Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

23/07/2004

DIÁRIO DE BORDO: Deutscher Strictness im brasilianischen Klima.

Será possível que no Brasil da baderna, da economia paralela, do jeitinho, do deixa para lá, um cidadão possa ser multado duas vezes no mesmo exacto local, com um intervalo de 3 minutos? E por ter excedido em 4 (da primeira vez) e 5 km (da segunda) a tolerância (20%) do limite de velocidade (40 km/h)? Será possível que as duas multas passado pouco tempo fossem debitadas pelo locador do chaço no cartão de crédito do desgraçado locatário, quase sem intervenção humana?

É possível. O Impertinências  foi a vítima. Local do crime: Blumenau uma cidade (zinha no Brasil) de 260.000 de habitantes, no estado de Santa Catarina, que poderia estar plantada na Baviera, onde a imaginou um alemão conhecido a quem o Impertinências mostrou uma foto faz uns anos. O raio das ruas de Blumenau têm um zingarilho que os locais chamam «lombadas eletrônicas». Lombadas? Lambadas. 


[O local do crime e uns veados que lá moram - os calções não enganam]

22/07/2004

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: O poeta e a sua alma encalhada na década de 60.

Secção Padre Anchieta

O importante para esta secção é a lenda. Corria o ano de 1554, num certo dia, numa breve parada, após longa, acelerada e extenuante caminhada para Reritiba à frente dos Tupis que lhe carregavam as trouxas, o Padre Anchieta deu-se conta que os índios, sentados sobre as suas tralhas se recusavam a recomeçar. Perguntando-lhes o porquê, explicaram-se os Tupis, com grande soma de pachorra, que na rapidez da caminhada a alma lhes tinha ficado para trás e tinham precisão de esperar por ela.
[Glossário das Impertinências]
«Manuel Alegre poderá candidatar-se a líder do PS», escreve o Público.  É uma boa ideia. Com o poeta Alegre a tendência esquerdizante do PS fica bem representada, como o fica a família Soares e amigos com o doutor João. Não é certo que a tendência centrista e reformista fique bem representada com o engenheiro Sócrates. Mas também não é certo que tal tendência exista.

Duas urracas para o poeta Alegre, pela coragem de continuar deixando a alma para trás, encalhada em Argel na década de 60.

DIÁRIO DE BORDO: Vas y Lance, la victoire attend. (ACTUALIZADO)

A umas centenas de metros do final da etapa em Alpe d'Huez, depois de subidas de quase 10%, Lance Armstrong inicia um sprint vigoroso e termina com mais de 1 m sobre Jan Ullrich.
Mais palavras para quê?

____________________________________________
ACTUALIZAÇÃO
Mais palavras só para chamar GRUNHOS aos alarves que em cada etapa, cada km, se atravessam, correm ao lado, agitam bandeirinhas, dão palmadinhas nas costas dos ciclistas, fazendo figura de estúpido (a sua própria) e pôem em risco os artistas do pedal. Por duas razões que não precisam de ser explicadas, só faço uma excepção para esta gaulesa disfarçada de texana:
 

SERVIÇO PÚBLICO: Não há almoços à borla e cada um paga o seu.

As cliques do politicamente correcto e do esquerdismo alimentam-se de falsas verdades, indemonstradas e indemonstráveis, sustentadas pela má consciência do Ocidente. De tanto serem repetidas, as falsidades tornaram-se artigos de fé.

Um desses artigos de fé é o dogma que o ocidente enriqueceu à custa do terceiro mundo (prefiro esta designação saborosamente antiquada ao eufemismo países em desenvolvimento). Dinesh D'Souza desmonta numa página A4 as falácias em que assenta o dogma e enumera as 3 instituições que justificam a superioridade do ocidente: a ciência, a democracia e o capitalismo.

Outro artigo de fé relaciona-se com as políticas de discriminação positiva, como panaceia e expiação de culpa pelos males que a dominação do homem branco fez aos outros humanos, nomeadamente aos negros. Os resultados negativos dessas políticas são cada vez mais visíveis e só marginalmente têm contribuído para a promoção social das «vítimas». Pelo contrário, têm contribuído para criar nas «vítimas» um paradigma comportamental irresponsável, supostamente alternativo ao do «homem branco». Com uma grande coragem Bill Cosby, o mais famoso entertainer negro, disse publicamente a líderes da sua comunidade:
Let me tell you something, your dirty laundry gets out of school at 2:30 every day, it's cursing and calling each other nigger as they're walking up and down the street, They think they're hip.They can't read; they can't write. They're laughing and giggling, and they're going nowhere."
Além dos danos desse paradigma na comunidade negra, que parece não se incomodar muito com isso, é visível a contaminação doutras comunidades por esses valores, principalmente nos jovens.

[Um exemplo dos eufemismos do PC pode encontrar-se no próprio texto da CNN que cita Cosby, onde a palavra nigger aparece escrita «n------»]

21/07/2004

SERVIÇO PÚBLICO: Bons olhos nos vejam.

Se tivesse que destacar nos Serviços Públicos impertinentes os posts (todos) notáveis de bom gosto e ironia das manas do Miss Vitriolica Webb's Ite teria que fazê-lo em regime de dedicação exclusiva, perderia os (últimos) clientes e passaria (mais) fome. Por isso, vou só destacar a sequência da minha bem conhecida EN10 aqui e aqui.

Já que estou com a mão na massa, declaro-me disponível para assinar uma petição com vista à expulsão do país do idiota que deixou o telemóvel ligado durante o espectáculo da divina Ute Lemper, no CCB. Só não proponho uma merecida pena de ablação das orelhas do idiota porque hoje acordei bem disposto.

20/07/2004

SERVIÇO PÚBLICO: Cresçam e apareçam.

Nos tempos idiotas que atravessamos, sob o jugo do império do politicamente correcto, é um exercício higiénico ler o post, dum bom senso assombroso, do Aviz sobre a juventude.

Por puro deleite espiritual cito este parágrafo:
Não; esta ideia da «protecção à juventude» parece-me coisa para mentecaptos. A juventude precisa de gramática, de boas maneiras, de exercício físico, de leitura, de levantar cedo e de liberdade. E precisa de uma escola que não a trate como indigente ou diminuída intelectualmente. Os velhos, sim, precisam de apoio. Eles não são um mercado potencial, como os «jovens»; por isso mesmo os «jovens» não precisam de ministérios, protecção estatal e choraminguice. Mas os velhos sim, precisam de ser bem tratados. Precisam de ser ouvidos e de serem lembrados, de uma vida feliz e, também, de uma morte feliz.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: A lambidela ao novo líder.

Secção Musgo Viscoso
Sob o título premonitório «O novo líder», a propósito da candidatura do engenheiro Sócrates à suprema magistratura do Partido Socialista, o doutor Prado Coelho semeou os seus elegantes ditirambos no Público.
«Nesse plano, a entrevista de José Sócrates, invulgarmente astuta na gestão das fórmulas, revelou-se sempre um pouco vaga e abstracta. Podemos dizer que havia nele uma grande preocupação: mostrar a sua capacidade teórica e informação intelectual. Algumas citações nómadas iam nesse sentido. Mas curiosamente nesse domínio Sócrates mostrou-se pouco moderno: para além da já conhecida referência a Bernstein (que o levou da JSD ao PS), mostrou-se pouco à vontade nestas matérias, ...»
Escreveu ele, acrescentando a oferta implícita dos seus prestimosos serviços para evitar citações nómadas:
«Tudo depende agora da equipa que vier a formar.»
Cinco bourbons pela sua persistência em apanhar todos os comboios que ainda têm terceira classe (começou em 1974, com o do PCP com o maquinista doutor Cunhal aos comandos, passou por vários outros, incluindo o do Cavaquistão, e nunca mais parou). Dois ignóbeis porque a coisa começa a ser um bocado repelente.


Nova Definição Impertinente:
Citações nómadas (intelectualês)
Citações, feitas por um líder ou candidato a líder, que distribui, em acto ou em potência, sinecuras. São citações sem a consultoria dum especialista, que, porém, já se perfila para emprestar os seus sábios conselhos a troco dum prato, se não puder ser um tacho, de lentilhas.

19/07/2004

PUBLIC SERVICE: Does he mean that?

X says that no government could have failed to act against Iraq after the 11 September 2001 attacks in view of intelligence provided.
 
X told BBC Radio 4's Today programme that before the war everyone had thought that Iraq still had chemical and biological weapons stockpiles.

"The issue was not whether he would use [weapons of mass destruction] but whether he was likely to give them away or have them stolen," he said. "That's why the world supported inspections."
Who is X? George W. Bush? Right? Wrong. The dearest, the leftists' beloved Bill Clinton.
[read more at BBC News]

18/07/2004

DIÁRIO DE BORDO: A sociologia da alheira.

Se há coisa que faz falta no nosso país são sociólogos. A acrescentar à dúzia e meia de licenciaturas já existentes nesta área, uma nova ejaculação do órgão legislativo (portaria 802/2004 de 13-07) cria mais uma fábrica de emplastros no Instituto Superior de Estudos Interculturais e Transdisciplinares em Mirandela.

17/07/2004

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: O spam dos emplastros.

Secção Padre Anchieta

Recebi às 18:14 de hoje este spam, escrito com um azul amaricado, oriundo dum endereço previsivelmente chamado ELEIÇÕES JÁ!.
Carísssimos,

Nasceu o Portas de Santana!...

É uma ocasião triste...
Triste porque inicia um periodo de dois anos em que o populismo condenará os corações dos portugueses a uma profunda tristeza...

Daqui a dois anos, tudo mudará...
Até lá, resta-nos esperar que Portugal ainda exista...
Choremos pois em conjunto no Portas de Santana....

O email-bosta traz o selo da esquerdalhada estampado em cada parágrafo. A obsessão de falar em nome do povo, que os ignora. A mania, daí decorrente, que o povo partilha os seus sentimentos. A profunda tristeza dos portugueses? Estes emplastros não percebem que ao povo ainda restam umas alegrias do campeonato da Óropa e já se cheiram os aromas da retoma. Não sentem o prenúncio dos dinheiros que adubarão as próximas eleições. Já ouvem os amanhãs que cantam (daqui a dois anos, tudo mudará). Ameaçam com catastrófes que se abaterão sobre os portugueses por não serem os emplastros a tratar da vaca marsupial pública (resta-nos esperar que Portugal ainda exista).

