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21/02/2013

ARTIGO DEFUNTO: A arte de bem titular (2)

Ontem o ministro das Finanças anunciou que a queda do PIB vai ser revista de 1% para 2%, ou seja mais 100 pontos base ou um ponto percentual. Como dar esta notícia a leigos? A forma mais simples e rigorosa seria escrever exactamente isso: a recessão foi revista de 1% para 2%.

Títulos escolhidos pelos mídia para dar a notícia:
  • «Governo assume que já espera o dobro da recessão prevista para este ano» (Lusa)
  • «Governo assume esperar o dobro da recessão prevista» (OJE)
  • «Vítor Gaspar espera dobro da recessão e admite prolongamento do prazo para corrigir défice» (RTP) «Governo admite o dobro da recessão prevista para 2013» (Expresso)
  • «Governo assume que já espera o dobro da recessão prevista para este ano» (ionline)
  • «Gaspar admite que recessão seja o dobro do previsto» (Económico)
  • «Governo espera o dobro da recessão para 2013 (de 1% para 2%)» (TSF)
  • ‎«Gaspar admite fracasso» (DN)
Com excepção da TSF que teve alguma preocupação de rigor e do DN que fez um título panfletário, todos os outros seguem a Lusa, fonte de quase todas as notícias, a agência que habitualmente faz os fretes aos governos do PS e à esquerdalhada.

É equivalente titular o «dobro» ou «aumento de 1% para 2%»? Claro que não. A começar porque a maioria dos que lêem terão uma ideia primitiva do que seja recessão e muitos não sabem qual a recessão antes prevista e a acabar porque tal título é compatível com aumentos de 1% para 2%, como de 0,1% para 0,2%, de 5% para 10% ou 10% para 20%.

É isto inocente? Como noticiaram os mídia as reduções crónicas do crescimento previstos pelos governos do PS? Alguém se lembra de títulos como «crescimento desceu para metade»? E o aumento do défice de 2009 que Teixeira dos Santos começou por fixar em 2,2% e acabou em 10%? Alguém se lembra de um título como «défice quintuplicou»?

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