Estória
Segundo o “Portugal Social” do INE, citado ontem pelo DN, os portugueses gastam em comunicações (telefone fixo, telemóvel, acessos Internet) quase tanto como gastam em saúde e TRÊS vezes o que gastam directamente em educação (excluindo, claro, o que gasta o Estado do bolso dos contribuintes). Uma boa parte dos 451 euros gastos por família em comunicações vai directa para o telemóvel.
Segundo o Censo 2001, a população residente era de 10.356.117 potenciais clientes TMN, Vodafone ou Optimus. Nos 10 anos anteriores a população tinha aumentado de 5,1%, ou seja aproximadamente 0,5% anuais o que poderia fazer supor, se (um se que depende mais da chegada dos brasileiros, ucranianos e outras almas que nos procuram, do que da produção dos casais portugueses, que, por razões várias, sofre de um défice de produtividade) se, dizia eu, se esse ritmo se tivesse mantido nos últimos dois anos, então haveria agora 10.459.937,1 potenciais clientes.
O número de utilizadores de telemóvel deveria ser no final do 3º trimestre praticamente 10 milhões.
Se (um se que depende neste caso bastante da falecida Dona Idalina, a minha professora da 2ª classe) for assim, teriam escapado, momentaneamente, incólumes aos assaltos dos operadores exactamente 459.937,1 potenciais clientes, ou seja 4,4% do total, isto é pouco mais de metade do n.º de crianças em idade pré-escolar.
Se admitirmos que cada português móbil gasta em média 30 m por dia a comunicar, isso perfaz cerca de 150 milhões de horas/mês para toda a comunidade móbil, ou seja talvez cerca de 20% das horas efectivamente trabalhadas pela população activa ("activa" é apenas um conceito estatístico e não implica nenhum juízo de valor).
Precisamos de saber mais alguma coisa para compreender a falta de produtividade lusitana? E não só a trabalhar, mas também no coiso – veja-se a população escolar no ensino básico que diminuiu mais de 300 mil alunos na última década.
Precisamos de mais informações para perceber a iliteracia epidémica dos gentios?
Moral
Entre falar e fazer, muito há que dizer (ditado popular, do tempo em que não havia telemóvel)
Post Scriptum:
Já depois de ter contado esta estória, li o jaquinzinho chamado Manipulações com Números do Jaquinzinhos, comentando, que é como quem diz, fritando, o artigo Um Quinto dos Portugueses Vive em Risco de Pobreza e Exclusão Social da Lusa estupidamente comprado pelo Público. Apanhando a boleia da manipulação, poderei acrescentar que somos o único país do mundo onde quase todas as almas que vivem em risco de pobreza e exclusão social dispõem de telemóvel? Possivelmente para ligar para a Lusa e o Público a dar conta da sua miséria.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
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