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22/04/2020

De volta ao Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva (10) - Qual é afinal a taxa de letalidade do Covid-19? (2)

Este post faz parte da série De volta ao Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva.

No post anterior lembrei a distinção entre taxa ou coeficiente de letalidade, que relaciona o número de óbitos com o número de infectados, e a taxa de mortalidade que relaciona o número de óbitos causados por uma epidemia com a população, num caso e noutro com referência a uma determinada área (mundo, pais, região, cidade, etc.).

Concluí também que os valores da taxas de mortalidade, desta como da maioria das epidemias, não dá para impressionar ninguém e muito menos para criar o pânico, porque estamos a falar neste momento, no caso da taxa de mortalidade mais alta em todo o mundo (excluindo San Marino e Andorra, tão minúsculos que as taxas não significam nada), que é a da Bélgica, de 518 por milhão ou 51,8 por 100 mil ou 0,0518 por cento. Em Portugal é de 0,0075 por cento e a média mundial é 0,00225 por cento, um valor próximo do limite inferior do intervalo 0,001 a 0,007 por cento da estimativa dos CDCP da taxa de mortalidade mundial da gripe A (H1N1) de 2009 nos primeiros 12 meses.

Por isso, para impressionar alguém é preciso falar da taxa ou coeficiente de letalidade ou então confundir tudo, como fazem os jornais (ver a lista no post anterior), e chamar mortalidade à letalidade. Voltemos pois à taxa de letalidade da pandemia que se calcula pela relação

número de óbitos causados pela pandemia : número de infectados pela pandemia 

Parece simples, não parece? Mas não é, e os problemas de mensuração colocam-se quer no numerador quer no denominador.

Quanto ao numerador, o número de óbitos deveria ser o correspondente às mortes causados pelo Covid-19, não incluindo, como é o caso de Portugal e de vários outros países, as pessoas que morreram de uma qualquer outra doença mas estavam infectadas com Covid-19. Por exemplo, um estudo do ONS concluiu que a maioria dos mortos tinha pelo menos duas doenças e 91% tinha pelo menos uma doença.

Quando ao denominador, o número de infectados pela pandemia é ainda mais difícil determinar. O que as estatísticas oficiais mostram não é o número de infectados, é o número de testes positivos. Para se perceber a dimensão da diferença veja-se, por exemplo, o caso de Portugal onde foram feitos até agora 272 mil testes, ou seja apenas a menos de 3% da população. Como desses 272 mil testes cerca de 21 mil foram positivos divide-se 762 óbitos (que recorde-se inclui os "com Covid-19") por 21 mil infectados e obtém-se 7,7% e chama-se a isso a taxa de letalidade em Portugal. É claro que ninguém dá o lógico passo seguinte concluindo que,se fosse assim, mais tarde ou mas cedo, quase todos os portugueses estariam infectados e 770 mil estariam mortos por ou com Covid-19.

E porquê não fazem essa inferência lógica?  Não faria sentido, não é verdade? Estaríamos perante uma pandemia seis vezes mais mortal do que a pneumónica e toda a gente percebe que é um absurdo multiplicar por mil os 762 óbitos actuais. E ficam-se por aqui, sem perceber que, sendo o Covid-19 altamente contagioso e já se sabendo que nos indivíduos saudáveis é muitas vezes assintomático,  o número de infectados será obviamente muito maior do que os 21 mil positivos nos testes.

Em conclusão, sem esquecer que os óbitos atribuídos ao Covid-19 incluem mortes por outras doenças, a questão crucial é aquilo que imensa gente anda a dizer testar, testar, testar, incluindo o director-geral de OMS, nos intervalos de fazer a propaganda da China.

Entretanto, há um bom número de estudos por especialistas e instituições credíveis que publicaram estimativas do número de infectados e/ou da taxa de letalidade (infection mortality rate). Por exemplo (data da publicação, estudo/fonte e estimativa dos infectados ou da letalidade):

Em conclusão, se o número de infectados ainda não testados for, como tudo indica. muito maior do que o número de testes positivos, então a letalidade do Covid-19 é muito menor do que parecem mostrar os números actuais. Lá se vai pânico, a "guerra", o confinamento geral, o álibi para a suspensão dos direitos. os argumentos para fazer o Estado intervir ainda mais nas nossas vidas, a tiragem dos jornais e os sonhos húmidos da esquerdalhada.

(Continua)

2 comentários:

mnvs disse...

Repeated from previous post:

O texto está perfeito ao alertar para o que a imprensa dita de referência (excluindo o DN) diz de disparates! Alerto, no entanto, para o facto dos valores apresentados comparando o covid com outras doenças não ser muito correcto na medida em que os dados para o covid se referem a um estado de “confinamento”, que nas outras não foi imposto. Se não tivessem sido impostas pelos governos estas restrições, de que taxas de mortalidade/letalidade estaríamos a falar?

Anónimo disse...

Tenho seguido os seus posts,

Na generalidade perfeitos!!!

Um desabafo meu:
-> Hoje a Desgraça Freitas deu uma estatistica, o nº de mortos provenientes dos lares.
->Falta aqui uma outra estatistica: o nº de mortos infetados por contacto com o SNS.

Um pensamento meu:

->Partindo do pressuposto que quem morre serão os idosos com mais doenças, seria de esperar que por dificuldades e condições de tratamento a maioria destes idosos estão em Lares.
-> Se estes lares estão expostos ao virus então podemos avançar para a imunidade de grupo? Já moreu quem tinha a morrer?

-> ainda tenho pais e não me sinto confortável em estarem num país que ainda não conseguiu a dita imunidade de grupo.