia Lisbon South Bay – eles contam a estória de uma forma mais arredondada, mas é disto que se trata.

Contudo, a inteligência e o discernimento não estão à altura do atrevimento porque se propõem fazer em Abril um roadshow onde sobra espaço e falta o capital: Brasília, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Vá lá, ao menos não vão fazer um roadshow no Cerrado Mineiro ou no Pantanal.

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (24)

Outras avarias da geringonça.

A semana que passou foi marcada pelos equívocos e apagões de memória relacionadas com as intervenções do governo na banca. Para não me repetir, remeto para o apagão (1) e o apagão (2).

Devemos ficar agradecidos ao Conselho de Finanças Públicas e à sua presidente Teodora Cardoso por estar a conseguir manter as distâncias em relação à manobra da geringonça, colocando em dúvida as previsões miraculosas em que se fundam as políticas de Costa-Centeno e antecipando no estudo «Finanças Públicas: Situação e Condicionais 2016-2020» que com o OE 2016 e as medidas previstas o crescimento económico e a criação de emprego irão abrandar.

27/03/2016

Pro memoria (301) - Tiveram um apagão de memória (2)

Além das três luminárias já aqui citadas que sofreram um apagão de memória, podemos acrescentar uma quarta. O ex-ministro das Finanças Eduardo Catroga que alinha com Costa e Marcelo na intervenção na banca e em declarações ao Expresso defende uma «magistratura de influência no sentido de procurar uma diversificação de dependências».

Catroga refere o seu próprio exemplo quando em 1994 apresentou um ultimato ao Banesto que controlava 50% do Totta para vender essa participação a António Champalimaud. A partir daí, a memória de Catroga apagou-se, esquecendo-se que 5 anos depois Champalimaud vendeu o Totta ao Santander.

Com o nome Santander Totta e presidido por António Horta Osório, a quem as luminárias bancárias portuguesas apelidavam en privé de «traidor» e «amigo dos espanhóis», as mesmas luminárias que haveriam de levar os seus bancos à quase falência uns anos mais tarde, o banco tornou-se o mais rentável e solvente em Portugal.

Devemos adicionar às memórias apagadas de todos os que pretendem salvar a banca com mais intervenções do governo, desde há 40 anos intervencionada pelos governos, um simples facto: o dinheiro dos impostos dos portugueses que já foi enterrado na Caixa em sucessivos aumentos de capital, sempre insuficientes, superou largamente o dinheiro dos mesmos sujeitos passivos enterrado no BES e no Banif somados.

Falando de apagões, não devemos esquecer que não há jornalista de causas económicas que se preze que não expresse a sua indignação pelas dezenas de milhares de milhões de euros entornados na banca e não acabe a perguntar, com teorias da conspiração implícitas, insultando a inteligência dos leitores que ainda resistem à alienação: para onde foi esse dinheiro?

Prestando-me, uma vez mais, a fazer um serviço público vou recordar: essa montanha de dinheiro foi despejada em crédito, hoje malparado, aprovado pelos bancos por razões políticas, ou por compadrio ou por tráfico de influências, a milhares de empresas e projectos inviáveis. Essa montanha de dinheiro, assim torrada, ao ficar indisponível para empresas e projectos viáveis, provocou um duplo dano.

Como é que isto não é entendido é para mim um mistério. José António Lima no jornal SOL lamenta que o Santander Totta entre 2008 e 2014 não tenha feito o mesmo que a Caixa e o BES/Novo Banco que «assumindo os riscos de incumprimento de algumas dessas empresas» aumentaram perto de dez vezes em sete anos o crédito malparado «mas o Santander em Portugal ficou praticamente incólume». Se tivesse feito o mesmo, o Santander Totta seria mais um banco a torrar dinheiro dos sujeitos passivos que, em vez de ser usado para criar riqueza, teria sido gasto a financiar buracos.

É esse estado de coisas que Costa, acolitado pelos lentes da Mouse School of Economics, o presidente Marcelo e Catroga querem preservar?

26/03/2016

SERVIÇO PÚBLICO: Porque será provavelmente Donald Trump o candidato republicano?

Fonte: «How non-voters blew it», The economist
Repare-se como em média apenas votaram um quinto dos eleitores registados do Partido Republicano e como nos Estados com mais eleitores Trump teve menos de 10% dos votos.

Por isso, apesar de haver várias razões para Donald Trump vir a ser o candidato republicano, por agora fiquemos com esta: porque os eleitores republicanos que não votam Trump optaram por não votar em vez de votarem the Lesser Evil – talvez porque eles entendam que todos os outros candidatos são the Equal Evil.

Talvez Bertrand Russel lhes desse razão: «An uncertain hypothesis cannot justify a certain evil unless an equal evil is equally certain on the opposite hypothesis».

DIÁRIO DE BORDO: José, Fernanda, Évora, Molenbeek e as teorias da conspiração – isto está tudo ligado

«variações em f. menor» - um notável exercício de sarcasmo sobre um texto de Câncio, outra «eterna namorada».

Títulos inspirados (56) – «Esganiçadas levam Arroja a tribunal»

Titulou o Jornal de Notícias num artigo em que escreve: «as deputadas do Bloco de Esquerda Catarina Martins, Mariana e Joana Mortágua, Isabel Pires e Sandra Cunha vão ser ouvidas pela Justiça no âmbito de uma queixa feita pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género contra o economista Pedro Arroja, que as apelidou de "esganiçadas"

«A Senhorinha, muito esganiçada, expectorava agudos ais», escreveu Camilo Castelo Branco em «A Brasileira de Prazins» sem imaginar que 134 anos depois uma comissão haveria de se queixar à justiça de um economista que não aprecia a expectoração de agudos ais.

Em vez de se queixar à justiça a comissão para igualdade de género deveria propor uma alteração do Acordo Ortográfico suprimindo o «género» de todos os adjectivos. Ou então propor a adopção do inglês como língua oficial – foi por isso que quando o Guardian escreveu um artigo sobre as «esganiçadas» com um título ainda mais surpreendente do que o do Jornal de Notícias («Women who conquered macho world of Portuguese politics prepare for power») quando se referiu às «esganiçadas» traduziu por «hysterical», resolvendo assim o problema do género.

