[Continuação deste tiro]
Quatro edições até agora do «Caim», não está nada mal para um «trolha semianalfabeto», um «Zé Ninguém» ou um «homenzinho da Golegã». Saramago pode ser, e é, um mau carácter. Saramago pode ter ficado encalhado no tempo das democracias populares de Estaline. Saramago pode ser tudo isto, o que não restam dúvidas é que administra magistralmente a promoção da sua obra. Com a ajuda da sua ex-freira comunista? Talvez. Anda assim mostra que sabe escolher o seu pessoal.
Acima de tudo, Saramago conseguiu o feito extraordinário de transformar os seus detractores em idiotas úteis, para usar o rótulo que era costume dar-se aos ingénuos que ajudavam a causa comunista, e que neste caso são os cínicos que ajudam a causa de Saramago, colocando-se ao serviço da promoção da sua obra.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
31/10/2009
E não poderíamos ter ficado por aqui?
Decreto do Presidente da República n.º 100-A/2009. DR 207 SÉRIE I, 1º SUPLEMENTO de 2009-10-26
Presidência da República
Exonera do cargo de Primeiro-Ministro o Eng.º José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.
Presidência da República
Exonera do cargo de Primeiro-Ministro o Eng.º José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.
30/10/2009
Massajando o ego nacional
Insultados pela menina Maitê, vítimas da perseguição da Moody’s, com Figo retirado, Cristiano Ronaldo lesionado, precisamos urgentemente de um herói. Enquanto os suecos não atribuem um Nobel a Vasco Pulido Valente, que tal Mark Teixeira? Um rapaz de 29 anos, cheio de talento, assinou um contrato com os Yankees de 180 milhões de dólares por 8 anos. É neto de um português que votou com os pés e foi para a Guiana e posteriormente emigrou para os EU. Apesar de ter nascido no Maryland, Mark Teixeira ganha a vida de cócoras, o que lhe confere um estatuto de legítima nacionalidade.
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Ridendo castigat mores
29/10/2009
ESTADO DE SÍTIO: a pesada herança que este governo recebeu do anterior
A agência Moody’s comunicou hoje a alteração do outlook do rating actual Aa2 de Portugal de estável para negativo, baseado nos «desafios económicos estruturais que o país enfrenta … e a aparente falta de motivação dos decisores políticos para os enfrentarem», acrescentando que Portugal «caminhará para uma muito grave dinâmica de endividamento».
«Falta de motivação dos decisores políticos para os enfrentarem»? Fará a Moody’s parte das forças de bloqueio do governo Sócrates Second Release?
«Falta de motivação dos decisores políticos para os enfrentarem»? Fará a Moody’s parte das forças de bloqueio do governo Sócrates Second Release?
Não será demasiado fumo para não haver incêndios para aquelas bandas?
Num país em que o governo tem o papel que tem, com toda a gente preocupada com o emprego e os riscos de desagradar aos poderes fácticos, a divulgação pública nos últimos anos duma multidão de trapalhadas e de suspeitas à volta de José Sócrates e dos seus amigos não quererá dizer nada? Em particular, a PJ no âmbito da operação «Face Oculta» (belo nome) ter feito buscas em cada de Armando Vara, amigo do peito do querido líder, é uma informação irrelevante ainda para mais tornada pública no Diário Económico?
Devemos continuar debitar a divulgação das trapalhadas e das suspeitas na conta da cabala? Ou, por um mero juízo de probabilidade, estará na altura de inverter o ónus de prova político?
Devemos continuar debitar a divulgação das trapalhadas e das suspeitas na conta da cabala? Ou, por um mero juízo de probabilidade, estará na altura de inverter o ónus de prova político?
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E agora José?
DIÁRIO DE BORDO: atirando no próprio pé
Só ontem tive oportunidade de ler o artigo «Uma farsa» de Vasco Pulido Valente sobre as «patetices» bíblicas de José Saramago. VPV passa ao lado da bola e vai directo às canelas de JS, para usar uma linguagem que seria detestada pela pesporrência que ambos partilham. VPV usa a argumentação preconceituosa e enfatuada do doutorado que esmaga com a sua superioridade intelectual as ideias do «trolha ou tipógrafo semianalfabeto» a quem coube na lotaria sueca um Nobel, «como vários camaradas». É uma argumentação a la Saramago, que poderia dizer de VPV que um filho-família da média burguesia privilegiada, levado ao colo desde o berço, coisa que provavelmente se lhe aplica, não tem autoridade moral para discutir com ele, que fez a vida a pulso. Ou que VPV é um idiota, coisa que provavelmente não se lhe aplica, porque quando fala na TV não consegue articular decentemente um pensamento.
