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07/01/2004

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: O documento panfletário e a ficção documental.

Secção Perguntas Impertinentes
O realizador Michael Moore rodou “Bowling for Columbine”, um retrato pretensamente objectivo do que se passou no massacre e a sua génese. Venceu um Oscar da Academia na classe Documentário, à falta duma classe Panfletos & Manifestos. À míngua de talento para fazer um filme de ficção, Moore reinventa a sociedade americana a pretexto de a retratar.
O realizador Gus Van Sant rodou “Elephant”, vencedor do Prémio de Melhor Realizador do Festival de Cannes 2003 (haja deus! que foi feito dos representantes do radical chic?). “Elephant” não pretende ser um retrato do que se passou no massacre, que lhe serve apenas como inspiração, nem abordar a sua génese.
O crítico de cinema Tiago Pimentel escreveu a respeito de "Elephant": “Sendo um objecto de ficção tem muito mais verdade documental do que «Bowling for Columbine» alguma vez sonhou conseguir.” Mais palavras para quê?
Porquê o panfleto de Moore excitou tanto os críticos da esquerdalhada e o filme de Van Sant os deixou numa estranha modorra? Terá sido a panfletária declaração de aceitação do Oscar em que Moore falou de "razões fictícias do Presidente fictício dos Estados Unidos, eleito numas eleições fictícias, para a guerra que está a decorrer". Será o pendor congénito para o cinema agit-prop?
Enquanto não há respostas para estas perguntas, brinde-se o Moore com três chateaubriands pelo panfleto e cinco ignóbeis pela declaração de aceitação do Oscar.
Para Van Sant, vão dois afonsos por resistir à demagogia fácil e fazer um filme decente, que ainda será visto muito tempo depois do vómito do Moore estar esquecido.

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