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15/04/2013

O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: Uma aplicação do axioma de Sócrates-Passos (10)

Fascículos anteriores: (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8) e (9)

[Em rigoroso exclusivo, o (Im)pertinências continua a publicar em fascículos o paper «Teoria Geral da História de Portus Cale e Arredores à luz do Axioma de Sócrates-Passos» do detractor e amigo Pai Silva.
Nos fascículos anteriores foi tratada a axiomática, abordada a fundação de Portus Cale, tratados os protagonistas fundadores e os seus herdeiros menos imediatos até àquele que um dia deverá regressar embuçado, tratados os poderes temporais a que se costuma chamar espirituais, entre outros temas obscuros saídos dos delírios criativos do Autor; por fim tratou-se também da reconstrução do Império e do começo dos trabalhos com vista à sua destruição. No presente e último (?) fascículo, o Autor corre pelos séculos montado na máquina do tempo, com breves paragens no conde de Oeiras e nas invasões francesas, de onde voa até ao professor Salazar para aterrar no buraco em que Portus Cale foi enfiado por Cavaco, Guterres, Barros, e, por último e bem fundo, por Sócrates, com grande alegria e colaboração e quase todos os portucalenses, permito-me eu acrescentar. Termina com a garantia de Passos Coelho que, segundo o Autor, fará tudo para dele não sairmos tão cedo.]

Um belo dia fundeou no estuário do Tejo uma esquadra inglesa vinda da América do Sul, mais exactamente do Brasil, com uma carga de ouro destinada a Portugal. Se a esquadra fosse do condado provavelmente não chegaria ao destino por obra e graça de algum competente corsário ou, muito provavelmente, porque o comandante, sabiamente, resolvera dar à sola com o carregamento para um convidativo paraíso pirata, nome antigo dos actuais paraísos fiscais (como claramente se constata a evolução é meramente epitética). O senhor Sebastião de Melo, primeiro-ministro em função, mandou, do alto da sua cátedra, descarregar a totalidade da áurea carga ao que o comandante da esquadra respondeu fazendo subir um grumete ao cesto da gávea e de lá fazer um manguito do tamanho da áurea carga. A coisa azedou-se porque o senhor Melo não estava nada habituado a ser contrariado nas suas inquestionáveis deliberações mas, infelizmente, tinha-se esquecido que estava, na altura, a lidar com um comandante inglês que dava tanta importância ao senhor Melo como este dava ao porteiro do seu palacete assumindo que tinha palacete e que este era servido por um porteiro. Tossidela para cima e tossidela para baixo, o senhor comandante acedeu em descarregar a áurea carga mas só no que excedesse o que teria de ser reenviado para Londres em pagamento das importações de artigos de primeira necessidade como era o premente caso das fazendas de luxo inglesas. O senhor Melo embuchou o coice do comandante e ficou-se, como não podia deixar de ser, com algum incómodo no ventre da sua importância injustamente acabada de ser ignorada.

Estando portanto de regresso á segunda parte do aforismo armado em axioma, ou seja, de que não há bem que sempre dure, temos o extremoso cuidado de referir que é com este magnífico senhor, o tal de João, o sexto do rol dos Joões, que se inicia um movimento que no condado é recorrente: o regresso ao buraco mas cuja entrada directa e triunfal é devida a um senhor de outras terras, baixinho e com a mania das grandezas, Monsieur de Bonaparte que muito possivelmente nem sabia que aqui existia um condado, que se chamava Portus Cale e cujos moradores tinham o estranho hobby de se enfiarem num buraco e dar uma trabalheira infernal tira-los de lá, ainda que só por breves instantes porque de imediato voltavam para ele sem ninguém os mandar. Aconteceu que, por razões várias todas a virem a dar em saber-se quem era o rei da traulitada, Monsieur Bonaparte aborreceu-se definitiva e desmesuradamente com os senhores ingleses, particularmente, depois de um destes, o senhor Nelson, descaradamente e sem a menor das educações ter feito em fanicos a esquadra do senhor Bonaparte em Aboukir, uma terra que até nem era dos Ingleses ou do senhor Nelson.