25/03/2016

ACREDITE SE QUISER: É muito para um homem só

Alexandre Patrício Gouveia, o «promotor do manifesto contra domínio espanhol na banca», além de presidente da Fundação Batalha de Aljubarrota, acumula os seguintes três papéis, surpreendentes para quem se dedica a tal causa:
  • Membro do Fórum para a Competitividade - sim, leram bem: «Competitividade»;
  • Membro do Fórum Portugal Global junto da Comissão Trilateral, um grupo fundado por iniciativa de Zbigniew Brzezinski, que já foi acusado de ter orquestrado os ataques de 11 de Setembro para criar uma nova ordem mundial e, segundo Noam Chomsky, dedicado a «turn people back to passivity and obedience so they don’t put so many constraints on state power and so on» («and so on», sublinhe-se) e ainda, como se isto fosse pouco,
  • Administrador do El Corte Inglés, um grande grupo espanhol de distribuição.

Pro memoria (300) - Tiveram um apagão de memória

«O acompanhamento justifica-se não só pela questão legal, mas porque o Estado é também parte interessado. É pela irresponsabilidade do PSD e do anterior primeiro-ministro em relação a estes assuntos, que estamos todos a pagar caro os erros desse desleixe – como é exemplo vivo disso o caso do BANIF» disse João Galamba, lente da Mouse School of Economics e secretário nacional do PS cujo secretário-geral José Sócrates acolitado por Santos Ferreira e Armando Vara assaltou o BCP, o maior banco privado português.

«Não só é legítimo como também é importante que o primeiro-ministro se preocupe com a banca nacional» disse na SIC Miguel Sousa Tavares, compadre de Ricardo Salgado, o Dono Disto Tudo e em particular do BES.

«Justifica-se essa intervenção, a pensar na estabilidade do sistema financeiro (…) e uma vez que se trata de cumprir a Constituição a posição do Presidente só pode ser de apoio a esse cumprimento», disse o presidente da República professor Marcelo, amigo de Ricardo Salgado e com uma «eterna namorada» que última reunião antes do resgate do BES «tomou a palavra para realçar a honra … de integrar o Conselho de Administração». Cumprir a Constituição? Honra? Valha-nos Deus.

O que há de comum no software mental das três luminárias citadas quando se pronunciam sobre a mais amplificada e para angolano ver do que real intervenção de António Costa nas movimentações em curso na banca?

Tiveram um apagão. A memória sumiu-se e com ela a lembrança dos 36 anos que vão de 1975 a 2011 de intensa intervenção dos governos na banca assumindo diversas formas: desde a nacionalização e a tutela dos bancos públicos (mais de 90% da banca) nos quase 20 anos seguintes, até à atracção fatal entre a banca do regime e o poder incluindo o escandaloso conúbio entre os socialistas e os Espírito Santo com as consequências conhecidas, passando pelo assalto da clique socialista comandada pela dupla Sócrates-Vara ao BCP, o maior banco privado.

Actualização:
Para além das agitações mediáticas, a intervenção do par Costa-Marcelo não parece ter tido efeitos práticos nas negociações cujo fracasso o Financial Times anunciou. Tudo indica que a Padeira de Aljubarrota angolana quer mesmo ficar com a participação do BPI no BFA, participação que representando a maior parte dos seus lucros.tem dado imenso jeito ao BPI.

24/03/2016

A maldição da tabuada (28) - Tudo somado, gastaram quase 6 vezes o que pouparam

«A economia portuguesa terminou o ano passado com uma capacidade de financiamento equivalente a 1,1% do produto interno bruto (PIB). Isto é, tudo somado, Estado, famílias e empresas pouparam mais do que aquilo que gastaram ao longo de 2015

Foi assim que o jornalista do Negócios (um jornal especializado em temas económicos) descreveu as consequências da redução da poupança bruta de 15,4% no 4.º trimestre de 2014 para 15,1% no 4.º trimestre de 2015 – está tudo explicadinho neste Destaque do INE. Isto é, tudo somado, Estado, famílias e empresas pouparam menos de 1/6 do que gastaram.

Mitos (226) - Subsídios para lá, bombas para cá

«Ao mesmo tempo, a velha ideologia multiculturalista da Europa endinheirada tem de ser profundamente revista. Parece cada vez mais claro que os europeus despejaram subsídios em cima das comunidades magrebinas para as manterem à distância. Ou seja, o que sobrou em dinheiro faltou em integração. É curioso olhar para os Estados Unidos e ver o contrário: o estado americano subsidia menos, mas o país integra mais. Como ontem dizia o ministro do Interior belga, nos Estados Unidos a segunda geração de emigrantes pode ambicionar chegar a presidente (não é ficção: basta olhar para as origens de vários candidatos republicanos), enquanto na Europa a quarta geração anda a fazer-se explodir e a sonhar com califados.»

«Três notas sobre Bruxelas», João Miguel Tavares no Público

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Não é um pouco esquizofrénico? (5)

Outros exemplos de esquizofrenia patriótica.

Esta série de posts tem sido dedicada à fixação esquizofrénica endémica no jornalismo português de encontrar portugueses em todos os pontos do Mundo. Nos casos mais sofisticados procuram-se portugueses que o jornalista considera bem-sucedidos. Nos casos menos sofisticados, qualquer português serve – para citar um exemplo do humorista de causas Ricardo Araújo Pereira num dos seus sketches, o bem-sucedido pode ser um cozinheiro que trabalha para um secretário de um realizador famoso (cito de memória e pode não ser bem assim).

Desta vez foi a extraordinária descoberta de que o terrorista Salah Abdeslam frequentava o café português no bairro Forest em Bruxelas onde jogava bingo – uma prática talvez não conforme com a sharia. O Expresso publica uma foto onde se vê distintamente um reclame da Super Bock. Com tanto café em Bruxelas logo haveria de ser um café português…

Não sei se ainda mais extraordinário é o facto de os portugueses que são cerca de 2% da população da UE representaram cerca de 10% dos feridos nos atentados de Bruxelas. É caso para concluir que os portugueses têm o dom da ubiquidade, coisa de que suspeito há muito - ao conduzir numa estrada coalhada de portugueses, chego a uma praia coalhada de portugueses e almoço a seguir num restaurante igualmente coalhado de portugueses e indo ao cinema para fugir da multidão encontro-o também coalhado de portugueses.

23/03/2016

ACREDITE SE QUISER: O terrorismo resulta das políticas de direita

«O terrorismo, a pobreza, a fome, o desemprego, os baixos salários, a criminalidade, a guerra, a degradação cultural, artística, social e ambiental resultam das políticas da direita», revelou-nos o deputado comunista Miguel Tiago, um admirador das liberdades e dos sucessos económicos do comunismo soviético, do regime norte-coreano do querido líder Kim Jong-i, do castrismo comunista cubano e do chávismo venezuelano.

