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22/01/2016

ESTÓRIA E MORAL: De como não basta ter razão

Estória

Não fará sentido os investidores profissionais suportarem os custos das suas más decisões? Fazer faz, sobretudo quando a alternativa são esses custos serem suportados pelos contribuintes, como seria o caso dos 2 mil milhões de euros de obrigações do BES na posse de vários grandes bancos e fundos internacionais se o BdeP não tivesse resolvido transferi-las do Novo Banco para o velho BES o que é o mesmo que dizer que esses investidores não verão um cêntimo.

Porém, o capital não tem moral nem coração e por isso o problema é que um país encalacrado com dívidas perde a soberania e tem muita dificuldade em fazer manifestações dela. Assim, esses investidores puxaram dos galões e tiveram reuniões a semana passada com o BdeP que, percebendo tardiamente o que viria a seguir, se dispôs a compensá-los, como relatou o Financial Times.

Entretanto, esses mesmos investidores, que não ficaram felizes com as compensações prometidas, reuniram ontem para decidir se a decisão do BdeP será considerado um evento de crédito e, se for o caso, se accionarão os seus Credit Default Swaps (CDS) que poderão envolver muito mais do que os 2 mil milhões (estima-se 50 emissões obrigacionistas no total de 18 mil milhões). A decisão ficou suspensa como uma espada de Dâmocles em cima da cabeça de Carlos Costa, o que teria pouca importância se não fosse o caso da perda da cabeça dele poder custar o fecho dos mercados aos bancos portugueses e, pior do que isso, a subida aos infernos dos yields da dívida pública portuguesa. A propósito, vejamos o que se passou no último mês com a dívida portuguesa a 10 anos em comparação com a espanhola:

Fonte: Bloomberg

Moral

«Speak softly and carry a big stick» (um provérbio africano citado por T. Roosevelt), que é como quem diz não basta ter razão. Ter dinheiro (ou não ter dívidas) ajuda muito.

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