Aos emplastros que enviaram este email gelatinoso dedico 2 ignóbeis pelo uso do spam, 4 bourbons por não conseguirem deixar de ser emplastros e  5 chateaubriands por não perceberem que o povo se está borrifando para eles  e,  em particular, não fica triste com o populismo. Pelo contrário, fica alegre.

Quase me esquecia. Mais 3 urracas pelo uso das nojentas reticências - coisa de emplastros de sexo vagabundo.

Já agora. Vão chorar para o longe.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Mais do mesmo?

Secção Res ipsa loquitor
José Sócrates não acredita na «mão invisível». Para não haver dúvidas do seu desvelo pela vaca marsupial pública, o engenheiro Sócrates deixa claro que «não se resigna à tentativa de diminuir e desprestigiar tudo o que é público na sociedade portuguesa». Propõe uma «nova geração de políticas sociais, baseadas na equidade e na sustentabilidade». Em suma, uma «esquerda moderna».
À parte o ter enxotado a clique bloquista («um partido com tão poucos votos»), onde é que já ouvi isto? Moderno? Só se for no estilo. E, quanto ao estilo, é apenas uma troca de santanetes por socráticas.

Três boubons para premiar a continuidade do pensamento do outro engenheiro das correntes fracas. Cinco chateaubriands por não ter percebido que isso talvez o leve a algum lado, mas não leva o país a lado nenhum. Se já percebeu esta segunda parte, leva cinco ignóbeis.

16/07/2004

DIÁRIO DE BORDO: O homem não é deste planeta.

Pacheco Pereira renuncia a chefia da missão na UNESCO.

Mas então porquê? A missão na UNESCO representa Portugal ou representa o doutor Santana Lopes?

[Eu faria o mesmo. Mas por isso é que tenho um blogue chamado Impertinências]

CASE STUDY: Moore's law - The more stupidity you boast, the more money you earn.

«We broke the $60 million mark tonight at the box office. I really can't fathom this. More theaters are being added next week.
Yes, it's true, I'm on the cover of Time magazine this week. And Entertainment Weekly. Sports Illustrated swimsuit issue is next!!
Well, it's late. Gotta get up to see who the next veep is. 62% of the country is female, black or hispanic. What are the chances? Ok, how bout in my lifetime? Before Halley's Comet returns?
Who wrote this piece of shit? An opportunistic director who writes, directs and produces movies to explore universal stupidity? Yes.
Who is that opportunistic director? Michael Moore himself (Mike's Blog).

15/07/2004

SERVIÇO PÚBLICO: La movida governamental.

aqui referi o contributo do Jaquinzinhos para la movida governamental, dissecando o cadáver do ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas.

É igualmente incontornável a desconcentração do Executivo proposta pelo vareta do Vareta Funda. É difícil destacar uma desconcentração porque são todas magníficas. Arrisco a itinerância do Ministério da Cultura associada ao Circo Victor Hugo Cardinalli.

BLOGARITIES: John Ray's 61.

Congratulations to John Ray (Dissecting Leftism and a dozen other excellent sites). Wish many, many years more ahead dissecting the ugly isms.

ARTIGO DEFUNTO: Salvar a face ou perder a face?

«Tony Blair voltou a salvar a face diante da opinião pública britânica», escreveu um jornalista DR no Público, a propósito do «relatório Butler, que analisa a actuação dos serviços secretos antes da guerra do Iraque».
Salvar a face?
Leia-se o que a este respeito disse Lord Butler, de acordo com a BBC News:
But Lord Butler told a news conference there was no evidence of a deliberate attempt by Mr Blair to mislead the public.
"It would have been very foolish thing indeed for him to have put something in the dossier which he knew or believed to be untrue, when the consequence of the war was going to establish the truth pretty soon," he told reporters.
Quem precisa de salvar face? Tony Blair? Hum, hum. O jornalista DR.

Nova área temática (<=) nas Definições Impertinentes:
Artigo defunto
Onde se exumam cadáveres que apodrecem em páginas de jornais infestados pelo jornalismo de causas e pelo jornalismo de opiniões. Cadáveres alinhavados umas vezes por falta de vergonha, outras por incompetência.

14/07/2004

LOG BOOK: Le 14 Juillet.

I almost forgot. Today is Bastille seizing anniversary.
«The real birthday of Communism. The French revolution gave us the first Communist regime of modern times and then Napoleon gave us the first Fascist regime».

SERVIÇO PÚBLICO: E pur si muove.

Para se compreender a felicidade dos caciques locais, virtualmente contemplados com a mudança dos ministérios imaginada pelo doutor Santana Lopes, veja-se o exemplo do ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, cuja orgânica tentacular e kafkiana o Jaquinzinhos nos desvenda.

Imagine-se toda a parafernália ministerial a mudar-se para a rua não sei das quantas em Santarém. As oportunidades imobiliárias que se criarão. Os novos empregos locais, adicionalmente à maioria dos centrais para os quais se inventará uma qualquer aplicação das leis de Parkinson que permita mantê-los.

Anda o indigitado doutor Lopes a dissipar a sua prodigiosa imaginação fazendo a pergunta errada (não se pode mudar os ministérios?) em vez da pergunta óbvia (e não se pode exterminá-los ou, pelo menos, emagrecê-los?).

CASE STUDY: É preciso ser muito saudável para resistir a tanta doença (7º capítulo). A saga continua.

Passou a euforia da Órópa. Campeonato já foi e nomeação de José Manuel Barroso, anteriormente conhecido por doutor Durão Barroso, perdeu interesse afogada na unanimidade. Voltamos à vil e apagada tristeza do dia-a-dia: governos que são demitidos, oposições que se demitem, oposições que exigem, oposições que apontam perigos ameaçadores e, milagre dos milagres, putativos governos que se movem - para a província, para o país real.

Para preparar a entrada nesta fase depressiva da doença bipolar que contamina a alma lusa, nada melhor do que fazer um balanço das maleitas que nos afligem.

Ponto de situação (ver aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui):
4 milhões hipertensos,
38% com reumatismo ou artrite,
15 a 20.000 com parkinsonismo,
130 mil homens com cancro na próstata,
200.000 fibromiálgicos,
1.200.000 com fadiga crónica (estimativa do Impertinências),
4.000 electricistas com doenças profissionais,
30.000 portugueses que sofrem dos intestinos,
14 milhões de dias de baixa por ano devido a problemas respiratórios,
15 a 20% da população com prurido, vermelhidão e lacrimejo na primavera,
4.000 (1 em cada 2.500 pessoas) que sofrem duma das mais de 40 doenças neuromusculares
1.500 crianças com doenças reumáticas de causa desconhecida,
44.000 dias de falta por doença (15 dias por ano e alma) dos funcionários da Judite,
1 em cada 4.000 recém nascidos que sofre de fibrose quística,
mais de um mi1hão de mulheres (1 em cada 5) e cerca de 300.000 homens (1 em cada 15) que sofrem de varizes,
5% das mulheres que sofrem da síndrome dos ovários poliquísticos,
meio milhão de portuguesas e portugueses que sofrem de apneia do sono,
1 em 200 que sofrem de epilepsia.
Segundo as últimas informações, devemos ainda adicionar 500.000 diabéticos a estas multidões de sofredores.

13/07/2004

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Não têm emenda?

António Vitorino não é candidato à liderança do PS, informam-nos, os mesmos que nos tinham informado que o homem estava prestes a anunciar candidatura à liderança do PS.

Será que a impertinente conclusão que eles não têm emenda era exagerada? Talvez não. Afinal quem escreveu uma e outra «notícias» são jornalistas, possivelmente com causas (talvez diferentes). E, como no futebol, o que é hoje mentira amanhã pode ser verdade, ou vice-versa.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Não têm emenda.

Secção Albergue espanhol

António Vitorino prestes a anunciar candidatura à liderança do PS, informam-nos.

Em vez dum debate clarificador, o PS escolhe, uma vez mais, o que julga ser a via rápida do regresso ao poder - o consenso das uniões nacionais. Sócrates, Coelho, Costa e Lamego já se agarraram às calças do salvador. Valha-nos o Soares filho, que não parece querer desistir.

Nada melhor para um governo merdoso do que uma oposição merdosa. Nada pior para o país que a convivência de ambos. Para o PS vão 3 urracas pela falta de coragem, 4 chateaubriands pelo estado de confusão mental e 5 bourbons por continuar igual a si próprio.

DIÁRIO DE BORDO: Carros em segunda mão? Não compro.

Desde as eleições presidenciais americanas de 1960, que opuseram Nixon a Kennedy, que a pergunta compraria um carro em segunda mão a um homem com esta cara? se tornou um implícito e destrutivo argumento ad hominem.

Por uma única vez, há muitos anos, aceitei a um membro da parentela ficar-lhe com um chaço em segunda mão em pagamento dum empréstimo que lhe tinha feito para o salvar da insolvência. Dei-me mal. Está fora de causa, portanto, comprar um carro em segunda mão ao doutor Santana Lopes.

O meu lado lorpa levou-me a reincidir, emprestando dinheiro, noutras ocasiões, à parentela e a alguns amigos. Metade das vezes dei-me mal e o dinheiro levou sumiço. Não sendo parente ou amigo do doutor Santana Lopes, seria pouco provável fazer-lhe um empréstimo. Mas, se a questão se colocasse, hesitaria. Talvez emprestasse. Mas pouco, muito pouco. Se pagasse, talvez da próxima vez a minha bondade aumentasse, um pouco. Muito pouco.

12/07/2004

DIÁRIO DE BORDO: Se eu fosse o presidente.

aqui, aqui e aqui escrevi a doutrina definitiva sobre a crise de sucessão de José Manuel Barroso, anteriormente conhecido pelo seu heterónimo Durão Barroso.

