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20/04/2020

De volta ao Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva (8) - Enquanto não houver vacina é preciso contacto fora dos grupos de risco para criar imunidade

Este post faz parte da série De volta ao Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva.

«A gripe espanhola era um vírus muito mais perigoso, mas viajava de barco — demorou muito mais a transmitir-se. Agora um vírus viaja mais depressa, está em todo o lado. Dito isto, é importante as pessoas não entrarem em pânico: este é um vírus relativamente bonzinho.

Vamos pensar. Praticamente, não afeta crianças, adolescentes e jovens adultos. Temos de ter esta noção. E os grupos de risco são pessoas com mais de 70 anos ou com outras complicações de saúde. Embora acima dos 70 anos morrer não seja uma fatalidade, isso não acontece com a maioria desses pacientes. Tivemos o caso, muito bonito, de um idoso com 100 anos que no Hospital de São João recebeu alta passadas quatro semanas. É necessário ter medidas coletivas que protejam em especial estas pessoas sem — e esta é a minha opi­nião pessoal — estagnar a vida daqueles de quem depende o futuro. Os mais jovens não correm grande risco, e temos de arranjar maneira de que eles continuem a viver a sua vida, não pondo os outros em risco.

O confinamento total é muito importante nesta primeira fase, para os serviços de saúde não implodirem. Mas tem o senão de, ao mesmo tempo, não permitir que as pessoas fiquem infetadas. E sobretudo num vírus destes, em que temos uma grande parte da população que não corre riscos. O que vai ter de acontecer é, mais cedo ou mais tarde, passar para uma segunda fase. A imunidade populacional atinge-se de duas formas: permitindo a infeção ou vacinando. Há uma enorme corrida à vacina, com 75 entidades no mundo inteiro oficialmente à procura dela. Cinco destas instituições estão mais avançadas, mas para ter a certeza de que uma vacina é segura existe toda uma série de trâmites a seguir. E todos concordam que vai demorar pelo menos um ano. O que temos de perceber é se estamos preparados para esperar esse ano ou não.

Na minha opinião, não (estamos preparados). Estaríamos a diminuir tremendamente a capacidade dos nossos jovens, com sequelas para o futuro.

Tal como fechámos, lentamente teremos de começar a abrir. Tomar estas decisões é difícil, porque são sempre necessários 15 dias para se ver o efeito de uma medida. 

Há muita gente que esteve em contacto com o vírus e nunca se apercebeu. Pelos estudos feitos, provavelmente de 15 a 20% da população nunca teve qualquer tipo de sintoma. E entre 20 e 80% teve sintomas ligeiros.»

Excerto da entrevista à Revista do Expresso de Maria Manuel Mota, cientista e directora do Instituto de Medicina Molecular, uma voz no silêncio da comunidade científica portuguesa

2 comentários:

Anónimo disse...

Claro que quem é 'cientista' nada sabe de Ciência. São só palpites.
Esta pêssega não sabe que a gripe espanhola apareceu quase em simultâneo nos quatro cantos do mundo. Um mundo sem aviação. Quatro ou cinco dias para atravessar o Atlântico Norte. Ainda hoje não se entende como em 2 meses irromperam surtos em todos os continentes (excepto a Antárctida).
A celebridade dá cabo dos neurónios.
ao

Anónimo disse...

O Instituto de Medicina Molecular está sediado num edifício da faculdade de medicina de lisboa. Quando foi construído, por duas construtoras topo-de-gama, só abriu sete—7—sete anos mais tarde porque as águas da chuva invadiam-no.
Uma faculdade do portugal dos pequeninos.
ao