Não têm emenda.

Curtas e grossas (32) - «Não há pachorra!!!!!!», disse ele (e eu com ele)

Não é de todos os dias que se partilha um desabafo de um membro da CP do CC do PCP, ainda por cima «intelectual» de profissão.

Esse dia chegou quando José Ângelo Alves, a criatura em questão, comentou no seu Facebook o dia do atentado em Bruxelas de vários eurodeputados e, em particular, da «engraçadinha» Marisa Matias que se ocupou a comprar provisões e a organizar um evento filantrópico em sua casa, actividade amplamente divulgada por jornalistas amigos com grande soma de pormenores.

O camarada Ângelo terminou o seu relato com um «Não há Pachorra!!!!!!» - note-se a meia dúzia de pontos de exclamação.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: But me no buts

«Diz-me onde colocas o teu “mas” e eu dir-te-ei quem és. Um dos segredos para compreender as genuínas convicções de qualquer pessoa que fale sobre Lula da Silva ou José Sócrates está em detectar o lugar onde no seu discurso surge a conjunção adversativa “mas”. (…)

Não é, de todo, equivalente dizer: “A forma como os telefonemas de Lula foram divulgados pelo juiz Sérgio Moro é inadmissível, mas a aceitação por parte de Lula de um cargo de ministro de Estado é intolerável.” Ou dizer: “A aceitação por parte de Lula de um cargo de ministro de Estado é inadmissível, mas a forma como os seus telefonemas foram divulgados pelo juiz Sérgio Moro é intolerável.” (…)

O que é isso de uma “república dos juízes”, eu não faço ideia, porque nunca vi nenhuma. Já um regime corrupto sei muito bem o que é, porque continuo a ver muitos. E contra isto não há mas, nem meio mas.»

«O lugar da adversativa», um artigo de João Miguel Tavares no Público, que eu gostava de ter escrito

22/03/2016

A defesa dos centros de decisão nacional (16) - Outro manifesto? Outra vez? Não, por favor. Agora é mesmo estupidez irremediável (CONTINUAÇÃO)

Em complemento do meu post anterior, um texto lúcido e sem papas na língua de João Vieira Pereira no Expresso. Isabel dos Santos, a padeira de Aljubarrota. Ah, ah, ah. Obrigado.

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (24)

Outras avarias da geringonça.

A semana passada acabou com mais uma sessão de ilusionismo de Costa acolitado pelos partenaires: a transformação de uma autorização orçamental de ajuda à Turquia e à Grécia que tinha a oposição dos partenaires numa autorização orçamental de ajuda a países-não-mencionados-que-todos-sabemos-são-a-Turquia-e-a-Grécia que teve a abstenção do PCP e do BE.

Depois de conhecido o balanço do assalto, comandado pelo Dono Desta República, dos novos situacionistas ao aparelho de estado (1.000 em 100 dias) ficou a saber-se que o governo substitui um terço (cerca de 100) das chefias do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).

21/03/2016

A defesa dos centros de decisão nacional (15) - Outro manifesto? Outra vez? Não, por favor. Agora é mesmo estupidez irremediável

[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7),  (8), (9), (10), (11), (12), (13) e (14)]

Lembram-se do Manifesto dos 40? Lembram-se do Compromisso Portugal, fóruns de empresários e gestores que defendiam a manutenção no rectângulo dos chamados centros de decisão nacional?

Ainda a tinta das assinaturas dos manifestos e compromissos não tinha secado e a família Vaz Guedes vendia a Somague aos espanhóis da Sacyr Vallehermoso. Depois foi a Galp vendida aos italianos e aos angolanos. Depois Teixeira Duarte, também signatário, e outros accionistas vendem as suas participações na Cimpor aos brasileiros. Depois seguiram-se infindáveis vendas de empresas, de ouro, de imóveis, enfim de tudo quanto alguém comprasse.

Pois bem, os empresários portugueses são uma espécie de semi-Bourbons. Dizia-se dos Bourbons que nada esqueciam e nada aprendiam. Os empresários portugueses esquecem tudo e nada aprendem.

Segundo o comentador político, ou político comentador (*), Marques Mendes, o empresário Alexandre Patrício Gouveia encabeça um grupo de 50 empresários desejosos de saltar para o colo do governo, que prepara um manifesto para fazer o quadrado de Aljubarrota à volta dos destroços que restam da banca portuguesa.

(*) Político comentador é um político que comenta, sendo o comentário a continuação da política por outros meios, tal como a guerra, segundo von Clausewitz.

CASE STUDY: Um imenso Portugal (26)

[Outros imensos Portugais]

A mesma luta
«O brasileiro é o português – dilatado pelo calor, escreveu Eça de Queirós. A analogia é perfeita para iluminar um personagem central da crise brasileira (e um da portuguesa): Luiz Inácio Lula da Silva é o José Sócrates dilatado pela ambição política.»

Bruno Garschagen no Observador

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: A imitação do Papa

«O novo Presidente da República (PR), Marcelo Rebelo de Sousa (M.R.S.), copia o estilo do Papa Francisco (PF) na comunicação direta e calorosa com o povo. Embora ambos sejam chefes de Estado, os seus múnus são completamente diferentes, assentando melhor ao PF a afetividade e o informalismo do que a M.R.S., pela simples razão que Francisco é, não só um chefe de Estado, mas também um líder espiritual seguidor de Jesus.

A República de M.R.S. nada tem a ver com o "reino de Deus" do PF.

A imitação do estilo do PF por M.R.S. pode não ter mal nenhum, mas também pode ter, como vou justificar.

Consideremos M.R.S. e PF como chefes de Estado apenas, esquecendo a vertente espiritual do líder religioso. O PF está rodeado de uma Cúria cheia de vícios que ele denunciou e quer eliminar. Pelo contrário, M.R.S. vive rodeado de uma "Cúria" (Assembleia da República, lei do financiamento dos partidos, lei eleitoral, Constituição, escritórios de advogados) cheia de vícios que ele nunca denunciou e com que, pelo contrário, sempre pactuou.

Tanto pela omissão como pela ação, nunca M.R.S. denunciou, pelo menos com o mesmo vigor do PF, os pontos frágeis da nossa democracia (e que tanto Paulo Morais como Henrique Neto denunciaram).

