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13/05/2020

De volta ao Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva (16) - O que teria acontecido sem confinamento? (3)

Este post faz parte da série De volta ao Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva e é continuação de O que teria acontecido sem confinamento? (1) e (2), onde se concluiu que os idosos tem uma letalidade muito mais elevada e os acolhidos em lares de idosos representam uma percentagem muito significativa do total de vítimas.

Essa conclusão levou-nos à pergunta como explicar ser precisamente o grupo com maior letalidade o mais confinado e legitima a dúvida sobre a eficácia do confinamento considerando as suas consequências indesejadas quer no campo económico quer no campo social.

É claro que sempre se pode argumentar que o confinamento ao atrasar a propagação retarda os impactos sobre os serviços de saúde e evita o seu colapso. Se isso for verdade, será sobretudo para um confinamento limitado no tempo, no espaço e nos grupos sociais. E talvez não seja uma verdade universal porque salvo alguns casos pontuais (como a Lombardia em Itália) os serviços de saúde nunca estiveram à beira da ruptura.

Mas há muitas outras razões para terminar tão cedo quanto possível o confinamento. Vou-me socorrer, uma vez mais do médico John Lee, professor de patologia recém-aposentado e ex-patologista consultor do NHS, que há poucos dias escreveu na Spectator «Ten reasons to end the lockdown now» onde identifica vários aspectos, alguns deles peculiares ao Reino Unido que não vou referir, entre os quais relevo os seguintes:
  • A maior parte dos casos são assintomáticos; quase todos os que são infectados recuperam e dos que morrem 90% sofriam de doenças graves; 
  • As políticas de confinamento basearam-se em modelos irrealistas, assumindo por exemplo que 80% da população seria rapidamente infectada quando essa percentagem não deve ultrapassar 15%; 
  • Não há evidência sobre se o confinamento está resultar quando se compara com países como a Suécia que não adoptaram o confinamento compulsivo; os custos directos económicos e de saúde pública do confinamento são gigantescos e os custos indirectos nem sequer estão a ser considerados; 
  • O confinamento atinge directamente uma maioria das pessoas cuja saúde nunca chegará a ser afectada pela pandemia;
  • Este vírus como todos os vírus está em permanente evolução e as estirpes menos perigosas vão gradualmente tornando-se dominantes;
  • A maioria das pessoas sabe como comportar-se responsavelmente.
O que aconteceria então sem confinamento generalizado e compulsivo?  Ninguém saberá exactamente mas podemos comparar com os resultados da Suécia que não o adoptou e adoptou uma estratégia de imunidade de grupo com confinamento voluntário ou com a Holanda que adoptou um confinamento mitigado. O número de óbitos por milhão de habitantes era ontem de 328 e 322, respectivamente, mais alto do que os 113 de Portugal, mas muito menos do que as taxas da Bélgica (756), Espanha (576), Itália (511), Reino Unido (482), França (414) (worldometer).

É claro que esta é a situação agora e é muito provável que nos países com menor a letalidade ela venha a aumentar mais no futuro, precisamente porque a taxa de infecção é menor do que nos países em que o confinamento foi mais aligeirado. O epidemiologista sueco Johan Giesecke disse em entrevista recente ao Público que quase 90% dos óbitos suecos são de pessoas com 70 anos ou mais e que estima que um quarto da população já tenha sido infectada, antecipando que dentro de um ano as letalidades na Europa não terão grandes diferenças.

(Continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

Comecei a contar os lugares nos aviões que vão levar, em breve, para Paris de França os excelentes assistentes operacionais que superintendem isto.
ao