Escrevi a doutrina sem a premonição do que se iria passar mais tarde, na noite fatídica de sexta-feira. Sem saber que durante os Jogos Equestres, no palácio do Marquês, e talvez por alturas do Concerto em Lá Maior de Carlos Seixas, enquanto 3 garbosos rapazes mostravam as suas habilidades com os falcões, o gajo sentado atrás de mim iria receber pelo telemóvel, descuidadamente ligado, a informação que o doutor Ferro Rodrigues se tinha demitido. Ignorando que o homem, de tão surpreeendido, faria um movimento brusco e cairia desamparado da cadeira de jardim onde se sentara. E que se levantaria, sem perder a compostura, protestando: Porra. Já não é só governo que cai. É a oposição e sou eu.

Porém, tudo seria diferente se fosse eu o PR e estivesse atento à Jornadas Parlamentares do PS, realizadas nos dias anteriores. Nessas jornadas, um ignoto Ascenço Simões, presidente da federação de Vila Real, escandalizou as almas socialistas presentes vociferando impertinências. Que o PS «tem que acabar com a mania de ir enchouriçando o número de ministros à medida dos interesse do partido ... (acabando) com a multiplicação de ministros-adjuntos ..., (com os) ... acrescentos para satisfazer clientelas internas do partido». Continuou atacando os bezerros de ouro dos socialistas e preconizando «menos e melhores funcionários públicos» e a adopção do Código do Trabalho na função pública e um regime unificado de segurança social.

Se fosse eu o PR, teria indigitado Ascenço Simões, esse espécime único da política portuguesa, com ou sem eleições.

11/07/2004

LOGBOOK: Change an opportunity into a threat or leave euphoria and get depression?

Lessons from small countries that stage big sporting events
In medieval Europe rulers who wanted to make a statement built a cathedral. In modern Europe they build sports stadiums. ... The Portuguese bid to host Euro 2004 was made in the middle of a long economic boom. But by the time the tournament was actually on the horizon, the country was suffering from a severe economic hangover. Government spending had got badly out of control and Portugal achieved the dubious honour of becoming the first of the 12 countries in the euro area to break the stability-pact ceilings on budget deficits. The economy is now at least expanding again, but the extravagance of spending on Euro 2004 may seem even more marked when the tournament is over. The Stadium of Light looks and sounds fantastic when capacity crowds of 65,000 roar on their teams. It could feel a little sad and empty during the normal Portuguese football season. Its normal occupant, Benfica football club, attracts an average attendance of 22,000. The figures are even starker for new stadiums outside Lisbon. The new Braga arena holds 30,000 supporters; FC Braga, the local team, attracts an average attendance of just over 5,000. ... Overall, the government reckons that Euro 2004 will bring in some 200,000 extra visitors and generate rather over EU 100m ($120m) in extra tourist revenues. A welcome boost no doubt, but it hardly adds up to a transformation. If the football adds 0.2% to this year's GDP, Portugal will have done well. ... Indeed, the economic arguments for hosting big sporting tournaments are largely spurious. The real case for Portugal taking on Euro 2004 is that sporting success seems to make people feel marvellously good. ... Against most expectations, the Portuguese may even carry off the championship in the final on July 4th. Who needs an empire, or an economic boom, if you can have moments as ecstatic as that?
[What price euphoria?, The Economist, 1st July]

10/07/2004

STATE OF MEN: Change a threat into an opportunity or swap a sack of rye for a woman?

Me Tarzan, You Jane
An Estonian clinched Finland's seventh wife-carrying world championship, winning the "wife's" weight in beer and a sauna against 17 other couples. Using the "Estonian carry," where the woman clamps her thighs to the sides of the man's face while hanging upside down on his back, Madis Uusorg carried Inga Klauso 830 feet through a pool and over hurdles in just over a minute. The race in the remote village of Sonkajarvi, a few hours' drive from the Arctic Circle, has roots in local legend: apparently, stealing women from neighboring villages was common practice. It also harks to the story of Ronkainen the Robber, who made aspiring gang members prove their worth by carrying sacks of rye along a challenging track. "I just tried to run and not think about anything," Uusorg said.
[Beverly Hanly, in Furthermore, Wired's newsletter]

09/07/2004

SERVIÇO PÚBLICO: Há vida para além do orçamento?

Quem escreveu o que se segue é militante do PS e já foi seu secretário geral, durante um curto período. É actualmente governador de Banco de Portugal (en passant também foi professor da dismal science do Impertinências - obrigado doutor Victor Constâncio). Recomenda-se a leitura completa em voz alta, dez vezes, à comissão nacional do PS e, já agora, a sua recitação pelo tele-evangelista nas cerimónias grupais dos bloquistas. Já me esquecia: a Casa Civil do PR também deve fazer duas ou três sessões de leitura.

Em geral, pode dizer-se que a evolução em 2003 das políticas macroeconómicas não contribuiu significativamente para a situação recessiva que se verificou.
...
Nos últimos dois anos, para além de algumas medidas do lado da receita (v.g. no IVA) conseguiu-se conter o crescimento das despesas correntes primárias, um esforço que representa um ganho na consolidação orçamental. No entanto, na perspectiva do comportamento do défice orçamental nos próximos anos, o que conta como ponto de partida é a situação actual sem a consideração das medidas extraordinárias que, por definição, não duram sempre. Evidentemente, as medidas extraordinárias de realização de receita são legítimas e aceites pelo Eurostat para efeitos do reporte de défice excessivos. Além disso, elas têm a justificação de substituir em parte as receitas que temporariamente a recessão fez diminuir. Considerar o défice sem a sua inclusão torna-se, porém, necessário para chamar a atenção para as dificuldades que ainda defrontaremos para alcançar o objectivo da plena consolidação orçamental. É importante não alimentar ilusões porque o crescimento económico moderado que se perspectiva, embora dê um contributo significativo, não será suficiente para gerar automaticamente uma recuperação significativa das receitas fiscais. O sucesso conseguido com a contenção da despesa corrente tem, pois, que ser prosseguido nos próximos anos. No imediato, porém, serão necessárias novas medidas do lado da despesa e do lado das receitas, nomeadamente através da obtenção de melhores resultados no combate à evasão fiscal. As previsões da Comissão Europeia apontam para que de novo este ano Portugal esteja em risco de exceder o limite dos 3% do défice. A necessária consolidação orçamental não está concluída e tem que continuar a ser prosseguida. Este objectivo é muito exigente, quer este ano quer no próximo, face ao crescimento económico que se antevê. Não existe, assim, margem para programas adicionais de aumento de despesas, nem para reduções de impostos que não sejam compensadas por equivalentes diminuições de despesa. Também uma eventual maior flexibilidade futura na interpretação do Pacto de Estabilidade não evitaria a necessidade de Portugal continuar a consolidação orçamental porque é essencial voltarmos a ter finanças públicas mais equilibradas que possam recuperar a sua função anti-cíclica, imprescindível para um país membro de uma união monetária.
Desculpem. Esta minha cabeça. É claro que o doutor Santana Lopes e a sua putativa equipa ministerial devem também ler o texto completo, acompanhados pelo coro das santanetes, na sessão comemorativa da tomada de posse a realizar na Kapital. A parte final da citação a bold deve ser escrita nas palmas das mãos (direita e esquerda) de todos os membros do futuro governo, qualquer que seja.

SERVIÇO PÚBLICO (atrasado pelo Euro 2004): Demências (talvez) sem consequências.

O bastonário da Ordem dos Médicos, doutor Germano de Sousa, em breve mestre Germano de Sousa, vibrou uma bastonada médica e fez saber à ministra da Ciência e Ensino Superior, agora demissionária, que a adequação dos graus académicos à Declaração de Bolonha implicará que todos os médicos passem a ter o grau de mestre. É de mestre.

Segundo o coordenador do grupo parlamentar do PS para a área da Ciência e do Ensino Superior, doutor Augusto Santos Silva, o governo agora demissionário tem uma «lista de novas escolas (que) é absolutamente demencial». Por uma vez, o doutor Silva é bem capaz de ter razão.

Uma das possíveis consequências da demissão do governo de José Manuel Barroso (anteriormente conhecido por doutor Durão Barroso) é a troca destas demências por outras, eventualmente mais catastróficas.

08/07/2004

SERVIÇO PÚBLICO: Delírios sortidos.

Diferentes, mas iguais

As equivalências entre um populismo de direita e um socialismo estatista, vistas pelo Abrupto.

Um psiquiatra? Não. A injecção do Beria 30 anos antes? Sim.
José Estaline sofria de demência, causada por sucessivos ataques cardíacos, e a vida de milhões de pessoas teria sido salva se tivesse consultado um psiquiatra. A opinião foi expressa ontem pelo investigador George El-Nimr, num colóquio em Harrogate, Reino Unido.
[Lido aqui]

Faz o que eu digo e não o que eu faço
O Presidente Soares ao terminar o seu mandato deu lugar ao novo Presidente eleito, Jorge Sampaio.
Este, sendo na altura presidente da Câmara Municipal de Lisboa, foi substituído pelo número 2 da sua lista, João Soares, filho do anterior Presidente.
João Soares, além de vereador em Lisboa, era também Deputado no Parlamento Europeu, pelo que foi substituído no PE por Carlos Candal.
Que por sua vez, sendo na altura Deputado na Assembleia da República, foi substituído nesta por Afonso Candal, seu filho
.
[Lido no Blasfémias]

Delírios esquizóides

No Jaquinzinhos, a não perder os delírios exemplares das luminárias bloquistas.

ESTÓRIA E MORAL: BCP - Ascensão e queda?

Estória
Não é primeira vez que o Impertinências foca a destruição de valor a que o BCP se dedica há 3 ou 4 anos. Já aqui e aqui escrevi sobre essa destruição que tem como ruído de fundo sound bites produzidos com afinco para os analistas financeiros e o mercado. Este exercício tem sido particularmente notório no que respeita à sempre adiada venda da Seguros & Pensões, cuja compra já teria estado eminente várias vezes a inúmeros interessados. Compra que agora parece estar a cargo do comprador de último recurso - a CGD, ela própria,

Mas os mercados não são estúpidos. «O valor do BCP caiu mil milhões em quatro meses», em seguida à queda gradual em quatro anos da cotação para metade. É uma tristeza assistir a decadência dum banco inovador, que chegou a ser uma referência e um case study nos serviços financeiros em vários países.