Portanto, neste contexto, a abertura, o afeto e a comunicação direta de M.R.S. com o povo podem não ser mais do que uma demonstração de demagogia e populismo com que os políticos gostam de se acusar uns aos outros (depende da conveniência do momento de cada um) e com que nos vão mantendo como povo corrupto, pouco participativo e politicamente inerte!
»

Carta de JOSÉ MADUREIRA, leitor do Expresso

Mitos (225) – A felicidade dos povos vista por uma intelectual

«Uma razão central do nosso atraso relativo está na má qualidade da classe intelectual. Há séculos que dirigentes e pensadores se deixam levar por fábulas e emoções, normalmente elegantes e convincentes, mas com pouca aderência à realidade.»

Ocorreu-me o parágrafo anterior de um artigo de João César das Neves sobre a mitologia anti cavaquista quando lia o artigo «Alegria de Viver», um artigo de Clara Ferreira Alves na Revista do Expresso, de onde respigo algumas passagens:

«Há uma razão para não deixar a Alemanha tomar conta da Europa. Chama-se alegria de viver. Já estiveram dentro de uma estação de caminho de ferro na Alemanha? (…) Nunca se viu gente mais infeliz elo que esta. E basta olhar para a cara da pobre senhora Merkel, acossada pela extrema-direita, para perceber que a felicidade não reina ali. Agora, olhem para a bem mais modesta estação ele caminho de ferro de Bolonha. (…) Em compensação, sobram os bêbados da Europa do Norte. Uma viagem em Itália chega para perceber que deviam ser os italianos a mandar na Europa. (…) Os italianos são um povo feliz. Na Emília Romagna, de que Bolonha é a capital, os habitantes têm índices de felicidade comparáveis aos do Butão. Agora, experimentem passar um tempinho em Essen ou em Frankfurt e digam se gostaram. (…) A alegria de viver ajuda muito. Num país onde a beleza é uma coisa natural, a comida é gostosa, o sol brilha, as pessoas têm menos tendência para o azedume. E ninguém, em Itália, acompanha carne com um litro de cerveja ou bebe uma malga café com leite por cima do peixe. Há que dizê-lo com frontalidade os alemães são uns tristes. (…)

Confrontemos o mundo que existe na cabeça de CFA com o mundo tal como medido pelo WORLD HAPPINESS REPORT 2016, divulgado a semana passada em Roma, e vejamos a posição no «Ranking of Happiness» dos países mencionados por CFA:
  • Entre os cinco países mais felizes encontramos «os bêbados da Europa do Norte»; 
  • Em 16.º lugar encontramos a «gente mais infeliz», os alemães; 
  • Temos de descer 34 lugares até ao 50.º para encontrar o «povo feliz», os italianos; 
  • Os índices de felicidade do Butão colocam-no em 84.º lugar;
  • E, já agora, encontramos os portugueses, que para CFA talvez seja um exemplo de povo feliz, em 94.º.
Há séculos que (...) pensadores se deixam levar por fábulas e emoções, (...) com pouca aderência à realidade. Fracos intelectuais fazem mais fraco um povo fraco. 

20/03/2016

ESTADO DE SÍTIO: Costa, o Zé Du do Puto

1.ª página do Expresso de 18-03
Quem tenha ouvido falar de Christine Deviers-Joncour e não tenha perdido a memória dos assaltos da clique sócio-socrática ao BCP perceberá que um título alternativo para este post seria: «BCP, la putain de la République».

Para recordar o caso BCP releiam-se as seguintes séries de posts: «A parte submersa do iceberg Millenium bcp»; «Cronologia de um golpe»; «La strategia del ragno»; «Móbil do assalto ao BCP»; «Sequelas do assalto ao Millenium bcp».

Quem não tenha perdido a memória reconhecerá nos últimos meses o padrão habitual das Orchestral Manoeuvres in the Dark a desenrolarem-se no Expresso agora mais visíveis nas primeiras páginas e no chuto para cima do mano Ricardo (que aliás estava a mostrar-se mais independente do que o costume).

Exemplos do costume (40) - Faz como eu digo, não como eu faço

Um apparatchik do PaF, director distrital da Segurança Social de Braga, é acusado de «beneficiar Instituições Particulares de Segurança Social (IPSS) onde tem participado em atividades de cariz partidário» e, pior de tudo, de ter dito em 2013 que não ficaria «nem mais um dia» com um governo PS. Começou por ser acusado pelo PCP, seguido pelo BE e inevitavelmente escutado e amplificado no parlamento por Vieira da Silva, o encarregado da Segurança Social da geringonça, que decidiu abrir um inquérito à criatura.

En passant releve-se o qualificativo que o jornalista de serviço da Visão apôs à criatura: «director de Segurança Social anti-PS». Não é um achado do ponto de vista da semiótica da manipulação?

Suponha-se agora que que as acusações têm fundamento - afinal é esse o propósito dos apparatchiks – e que a criatura do PaF é demitida e imagine-se o que aconteceria se a geringonça comandada pelo Dono Desta República resolvesse aplicar estes critérios a um milhar de novos situacionistas que nomeou em 100 dias. Paralisaria o Estado Sucial.

Lost in translation (267) – A Fenprof controlada pelos comunistas quer mais apparatchiks

É isso que significa em sindicalês «Esquerda quer menos alunos por turma para reduzir indisciplina», por várias razões:

1.ª – Em relação à média da OCDE, os professores portugueses já gastam menos tempo no ensino e aprendizagem (ver diagrama da esquerda) e mais tempo a manter a disciplina apesar de uma média menor de alunos por turma.


2.ª – Confirma-se no diagrama seguinte que o número de alunos por turma é inferior à média da OCDE e não há nenhum correlação visível entre este número e a eficácia do ensino.

3.ª – O diagrama seguinte mostra que o número de alunos por professores em todos os níveis de ensino é inferior em Portugal à média OCDE e à média UE21 e, uma vez mais, não há nenhuma correlação visível entre este número e a eficácia do ensino


(Fonte: Education at a Glance 2015 OECE Indicators)

Já agora, repare-se que em relação à média OCDE, Portugal tem claramente menos alunos por professor do que o número de alunos por turma. Porquê? Ora, porque haveria de ser? Porque muitos dos professores não ensinam: estão de baixa ou requisitados pelos sindicatos para fazer agitprop.

