Um dia tinha que acontecer e é de louvar a coragem de um que fala aberta e publicamente em nome das centenas de milhar que em surdina se lamentam.
Refiro-me à peça «Segurança social, o massacre» no Expresso em que Henrique Raposo defende a causa dos jovens que com as suas contribuições para a segurança social pagam «os excessos da geração de Maio de 68, essa brigada angelical que, de manhã grita, “ai, ai, o FMI” para depois andar; à noite, no El Corte Inglés a gastar o seu dinheirinho garantido pelo tal FMI». Jovens que segundo Raposo pensam «somos os explorados: com a nossa precariedade, a segurança laboral dos mais velhos, alimentamos um sistema de segurança social que, daqui a 30 anos, não vai ter dinheiro para as nossas reformas e … ainda temos que criar os nossos filhos.»
Infelizmente para a tese de Raposo, as coisas são um pouco mais complexas do ele pensa e a visão dum problema tão grave pelo óculo da demagogia geracional não leva a lado nenhum, como se pode confirmar pelo próximo parágrafo.
As gerações que se poderão queixar de sustentar a velhada têm sido elas próprias, ao contrário de grande parte dos cromos que os sustentaram e sustentam, tratadas a pão-de-ló. Puderam escolher licenciaturas que não interessam nem ao menino Jesus, em universidades a 10 minutos de casa no automóvel comprado pela velhada, aboletando-se até aos trinta e tais, mais as suas namoradas e namorados, em casa da velhada, com mesadas para gasolina e idas à discoteca e aos concertos de verão, intercaladas com idas às manifs de indignados, adiando a entrada no mercado de trabalho à espera de uma oportunidade à altura da inutilidade dos seus diplomas. E adiando os filhos que chegam na idade de serem avós e em número tão diminuto que nunca chegarão para lhes pagar as pensões e tão egoístas e concentrados em «serem felizes» que deixarão os pais que os sustentaram até à meia-idade entregues à caridade do estado assistencialista, nessa altura ainda mais falhado do que hoje.
Pois é caro Raposo, este é o outro lado da sua demagogia. Cada um dos lados é o resultado de uma sociedade «solidária», no sentido de cada um não ser responsável pelo seu destino e esperar que o papel do tio rico fique a cargo do Estado Sucial que ninguém quer pagar.
Declaração de interesse: pertenço à geração de Maio 68, mas quando os rebeldes sem causa levantaram as pedras de calçada já levava 8 anos a trabalhar e a contribuir para o orçamento familiar da velhada, a estudar como aluno «voluntário», como então se chamava, e a ser pai de filhos e a ser filho de pais a quem mais tarde apoiei na velhice e na doença.
Ó filho, ó Henrique, cresce e aparece.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
23/09/2012
DIÁRIO DE BORDO: Mãos desajeitadas mexendo numa bomba-relógio
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2 comentários:
Monologo Intergeracional
http://quartarepublica.blogspot.pt/2012/09/monologo-intergeracional.html
De acordo com o explanado no Diário de Bordo.
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