Autoritariamente, sem qualquer tipo de legitimidade para tanto o Monsieur Bonaparte mandou fechar as portas do condado a tudo que era inglês coisa que os portucalenses não fizeram não por serem contra mas simplesmente na expectativa de que a coisa passasse e caísse no esquecimento não fosse os senhores ingleses aborrecerem-se e complicar a vida aos moradores do condado e, por outro lado, o senhor Bonaparte devia ser o maior bocas do mercado, àquela altura ainda longe de ser único. Não era bocas não senhor e daí a pouco o senhor Jean-Andoche mais um exército a fazer-lhe companhia, estava às portas da capital e o senhor Afonso, o sexto da lista de reizinhos, a caminho do Brasil, materializando a grande e única originalidade do Império: a de ser o único a ter o chefe a reinar a partir de uma colónia. E, claro, o condado em vias de entrar novamente no buraco.

A vida correu mal ao senhor Bonaparte que verdadeiramente até devia mudar o nome para Malaparte mas, como era teimoso, não o fez e por causa disso teve um mau fim. Mau fim tiveram os seus enviados ao condado que, mesmo assim, levaram tudo o que puderam e quiseram e, deselegantemente, deixaram à solta a bactéria do liberalismo, cuja, amancebada com a independência da colónia que servira de capital do Império e a exportação do seu imperador para o condado a fim de dar início às traulitadas liberais que por acaso recusou para o seu império, consumou a queda no buraco onde os portucalenses permaneceram até à traulitada das traulitadas que foi a segunda guerra mundial depois de muitos e variados episódios e vicissitudes que são interessantes em si e úteis para outras histórias mas para esta não adiantam nem atrasam nada.

O senhor Oliveira era dos que não brincava em serviço e antes de fazer alguma coisa pela turba de portucalenses que gemia no fundo do buraco, tratou de garantir que, na improvável circunstância de a tirar de lá, ela não descambava novamente e com força redobrada, resultante dos séculos em que lá esteve enfiada, não estragasse tudo e voltasse mais depressa e mais amargurada que nunca ao buraco.

Nos rigores dos termos não se pode afirmar que os portucalenses tenham saído do buraco mas que ele, buraco, se tornou um pouco mais confortável isso é verdade. Não terá aumentado a riqueza salvo num ou noutro caso como seja na parte que resultou, durante a guerra, do comércio legal do volfrâmio cuja redistribuição já se sabe qual foi mas sobretudo do contrabando do mesmo cuja distribuição compensou a falta de redistribuição do legal. Não tendo aumentado significativamente a riqueza há uma coisa que diminui ou hoje parece-mos ter diminuído, ainda que não se possa nem se deva por as mãos no lume por tamanha convicção, os portucalenses perderam o gosto e o jeito pela traulitada.

Por volta dos anos de 1960, o condado surpreendentemente entrou numas organizações um pouco esquisitas, como era o caso da EFTA, cuja finalidade era definida por omissão mas com a finalidade implícita de os seus membros não serem absorvidos pela CEE com a qual estava ou entrou em concorrência. O facto é que estas sociabilidades deram um empurrão ao condado que por essa altura se sentiu como o Japão da Europa e a sair mais uma vez do buraco. Esperava-se que definitivamente.

Pura ilusão! Rapidamente os coveiros de serviço a começar com o senhor Caetano que percebeu tudo mas não foi capaz de fazer nada, seguido do senhor Cavaco, do senhor Guterres e do Senhor Barroso que não perceberam nada e fartaram-se de fazer asneiras voltou-se ao “dorremi” da descida ao buraco, descida esta com pompa e circunstância solenemente terminada pelo senhor Sócrates à qual o senhor Passos, seraficamente, apõem o selo de garantia de que do buraco não saímos tão cedo.

(Continua? Ninguém sabe, nem talvez o Autor.)

1 comentário:

Anónimo disse...

Vá lá... Este post foi inegavelmente bom. Valeu a pena esperar sentado. Aliás, sempre tive uma fézada que os distintos (Im) e (Per) tinentes escrevessem algo de jeito.
O início foi pobre, realmente. Mas, paulatinamente, foram melhorando, devagarinho. Que isto de trabalhar dentro dum buraco é obra.
Abraço, e melhorias para a Musa da cooperativa,
do eao