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25/05/2014

CASE STUDY: MST cansou-se de estar lúcido

Ainda recentemente relevei dois surtos de lucidez (aqui e aqui) de Miguel Sousa Tavares. Talvez porque a lucidez, sendo um exercício constante e exigente de racionalidade, é bastante cansativa, MST teve mais uma recaída e na sua última peça no Expresso, depois de lamentar a invasão da Europa pelas tribos bárbaras que «invocam a igualdade para colherem todos os benefícios do Estado social europeu para o qual não contribuíram», constrói mais uma teoria da conspiração a respeito da Alemanha ao arrepio de uma história que previamente o desmentiu.

A Alemanha nunca esteve especialmente interessada no aprofundamento da União (foram os americanos e os franceses, esperando contê-la) e muito menos na adopção de uma moeda única (foi o preço que teve de pagar aos franceses pela reunificação) e atribuir-lhe propósitos que não encontram suporte nas hesitações demonstradas pelos vários governos alemães é uma notória concessão de MST aos seus preconceitos e idiossincrasias, como se pode ler no excerto seguinte da sua peça no Expresso:

«Talvez um dia a história me desminta, mas, até lá, vou continuar a acreditar que o alargamento da Europa a Leste, até ao ingovernável conjunto de 28 países que hoje constituem a UE, foi um sábio plano premeditado pela Ale- manha para, de duas uma: ou liquidar a UE, tornando-a ingovernável, ou tomar conta dela, sob o pretexto de ser ingovernável. Premeditado ou não, o resultado foi uma Europa em que o poder foi conquistado por um directório onde mandam os ricos e poderosos, o euro foi posto ao serviço dos interesses monetários e económicos da Alemanha e, com a justificação de que, com as fronteiras abertas, todos os interesses nacionais ficaram ameaçados, enterrou-se qualquer ideia de solidariedade entre pares - substituído pela velha regra do "salve-se quem puder, que temos obrigações para com os nossos cidadãos, antes de mais". Tudo feito com a cumplicidade ou conivência de uma leva de políticos europeus absolutamente destituída de horizontes, de coragem, de sentido de responsabilidade perante os desafios - Berlusconi, Rajoy, Sarkozy, o patético Hollande, o nosso tão condecorado e honoris causado Durão Barroso. Todos marionetas nas mãos de Angela Merkel

Se a lucidez e a coragem intelectual de resistir aos preconceitos e às idiossincrasias é um exercício de grande dificuldade para as nossas elites, o que esperar de legiões de semiletrados que foram hoje para a praia ou irão votar numas eleições cujo propósito lhes escapa?

2 comentários:

Anónimo disse...

"países que hoje constituem a UE, foi um sábio plano premeditado pela Ale- manha para, de duas uma: ou liquidar a UE"

Esta frase demonstra 1) uma grande ignorância, pelas razões apontadas pelo autor do post e 2) uma mente frouxa, adepta de cabalas, como é tão típico da esquerda.

tina

Dudu disse...

Cheguei a alimentar a esperança de melhoras para o plagiador de textos MST...