VPV desceu à altura de JS. Ficaram equivalentes.
Declaração de desinteresse:
Não concordo com as ideias, não gosto da pessoa de Saramago e não tenho especial apreço pela sua obra. VPV como pessoa é-me indiferente, estou por vezes de acordo com as suas ideias e leio-o geralmente com agrado (desligo o som quando balbucia na TV).
VPV desceu à altura de JS. Ficaram equivalentes.
Declaração de desinteresse:
Não concordo com as ideias, não gosto da pessoa de Saramago e não tenho especial apreço pela sua obra. VPV como pessoa é-me indiferente, estou por vezes de acordo com as suas ideias e leio-o geralmente com agrado (desligo o som quando balbucia na TV).
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artigo defunto,
pela boca morre o peixe
28/10/2009
Mil estações florescerão
Menezes quer uma estação TGV em Gaia? E Rio? Não quer uma em S. Bento? E o presidente da câmara de Aveiro? E o de Coimbra? E, já agora, o da Figueira da Foz? E o do Entroncamento? E o de Santarém? E o de Loures não quer uma em Alverca?
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elefantes brancos,
incorrigível,
Lunatismo
O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: é apenas um pouco exagerado
S alazar
O utrora
C aído
R egressa
A gora
T ransformado
E m
S ocialista
[Enviado por JARF]
O utrora
C aído
R egressa
A gora
T ransformado
E m
S ocialista
[Enviado por JARF]
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se non è vero
Pensamentos do dia – dois em um
«O Vasco Pulido Valente diz, e bem, que é difícil explicar a mediocridade aos medíocres, e eu acrescento que é igualmente difícil explicar a falta de ar a quem está habituado a respirar tóxicos»
(JPP no Abrupto)
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eu diria mesmo mais
27/10/2009
CASE STUDY: tudo o que sobe, um dia desce…
E se sobe muito, desce muito. E não foi na pátria do capitalismo selvagem onde subiu mais. Foi na Europa Social, bem regulada, bem comportada.
Fonte: McKinsey Quarterly, Chart Focus Newsletter October 2009
Fonte: McKinsey Quarterly, Chart Focus Newsletter October 2009
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Desfazendo ideias feitas,
Óropa
26/10/2009
O governo do Equador adopta a medicina prescrita pelo bastonário dos economistas portugueses
«O Governo português jamais permitirá que a Galp Energia seja controlada por interesses estrangeiros e, se a italiana ENI quiser assumir o controlo, não o conseguirá», garantiu o bastonário dos economistas presidente do Conselho de Administração da Galp.
«O Governo do Equador rejeitou a proposta da Cimpor para comprar uma fábrica no país … (que) será adquirida pelo Ministério das Indústrias, o qual irá vender até 49% das acções da empresa a comunidades indígenas e a trabalhadores.»
Irá o governo brasileiro seguir os conselhos do presidente da Galp e retirar a Vivo do controlo da PT ou impedir a Galp de ser parceira da Petrobras no pré-sal?
«O Governo do Equador rejeitou a proposta da Cimpor para comprar uma fábrica no país … (que) será adquirida pelo Ministério das Indústrias, o qual irá vender até 49% das acções da empresa a comunidades indígenas e a trabalhadores.»
Irá o governo brasileiro seguir os conselhos do presidente da Galp e retirar a Vivo do controlo da PT ou impedir a Galp de ser parceira da Petrobras no pré-sal?
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pela boca morre o peixe
LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: a bela e a ciência lúgubre
Uma ciência que Thomas Carlyle baptizou de dismal science, adjectivo merecido porque de facto só trata de coisas lúgubres, que muitos nem consideram ciência, praticada por oráculos que não conseguem prever nem mesmo o dia seguinte, não parece muito atractiva para mulheres. Chegado aqui e como defesa preventiva do ataque politicamente correcto, acrescento: os factos demonstram-no, a economia tem sido pouco atractiva para as mulheres.
(*) Conselho Alemão de Peritos Económicos. Curvai-vos, ó machos lobomotizados que nem sequer conseguiríeis pronunciar tal nome.