19/03/2016

SERVIÇO PÚBLICO: A Internacional da Indignação (8)


A acrescentar às manifestações da paranóia politicamente correcta que grassa nas universidades inglesas, estudantes do Pembroke, um College de elite de Cambridge, cancelaram o evento «Volta ao Mundo em 80 dias» porque os seus organizadores recearam que tivesse um «potencial de ofensa» às minorias étnicas.

Apesar de alguns estudantes não verem potencial ofensivo de se «vestirem com fatos que celebram a diversidade cultural», prevaleceu o ponto de vista dos contaminados pela idiotia terminal. Tão terminal que o Guardian, um jornal geralmente alinhado com estas causas «fracturantes», optou por colocar as suas distâncias e descrever a idiotia num tom neutral.

Esclarecimento:
Agradeço a correcção feita no comentário «Blasfémia: Pembroke é em Oxford!». Contudo, há vários Pembroke Colleges (nada menos do que três e dois deles no UK) e o Pembroke que o Guardian cita é o Pembroke de Cambridge. O leitor foi confundido pelo link que fiz no texto por engano a Oxford (já está corrigido).

ARTIGO DEFUNTO: Eles aplaudem qualquer coisa

«Recuo do ministro na avaliação aplaudido por directores», escreveu o Expresso sobre o ministro da Educação que, depois de ter feito feliz a Catarina Martins com uma entrada de leão em que abolia exames, teve uma saída de sendeiro e vai fazer 6 provas até ao 9.º ano.

Mas o que interessa é que foi aplaudido por abolir com os exames e voltou a sê-lo por repô-los. Estou com Helena Matos: «Mediaticamente a geringonça funciona maravilhosamente».

E direi mesmo mais, o ministro elevou o re-governo da geringonça à perfeição: não apenas re-põe o que o governo neoliberal de direita tinha abolido, re-põe o que ele próprio não chegou a abolir. Melhor não é possível.

18/03/2016

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: A treta dos afectos é boa para a banca...rota e é um desastre de política externa (2)

Uma espécie de continuação dali e daqui.

«Marcelo: domínio da banca espanhola em Portugal “não pode ser exclusivo”


«O Presidente da República transmitiu a Filipe VI que é importante a presença espanhola na banca portuguesa, mas “é diferente haver um exclusivo”.»
(Fonte: Observador)

Quem foi que disse catavento?

Mitos (224) – A mitologia anti cavaquista produzida pelas luminárias do regime

«Uma razão central do nosso atraso relativo está na má qualidade da classe intelectual. Há séculos que dirigentes e pensadores se deixam levar por fábulas e emoções, normalmente elegantes e convincentes, mas com pouca aderência à realidade. Os tempos rodam, o disparate torna-se evidente, mas então já a geração seguinte de analistas anda intensamente ocupada em criar novos mitos, que alimentam erros subsequentes.

Da epopeia do eldorado ao sonho sebastianista, do iluminismo tacanho ao esquerdismo arrasador, do salazarismo subserviente ao europeísmo ingénuo, os nossos brilhantes doutrinadores sempre andaram alheios à realidade e ao interesse nacionais.»

Começa assim o artigo de opinião «Mitos convenientes» de João César das Neves no DN sobre o anti cavaquismo epidémico que assolou a opinião publicada nos últimos anos e contaminou a opinião pública. Contaminação facilitada pelo ressabiamento devido às medidas resultantes da bancarrota socrática que, ao invés de cair sobre os responsáveis e os seus sucessores do mesmo partido, caiu sobre o governo PSD-CDS e, por tabela e apesar dos seus esforços iniciais para fugir com o rabinho à seringa, caiu sobre Cavaco Silva, ampliado pela sua proverbial aselhice.

Antes de passar aos mitos, faço uma declaração de interesse, inútil para quem leia regularmente o (Im)pertinências: não tenho afinidades ideológicas ou políticas com Cavaco Silva, nem simpatia pessoal, nem animosidade pela criatura. Frequentemente, o (Im)pertinências foi muito crítico das acções (e das omissões) de Cavaco Silva.
  • Mito Um - «a nossa agricultura, pesca e indústria foram desmanteladas a mando de Bruxelas», durante os mandatos de Cavaco Silva; 
  • Facto Um - «o produto agrícola não caiu nesses anos, antes subiu 20% acumulados, as pescas 18%, a indústria 57%»; 
  • Mito Dois - foi uma desgraça porque «o emprego caiu 20% na agricultura, 25% nas pescas e 4% na indústria transformadora»; 
  • Facto Dois - «Isto chama-se aumento de produtividade …Nesse período o emprego nos serviços aumentava 30%, absorvendo os trabalhadores dispensados»; 
  • Mito Três - «o sucesso cavaquista se dever exclusivamente aos fundos estruturais»; 
  • Facto Três - «o total acumulado de dinheiro obtido desde a entrada na CEE, em 1986, até 1995 (líquido do que pagámos) representou uns impressionantes 21% do PIB. Mas nesses anos o produto português aumentou 56% acumulados … nos dez anos seguintes, de 1996 a 2005, Portugal voltou a receber os mesmos 21% do PIB, mas o crescimento foi só de 29%.»; 
  • Mito Quatro - «nossa desgraça vem da entrada no euro, de que Cavaco Silva é o único responsável»; 
  • Facto Quatro – entrámos para a Zona Euro «mais de três anos depois de ele sair do poder».

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: A treta dos afectos é boa para a banca...rota e é um desastre de política externa

17/03/2016

Dúvidas (151) – Costa, o banqueiro socialista

Citando o Expresso (não encontrei o artigo original - é possível que tenha sido apagado…), o Observador  escreveu que António Costa «esteve pessoalmente envolvido no processo» BPI, o que me levanta várias dúvidas.

É verdade que Costa meteu o bedelho nas negociações BPI-La Caixa-Isabelinha? Se sim, o que tem ele de se envolver num negócio entre entidades privadas? Se não, para que fez ele o seu spin doctor de serviço soprar uma mentirola nas orelhas do jornalista amigo de serviço no Expresso?

No primeiro caso, Costa mostra bem a sua visão orwelliana do papel do Estado. No segundo caso, também.

O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: E se a esquerda pedisse a privatização do Estado?


«Cá como lá (no Brasil), quando a banca dá barraca, a esquerda pede a sua nacionalização. Agora que o Estado dá barraca, será que a esquerda pedirá a sua privatização?»