Moral
É possível enganar alguns, toda a vida. É possível enganar todos, algum tempo. Não é possível enganar todos, sempre.

07/07/2004

BLOGARIDADES: Aniversários.

Não me excitam as comemorações e, por isso, muitas vezes me passam ao lado. Li aqui que A Praia faz um ano. Por ser o único exemplar das espécies ameaçadas à esquerda, sobrevivente na lista à direita do Impertinências, é merecida uma exortação a continuar.

PUBLIC SERVICE (postponed due to Euro 2004): Women Lib, Afghan way.

Mrs. Neelab Kanishka «fled Afghanistan for Pakistan with her family in 1989 at the age of 11».
Now she returned and she's acting «as envoy of a discount Internet retailer located in, of all places, Salt Lake City», named Worldstock.
«These days, Worldstock employs more than 1,500 Afghan artisans among a worldwide network of craft workers.»
«In Afghanistan, Kaniskha's network of suppliers consists largely of women who were prevented from working outside their homes under the Taliban regime. These days, many of these women make substantially more money than men.
»
[See more here]

06/07/2004

NOVA DEFINIÇÃO IMPERTINENTE: Hiper-decisório.

Hiper-decisório (politiquês)
Diz-se de alguém cujo hipotálamo hiperactivo, o hipertálamo, o leva compulsivamente a agitar-se e mudar de rumo, perseguindo objectivos difusos e mutatórios e seguindo percursos erráticos.
Exemplo: «É hiper-decisório. Como é muito intuitivo e pouco coordenado, tende a ter decisões múltiplas ao longo do tempo.» (diagnóstico do professor Marcelo Rebelo de Sousa em directo na TVI, em 06-07-2004, a respeito do doutor Santana Lopes, nessa altura ainda putativo sucessor do doutor José Manuel Barroso, aka doutor Durão Barroso).
Paradoxalmente, um hiper-decisório é equivalente nos resultados a um hipo-decisório.
Exemplo: engenheiro Guterres, um hipo-decisório que exerceu o seu consolado antes do consolado do doutor Durão Barroso que foi para a Órópa.

BLOGARIDADES: Causas xenófobas.

Escreveu o maradona: «A Grécia ganhar o Campeonato Europeu de Futebol... é mais ou menos como o Prémio Nobel da Literatura ser atribuído a uma operadora de caixa do Pingo Doce pela excepcional qualidade dos talões de compras que faz sair do seu posto de venda

A causa é xenofóba e o exemplo é uma bola chutada para canto. O Prémio Nobel da Literatura ser atribuído à doutora Margarida Rebelo Pinto, que vendeu muito mais do que o doutor Saramago na idade dela (uns 95 anos atrás, ou mais), isso, sim, seria um exemplo.

Qual é a diferença entre manifestos políticos disfarçados de romances sem pontuação e futebol arrolhado de 25 passes para chegar ao meio campo?

05/07/2004

TRIVIALIDADES: Um espécime raro do cinema-sarapitola.

«Ma mère» de Christophe Honoré, a não perder por todos os que não podem passar sem o cinema-sarapitola, com argumento inspirado na literatura-sarapitola de Bataille.

Christophe Honoré, desafiando convenções e ideias feitas, sacode-nos até pelos ouvidos usando o Adagio for Strings de Barber, que até agora só tinha sido usado 3.479 vezes no cinema.

BLOGARIDADES: Misto de Zandinga e Gabriel Alves.

«Misto de Zandinga e Gabriel Alves» foi como o doutor José Manuel Barroso (anteriormente conhecido como doutor Durão Barroso) baptizou, no Congresso de Viseu, alguns anos antes de tentar trespassar-lhe o governo, o doutor Santana Lopes.

Lembrei-me disso ao ler n'A Praia imperdíveis colectâneas de textos sobre o doutor Pedro e as suas santanetes (aqui e aqui). E lembrei-me também das coisas que foram ditas por Pacheco Pereira sobre as facetas mais públicas do doutor Santana.

Falando das facetas mais públicas, reparo que a fronteira entre o público e o privado no doutor Santana Lopes quase não existe, pela visibilidade mediática da sua vida. Visibilidade que os seus admiradores costumam chamar transparência.

04/07/2004

DIÁRIO DE BORDO: De volta ao mundo real.

Vimo-nos gregos, outra vez. Lá se vai a auto-estima. Lá se vai a retoma. Mas não é caso para isso. Se conseguirmos nas outras modalidades chegar à final e ganhar o campeonato da organização, que mais poderemos ambicionar?

PARABÉNS RAPAZES. Nós, songamongas continentais, de Monção a Vila Real de Stº António, e nós songamongas ilhéus, sigamos o exemplo.

DIÁRIO DE BORDO: A batalha da Luz - outra vez.

Depois da batalha de Alvalade, a batalha de Luz, uma vez mais - a derradeira.

Derrotadas as hostes castelhanas, humilhados os antigos aliados, colhidas as tulipas saltitantes, chegou a vez dos neo-bárbaros que têm muito passado, pouco presente e nenhum futuro.

Como somos muito parecidos, o desfecho é incerto. Mas os nossos rapazes, sob o comando do general Filipão, afinada a táctica do quadrado (4 x 4), lutarão até ao último fôlego para atravessar o desfiladeiro de Termópilas no caminho para a baliza dos espartanos.

Se falharem será culpa do árbitro - um alemão com um nome esquisito que é amigo do treinador dos neo-bárbaros, também alemão (quem é que acredita nestas coincidências?), que não engana ninguém, nem mesmo a doutora Charlotte.

03/07/2004

LOG BOOK: Mind tool to manage Euro championship final's thrill and government's mess.

Nothing better than «Gymnopédies», «a dance accompanied by song and performed by naked Spartan girls» - Eric Satie eccentric genius' brainchild.

Here you can listen to Andrea Tedesco's sample. I would recommend Aldo Ciccolini's
record, instead.

02/07/2004

PUBLIC SERVICE: Portuguese informal economy. The cost of desenrascanço.

According to the study «The Hidden Dangers of the Informal Economy» by McKinsey Global Institute, informal economy weights 30 pct of non-agricultural workforce, reduces 0.8 pct Portugal's productiviy growth and accounts for around half of the productivity gap with the US.

Surprised? Well, this is the cost of the bad side of desenrascanço.

Has desenrascanço a good side? Yes. But hard to find. It's inventing and using new tools to handle new situations.

01/07/2004

DIÁRIO DE BORDO: Cherne grelhado ou Filet de Mérou à la crème d'ail? (3)

(Continuação)

Era politicamente inevitável que Durão Barroso aceitasse a presidência da CE?
Não. Em primeiro lugar, porque não foi a primeira escolha. Antes, outros foram considerados. Por exemplo: Guy Verhofstadt, primeiro-ministro da Bélgica (apoiado pelo eixo Paris-Berlim e recusado por Blair), Chris Patten, conservador inglês, membro da CE (recusado pelo eixo). Outros consideraram-se não disponíveis, por estarem comprometidos com os cargos presentes, tais como:
+ Peter Sutherland, antigo comissário e actual presidente da Organização Mundial de Comércio
+ Bertie Ahern, primeiro-ministro irlandês e presidente em exercício da UE
+ Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro luxemburguês.

Porque é que Durão Barroso, com razões mais fortes, não se juntou ao clube?
Por respeitáveis razões pessoais, que não são politicamente respeitáveis.

Qual a importância política para Portugal da sua nomeação?
Será que o doutor Soares tem razão quando classifica a nomeação como «presente envenenado» e Durão Barroso como uma «terceira ou quarta» escolha ? Pode ser. Mas o doutor Soares - um candidato à presidência do parlamento europeu que não conseguiu ser escolha, nem terceira, nem quarta, nem nenhuma - não tem autoridade moral para dizer isso. O doutor Soares terá mais quando escreve que Durão Barroso é um candidato «cómodo, fraco e sem carisma - e, por isso, consensual - sem capacidade de se opor aos líderes europeus».

Qual o prestígio que a nomeação comporta?
É melhor procurar a resposta na imprensa internacional credível. Por exemplo, The Economist que sairá no sábado escreve:
«Durão Barroso, currently prime minister of Portugal, is a widely respected figure from the centre-right but he is also a compromise figure. He was hardly anyone's first choice, rather the best remaining option once those candidates that offended one or more of the EU's biggest members were eliminated from the race
«He has done a good job running Portugal. Since coming to power in 2002, he has pushed through an austerity programme to bring the country's budget deficit back within the limits that members of the European single currency are supposed to observe (whereas France and Germany have continued to exceed the limits). Britain likes him because Portugal stood with other Atlanticist EU countries in supporting the American-led war in Iraq

Não sendo irrelevante para Portugal a sua nomeação, qual será o benefício líquido dos custos internos?
Carece de demonstração a sua existência. O benefício bruto não é assim tão significativo («The choice of Mr Durão Barroso does not answer Henry Kissinger's famous question, of who to ring if he wanted to speak to the leader of Europe», escreve The Economist) e os custos potenciais do abandono das tímidas reformas são incomensuráveis.

Se a maioria dos portugueses entende que devem ser convocadas eleições antecipadas, deverá o PR, sem mais delongas, adoptar a «vontade popular»?
Se sim, porque não convidar, sem mais delongas, o doutor Santana Lopes para formar governo, já que é a personalidade que vem à cabeça nos primo-ministeriáveis?
Não e não. O estado democrático não se funda em sondagens ou manifestações, muito menos em maninfestações. Os governos têm um mandato para governar durante uma legislatura, salvo as situações excepcionais previstas na constituição.

