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07/08/2016

ARTIGO DEFUNTO: O jornalismo de causas ao serviço da geringonça


Primeiro o departamento de propaganda trombeteou através dos jornalistas amigos que a «providência cautelar interposta pelo Colégio Senhor dos Milagres foi julgada improcedente pelo Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) de Leiria».

Depois, o Tribunal de Coimbra decidiu a favor dos colégios várias providências cautelares, o ministério da Educação «deduziu incidente de suspeição do juiz titular dos autos» e vários jornais acusaram o juiz Tiago Lopes Miranda de conflito de interesses por ter decidido a favor dos colégios, um deles frequentado por uma filha. Como não podia deixar de ser, também o Sindicato dos Professores da Região Centro disse suspeitar da parcialidade do juiz.

Vale a pena ler, pelo menos o que o Público escreveu a este respeito, onde começa assim uma das várias peças que dedicou ao assunto:
«Anti-aborto, católico e com seis filhos, entre os 14 e os 29 anos, o juiz que o Ministério da Educação não considera isento para decidir da questão dos colégios começou a sua carreira judicial do lado do Ministério Público. Nascido há 54 anos em Coimbra, no seio de uma família também apegada à religião, (…) Um opúsculo dedicado à sua família e editado pelo Movimento Rotário no ano seguinte conta que casou com uma professora de educação moral e religiosa católica, “tendo o matrimónio sido abençoado com seis filhos”. “Foi a fé que acabou por nos unir” (…)»
Estão lá os vómitos característicos do jornalismo de causas num estilo que não envergonharia o Diário da Manhã dos tempos do salazarismo, mutatis mutandis: onde está anti-aborto estaria pró-aborto, onde está católico estaria anti-cristo, onde está Movimento Rotário estaria MUD/oposição/CDE/etc. tudo temperado com insinuações de ligação aos comunistas.

Nos dias seguintes a poeira assentou e ficou a saber-se:
  • A juíza do Tribunal Administrativo e Fiscal de Leiria que indeferiu uma providência cautelar interposta pelo Colégio Senhor dos Milagres «foi dirigente e fez parte de Governos do PS»;
  • O juiz acusado de parcialidade não tinha filhos a estudar em nenhum dos colégios em que interveio e o Jornal de Notícias, que tinha referido o conflito de interesses na sua primeira página, viu-se compelido fazer uma nota da Direcção onde se desculpa por ter agido «de boa-fé, acreditando numa fonte ligada ao governo, que reputava de credível». 

1 comentário:

Unknown disse...

O jornal de referencia n#ao tem camoes a mais ? e jornalistas a menos .?