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27/04/2020

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (29) - Em tempo de vírus (VII)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

Os ricos que paguem a crise ou a arrogância os pedintes

Se os portugueses não tivessem perdido a dignidade há muito, a rábula do Dr. Costa para esmifrar uns milhares de milhões à Óropa seria uma vergonha para todos. Não há por aqui uma ideia, um desígnio, umas ganas, um assomo de coragem. Há apenas um pedinchar, uma narrativa de chantagem, um parlapié de subsídios, de mutualização da dívida, de fundo perdido que se propaga por toda a sociedade contaminando empresários e cidadãos.

A Óropa com que esta gente enche a boca e os discursos é apenas um expediente para sobreviver sem esforço, com nomes pomposos como «uma bazuca de magnitude muito significativa.

O síndrome de Estocolmo também ataca os portugueses

Baptizei de síndrome de Estocolmo o fenómeno do crescimento da popularidades dos líderes europeus com a adopção das medidas de combate à pandemia, pressupondo que o fenómeno é semelhante ao sentimento dos raptados face aos raptores.

O fenómeno do aumento das taxas de aprovação nessas circunstâncias parece ser comum no continente americano. Exemplos: Martin Vizcarra, o presidente peruano, de 52% para 87%; Alberto Fernandez, o presidente argentino, subiu para mais de 80%; Sebastián Piñera, o presidente chileno, aumento de 10% para 21%. As excepções, com perda de popularidade, são os presidentes que se manifestaram contra medidas de confinamento: Trump no Estados Unidos, Bolsonaro no Brasil e Lopez Obrador no México, que partilham também de diversas modalidade de populismo: errático, de direita e de esquerda, respectivamente.

Entre nós, os líderes do PS e do PS-D e S. Ex.ª o PR também melhoraram as suas notas. O primeiro e o terceiro por serem co-autores das medidas e o segundo, candidato a co-líder situacionista, porque declarou que quem fosse contra seria anti-patriótico.

«Queda monumental»

Foi com esta expressão que S. Ex.ª fez a previsão mais acertada do PIB, batendo irremediavelmente os economistas de profissão, na sua maioria pertencentes ao quadro da Mouse School of Economics ou adeptos do pensamento milagroso, uma corrente também muito popular.

E monumental será mesmo a queda, quando já estão 1,1 milhões de trabalhadores em lay-off, ou um quinto da população activa, o custo das medidas de apoio é estimado pelo governo em 2,8 mil milhões por mês, e há sectores inteiros profundamente afectados, como o turismo, que representou o ano passado cerca de um sexto do PIB, com menos 40% de entradas até ao fim do ano.

Sem esquecer o impacto das mais de 210 mil moratórias valendo 19 mil milhões de euros que farão a banca recuar 10 anos e muito provavelmente voltar a entrar em estado de assistência com o dinheiro dos contribuintes. Impacto a que se acrescentarão a consequência da subida dos yields que já se está a verificar em imparidades de muitos milhões nos títulos que detêm da dívida pública a taxas de juro próximas de zero.

Mestres do ilusionismo

Depois de andar cinco anos a palrar sobre a página da austeridade, se ainda tiver um módico de lucidez, o Dr. Costa já deve ter percebido que, por muito habilidade e falta de escrúpulos para distorcer a realidade que se lhe reconheça, com a "queda monumental" que S. Ex.ª antecipou, falar em austeridade será um understatement. E por isso fugiu-lhe a boca para a verdade na entrevista ao Expresso que rapidamente negou com a habitual desenvoltura com que lida com as mentiras e as meias-verdades.

Se o Guardian conhecesse a realidade portuguesa teria publicado a entrevista ao secretário de Estado da Saúde português na secção humorística, que seria a secção adequada para afirmações como «o governo tomou as medidas certas na hora certa», referindo-se ao governo ir atrás do pânico dos cidadãos que uma semana antes do estado de excepção estavam a fazer confinamento por conta própria, ou como «a rápida reacção de Portugal foi ajudada por cinco anos de investimentos sustentados para trazer o serviço nacional de saúde de volta aos níveis pré-austeridade», referindo-se ao aumento da despesa com salários resultante da "reposição de direitos" (35 horas, etc.), para cuidar da sua freguesia eleitoral, e às cativações das despesas com equipamentos que deixaram o SNS à beira da paralisia.

Cuidando da freguesia eleitoral

E os cuidados a com freguesia eleitoral prolongam-se, por incrível e imoral que seja, já depois de se saber que estamos no inicio da maior crise em décadas, com o pagamento desde o dia 20 de Abril dos aumentos retroactivos a Janeiro dos funcionários públicos, enquanto mais de um milhão de trabalhadores do "privado" (é assim no palrar socialês que é designado o sector produtivo do país) estão em lay-off e umas centenas de milhares engrossaram o desemprego.

As dívidas não são para se pagar, foi isto que ele aprendeu

Quando vos disserem que o aumento da dívida pública no final do ano para não menos do que uns astronómicos 150% do PIB (é o meu palpite) foi resultante do Covid-19, respondei-lhes que a pandemia está inocente porque herdou quase tudo dos governos socialistas em 11 dos últimos 15 anos. O mesmo em relação ao endividamento total da economia que no final de Fevereiro antes de qualquer medida Covid-19 estava em 723,7 mil milhões, um aumento de 170 mil milhões em relação a finais de 2007.

1 comentário:

Anónimo disse...

Antes privados do que privadas.