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20/05/2020

Adivinhe quem são os "europeus excepcionalmente preparados" para lidar com a pandemia

«Estudos mostram consistentemente que os residentes do noroeste da Europa confiam muito nos seus governos e concidadãos, enquanto os no sul e leste da Europa não confiam. Quando a World Values Survey pergunta aos suecos se a maioria das pessoas é confiável, mais de 60% respondem sim. Na Itália apenas cerca de 30% o fazem, e na Roménia apenas 7%. Outro estudo, o European Social Survey, pede aos entrevistados que avaliem sua confiança nos políticos numa escala de dez pontos. Em 2018, os holandeses tiveram média de 5,4, os polacos 3,1 e os franceses e alemães no meio. Um em cada oito búlgaros deu a seus políticos um zero.

Tais resultados reflectem profundas diferenças socioculturais. A maior confiança correlaciona-se com maior riqueza, menos crime e outras métricas de bem-estar. Também parece influenciar as respostas ao Covid-19. Os países de confiança geralmente implementaram bloqueios menos rigorosos. Em vez de aplicar duramente as regras de distanciamento social, seus governos dependem dos cidadãos para observar as directrizes voluntariamente. Qual método é melhor? A resposta é complicada.»

De seguida, o artigo de onde respiguei os parágrafos precedentes continua referindo um país que vou designar como «País X». Depois de ler os dois parágrafos seguintes tente adivinhar qual é o «País X». 

«Considere o País X, onde uma brutal ditadura (...) seguida por décadas de corrupção deixou os cidadãos desconfiados das instituições e uns dos outros. Incapaz de confiar na boa vontade pública, o governo respondeu ao Covid-19 com um bloqueio severo, declarando estado de emergência mesmo antes da primeira morte oficial do país. São necessárias justificações escritas das razões para sair de casa. De 24 de março a 19 de abril, a polícia emitiu N multas aos incumpridores.

A maioria dos habitantes do País X pratica o distanciamento social (...). As multas não são a única razão. Poucos confiam no sistema de saúde decrépito do país para tratá-los se forem infectados pelo vírus. Alguns lembram a escassez de alimentos na década Y, e foram rápidos a mudar para o modo de crise. O senhor deputado A diz que os  habitantes do País X são "europeus excepcionalmente preparados" para lidar com estas dificuldades

O senhor deputado A também poderia ter dito que os habitantes do país X «são tão disciplinados que a repressão é inútil».

Já adivinhou qual é o País X? Não, não é este. É o outro.

[Excertos de Do low-trust societies do better in a pandemic?]

3 comentários:

Afonso de Portugal disse...

Fabuloso, confirma uma tese que tenho há muito: viver sob o totalitarismo faz as pessoas estranhar e até ter aversão à liberdade. É uma espécie de síndrome de Estocolmo nacional. Lá, como cá!

Anónimo disse...

Provavelmente todos e cada dos 70 borregos que andam por aí a pastar

Anónimo disse...


Malária: equipa liderada por português cria vacina
https://observador.pt/2020/05/21/equipa-liderada-por-portugues-testou-eficacia-de-nova-vacina-contra-malaria-com-bons-resultados/

Tinha que ser.
Bestial...
Abraço