Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

06/04/2021

O tele-evangelista Dr. Louçã tem razão: os comunistas nunca comeram criancinhas, nem precisaram. Quem comeu criancinhas foram as vítimas do comunismo. E não só no Holodomor

É claro que os comunistas nunca comeram criancinhas. Os apparatchiks do socialismo soviético e de outros socialismos sempre desfrutaram de um estatuto privilegiado, mesmo que nunca tivessem conseguido proporcionar datchas a todos, pelo menos sempre tiveram acesso prioritário à alimentação e aos bens de consumo disponíveis, nalguns casos importados do capitalismo. 

Quem recorreu ao canibalismo, incluindo o sacrifício de crianças, foi o povo sob o jugo dos partidos comunistas, e em especial os camponeses a quem os comunistas confiscaram terras e colheitas. 

E não foi o Holodomor ucraniano em 1932 e 1933 o primeiro caso de morte em massa pela fome. Antes disso, ainda nos anos 20, ocorreram fomes devastadoras que só não dizimarem mais russos graças à ajuda do capitalismo americano. A este propósito vou republicar um post do ano passado sobre um episódio esquecido dos anos 20 da revolução russa relatado por Douglas Smith em «The Russian Job: The Forgotten Story of How America Saved the Soviet Union from Ruin».

«Já devastada por guerras e revoluções, em 1920-22 a Rússia foi atingida por secas e enfrentou uma das piores fomes de todos os tempos na Europa. Foi parcialmente auto-induzida: aterrorizados pelo Exército Vermelho e ameaçados com requisições e execuções, os camponeses russos reduziram drasticamente as terras cultivadas, semeando o mínimo necessário para sua própria sobrevivência.

Consciente de que comida significava poder, Vladimir Lenine abandonou o comunismo de guerra em favor de uma nova política económica que substituiu a requisição por impostos e fez algumas concessões ao capitalismo. Mas era tarde demais. No final de 1921, o vasto território ao longo do Volga sucumbiu à fome e ao canibalismo.

Tendo chegado ao poder com a promessa de fornecer pão e acabar com a guerra, os bolcheviques enfrentaram a perspectiva de serem varridos pela fome. Incapazes de alimentar seu próprio povo, os líderes da revolução proletária voltaram-se para o Ocidente em busca de ajuda. Maxim Gorky, um escritor bolchevique que outrora demonizou o capitalismo americano, apelou a “todo o povo europeu e americano honesto” para “dar pão e remédios”.

Vítimas do comunismo de joelhos e com fome

O apelo atingiu Herbert Hoover, principal fundador da American Relief Administration (ARA). O futuro presidente respondeu não por simpatia pela "tirania assassina" do regime bolchevique, mas pela fé na missão - e capacidade - da América de melhorar o mundo. Se as crianças estavam morrendo de fome, a América era obrigada a aliviar seu sofrimento. “Devemos fazer alguma distinção entre o povo russo e o grupo que tomou o governo”, argumentou Hoover.

A insistência da ARA em ter uma autonomia completa deixou o governo soviético suspeito, assim como a sua promessa de ajudar sem levar em conta "raça, credo ou status social". Afinal, o regime liquidou classes inteiras de cidadãos e nacionalizou não apenas a propriedade privada, mas a vida humana. Ainda assim, dada a escolha entre perder a face ou perder o país, os bolcheviques aceitaram as condições da ARA - enquanto colocavam a operação sob vigilância da polícia secreta.

O livro de Smith não é uma história política, entretanto. É principalmente uma reconstrução das vidas daqueles homens da ARA, muitos deles com histórico militar, que por mais de dois anos e meio assumiram as funções do governo civil na Rússia, alimentando cerca de 10 milhões de pessoas. Na região do Volga, onde os moradores eram levados pela fome a ferver e comer carne humana, a ARA organizou cozinhas e transporte, distribuiu alimentos e reconstruiu hospitais.

A miséria que encontraram na Rússia deixou-os nervosos ao ponto de entrar em colapso e desespero, mas também deu significado às suas carreiras. “É apenas prestando serviço que se pode ser feliz” , escreveu um oficial da ARA. “A ajuda dada pelos americanos nunca pode ser esquecida, e a história de sua gloriosa façanha será contada pelos avós aos seus netos”, disseram-lhes russos gratos.

No entanto, a duplicidade e paranóia do governo soviético assombrou a operação da ARA até o fim. Enquanto os líderes bolcheviques publicamente cobriam os americanos com elogios e agradecimentos, a polícia secreta instruiu as autoridades locais: "Sob nenhuma circunstância haverá grandes demonstrações ou expressões de gratidão feitas em nome do povo." Assim que o trabalho russo foi concluído, as autoridades começaram a apagar toda a memória da ajuda americana.

A edição da Grande Enciclopédia Soviética de 1950 descreveu a ARA como uma frente “para atividades de espionagem e destruição e para apoiar elementos contra-revolucionários”. Os livros didáticos russos modernos mal mencionam o episódio.»

3 comentários:

Anónimo disse...

Na maior parte do mundo, ninguém sabe disto.
Os comunistas são muito bons industriais da borracha de apagar.
Grato pelo link.
Abraço

Bilder disse...

"Os comunistas são muito bons industriais da borracha de apagar."--------------------- O segredo para isso(tal como hoje em dia com a promoção das agendas esquerdistas no social/cultural) é que os grandes capitalistas(suprema ironia)que de forma directa ou indirecta dominam os média por todo o lado sao os mesmos(ou das mesmas familias)que promoveram o bolchevismo desde o século 19.Há investigação séria sobre isso a correr na net(um autor por exemplo Antony Sutton).

Afonso de Portugal disse...

Excelente comentário, caro Bilder. Nem precisamos de sair de Portugal para lhe dar razão: basta ver quem está à frente da SIC, da TVI ou quem financia aquele buraco financeiro neomarxista que dá pelo nome de Público.