Se dos dispositivos constitucionais resulta que o PR deve aguardar que o partido maioritário nas últimas eleições lhe apresente uma alternativa de governo, deve o PR aceitá-la, qualquer que seja?
Não. É sua obrigação avaliar se essa alternativa assegura a continuidade das políticas do governo anterior e garante a estabilidade da governação até ao fim da legislatura. Essa estabilidade assenta, entre outras coisas, na consensualidade da escolha dentro do partido maioritário e na manutenção da coligação que garante a maioria parlamentar. Se o PR não estiver razoavelmente convencido que a continuidade das políticas e a estabilidade governativa estão asseguradas deve, então, e só então, convocar eleições antecipadas.

E se o PSD escolher Santana Lopes para suceder a Durão Barroso?
Essas condições não estarão reunidas, a menos que Santana Lopes tivesse o improvável bom senso político de propor um primeiro-ministro com o perfil, as competências e a experiência adequados, e refrear-se a si próprio de intervir. A menos que esse primeiro-ministro reunisse uma equipa com o perfil, as competências e a experiência adequados, e, já agora, com um quanto-baste de visão liberal e reformista. É um A MENOS QUE demasiado grande.

Porquê Santana Lopes não tem essas condições?
Pacheco Pereira escreveu hoje no Público, com notável clareza e frontalidade, as coisas que devem ser ditas a este respeito.

Quais são os cenários mais prováveis?
Um governo liderado por Santana Lopes, aliado a um Paulo Portas em roda livre, um governo populista e despesista, que arruinará por uma década as reformas necessárias ou um governo frouxo e despesista,liderado por Ferro Rodrigues, aliado a um tele-evangelista em roda livre. que arruinará por uma década as reformas necessárias.

E o país está preocupado com isso?
O que é que isso interessa se podemos ser campeões da Órópa?

30/06/2004

DIÁRIO DE BORDO: A batalha de Alvalade (EPÍLOGO).

Nem a descarada ajuda da bicha árbitra, nem a ajuda desinteressada do Jorge Andrade, nada impediu os nossos rapazes de vencer aquele grupo de maricas, todos de branquinho, como se fosse um desfile de LBGTs.

Não fosse o pé desaparafusado do Pauleta, os branquinhos tinham saído de Alvalade com 4 secos.

Parabéns rapazes. Continuem assim (se não puderem ficar melhor).

DIÁRIO DE BORDO: A batalha de Alvalade - outra vez.

Depois da batalha da Luz, a batalha de Alvalade - outra vez.

Derrotadas as hostes castelhanas, humilhados os antigos aliados (será preciso lembrar o penalti do Postiga, tipo Autumn Leaves? ou o do Ricardo, tipo toma e embrulha?). É a vez daquelas tulipas saltitantes, vestidas com aqueles equipamentos amaricados, ainda a cheirarem a cânhamo, serem colhidas pelos nossos rapazes. Barba por fazer, perna peluda, ar másculo, ajeitando a ferramenta dentro dos calções cada vez que erram um passe (muitas vezes), os nossos rapazes não falharão.

Se falharem será culpa do árbitro - uma bicha chamada de Frisk que não engana ninguém, a não ser a doutora Charlotte.

DIÁRIO DE BORDO: Cherne grelhado ou Filet de Mérou à la crème d'ail? (2)

(Continuação)

Alguns leitores do Impertinências comentaram que o doutor Durão Barroso é livre de escolher e não tem que ser penalizado por essa escolha. Concordo que é livre de escolher. Os eleitores são livres de o penalizar por ter violado um compromisso eleitoral, não apenas tácito, mas explícito, por declarações suas ao propor-se para um segundo mandato.

Haveria uma circunstância em que a sua escolha deveria ser aceite pelos eleitores: se o benefício político previsível para Portugal, resultante do seu desempenho futuro como presidente da CE, fosse inquestionavelmente superior ao custo político visível de deixar encalhado um governo que já estava à deriva, sem a garantia duma solução credível de sucessão. É um SE demasiado grande. E não vale o argumento da supracional. Mesmos os federalistas concordarão que será mais fácil em 25 países encontrar um presidente aceitável para a CE, do que a qualquer maioria encontrar um primeiro-ministro decente para Portugal.

Chegado aqui, faço a agulha para os outros ângulos de análise.

Do ponto de vista institucional, creio que a questão é pacífica. É difícil não concordar com o professor Jorge Miranda, que tive o privilégio de ter como professor (não de direito constitucional) quando estudante da dismal science. Disse ele ao Público «Haja ou não eleições, o Presidente da República terá de nomear um novo Governo ... logo que se formalize a demissão de Durão Barroso o presidente tem de nomear um novo primeiro-ministro», que não pode ser «uma pessoa à margem da escolha de um partido com maioria relativa». «Deve-se evitar a antecipação das eleições ... porque as legislaturas devem ir até ao fim. A não ser que o nome escolhido para primeiro-ministro seja pouco consensual e que provoque instabilidade na maioria». Crystal clear.

No mesmo sentido, a doutora Assunção Esteves disse ao Público que «o Presidente tem hipótese sempre de convocar eleições, mas não tem de o fazer necessariamente. Mas a primeira alternativa é nomear alguém da maioria. Se achar que as condições não são as melhores, se não houver um projecto de governabilidade, então convoca eleições. Mas a legislatura é de quatro anos e tem base partidária».

Não vale a pena mandar mais poeira para os olhos da opinião pública, como faz o professor Freitas do Amaral na sua carta aberta ao PR, misturando, no seu caldeirão de intelectual do albergue espanhol, direito constitucional e ciência política temperados com as suas preferências, obsessões, opiniões avulsas e apelos convulsivos.

Em conclusão, do ponto de vista institucional, o PR não pode (não deve) dissolver a AR sem o partido maioritário lhe apresentar uma alternativa de governo. Compete-lhe decidir então se essa alternativa tem ou não legitimidade e apresenta garantias de estabilidade suficientes para evitar a convocação de novas eleições, a dois anos de vista do termo da legislatura. Compete-lhe decidir e assumir as suas responsabilidade. É para isso que foi eleito. Não foi eleito para brincar às presidências abertas, inventadas pelo doutor Soares para fornicar a governação do professor Cavaco.

Tudo o resto é contrabando de ideias. Também não gosto desta Constituição que temos. Mas é a que temos e devemos respeitá-la. A esquerdalhada tem deveres especiais de respeito, porque passa a vida a encher a boca com aquela tralha programático-social-comunista que encharca as duzentas e tantas páginas, que mais parecem um contrato colectivo de trabalho dos metalúrgicos, do que uma constituição.

Se ainda hoje tiver pachorra, abordarei o o ângulo político da questão. É um bom dia para isso, porque 90% da bloguilha vai estar a marimbar-se para tudo o que não seja o Portugal-Holanda.

Nova definição impertinente:
Carta Aberta
É uma contradição nos termos. Uma carta é fechada. Uma carta que é aberta, não é fechada (La Palice). É, pois, uma carta que não é uma carta. É uma circular que tem como destinatários reais toda a gente menos o destinatário formal. É também uma grande falta de vergonha de quem a escreve, ao divulgar os seus termos por terceiros, muitas vezes antes do destinatário a conhecer, sem cuidar de saber se autorizaria. É, em suma, um insulto à inteligência de todos os seus destinatários.

PUBLIC SERVICE: Island in a sea of delusion.

While half Portugal quarrels about prime minister resignation to go Brussels and other half dreams about Portuguese football team get a most wanted passport to semi-final of European cup, someone keeps his mind clear enough to quote Alexander Tyler:
«A democracy cannot exist as a permanent form of government. It can only exist until the voters discover that they can vote themselves money from the public treasury. From that moment on, the majority always votes for the candidates promising the most money from the public treasury, with the result that a democracy always collapses over loose fiscal policy followed by a dictatorship

Tyler's thought applies more than it appears to the Portuguese situation, after 6 years of socialist loose budgeting and 2 years of shy reforms.

29/06/2004

DIÁRIO DE BORDO: Cherne grelhado ou Filet de Mérou à la crème d'ail? (1)

Tenho estado tão entretido a ler as fratricidas blasfémias do Blasfémias que não tive tempo de escrever impertinências sobre o incontornável problema da sucessão do doutor Durão Barroso.

«Só há uma maneira de impedir o que parece um curso inexorável: que quem deve falar, fale. Que diga, alto e bom som, o que pensa e o que diz em privado. Que quem tem autoridade para falar, e muita gente a tem, fale» escreveu JPP no Abrupto. Muitos dos que deviam falar ficarão calados. E, dos que falarem, muitos não terão autoridade para falar. E, dos que falarem com autoridade, nenhum dirá impertinências.

Podemos olhar para o dilema do cherne de diferentes ângulos. Começo pelo que poderia ser o ponto de vista do próprio doutor Durão Barroso. Se tiver pachorra, continuarei com o ângulo institucional e o ângulo político.

Compreende-se perfeitamente que o ainda primeiro-ministro troque um desconsolado na periferia por um consolado no centro. Que troque a horda manhosa de pêessedês, sedenta de mordomias, por grupos selectos que já têm mordomias, ainda que não desdenhem aumentá-las, mas sem ânsias. Que esqueça os punhais da traição escondidos atrás de vibrantes declarações de apoio dos seus colegas de partido. Que deixe para trás a maçada de maninfestações contra a guerra, contra o desemprego, contra a globalização. Contra-contra, diria o Scolari, se fosse político. Que troque um salário merdoso de primeiro-ministro por um salário decente de presidente da CE. Que deixe de ter que responder às interpelações, comentários, pedidos de esclarecimento e outros expedientes parlamentares do tele-evangelista e dos radicais chic do BE, dos trogloditas do PCP, dos bloquistas do PS e as de outras luminárias parlamentares. Que deixe de se preocupar com os queques de direita com quem teve de se coligar. Que deixe para trás as eleições legislativas com as suas incontornáveis campanhas de peixarada, beijinhos e abraços, comícios de vendedores de banha da cobra.

É certo que terá que se ocupar a valorizar a contextualidade episódica. Mas é diferente. É outra coisa. Não é certo que tenha de se transformar num eurocrata. Um dos seus antecessores não o foi. Não é certo que Durão Barroso tenha a liderança e a visão dum Jacques Delors. Mas também não é certo que as não tenha.

