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14/09/2012

ARTIGO DEFUNTO: Jornal Público, um paradigma da imprensa independente

Imagine-se o jornal «A Bola», o jornal semi-oficial do Benfica, num relato de um jogo dos lampiões contra os dragões vencido por estes por 4 a 1, a titular «Benfica marcou um golo ao Porto». É mais ou menos isso que o Público fez com em entrevista a Abebe Selassie, chefe de missão do FMI, a que o jornal deu o título «Chefe de missão do FMI: "Simplesmente reduzir os salários não vai resultar"». Considerando que uma boa parte dos leitores neste tipo de notícias não passa do título, percebe-se a importância de ter «boa imprensa».

Alguns excertos dessa entrevista:

Então, para restaurar a competitividade da economia portuguesa, se o Governo não fizesse esta redução dos salários, estaria tudo bem para a troika. Ou seja, Portugal seria na mesma capaz de restaurar a sua competitividade...

É muito difícil saber. A questão fundamental para nós é como responder aos desafios que Portugal enfrenta: competitividade externa e, ao mesmo tempo, o buraco orçamental. Esta ideia é uma maneira razoável de tentar responder aos dois. Dados os constrangimentos de políticas existentes, é preciso procurar formas criativas para tentar resolver o desafio dual que Portugal enfrenta. Esta é uma das ideias com que o Governo apareceu. Nos últimos dias, reparei no debate que está a decorrer. Não há nenhuma bala mágica, não há uma única medida que não tivesse causado também debate e discussão. Se o IRS ou o IRC tivessem sido aumentados, as pessoas teriam dito: mas porquê o IRS, porquê o IRC? Se fosse o IVA também se queixariam. Qual seria a alternativa? E não vejo isso no debate. Qualquer medida que fosse tomada teria também gerado um debate grande.



O FMI está satisfeito com as medidas tomadas do lado da despesa? Ou continuam a faltar cortes permanentes na despesa?

As pessoas que não querem pagar mais impostos estão provavelmente a dizer isso. E as pessoas que beneficiam dos gastos públicos estão a dizer que não querem que o seu salário seja cortado e querem medidas do lado da receita. Temos uma visão geral de que o ajustamento deve incidir mais sobre o lado da despesa do que da receita.

Mas os cortes da despesa têm sido essencialmente cortes nos salários…

Há várias medidas a serem tomadas. Se olharmos para o envelope de despesa do Estado, uma boa parte é relacionada com a protecção social. Aproximadamente 40 porcento do orçamento do Governo é para isso. Outros 20 porcento são salários e o resto são custos de funcionamento e despesas de capital. Onde vamos cortar?

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