Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

28/04/2020

De volta ao Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva (12) - Há infectados que não foram testados?

Este post faz parte da série De volta ao Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva.

Antes de tentar responder à pergunta em referência, recordo que citei no post anterior a tendência dos humanos para procurar factos que confirmem os pré-conceitos e a tendência para a conformidade, ambas explicam porque estão a ser aceites acriticamente as narrativas catastrofistas relacionadas com a pandemia. Acrescento agora uma tendência estudada e comprovada pelo Nobel Daniel Kahneman, nos seus trabalhos sobre a economia comportamental, a que chamou «negative bias», consistindo num enviesamento da mente humana que tende a relevar mais os eventos negativos do que os positivos e por isso torna mais fácil "vender" narrativas catastrofistas.

No post anterior propus-me analisar alguns factos e estimativas que indiciam a subestimação do número de infectados e começo por recordar alguns dados já referidos:
Adicionalmente considere-se que 634 pessoas infectadas no Diamond Princess 52% não tinham quaisquer sintomas no momento do teste e 18% nunca chegaram a apresentar sintomas. Considere-se igualmente que todos os 3.300 habitantes da localidade italiana de Vo foram testados duas vezes e 50-75% dos infectados não apresentava sintomas no momento do teste.

Considerem-se  ainda os dados dos testes da Islândia, abrangendo aleatoriamente uma parte significativa da população, que aliás é apenas de 360 mil, com os da Holanda que apenas testou as pessoas que apresentavam sintomas graves de Covid-19.

Fonte
Como se pode ver no gráfico anterior, os casos positivos na Holanda concentraram-se nos mais velhos, enquanto na Islândia se concentraram nos mais jovens e metade das pessoas com testes positivos não apresentou sintomas. Podemos assim concluir: (1) uma grande parte das pessoas infectadas não tinha sintomas e por isso não foram testados porque na Holanda, como em Portugal e na maioria dos países, apenas se testam os indivíduos com sintomas; (2) são sobretudo os mais velhos que apresentam sintomas, frequentemente graves e com uma taxa de fatalidade muito elevada que influencia a média. Isso é confirmado em todos os países que apresentam uma elevada idade mediana (a idade acima da qual se encontra metade os óbitos), e que na Itália, por exemplo, é superior a 80 anos.

Nos casos em que um grupo é testado intensivamente o número de óbitos revela uma taxa de letalidade muito baixa. Também na Itália (ver no quadro seguinte) os médicos e enfermeiros foram testados maciçamente tendo sido identificado 17 mil positivos, dos quais apenas morreram 60, com a taxa de letalidade geral de 0,4% e de 0,15% nas idades até 59 anos.
Fonte   
Para finalizar, com dados mais recentes, a Agência Sueca de Saúde Pública estimou que «há aproximadamente 75 casos não confirmados em cada caso notificado de Covid-19». Na Cidade de Nova Iorque onde foram testados 156 mil casos positivos, a percentagem de infectados segundo o mayor Cuomo foi estimada em 21,2% ou seja cerca de 1,8 milhões, isto é 12 por cada caso testado, significando que a taxa de letalidade não é 7,5% (11.708/156.100) mas 0,65% (11.798/1.800.000), uma vez mais, comparável à gripe comum.

É nesta altura que surge a inevitável pergunta: se há indícios significativos de que o número de pessoas infectadas sem sintomas é várias vezes superior ao número de testes positivos, porque ainda não foram feitos testes aleatórios a uma amostra representativa da população?

2 comentários:

mnvs disse...

“ significando que a taxa de letalidade não é 7,5% (11.708/156.100) mas 0,65% (11.798/1.800.000), uma vez mais, comparável à gripe comum.”
Eu, já o disse, concordo com quase tudo o que foi escrito nesta série de comentários só não tenho resposta para: qual seria a raça de letalidade caso não houvesse isolamento?
Estamos a comparar a letalidade de uma gripe comum sem isolamento com a taxa de letalidade do covid em isolamento.

Anónimo disse...

Como já vos escrevi, vós sois bons a ensinar-me acerca do pilim — coisa de que nada percebo.
Mas ter a matemática bem assente, tenho. Só ainda não entendi quem é que vai ganhar milhões de milhões com esta tanga. Não são os laboratórios que sintetizamm fármacos e reagentes. Vão ganhar sim, mas não os valores que eu suspeito.
Os vírus corona são conhecido há quase meio século. Sabe-se que nos humanos causam constipações. Nem os irmãos Grimm, nem J. Pérrault se lembraram duma assim, se bem que os seus contos [respigados da tradição popular} fossem de terror, na 1a edição.
Abraço