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21/01/2016

SERVIÇO PÚBLICO: Da próxima vez também não vai ser diferente (6)

[Uma espécie de continuação de «Too big to fail» - another financial volcanic eruption in the making (1) e (2) e de «Da próxima vez também...» (1), (2), (3), (4) e (5)]

Tenho dedicado esta série de posts a antecipar os resultados das políticas de quantitative easing (QE) e de taxas de juro evanescentes adoptadas pela Fed, primeiro, e depois copiadas, sucessivamente, pelo Banco de Inglaterra, pelo BCE e pelo Banco Central do Japão.

Escrevi que nas bolsas americanas aditivadas pelo QE e as taxas de juro da Fed, os valores do P/E Ratio (price-to-earning ratio, isto é a relação entre a cotação das acções e os dividendos pagos) atingiram níveis insustentáveis e, de facto, não sustentados pelo fraco crescimento dos lucros. Evolução semelhante se deu nas bolsas europeias, japonesas e, por último, chinesas (neste caso cumulativamente com outras razões). Também os preços nos mercados imobiliários, sobretudo americano e britânico, atingiram níveis estratosféricos.

Pois bem, como tudo o que sobe um dia desce, estamos desde o princípio do ano a assistir à queda das cotações em todos as bolsas e, após anos de experimentalismo dos bancos centrais, começámos a assistir à quebra do longo e pesado silêncio de gurus que agora anunciam o apocalipse. Exemplos: Larry Summers (ex-secretário do tesouro americano), George Osborne (chanceler britânico), George Soros (o homem da Quarta-Feira Negra que afundou a libra em 1992), Albert Edwards (da Société Générale, este com um pouco mais de moral), entre outros, sem esquecer os economistas do RBS (Royal Bank of Scotland) que há dias anunciaram o fim do mundo - os mesmos economistas que não previram o afundamento do próprio RBS em 2008.

Como escreveu há dias um jornalista (sem causas), se fosse, seria esta a primeira vez que gurus e analistas previram uma crise dos mercados. Não sei se o apocalipse está a caminho (duvido), até porque a economia mundial não está assim tão mal (as economias que estão mal são as dos produtores de matérias-primas), o que sei é que os inevitáveis ciclos dos mercados ao serem manipulados pelos bancos centrais nos últimos 8 anos podem ter ajustamentos violentos que de outro modo poderiam (talvez) ser aterragens suaves. Com ou sem apocalipse, os bancos centrais ao usarem intensamente o QE e manipularem as taxas de juros estão agora desarmados para reagirem – por exemplo, como espevitar os mercados baixando taxas de juro que estão próximas de zero?

Moral da estória, como disse um jogador qualquer: prognósticos só no fim do jogo.

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