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29/04/2020

A poupança dos outros compra as empresas que a nossa falta de poupança obriga a vender

Desde o PREC, nos idos de 1975, quando na onda de nacionalizações todos os grupos económicos foram desmantelados, o capitalismo português muito pendurado no Estado Novo entrou no modo de degenerescência. Com as reprivatizações e a entrada para a CEE pareceu que o processo se invertera, mas foi uma aparência fugaz.

Uma dívida pública cada dia mais pesada, que gerou três resgates, levou os governos a alienar participações de controlo ou mesmo a totalidade do capital das únicas empresas públicas sustentáveis. As outras, que ninguém jamais comprará, continuaram a torrar os nossos impostos.

Numa sociedade civil esmagada por Estado capturado por neo-situacionistas de várias cores, uma cultura subsídio-dependente, a falta de gosto pelo risco empresarial e a crónica falta de capital, resultante da crónica falta de poupança, essas empresas públicas, e muitas empresas privadas, só poderiam ser compradas por capital estrangeiro, nalguns casos por grupo estatais ou para-estatais, como os chineses.

E assim se foi praticamente a banca, os seguros, as telecomunicações, as utilities como a REN, energia como a GALP e a EDP. Em todas elas o capital português é agora inexistente ou residual.

A Brisa era das poucas empresas que ainda restava com uma participação portuguesa de controlo do grupo José de Mello, a parte que resistiu do grupo CUF, o maior grupo industrial português desmantelado no PREC. Deixará de ser, o grupo José de Mello está a vender a Brisa aos holandeses da ABP, aos coreanos da NPS e aos suíços da Swiss Life Asset Managers e ficará com apenas 17% dos 52,4% que detinha.

A ironia é que a razão da venda é a falta de capital e o pesado endividamento do grupo José de Mello, num quadro geral de descapitalização da economia portuguesa resultado da falta de poupança dos portugueses, e os compradores são as referidas três empresas cujo negócio é a gestão de fundos de pensões que acumulam a poupança de holandeses, coreanos e suíços e garantem que eles continuarão a receber pensões no futuro.

Enquanto isso, no Portugal dos Pequeninos, no sistema de segurança social pay-as-you-go, depois dos saldos negativos que estão a voltar com as vacas magras, vamos ver o que sobra dos 20 mil milhões de reservas do FESS acumulados nas vacas gordas (suficientes para pagar um ano e meio de pensões).

2 comentários:

Bilder disse...

O que nos vale a todos(lol)é que a Zooropa vai salvar isto tudo(lol again) https://www.thelibertybeacon.com/eu-leaders-prepare-trillion-euro-kleptocrat-slush-fund-video/

Ricardo disse...

E se a tal Zooropa(leia-se UE)não salvar nada temos os chineses a salivar para comprar o resto que ainda sobra para vender.(nota: continuam a encher os cofres com o material que vendem aos milhões,incluindo as máscaras disfuncionais e os ventiladores pagos que ainda lá estão,querem melhor!?)