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20/02/2012

SERVIÇO PÚBLICO: Honoris cum causa

Ao contrário dos que não entendem a justeza do triplo doutoramento honoris causa de Paul Krugman no próximo dia 27 que as Universidades de Lisboa, Técnica e Nova vão conceder ao Nobel da Economia, eu não entendo porque não encontramos na lista as universidades do Porto e de Coimbra e a Católica, para não ir mais longe. E não entendo por várias razões.

Em primeiro lugar, como aqui já escrevi, a propósito de umas detracções do Pertinente, é verdade que Krugman tem sido nos últimos anos sobretudo um comentador (há mais de 8 anos que praticamente não publica trabalhos). Não é verdade que tenha pouca obra. Tem bastante e uma parte pode até ser considerada científica.

É duvidoso que o mérito de Krugman seja «mais do que duvidoso». É no máximo, para o conjunto da sua obra científica, um pouco duvidoso. Não é duvidoso e é inegável o mérito de ter percebido há quase 30 anos que poderia aproveitar o modelo Dixit-Stiglitz de concorrência monopolística no seu trabalho sobre a aplicação das economias de escala à teoria do comércio internacional. Esse trabalho constitui até agora a sua contribuição mais original para a ciência económica.

Em segundo lugar, porque, podendo não parecer, Krugman apresenta soluções heterodoxas para os seus seguidores, como o que escreveu recentemente no seu blogue: «Parece que Portugal vai ser a próxima peça do dominó do euro. … os preços e custos do trabalho estão desalinhados do resto da zona euro; realinhá-los vai exigir uma dolorosa desvalorização interna». Ou o que disse mais ou menos na mesma altura em entrevista ao Monde: «para restaurar a competitividade na Europa ter-se-ia de fazer com que, daqui a cinco anos, os salários baixassem 20% em relação à Alemanha».

Em terceiro lugar, e supondo que as outras razões não seriam suficientes, cito o argumento definitivo do insurgente André Azevedo Alves: o honoris causa visa «“premiar” um dos mais destacados e influentes defensores do intervencionismo e do despesismo estatais na actualidade num país que foi conduzido à bancarrota pelo intervencionismo e pelo despesismo estatais; por outro, que o consenso muito alargado que existe em Portugal em torno de Krugman resulta ele próprio de um quadro mental no qual o keynesianismo continua a ser praticamente hegemónico».

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