Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

28/11/2015

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (6)

Outras avarias da geringonça.

Daqui para a frente, por amor à simplicidade, a geringonçacoisa malfeita, caranguejola, obra armada no ar» segundo os dicionários) passará a designar o artefacto composto pelos ministros e ajudantes do governo de Costa, pelos deputados e pelos action men da «maioria de esquerda» - um conceito inventado por Cunhal, designando no caso presente 3 + 1 bandos ligados por 3 + 1 papéis assinados em separado.

Pois bem, a geringonça continua a agitar-se espasmodicamente tendo a sua componente parlamentar produzido em pouco tempo dezenas de iniciativas – ejaculações do órgão legislativo, segundo o Glossário das Impertinências.

Sem querer ser exaustivo, vou citar apenas duas. Uma mais antiga, o projecto de lei para acabar com a taxa de moderadora nos abortos com vista a, segundo o patoá do Berloque de Esquerda, «resgatar os direitos das mulheres e portanto para resgatar a sua dignidade» - estranho que os abortos sem moderação sejam indispensáveis para resgatar a dignidade das mulheres que, pelos vistos, não vale mais de que 7.75 euros. Seja como for, acabou: não mais taxa moderadora no aborto; taxa moderadora só na extracção de mioma uterino.

A outra foi de ontem, e deve ter sido para resgatar a dignidade dos professores e, quem sabe?, resulta ainda do resíduo guterrista da «paixão pela educação» que não produziu in illo tempore melhor do que se tivesse sido ódio pela educação. Desta vez, tratou-se da abolição dos exames do quarto ano que, segundo uma das manas Mortágua, «são uma violência para as crianças e um voto de desconfiança sobre o trabalho dos professores». Sem debate no parlamento, sem discussão pública, aboliu-se o que se discutiu durante meses.

Ainda um outro projecto para prestar um serviço aos apparatchiks comunistas da FENPROF: a revogação dos exames de acesso à profissão de professor e a anulação dos que já tiveram lugar.

Apesar do «amplo consenso» (não me lembro quem inventou esta, suspeito ter sido também Cunhal), continuam a aparecer umas areias na engrenagem. As partes da geringonça concordaram em discordar quanto à eliminação da sobretaxa de IRS e da Contribuição Extraordinária de Solidariedade. Tal como em relação ao socialismo, que todos concordam em estarmos a caminho dele (enfim, para uns o caminho só termina no comunismo), também em relação ao extermínio dessas invenções da direita, inspirada no neoliberalismo em conluio com a troika para fazer o povo sofrer, todos concordam em exterminá-las, mas não no tempo e no modo.

2 comentários:

Anónimo disse...

«A dignidade das mulheres que, pelos vistos, não vale mais de que 7.75 euros» está baratita para a sinistra, e como grande educadora do povoléu, cabe-lhe responder qual o preço da dignidade dos homens; o mesmo, maior, menor?

Será um bom começo comparar o preço dos sexos, segundo inúmeros critérios, tais como empregar/desempregar, casar/ajuntar e descasar/desajuntar. Incluirá o preço do sexo dos anjos, dos anjinhos que irão nascer se tal aprouver a alguns «juristas», blá, blá blá.
Como diria o saudoso Alm. Pinheiro de Azevedo "bardamerda pró fascista".

Anónimo disse...

As morte-de-água e tantos outros cidadões da mesma geração, têm atras (negras) memórias da sua escolaridade que, atentando à sua paternidade, deve ter sido feita "a martelo" em instituições baratitas de direita (da sinistra são sempre caras); daí o trauma.

Voltaremos ao após Marquês de Pombal que, acabando com os Jesuítas, acabou com um ensino gratuito em todo o País abragendo uns 30.000 rapazes que receberiam o equivalente ao antigo 5o ano dos liceus. Tal só reapareceu com os liceus de Camões e de Pedro Nunes aí por 1912, 150 anos depois. Século e meio de analfas.