Em resumo, do seu ponto de vista pessoal, compreendo perfeitamente que o doutor Durão Barroso troque o Portugal dos Pequeninos pela Órópa.

Sobra um pequeno pormenor. O doutor Durão Barroso foi eleito para governar por uma legislatura um país deixado de rastos pela incúria guterrista, num pântano de crise económica e orçamental. Anunciou intenções e iniciou tímidas reformas, cuja continuidade ele tem obrigação de perceber ficará seriamente comprometida. Não foi eleito para compor o seu currículo ou prosseguir uma carreira internacional.

O doutor Durão Barroso não deve, por isso, esperar que algum dia venha a merecer outra vez a confiança dos eleitores. Não a minha, pelo menos.

CASE STUDY: É preciso ser muito saudável para resistir a tanta doença (6º capítulo). A saga continua.

Agora que os portugueses ainda estão na fase eufórica do campeonato da Órópa, sob influência do síndrome do rectângulo de Alvalade, é bom lembrar que, ao virar duma qualquer esquina, uma doença espera por nós.

Ponto de situação (ver aqui, aqui, aqui, aqui e aqui): 4 milhões hipertensos, 38% com reumatismo ou artrite, 15 a 20.000 com parkinsonismo, 130 mil homens com cancro na próstata, 200.000 fibromiálgicos e milhão e duzentos mil com fadiga crónica (estimativa do Impertinências), 4.000 electricistas com doenças profissionais, 30.000 portugueses que sofrem dos intestinos, 14 milhões de dias de baixa por ano devido a problemas respiratórios, 15 a 20% da população com prurido, vermelhidão e lacrimejo na primavera, 4.000 (1 em cada 2.500 pessoas) que sofrem duma das mais de 40 doenças neuromusculares e 1.500 crianças com doenças reumáticas de causa desconhecida, 44.000 dias de falta por doença (15 dias por ano e alma) dos funcionários da Judite.

Segundo as últimas informações da preciosa fonte dos cadernos de saúde dos semanários, podemos adicionar 1 em cada 4.000 recém nascidos que sofre de fibrose quística, mais de um mi1hão de mulheres (1 em cada 5) e cerca de 300.000 homens (1 em cada 15) que sofrem de varizes, 5% das mulheres que sofrem da síndrome dos ovários poliquísticos, meio milhão de portuguesas e portugueses que sofrem de apneia do sono e 1 em 200 que sofrem de epilepsia.

Duas notas finais, como diz o professor Marcelo: registo com preocupação mais duas doenças sexistas (as varizes e os ovários poliquísticos) e, com surpresa acrescida, o fracasso eleitoral do Movimento pelo Doente, talvez só compreensível por estarem de baixa a maioria dos seus eleitores.

Post scriptum:
«Embora muitos médicos se mostrem preocupados com o palato, com a úvula e respectivas dimensões, muitas vezes negligenciam a língua», lembra-nos sensatamente o 17º caderno (Saúde Pública) do saco de plástico, a propósito da apneia ou doutra coisa qualquer. É um bom conselho que aqui acolho: blogonautas de todos os azimutes não negligenciem a língua.

28/06/2004

CASE STUDY: Descentralização da reforma administrativa.

Para quem tenha dúvidas que a regionalização, ou a descentralização, como lhe quizerem chamar, é uma boa medida para melhor a eficiência da vaca marsupial pública, veja-se o frémito inovador que, desde a câmara mais importante do país, finalmente liderada por alguém genuinamente da Kapital, até à mais modesta junta de freguesia, atravessa a administração local.

Um só exemplo. A câmara de Fafe impõe, desde o princípio do ano, a todos os seus funcionários (funcionários não é adjectivo é substantivo, lembre-se) a marcação do ponto hora a hora. Impõe e impõe bem. Para os que tinham por costume deixar o casaco nas costas da cadeira, dizer até logo e voltar no dia seguinte, esta medida vai obrigá-los a dizer até já. Para os outros, conformados, que ficavam polindo o tampo da cadeira e puindo os fundos das calças, dormitando, por vezes em posições pouco ergonómicas, isso vai obrigá-los a um módico de exercício que em muito vem melhorar a sua qualidade de vida.

27/06/2004

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: As impertinências do Feio.

Secção Assaults of thoughts
«Se há dez anos, eu falasse em teatro comercial caía-me tudo em cima. Só interessava o teatro independente. Independente em quê? Nem monetariamente é independente. Se não for o estadinho a dizer-lhes «toma lá dinheiro e faz qualquer coisa» nem existe.

Três afonsos para o António Feio por estas impertinências, ditas ao repositório de vacuidades do saco de plástico - a revista Única. O Feio só não faz o pleno dos afonsos por ter usado a expressão «há dez anos».

Nova entrada para o Glossário das Impertinências:

Teatro independente, Arte independente
O teatro que depende do estado; o teatro a quem o estado diz «toma lá dinheiro e faz qualquer coisa» (A. Feio). Por extensão, o conceito pode aplicar-se a qualquer outra arte «independente» cujo público é um qualquer júri a quem pagam para dar pareceres.

PUBLIC SERVICE: Why Europe is so irresolute against terrorism?

«For a decade or so, Europe had more terrorist attacks than the Mideast. Will it happen again?
Between 1991 and 2000, the world witnessed 3.810 terrorist attacks. And nearly a third of them - 31% - occurred right here in Europe


[European Security Advocacy Group]

26/06/2004

DIÁRIO DE BORDO: Reaganomics. A pesada herança.

A citação que comentei aqui do A Praia, incluía a seguinte frase: «As consequências mais notórias das suas políticas são sentidas até hoje: aumento das desigualdades sociais, aumento do número de pessoas a viver em situação de pobreza, crescimento extraordinário do número de pessoas a viver na rua.»

Qual foi a pesada herança da Reaganomics?

«In 1999 a quarter of US households were poor (with less than $25,000 pa). By this standard 40 percent of Swedish households would be considered poor. Of course, some prefer to measure poverty relatively. In this context of US poor households, 45.9 percent own their own home, 72.8 percent have a car, and 77 percent have air conditioning. Their average living space is 1,200 sq ft per household. The European average including both rich and poor is 1,000 sq ft.»
[Ver aqui - via Dissecting Leftism]

25/06/2004

DIÁRIO DE BORDO: Há grunhos em todo o lado.

Inglaterra: desacatos com portugueses após o jogo

Que isto possa acontecer na mais antiga democracia do mundo, é mais uma demonstração de que a grunhice é patologia que ataca em todo o lado, apesar das boas condições sanitárias.

DIÁRIO DE BORDO: A quadratura do rectângulo da Luz.

Antes de continuar a gastar estupidamente gasolina e a buzinar alarvemente, contribuindo para lixar a retoma, venho a casa, num pulo, escrever uma impertinência.

Também não era preciso ter tantas contemplações com aqueles grunhos, só por nos terem ajudado há 200 anos a expulsar a pior corja do mundo - a corja francesa.

Rendo-me. A defesa daquele guarda-redes piolhoso, que está a tomar o lugar do Baía, no último penalti dos grunhos e, acima de tudo, aquele penalti marcado ao grunho keeper foi um absurdo, como disse o Mourinho da exibição do Ricardo Carvalho contra o inimigo castelhano.

Que se lixe. Se não tínhamos retoma, também não é por isso que passamos a ter. Mas sempre é melhor, já que não temos, cobrarmos dos gajos que não precisam de retoma, porque estão há anos na toma.

Até amanhã. Vou gastar mais gasolina e buzina.

24/06/2004

DIÁRIO DE BORDO: Depois do rectângulo de Alvalade, o rectângulo da Luz.

aqui evoquei a importância do quadrado para afastar a ameaça castelhana no século XIV. Para vencer o inimigo, contámos então com o génio táctico do Scolari da época (não se pode falar propriamente de génio, no caso do Scolari contemporâneo) e com a preciosa ajuda dos arqueiros ingleses, nossos aliados.

Como acontece frequentemente no mundo real, também na realidade virtual do futebol, os aliados de ontem podem ser os inimigos de hoje. Vencida a batalha de Alvalade, temos hoje a batalha da Luz. Será mais um passo no caminho da reconquista da auto-estima e, em consequência, no início duma retoma sustentada.

Deixem-se de tretas. Ganhar ou perder este jogo é igual ao litro, quer para a auto-estima, quer para a retoma. Em relação à primeira, já aqui escrevi que o problema dos portugueses não é a falta, é o excesso. Em relação à segunda, para sermos rigorosos, deveríamos concluir que a eliminação, tornando-nos disponíveis para recomeçar a trabalhar, apressaria a retoma,

O que está em causa é APENAS futebol. E daí? E daí, VAMOS A ELES, antes que eles venham a nós. PERDER, NEM A FEIJÕES.

CASE STUDY: Discriminação positiva nos passes sociais.

O governo anunciou a «discriminação do preço do passe social em função do rendimento do utente».

O emplastro porta-voz do MUSP-Movimento dos Utentes dos Serviços Públicos (um apêndice do PCP?) insurgiu-se contra esta anunciada medida com o incrível argumento «o passe social é um direito adquirido»

O emplastro porta-voz da Deco (um apêndice do PS?) declarou-se «claramente favorável à existência de passes sociais para as classes desfavorecidas».

Estamos a falar de quê? De um passe válido apenas na região da Grande Lisboa e actualmente apenas usado pelos tesos e alguns diletantes, como o Impertinências (que é um teso, mas com classe).

Estamos a falar de quê? Discriminação positiva? Positiva não sei, mas sem dúvida discriminação. Qualquer indígena, que ganhe mais do que 2 salários mínimos, endivida-se na primeira oportunidade para comprar um chaço com rodas. Qualquer indígena, que não ganha a ponta dum corno, mas tem um patrocinador, crava-lhe um chaço na primeira oportunidade (caso típico dum estudante universitário que more a 1.235 metros da escola). Dotados de chaços, os pelintras e os patrocinados, passam a usufruir do privilégio de ficar 2 horas por dia entalados no trânsito ou à procura dum cais para ancorar o chaço e sair de 4 em 4 horas para carregar moedinhas, ou, o mais provável, por fundear o chaço em cima do passeio, atrapalhando os pedestres aos saltinhos entre os cócós dos lulus.

