Contudo, no mundo real e na vida prática, todos percebemos que, se levarmos estes princípios à letra com zeloso escrúpulo, desperdiçaremos a nossa vida a escutar ou ler repetidamente perfeitos disparates vindos das mesmas criaturas. Por isso, é moralmente aceitável ter um módico de auto-indulgência para nos furtarmos a esses disparates quando a probabilidade condicional de Bayes de a intervenção em causa não merecer a nossa atenção for superior ao valor paramétrico dependente da nossa pachorra no momento.
Vêm estas elucubrações teoréticas a propósito da entrevista na SIC Notícias a Marisa Matias, doutorada em sociologia, eurodeputada do Berloque de Esquerda a que não assisti. E por quê não assisti? Em primeiro lugar porque raramente vejo entrevistas, sobretudo a pessoas com cargos políticos, em segundo porque só me lembro de consegui ouvir (mais ler do que ouvir) um sociólogo (não é doutorado, sublinho), em terceiro porque, tratando-se de alguém ligado ao BE, a probabilidade de exprimir alguma ideia que valha a pena ouvir é evanescente. Chegado aqui, é fácil fazer uma inferência de Bayes e concluir que a conversa não valeria um alho chocho.
Foi por isso sem surpresa, com a sensação de dever cumprido, que me certifiquei aqui neste post de O Insurgente do espalhanço ao comprido da Dr.ª Marisa Mateus ao afirmar com a certeza dos néscios vários despautérios, nomeadamente sobre os défices e a dívida nos países da UE.
E, para terminar, não resisto a concluir que estamos perante mais um exemplo da falácia «Pessoas inteligentes falam sobre ideias, pessoas normais falam sobre coisas, pessoas mesquinhas falam sobre pessoas» aqui desmistificado, pensamento que, se tomado a sério, levaria pessoas inteligentes a gastar o seu tempo a ouvir ideias e coisas estúpidas, o que não seria nada inteligente.
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