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11/01/2016

CASE STUDY: Um imenso Portugal (19)


Poucos dias depois de a segunda das grandes agências de rating ter degradado a notação do Brasil para «lixo», demitiu-se o ministro das Finanças Joaquim Levy, uma avis rara com ideias mais ou menos liberais perdida no galinheiro do governo do PT. Demitiu-se em desespero por não conseguir aplicar as suas políticas face a previsões de continuação da recessão (2,5% a 3% em 2016, prevendo-se que no final de 2016 a economia terá encolhido 8% face ao primeiro trimestre de 2014), à queda de 31% do real em 2015 e de 12,4% das bolsas, ao crescimento do endividamento e à inflação, actualmente em 10,5% e que se espera ser em breve mais alta do que a taxa de aprovação da presidente.


Como chegou o Brasil a este ponto? Certamente com a ajuda da queda dos preços das matérias-primas que desceram mais de 40% em relação ao máximo em 2011, devida à contracção da procura chinesa, e com uma grande ajuda do governo durante o primeiro mandato Dilma Rousseff que aumentou as pensões e os benefícios fiscais às empresas amigas do PT, dilatando o défice do orçamento de 2% em 2010 para 10% em 2015.

Consequência de uma legislação laboral inspirada no corporativismo de Mussolini, a produtividade na indústria é a quarta mais baixa dos 41 países da OCDE.

A pensão mínima - igual ao salário mínimo - aumentou 90% nos últimos 10 anos e a idade da reforma é 60 anos para homens e 55 para mulheres e no caso de professores 55 e 60 respectivamente. Não admira, por isso, que a despesa com pensões seja 12% do PIB, uma percentagem maior do que a do Japão com população muito mais envelhecida.

No aspecto fiscal, a carga tributária cresceu de 25% em 1991 para 36% do PIB em 2015, o tempo médio necessário para as empresas cumprirem as obrigações fiscais atinge a média pantagruélica de 2.600 horas por ano, sete vezes a média da América Latina. Cerca de 90% da despesa pública está «congelada» pela Constituição. Onde é que já vimos isto?

Fatalmente, o peso da dívida pública aumentou de 53% para 70% (espera-se que atinja 93% em 2019), o que poderá não parecer muito elevado na Europa mas é-o para um país em vias de subdesenvolvimento que tem de pagar juros que custam 7% do PIB. Onde é que já vimos isto?

Por falar em constituição, a brasileira de 1988 tem 70.000-palavras-70.000 o que envergonha até as nossas abundantes 32.000-palavras-32.000 que são quantas precisámos para fabricar o misto de declaração de princípios marxistas, manual de organização política, lista de direitos adquiridos e contrato colectivo de trabalho da nossa Constituição.

[Fontes: Briefing Brazil’s Crisis, Economist; Trading Economics]

1 comentário:

Anónimo disse...

Onde é que já vimos isto? perguntai vós.
Também não sei. Só sei que o Reino Unido não tem constituição; nem os EUA, que têm um arremedo (a lei dos pariarcas). Palavras leva-as o vento.

«Não sei por onde vou. Não sei para onde vou. Sei que não vou por aí!»

Abraço, até à guerra civil ou revolução (sem cravas, com tiros)