Estamos a falar de quê? Estamos a falar de pedir a declaração de IRS (versão do governo)? Estamos a falar dos «recibos de água, electricidade ou telefone» (versão Deco)? A burocracia necessária para controlar uma redução de meia dúzia ou mesmo uma dúzia de euros no preço do passe, que não dá nem para carregar o telemóvel do utente, terá um custo incomensurável com qualquer módico de acréscimo da justiça social, seja lá o que isso for.

Estamos a falar de quê? O passe social não passa dum mecanismo de transferência de rendimentos para alguns pelintras da região de Lisboa, rendimentos extorquidos pelo estado aos outros pelintras espalhados pelo país e aos indígenas possidentes. Os cobres extorquidos são, de seguida, derramados sob a forma de subsídios pelas goelas dos insaciáveis buracos dos gigantescos défices de exploração das empresas públicas de transporte (a maior parte) ou para ajudar à festa nalgumas empresas privadas.

Estamos a falar de quê? Estamos a falar de distorção dos preços. Estamos a falar de sinais errados para as escolhas económicas. Estamos a falar de tornar mais acessível viver cada vez mais longe do trabalho. Estamos a falar de ineficiências.

Qualquer mente sofrivelmente liberal arrepia-se só de ouvir falar disto. Mas quais mentes? É mais fácil encontrar as caganitas do lince da Serra da Malcata em S. Bento, do que um liberal na Grande Lisboa ou noutras paragens.

Discriminação positiva? Duvido. Demagogia em movimento? Talvez.

23/06/2004

PUBLIC SERVICE: Another liar?

«I can confirm that after the events of September 11, 2001, and up to the military operation in Iraq, Russian special services and Russian intelligence several times received .?.?. information that official organs of Saddam's regime were preparing terrorist acts on the territory of the United States and beyond its borders, at U.S. military and civilian locations

Who said that? Bush. Right? Wrong. Vladimir Putin said.

[Via Dissecting Leftism]

DIÁRIO DE BORDO: Reaganomics.

A propósito da morte de Reagan foram escritas imensas asneiras, muitas manipulações e algumas imprecisões sobre a reaganomics. Esquecendo o resto, falando destas últimas, retenho apenas uma, por provir das Espécies ameaçadas do Impertinências. Escreveu o A Praia, na ocasíão, mas que só li aqui e agora:

«Reagan deixou ao seu sucessor um défice orçamental gigantesco, alicerçado no aumento massivo dos investimentos militares e na redução sem precedentes dos impostos dos mais ricos. (Ao tomar posse como Presidente, havia prometido equilibrar o orçamento; em oito anos, triplicou o défice.) As consequências mais notórias das suas políticas são sentidas até hoje: aumento das desigualdades sociais, aumento do número de pessoas a viver em situação de pobreza, crescimento extraordinário do número de pessoas a viver na rua

O que efectivamente se passou?

Reaganomics at work

22/06/2004

TRIVIALIDADES: Estão a ficar parecidos.

«Andrade engañó a los españoles al asegurar que Rusia iba ganando 3-1» escreveu ontem a Marca, a bíblia castelhano do fútbol.

Quem é que costuma inventar desculpas mal amanhadas?

CASE STUDY: Os criativos da IKEA desvendam-nos a alma.

Há dias puseram-me na caixa do correio um folheto da IKEA - affordable solutions for better living - multinacional sueca que abriu recentemente uma loja em Alfragide.

Não sei quem são os criativos que inventaram a campanha de abertura, mas os slogans são um retrato perfeito da alma nacional.

Alguns exemplos:
«Tome o pequeno-almoço nas calmas e ponha as culpas no trânsito»
«Finja que tem uma reunião fora e vá para casa fazer sala»
«Feche-se no WC e ligue a dizer que está preso no elevador»
«Passe a manhã na cama e diga que o despertador avariou»

21/06/2004

PUBLIC SERVICE: Private goes Heaven.

The first time a civilian pilot at the controls of a privately financed aircraft had crossed the threshold of space.

LOG BOOK: For a Fistfull of Dollars.

Could a young Fidel in his 12's have started 19 years later a long career as communist and anti-american because president Roosevelt didn't answer his demand for «a $10 bill green American»?


[Young Fidel's letter «embellished with an elaborate signature»]

20/06/2004

DIÁRIO DE BORDO: O rectângulo de Alvalade também serve.

Contrariando o cepticismo impertinente, um Nuno Álvares nascido no Rio Grande do Sul, mesmo sem os arqueiros ingleses, lá conduziu os magriços a congelar a fúria castelhana (desculpa lá, ó Camacho).

Resultado? 5 milhões de treinadores a discutir esquemas à volta das máquinas de café há 4 dias e que vão continuar mais uma semana. «Ai o PIB», escreveu o Jaquinzinhos,

Faço minhas as palavras dele. Que se lixe o PIB! O pior ainda são os euros que os castelhanos vão levar nos bolsos para casa.

ESTÓRIA E MORAL: Depois do quadrado de Aljubarrota, o rectângulo de Alvalade

Estória

Em 1384, estando iminente a transferência dos centros de decisão de Lisboa para Castela, o Mestre de Avis, Dom João, filho bastardo de Dom Pedro, encabeçou a revolta contra Leonor Teles e o seu amante galego, por um lado, e contra Dom João I de Castela e sua mulher Dona Beatriz, filha de Dom Fernando, por outro.

Depois da morte do Conde de Andeiro às mãos do Mestre de Avis, da fuga de Leonor Teles para Castela, e após várias escaramuças, tem lugar a batalha decisiva de Aljubarrota. Em Aljubarrota, Nuno Álvares Pereira (outro bastardo), com a célebra táctica do quadrado, mais tarde copiada por Bonaparte (Napoleão), diz-se, e a ajuda de arqueiros ingleses, derrotou as tropas castelhanas invasoras.

620 anos depois, estando iminente, outra vez, a transferência dos centros de decisão de Lisboa para Madrid, Barcelona, etc., temos, no lugar da Leonor Teles, o engenheiro Guterres, que fugiu do pântano para o limbo da política. Os seus vários condes de Andeiro estão a fazer de mortos, à espera da ressureição em 2006. O Mestre de Avis foi substituído pela dupla Cherne/doutor Sampaio. No lugar de Nuno Álvares, passámos a ter o brasileiro Luís Felipe Scolari. Trocámos o quadrado de Aljubarrota pelo rectângulo de Alvalade.

Estamos obviamente em pior situação, mas o que mais me preocupa é a falta dos arqueiros ingleses.

Moral

«Hegel observa em uma de suas obras que todos os factos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.»
[O 18 Brumário de Luís Bonaparte, Karl Marx]



[Esboços de Scolari, encontrados nos seus aposentos, no coio dos lagartos, em Alcochete]

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: O novo jornalismo é igual ao velho, mas sem factos.

Secção Perguntas Impertinentes

Na sua comunicação na mesa-redonda «Capitalismo pela Paz» realizada na semana passada na Tenda Mundo Melhor na Cidade do Rock, Peter Arnett, ex-CNN e ex-NBC, agora a escrever um livro em Bagdade, disse:

«Vivemos numa época de novo jornalismo, em que é dada aos profissionais de comunicação a possibilidade de falarem como toda a gente. Na minha fase inicial de carreira, por altura da guerra do Vietname, o jornalista não se envolvia nos acontecimentos, é certo. Mas hoje somos encorajados a ter uma opinião. Os jornalistas falam. Há um novo estilo de jornalismo que se impõe.»

É caso para perguntar, se os jornalistas começam a falar como toda a gente, a borrifarem-se para os factos, a opinarem e darem largas à sua pesporrência, o que os distinguirá da gente? Qual é o valor que tais jornalistas acrescentam a um jornal? Como justificar que lhes paguem as prosas que produzem em vez de publicar cartas dos leitores? Porquê pagar 1, 2 ou 3 euros por uma resma de papel de má qualidade, que suja as mãos, se posso ler, à borla, opiniões muito mais originais e geralmente melhor escritas, nos milhares de blogues, em várias línguas, de excelente qualidade que se publicam na blogosfera?

Enquanto não chega uma resposta convincente, atribuo 3 chateaubriands a Peter Arnett, ex-jornalista e actual ficcionista. Ficam mais 2 chateaubriands reservados para quando perder o resto da lucidez e da decência e passar a defender o jornalismo de causas.

19/06/2004

SERVIÇO PÚBLICO: Começou o campeonato da Órópa.

Começou hoje o campeonato da Órópa. Começou e começou bem com a República Checa a ganhar 3-2 à Holanda.

STATE OF MEN / CONDIÇÃO MASCULINA: The Sex-for-Food Program / Geometria feminina não euclidiana.

Summary for the sake of
Fascism is enemy of science. I mean, all kinds of fascism, such as communism, nazism, islamic fundamentalism and, last but not least, politically correctness.
Here stuff to give the politically correctness flock some scratch for the back of theirs, this weekend.
A research shows that historically sexual attraction lies on very practical things. The absence of a heat period in human beings and the female capability to offer sex constantly is a strategy to keep the male nearby to provide food and protection for the long period required to nurture the human child. A Sex-for-Food program should I say?
Another research shows the importance of female geometry to attract male and explains male preferences for wide hips (good for child bearing) and large breasts (that deliver more milk).
Now we are aware. Carpe diem.

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[Geometria feminina não-euclidiana / non Euclidean Female Geometry]

As ideologias, em particular os fascismos, como o comunismo, o nazismo, o fundamentalismo islâmico, sem esquecer o politicamente correcto, são inimigas da ciência.
À tropa do politicamente correcto ofereço duas doses de sarna para se coçarem neste fim de semana, enquanto esperam pelo desafio ibérico do século.

