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25/06/2018

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (141)

Outras avarias da geringonça.

Cada dia que passa, as contradições da geringonça tornam-se mais evidentes e a avaria fica mais irreparável. Na verdade, o zingarelho só se mantém porque ninguém quer aparecer como responsável pelo seu colapso. Uma vez ou outra, o caldo quase se entorna, como no caso do imposto sobre os combustíveis em que os berloquistas alinharam com o PSD e Carlos César os acusou de terem aberto «a época oficial da caça ao voto», o que é injusto porque esta época para os socialistas nunca tem defeso.

O fecho de balcões da Caixa também deu pretexto para a mais pura demagogia. Pelo lado socialista, Costa que tenta sempre apropriar-se das medidas benignas aos olhos do eleitorado, disse a este respeito que «não interveio e não intervirá», distanciando-se o mais que pode. Pelo lado berloquista, Catarina Martins apertou Costa no parlamento, fingindo esquecer que o BE participou na limpeza da folha das administrações da Caixa que aprovaram o financiamento a fundo perdido dos projectos das empresas amigas do regime.

A semana passada tornou-se impossível esconder por mais tempo a degradação do SNS pela mão dos que sempre o celebraram nos seus discursos e o capturaram na sua propaganda. O Relatório Primavera 2018 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde mostra uma realidade muito distante do discurso do governo. No mesmo sentido vai a entrevista ao jornal SOL do presidente da Associação de Administradores Hospitalares.

E porquê a degradação? Essencialmente por duas razões, ambas da inteira e única responsabilidade do governo de Costa e da geringonça: (1) as cativações como uma espécie de austeridade socialista e (2) a «reversão» das 40 para as 35 horas semanais. Se as cativações já constituem um expediente de mistificação, esta atingiu o seu expoente máximo com o discurso que da redução de 5 horas de trabalho por semana por cada utente da vaca marsupial pública não resultaria nada para além da felicidade dos funcionários públicos.

A realidade veio desmentir cruelmente a mistificação e apesar de terem sido contratados mais 3 mil enfermeiros entre 2015 e 2017, segundo o referido relatório, o aumento das horas trabalhadas foi insignificante (0,1%). Agora vem o ministro da Saúde dizer que vai contratar mais dois mil profissionais para compensar a redução do horário que há dois anos não tinha impacto nenhum. Esta gente não tem um pingo de vergonha nem uma gota de competência e faz dos eleitores uma cambada de burgessos (para sermos honestos não podemos deixar de lhes dar alguma razão).

Continuando nas «reversões», deixámos de poder ignorar o desastre da reversão da privatização da TAP que segundo relatório de auditoria do Tribunal de Contas não deu mais poderes de intervenção do governo (ainda bem, digo eu) e, em contrapartida, aumentou as responsabilidades financeiras dos contribuintes que o governo assumiu em nome deles. Com o aumento da participação do Estado de 34% para 50%, foi reduzida a participação económica para 10% e assumida a garantia do Estado de que os capitais próprios da TAP não seriam inferiores a 571,3 milhões.

É um fait divers mas não deixa de ser significativo do estado do Estado: «O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) deixou escapar mais três cidadãos marroquinos do aeroporto de Lisboa» (DN). Deixou escapar, mais uma vez.

As promessas oportunistas do governo sobre a reposição retroactiva das promoções automáticas dos professores, revelaram-se uma bomba de espoleta retardada. Até os comunistas perderam o controlo da situação delegado na Fenprof para alguns sindicatos mais radicalizados das cerca de duas dezenas existentes e vêm agora com paninhos quentes dizer que não concordam com a contagem total e imediata dos 9 anos congelados que, segundo eles, foi uma proposta feita à margem dos (seus) sindicatos. Entretanto, a greve em curso adia milhares de conselhos de turma e não permite atribuir notas aos alunos. Segundo me foi relatado por um professor, a coisa assume proporções trágico-cómicas: dia após dia, os conselhos de turma reúnem estando sempre em greve rotativamente um professor, impedindo a atribuição de notas.

Quanto à dívida continua bem, obrigado. Em Abril o o endividamento público e privado total do sector não financeiro bateu o recorde desde que são publicados estes dados (Dezembro de 2007). Como se pode ver no diagrama do BdP, depois de um decréscimo durante a crise, a dívida de empresas e famílias estabilizou enquanto a dívida pública continua a aumentar.


A este respeito a extensão da maturidade do empréstimo (actualmente de 50 mil milhões) autorizado pela CE, que pode ir até 30 anos, é como garantir o abastecimento de coca a um drogado.

Enquanto a dívida continua a crescer com afinco, a economia desacelera para 2,2% este ano, segundo as previsões da Bloomberg 


Apesar da taxa de desemprego continuar a diminuir, o emprego não tem crescido e a taxa de ofertas de emprego (quociente entre as número de vagas de emprego e a soma do número de empregos mais o número de vagas) é a segunda mais baixa a seguir à Grécia.

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