CASE STUDY: Um imenso Portugal (25)

[Outros imensos Portugais]

Para escapar à justiça que investiga o caso «Lava Jato», que já reuniu uma vasta soma de indícios do seu envolvimento, Lula vai ser ministro do Governo de Dilma Rousseff, uma sua criatura, conseguindo assim o «foro privilegiado», isto é  imunidade política, não podendo continuar ser investigado e julgado pelo juiz Sergio Moro.

Assim, Lula, Dilma Rousseff e os seus cúmplices do PT conseguiram em 13 anos o enorme feito de transformar o Brasil numa República das Bananas, arruinar a economia, levar o Estado à falência e de elevar a corrupção a níveis inimagináveis.

Diz-se que fizeram muito pelo pobres. É falso. Uma parte das verbas destinadas à Bolsa Família e a outros programas sociais ficou nos bolsos dos corruptos e o que chegou aos pobres criou uma cultura de subsídio-dependência e fará mais para os manter na pobreza do que para os tirar de lá.

Entretanto, segundo o jornal «Folha de S. Paulo», que o jornal i cita com o espantoso título «só a classe alta saiu à rua contra Dilma», o perfil dos manifestantes era «de alta renda». Quem imaginaria que só em S. Paulo havia segundo a Polícia Militar 1,4 milhões da classe alta dispostos a manifestar-se... ou 400 mil segundo a DataFolha, ainda assim o suficiente para fazer da manif na avenida Paulista a segunda maior demonstração na história do Brasil a seguir a missa em Copacabana do papa Francisco.

Actualização:

Já depois de publicado este post foram divulgadas escutas de conversas entre Lula e Dilma por ter sido retirado ontem o segredo de justiça pelo juiz Sérgio Moro. Vale a pena ouvi-las aqui. Os últimos vestígios de vergonha foram para o brejo, como dizem os brasileiros.

ACREDITE SE QUISER: O queijo limiano de Costa é o IVA da factura do veterinário

Esse queijo é o limiano?
Lembram-se de Guterres que, na falta de uma geringonça, para aprovar os orçamentos de 2001 e 2002 teve de comprar o voto do deputado Daniel Campelo do CDS (CDS que votou contra o orçamento), que fizera greve da fome para manter a fábrica do queijo na terra dele, em troca de tentar manter lá a fábrica e realizar várias obras no distrito de Viana do Castelo?

Pois bem, o deputado do queijo de Costa é o deputado do PAN a quem Costa comprou o voto com a aprovação no OE 2016 da dedução de 15% do IVA até 250 euros nas despesas com veterinários para cuidar da bicharada doméstica.

16/03/2016

Bons exemplos (108) - Algum sol na eira e alguma chuva no nabal

A gestão das finanças públicas pelo chanceler Osborne é um bom exemplo de como se pode ter algum sol na eira e alguma chuva no nabal. Veja-se como, num período em que o resto da Europa andou a semear sacos de dinheiro de despesa pública em terras mal amanhadas, a Grã-Bretanha conseguiu reduzir a despesa pública de cinco pontos percentuais ao mesmo tempo que manteve praticamente constante a carga fiscal enquanto a economia vem crescendo desde 2009 sempre acima da média da UE.

Fonte: The Economist Espresso
Recomenda-se ao Professor Auxiliar Convidado Doutor em Economia (Harvard University, Cambridge) Mário Centeno um estágio com o Chancellor of the Exchequer George Osborne MP,  e sugere-se que imite Ulisses tapando os ouvidos com cera para não escutar as sereias da Mouse School of Economics.

Bons exemplos (107) – Talvez ainda possa haver esperança

A notícia já é velha mas merece ser relevada porque mostra que, afinal, a opinião pública ainda não está tão alienada quanto a opinião publicada. Citando a opinião publicada pelo Expresso «por cada português que defende o Novo Banco na posse do Estado, há três que são contra a nacionalização».

Haja Deus.

15/03/2016

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (40) O clube dos incréus reforçou-se (VII)

Outras marteladas.


Agora que a bazuca de Draghi fez pff outra vez, e o BCE iniciou mais uma ronda de alívio quantitativo e de juros negativos, reganha actualidade o artigo «O dilema de Minsky da Zona Euro» de Daniel Gros, director do Centro de Estudos Políticos Europeus, de onde respigo algumas passagens:

«Mas, em vez de repensar a sua estratégia, o BCE está a considerar redobrá-la: comprar ainda mais títulos de dívida e reduzir os juros para terreno negativo. Isso seria um erro grave.

Condições de crédito facilitadas e taxas de juro mais baixas supostamente impulsionam o crescimento, estimulando o investimento e o consumo. Mas no núcleo da Zona Euro - países como a Alemanha e os Países Baixos – o crédito tem sido abundante, e as taxas de juro têm estado próximas de zero durante algum tempo, por isso nunca houve muitas hipóteses de as compras de títulos terem um impacto significativo nesses países. E, de facto, as previsões económicas mais recentes da Comissão Europeia mostram que os gastos nesses países não aumentaram como resultado das políticas do BCE; na verdade, o excedente externo da Alemanha está a crescer.

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (61) - Não precisamos de mais afectos enquanto não pagarmos as dívidas que os anteriores nos deixaram

«Ora aí está: o período mais negro da História recente do país teve origem nos tempos em que os políticos nos governavam com afetos. Eram tantos afetos que todos os dias havia cocktails de inauguração de autoestradas, pontes, viadutos, centros de saúde, pavilhões desportivos (fechados logo a seguir) etc., etc. Todas as semanas havia festas municipais, febras e sardinhadas e excursões de terceira idade a Espanha pagas por juntas de freguesia - por nós, contribuintes.

Era tanto o afeto que houve aumentos de salários e descidas de IVA quando só um cego não via a brutalidade da crise financeira a aproximar-se com a velocidade de uma tempestade de areia ao campo da economia real.

Era tanto o afeto que os políticos da altura, incluindo o Presidente, não contestaram que não se podia gastar o que não se tinha, fazendo mais dívida, para resolver um problema criado pelo excesso generalizado de dívida. E assim se gastou mais e mais nos parques escolares e nas negociatas das parcerias porque era preciso incentivar a economia.»