Através dum link dos impagáveis Marretas, cheguei às investigações do professor Manuel Domínguez-Rodrigo, da Universidade Complutense de Madrid. Por razões que ele explica, a ausência do cio nos humanos, proporcionando uma oferta de sexo constante, ter-se-à desenvolvido como estratégia de atracção - um truque da espécie - para conseguir comida e protecção dos machos e garantir a sobrevivência da prole, conseguindo assim os melhores resultados genéticos para a espécie. Para usar a expressão crua do jornalista "as hominídeas do passado decidiram levar a cabo um intercâmbio comida-sexo". É claro que a melhoria histórica do nível de vida foi modificando gradualmente os termos do intercâmbio e da comida chegou-se até aos diamantes, no período imediatamente anterior ao advento da pílula. Este advento modificou tudo, por razões que um dia o Impertinências vai abordar.

Pode parecer um bocado suspeito citar uma fonte enviesada aos olhos do politicamente correcto (o Manuel é macho, supõe-se). Sendo o homem espanhol, isso também não ajuda aos olhos de 80% dos patrícios.
Cito, por isso, outra pesquisa (ver aqui e aqui) de Grazyna Jasienska da Jagiellonian University em Cracóvia, Polónia, que É MULHER e NÃO é americana. Esta pesquisa evidencia a importância da geometria feminina na atracção sexual - aparentemente mais um truque da espécie para levar o macho a preferir uma boa reprodutora. É mais um truque a juntar ao do sexo 24/7.

18/06/2004

PUBLIC SERVICE: Green Bible challenged.

A group of experts led by Bjorn Lomborg, author of the heterodox «The Skeptical Environmentalist», and the black sheep of the greens, conducted since 2002 a discussion under the name of Copenhagen Consensus project whose «basic idea was to improve prioritization of the numerous problems the world faces, by gathering some of the world's greatest economists to a meeting where some of the biggest challenges in the world would be assessed».

The results of the Copenhagen Consensus work, grounded on cost-benefit analysis method, challenge the green bible of the environmentalists and were summarized by The Economist in this crystal clear table:



Watch what happened to those sacred cows such as the beloved Kyoto Protocol.

17/06/2004

BLOGARIDADES: 16 de Junho. Doomsday?

O Bloomsday parece ter-se transformado no Doomsday da Bloguilha.

Ele é O Comprometido Espectador que anuncia o encerramento por incompatibilidade com o sustento da família (percebo-o perfeitamente). Ele é o Abrupto que confirma as nossas suspeitas, passa-se para a UNESCO (parabéns) e nos entretem prometendo vagamente produção «sempre que tenha oportunidade».
Valha-nos o Aviz que faz agora um ano (parabéns) e parece resistir.
A lista impertinente nunca foi grande. Por isso a taxa de mortalidade é elevadissima: Cataláxia, Merde in France, O Comprometido Espectador, O Meu Pipi, Procuro marido, para só citar as baixas que me lembro.

Será enguiço?

TRIVIALIDADES: O Plano Marechal.

Segundo o DN, «O Presidente Lula da Silva defendeu ontem, na abertura da 11.ª Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), a adopção de um programa para ajudar as nações pobres, semelhante ao Plano Marshall, que permitiu a recuperação dos países europeus afectados pela Segunda Guerra Mundial.»

A ideia é má? Depende. First things, first. Como há 60 anos, antes de lhes dar dinheiro, teremos que apear, por incompetência e/ou corrupção, quase todos os governos dessas nações pobres. Nações pobres, não por haver nações ricas. Pobres por terem governos incompetentes e/ou corruptos que pedem planos para as salvar da miséria a que eles próprios e os seus antecessores as conduziram.

16/06/2004

TRIVIALIDADES: Portugal 2 - Rússia 0

Agora só falta ganhar-lhes no outro campeonato. Vamos ter que começar já e precisaremos de 20 anos.
[Não esquecer que no outro campeonato pode-se usar as mãos fora da área]

TRIVIALIDADES: Portugal 0 - Rússia 10.

Dentro de duas horas defrontar-se-ão as selecções portuguesa e russa. Pelo que se viu até agora, o desfecho pode muito bem inclinar-se para a Rússia. A menos que os rapazes consigam aplicar apropriadamente a única arma de destruição maciça de que dispõem - o desenrascanço. É uma arma intensamente aleatória que com facildade se dispara nos pés, como a história abundantemente demonstra. É o que nos resta, na falta dum apoio maternal mais intenso e do António Oliveira com os seus alhos e crucifixos.

Se perdermos contra a Rússia em futebol não nos preocupemos. Muito mais importante e com consequências muito mais dramáticas para as próximas gerações são os 10 a 0 que eles nos dão, todos os anos, no campeonato do ensino. E quem é que se rala com isso?

[Ver a entrada desenrascanço na imperdível Wikipedia - The Free Encyclopedia]

PUBLIC SERVICE: Bloomsday 100th (to Molly Bloom, a yes woman)

«June 16 is an extraordinary day. On that day in 1904, Stephen Dedalus and Leopold Bloom each took their epic journeys through Dublin in James Joyce's Ulysses
[ReJoyce Dublin 2004. Go for it.]


[the Dubliner expatriate, himself]

15/06/2004

TRIVIALIDADES: O Campeonato da Órópa

Depois dum curto intervalo para as eleições na Órópa, voltamos ao que interessa - o campeonato da Órópa.

«Albufeira: adeptos ingleses envolvem-se em confrontos com a GNR»
Para quê importar grunhos? Não chegam os que cá temos? E a esquerdalhada a exigir o regresso a casa dos nossos anjos da Guarda. Deixem-nos ficar no Iraque, coitadinhos. Estão lá mais seguros.

«Adeptos ingleses agridem franceses no Parque das Nações»
Até pode ser. Dos grunhos tudo se espera. Mas a foto duma bela grunha inglesa carinhosamente empoleirada em dois franceses amaricados não condiz.

«Portugal tem bons jogadores, mas não tem boa equipa», disse o grego Nikolaídis, querendo ser simpático para as gentes da terra, depois de ter comprovado a 2ª parte da sua tese, ajudando a enfardar 2 secos no seleccionado tuga.

Ontem uma estação qualquer mostrou imagens dos nossos rapazes que, segundo o repórter e um psicólogo de serviço, estavam a recuperar da derrota, depois dum convívio com a família. Errado, tudo errado. Família? Mandem vir só as mãezinhas deles. Psicólogo? Mandem vir um astrólogo. Ou então perdoem ao Oliveira e mandem-no vir com os alhos e os crucifixos.

TRIVIA: Arabian capital markets relieved.

How could one explain why American investors are so shy after coalition invasion of Iraq when their muslin counterparts are so happy? Or should I say relieved?


14/06/2004

SERVIÇO PÚBLICO: Ando há 10 anos a dizer isso e ninguém me ouve.

«No fundo, temos um País de mentalidade estruturalmente socialista e estatista, que se foi consolidando ao longo destes 30 anos, para o que relevou também o contributo dos vários governos liderados pelo PSD. Esta mentalidade é causa principal de um grande imobilismo e de uma resistência crescente a qualquer mudança que questione os fundamentos dos chamados direitos adquiridos. E isto é preocupante. Em Portugal e em toda a Europa, cujos eleitores penalizam fortemente quem pretenda reformar o sacrossanto modelo social europeu
Falta talvez uma abordagem diferente (liberal, por exemplo) que implique rupturas com o status quo e que, desde Margaret Thatcher, ninguém na Europa tem coragem de assumir.
»
[palavras ainda húmidas da tinta de LR do Blasfémias]

Qual a chave que abrirá a porta à reforma do sacrossanto modelo social europeu? A mesma que abriu a porta à Maggie. O espectro do desemprego, da redução das pensões, do fim das férias tropicais, etc. (um grande ETC.), ali mesmo ao virar da esquina. Uma classe média que já percebeu que alguma coisa tem que mudar para que tudo possa ficar na mesma.

E porquê é preciso chegar aí? Um prémio Nobel da Física disse um dia que o cérebro humano é a matéria mais inerte do universo. That's why.

DIÁRIO DE BORDO: O que eles dizem, escreve-se.

O prudente vencedor, doutor Ferro Rodrigues:
«Naturalmente que no próximo congresso serei candidato a secretário-geral», disse. À cautela Ferro desafia Governo a manter Vitorino na Comissão Europeia, não vá o dito aparecer por cá numa má altura.

O debutante, doutor Monteiro:
«Um excelente começo» chamou às 33 mil cruzes postas pelos eleitores que se esqueceram dos óculos em casa.

O grande derrotado, doutor Durão Barroso:
«Temos de ser capazes de fazer o nosso país andar para a frente. Temos de dar melhores condições de vida aos portugueses, dar-lhes mais justiça social. Temos a responsabilidade de lhes garantir a esperança», explicou, anunciando o próxima chuva de subsídios e a subsequente derrapagem orçamental.

O grande expectador (o espectador expectante), professor Marcelo:
«Banhada» classificou a derrota da maioria governamental que ficará um pouco mais à mercê das suas sessões alfarrabistas de domingo à noite.

Movimento pelo Doente, a grande decepção:
Silêncio dorido que não explica para onde foram os seus votos que anunciei aqui e aqui e aqui e aqui e aqui.

DIÁRIO DE BORDO: Parece que houve eleições.

Parece que houve eleições para o parlamento europeu. Só me dei conta depois daquela peixarada dos caciques acolitados pelas matilhas de grunhos na lota de Matosinhos. Cheguei tarde. A campanha terminou aí e fiquei sem saber o que estaria em causa nestas eleições - se estivesse em causa alguma coisa.

Fosse como fosse, não devia ser importante. E, como no futebol, ganhou o melhor. Venceu a coligação dos ignorantes, como o Impertinências, com os distraídos, os indiferentes, os atrasados, os em fim de semana prolongado, e os adeptos da tese do Ensaio sobre a Lucidez. Isto sim, é uma surpresa. Pelo menos para mim. Nunca pensei ficar do mesmo lado do Saramago. Nem mesmo neste albergue espanhol da abstenção.