 «Marcelo e o equívoco económico-financeiro em Portugal», José Gomes Ferreira no Expresso

14/03/2016

CASE STUDY: Um imenso Portugal (24)

[Outros imensos Portugais]

Avenida Paulista no domingo 13 com uns 1,4 milhões 

Fonte: Revista Veja

ACREDITE SE QUISER: O professor Marcelo como ersatz do Canal Panda

«Um dos meus filhos era um bebé insuportável: chorava imenso… . Até que um dia calou-se. Virei-o de frente para a televisão e ficou hipnotizado. Nesse dia o meu filho descobriu o professor Marcelo. Foi comovente: a criança ria, dava gritinhos, esperneava e ficava 30 minutos naquilo. Cada vez que o professor parava de falar e esbugalhava os olhos antes de uma grande revelação, o miúdo escangalhava-se a rir; outras vezes, fixava o olhar nos gestos do professor e nem se mexia; na maioria dos casos travava diálogos enigmáticos com a televisão. Quando percebi o efeito que o nosso Presidente tinha no meu bebé, passei a gravar as suas homilias de domingo e a família teve condições reais para crescer. Ao professor Marcelo muito devo, portanto

Marcelo, Inês Teotónio Pereira no DN

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (23)

Outras avarias da geringonça.

Começo pelo recorde, extraordinário até para o PS, de 1.000-nomeações-1.000 em 100-dias-100, realização que deu a António Costa o merecido cognome de DDR - Dono Desta República (d'aprés Bernardo Ferrão).

Não é extraordinário que um governo atafulhado de soi-disant keynesianos proponha um orçamento em que o investimento público desce 5,6% em relação ao orçamento «neoliberal»?

Apesar disso, não se diga que a geringonça não tem ideias e não produz planos para desenvolver a economia. Vejam-se as 15 medidas para apoiar a criação de novos negócios previstas no Startup Portugal para apoiar o empreendedorismo. Dêem uma olhada e concordarão com o veredicto do Insurgente: «mais parecem medidas de estímulo à criação de emprego público e gastos públicos à conta de tantos lançamentos de ideias que tem que contar com legislação».

13/03/2016

Mitos (223) – Os chineses só investem em países endividados (3)

Outros mitos sobre o investimento chinês: (1),  (2) e (3)

Em retrospectiva, na verdade o mito completo é: os chineses só investem em países endividados, aproveitando os saldos e com o propósito de controlarem essas economias vulneráveis. É um mito cultivado pela esquerdalhada doméstica em geral (que, como se sabe, cultiva 99% dos mitos inventariados), pelo PS (enquanto está na oposição) e até por alguns empresários que não gostam dos chineses (por exemplo Soares dos Santos).

Segundo o Financial Times, o ano passado o investimento chinês na Europa cresceu 28% atingindo 23 mil milhões de dólares e foi de 15 mil milhões de dólares no Estados Unidos.


Com o atraso de alguns séculos e suspenso durante várias décadas, está agora a realizar-se uma profecia de Nostradamus e um pesadelo do Kaiser Guilherme II da Alemanha - o inventor do nome para a coisa: «Perigo Amarelo». It's just a joke.

Aditamento:
Dois dias depois de ter publicado este post, soube-se que a chinesa Anbang Insurance fez uma oferta de USD 12,8 mil milhões para a compra da cadeia Starwood Hotels & Resorts Worldwide (cadeia que inclui Sheraton, Westin e outros). No fim de semana, a Anbang confirmou a compra ao Fundo Blackstone da cadeia Strategic Hotels & Resorts.

Dúvidas (150) - «Adeus Portas; se olharmos para trás vemos o quê?»


Vemos o quê?, pergunta Henrique Monteiro. Nós por cá vemos o político mais fingidor, o salta-pocinhas do argumentário e da demissão irrevogável, entre muitas outras coisas, igualmente pouco recomendáveis.

Por isso, acompanho o retrato de Paulo Portas esboçado por Henrique Monteiro e subscrevo o seu palpite:
«Agora que chega ao fim o seu ciclo, passando a liderança a Assunção Cristas, Portas é visto pela generalidade dos jornalistas e alguns comentadores como um génio da política. Sem querer desmentir tais atributos, a pergunta que deixo é esta: se o que aqui escrevi é verdade, que lugar lhe reservará a História? O meu palpite é cruel: nenhum. Mas isso é o que acontece à maioria das pessoas.»

12/03/2016

ACREDITE SE QUISER: Delírios de grandeza


Parece uma profecia do Bandarra e não é. Parece um título de um tablóide e não é. É um título de um jornal de referência chamado Expresso.

Com que exército vai Marcelo travar o domínio espanhol na banca? Com o exército angolano, parece. E, quem sabe?, com a ajuda do seu compadre marechal Salgado em licença sabática.

Mitos (222) – A excelência das nossas universidades

Inspirados pelo Quinto Império e a mania do povo eleito, que apenas serve para promover uma vida com a cabeça em nuvens sebásticas, como escreveu há dias um dos heterodoxos preferidos do (Im)pertinências, nos últimos anos os mídia começaram a povoar-se com laudas à excelência das nossas universidades.

Acontece que as nossas universidades não são excelentes. Há umas ilhas de excelência, como os mestrados em Gestão da Nova e da Católica e pouco mais. Vejamos então o que pensa do assunto o Times Higher Education.


A primeira e única universidade portuguesa que aparece no ranking das 200 melhores é o IST em 181.º lugar.

11/03/2016

LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: Se ela o diz, quem sou eu para discordar


Primeira-dama turca louva haréns otomanos


A primeira-dama turca afirmou que os haréns do Império Otomano eram uma "instituição educacional que preparava as mulheres para a vida". Isto um dia depois do Dia Internacional da Mulher.

Fonte: Observador

Dúvidas (149) – Insanidade ou leituras apressadas do Milton?

Créditos adamsmith.org, (via Zero Hedge)
«Atirar dinheiro de um helicóptero será a solução para a crise?» pergunta-se o Observador e respondeu o Telegraph ainda antes da pergunta ser feita «Draghi may have to throw money out of a helicopter».

É certo que o autor do sound bite foi o falecido Milton Friedman, um economista respeitável e respeitado (não por toda a gente), mas, que diabo!, o homem estava a falar de uma situação particular (liquidity trap), numa economia em particular (os Estados Unidos que tinha e tem um mercado interno enorme e onde as importações representam pouco mais de 10% do PIB), num período em particular (fins dos anos 60),

É melhor duvidar que esta medicina seja de espectro largo, como a aspirina, Aspirina que, de resto, trata essencialmente dos sintomas e alivia as dores (nisso é parecida com com as taxas de juro negativas, o alívio quantitativo e .. o helicopter money), Se aplicássemos esta aspirina, por exemplo aqui na jangada de pedra, em substituição das reformas necessárias para aumentar a produtividade e qualificação da mão-de-obra e a competitividade das empresas numa economia em que as importações pesam 1/3 do PIB, estão a ver o que aconteceria? Não? Basta só rever o que aconteceu durante 25 anos a contar de 1986 e em particular depois da adopção do Euro.

Para mais pormenores ver a etiqueta Quantitative easing, onde o Impertinente pendurou quase quatro dezenas de posts tratando destas medicinas alternativas.

10/03/2016

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: O Quinto Império do professor Marcelo

«Em resumo, foi uma chatice. Paulo Portas elogiou a qualidade literária do discurso de Marcelo. Mentiu. Marcelo sempre foi infinitamente melhor a falar do que a escrever – é o típico professor de Direito. Nem sequer faltou a habitual citação foleira de Miguel Torga, que passou incessantemente nos rodapés das televisões: “Valemos muito mais do que pensamos ou dizemos.” A sério? Valemos? Mais do que pensamos e mais do que dizemos? Pelo amor da santa. Nada tenho contra discursos de miss Universo, mas tenho alguma coisa contra os discursos que insistem em sublinhar a singularidade portuguesa e a sua “vocação ecuménica”, como lhe chamou Marcelo. É mais uma derivação do Quinto Império e desta mania do povo eleito, que apenas serve para promover uma vida com a cabeça em nuvens sebásticas. Se nos julgássemos menos singulares, mais iguais a toda a gente, e arregaçássemos as mangas para trabalhar com os outros, era tão, mas tão mais útil. Aguardo ansiosamente por um Presidente da República que troque as citações de António Lobo Antunes e Miguel Torga pelas de Adília Lopes e Luiz Pacheco. Este país tem fragas a mais e atrevimento a menos.
(...)
O seu discurso foi um discurso de não-escolhas, quando fazer política é o contrário disso – é escolher, e escolher dolorosamente. (...)»

«O presidente de tooooodos os portugueses», João Miguel Tavares no Público

Nas passagens não citadas JMT não me tirou as palavras da boca porque essas palavras nunca sairiam da minha boca.

CASE STUDY: Um imenso Portugal (23)

[Outros imensos Portugais]

Apanhado
Dilma Rousseff e a clique do PT estão dispostos a nomear Lula ministro para que possa ter um estatuto privilegiado na investigação do Lava Jato, caso que lhe proporcionou uma bela soma de dinheiro e de imóveis que fizeram dele um sujeito que no Brasil se poderá considerar rico .

Em 1998 Lula disse premonitoriamente «No Brasil é assim: quando um pobre rouba vai para a cadeia, mas quando um rico rouba ele vira ministro».

Exemplos do costume (39) – Tomando a nuvem por Juno

Já escrevi aqui o que penso sobre a contratação de Maria Luís Albuquerque pela Arrow Global. Não vou pois limpar-lhe a folha, nem assumir as suas dores, nem lamentar o que, sendo lamentável, era tão esperável que é mais uma forte razão para Maria Luís não ter aceitado - refiro-me à falsa indignação por parte de gente sem predicados morais e éticos, gente que atrelou o caso à sua agenda política.

Vou apenas citar o que escreveu João Vieira Pereira sobre dois aspectos da questão: (1) os salários miserabilistas dos ministros e secretários de estado – o primeiro-ministro se trabalhar 8 horas por dia ganha por hora 40 euros – que só permitem remunerar idealistas ricos (não se viu até hoje nenhum), um ou outro bem intencionado, gente incompetente ou gente que está a trabalhar para ser ex-ministro e (2) a hipocrisia de criticar um ex-ministro por ir trabalhar numa empresa que teve benefícios fiscais num país como Portugal, sendo certo que não é certo que a empresa de contratou Maria Luís tenha tido benefícios fiscais.

Escreveu João Vieira Pereira no Expresso:

«Mas para que isso seja possível também é necessário tratar com respeito quem ocupa esses cargos quando estão em funções. O que se paga a um ministro ou a um secretário de Estado é ridículo. Mas infelizmente este é um assunto tabu na política portuguesa. Infelizmente, porque uma coisa está relacionada com a outra.

Mas as alterações têm de ir mais longe. Se um ministro das Finanças ficar impedido de trabalhar com empresas que receberam benefícios fiscais então, por absurdo, é bem possível que tenha de riscar das suas opções mais de metade das empresas em Portugal. E também não poderá trabalhar para qualquer Fundação, nem dar aulas, já que as universidades recebem ajudas públicas. Muito menos trabalhar em escritórios de advogados. Se calhar resta-lhe o desemprego, a emigração ou a clandestinidade.

Este é um assunto sério que tem de ser discutido de forma frontal. De forma a criar regras claras e equilibradas que afastem quem não interessa na política e puxem quem tem mesmo capacidade para ocupar cargos políticos.
»

08/03/2016

ACREDITE SE QUISER: Os «amores plurais» são cada vez menos singulares

Amores plurais
A capacidade inventiva do pensamento politicamente correcto na criação do newspeak orwelliano não tem limites. Leio um artigo com um título que é em si mesmo um manifesto («Amores plurais: A escolha da não-monogamia») e fico a saber que «o interesse romântico e/ou sexual por mais de uma pessoa é um dilema que a monogamia ainda não resolveu».

Seria pedir muito à monogamia resolver esse dilema. Aliás, seria inútil porque o dilema está resolvido pela poligamia e, já que estamos em igualdade, pela poliandria. Ou melhor, não se trata de um dilema, mas antes de um trilema: monogamia, poligamia/poliandria ou tudo ao molho e fé em deus a que a jornalista dilemática chama «amores plurais» onde inclui o swing.

Confirma-se assim a justeza do pensamento de um falecido amigo meu que, perante o espectáculo de meio mundo pretender ser diferente do outro meio mundo, disse um dia lapidarmente: «ser singular é cada vez mais plural». Pensamento a que, inspirado nos «amores plurais», acrescento «até que a singularidade deixe de ser singular».

Um dia virá em que teremos os casais monogâmicos não swingers condenados a ser uma minoria perseguida que luta pelos seus direitos. Nomeadamente pelo direito a dar, de vez em quando, discretamente, uma facadinha na monogamia.