Porém, as coisas estão a mudar. Nem é preciso citar ao primeiro Nobel da Economia, atribuído a Elinor Ostrom pelos seus trabalhos sobre governação das empresas e a utilização dos comuns. Nada disso, estava a pensar em Beatrice Weder di Mauro, professora de economia internacional da Universidade Gutenberg, membro do Sachverständigenrat zur Begutachtung der gesamtwirtschaftlichen Entwicklung (*), possuidora de um intelecto no percentil 99 (na escala masculina) e com este agradável aspecto.
Beatrice Weder passou pela primeira vez no radar do (Im)pertinências quando a Economist a convidou a escrever e publicou um seu interessante artigo com um título insólito («The dog that didn't bark»), em que descreve uma espécie de síndroma de Estocolmo de que sofrem os reguladores financeiros locais face aos operadores financeiros que supervisionam, causado por um sistema errado de incentivos a começar pelo facto das próprias instituições de regulação não terem geralmente em risco o seu capital porque não gerem os fundos de garantia de depósitos. O remédio que preconiza (a criação de reguladores supranacionais) é bastante discutível e de duvidosos efeitos, mas vale a pena ler o seu diagnóstico das fragilidades da regulação nacional.
(*) Conselho Alemão de Peritos Económicos. Curvai-vos, ó machos lobomotizados que nem sequer conseguiríeis pronunciar tal nome.
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até vi estrelas,
Iguais mas diferentes
25/10/2009
CASE STUDY: quem é o deus ex machina da Ongoing? (7)
[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5) e 6)]
Com a publicação ontem do artigo «A insidiosa maneira de enriquecer», sequela ela própria insidiosa do «Seremos todos parvos, senhores?», Nicolau Santos passa o conflito para um novo patamar recorrendo ao arsenal de dirty weaponry. Por essa razão, este post poderia tema também enquadrar-se na área «Artigo defunto» do (Im)pertinências, onde se exumam cadáveres que apodrecem em páginas de jornais infestados pelo jornalismo de causas e pelo jornalismo de opiniões. Cadáveres alinhavados umas vezes por falta de vergonha, outras por incompetência.
Nesse artigo, sem nunca chamar os nomes aos bois, expõe-se o processo de criação da Ongoing alavancando uma hipoteca para obter empréstimos garantidos com as acções posteriormente compradas (PT e Impresa, presume-se), empréstimos directamente autorizados, insinua-se, pelo chefe dos Espíritos. Para olear toda esta maquinaria, sempre segundo Nicolau Santos, a Ongoing usa a sucursal da multinacional Heidrick & Struggles, onde Nuno Vasconcelos e o seu sócio Rafael Mora pontificam, para prestar serviços de gestão de carreira, corporate governance, etc. às empresas participadas da Ongoing e usar a «capacidade persuasão junto dos principais quadros dessas empresas» para influenciar decisões e (mais) compra de serviços. A cereja no topo do bolo, segundo Nicolau Santos, será a utilização dos meios de comunicação social «para justificar a sua estratégia e utilizá-los como arma de arremesso … e apoiar o governo de plantão (o que) é um bom cartão de visita para negócios onde o Estado tem influência».
Tudo isto parece suficientemente verosímil e é bom que seja exposto para mitigar a crescente asma da democracia portuguesa. A forma como é escrita a peça de artilharia não é uma honra para o jornalismo profissional.
NOTAS:
As hostilidades visíveis começaram com o artigo «Seremos todos parvos, senhores?» de Nicolau Santos no Expresso (citado aqui), onde se expunha o deus ex machina da Ongoing, que afinal não é deus, é apenas o Espírito Santo que respondeu pela boca do Diário Económico por duas vezes. Primeiro, insinuando que a Impresa também teria um deus ex machina (o BPI) e depois expondo a dependência que as receitas dos canais temáticos da SIC têm da PT, cujos maiores accionistas são, recorde-se os Espíritos e a Ongoing, isto é os Espíritos. Para bom entendedor meia palavra é suficiente.
Com a publicação ontem do artigo «A insidiosa maneira de enriquecer», sequela ela própria insidiosa do «Seremos todos parvos, senhores?», Nicolau Santos passa o conflito para um novo patamar recorrendo ao arsenal de dirty weaponry. Por essa razão, este post poderia tema também enquadrar-se na área «Artigo defunto» do (Im)pertinências, onde se exumam cadáveres que apodrecem em páginas de jornais infestados pelo jornalismo de causas e pelo jornalismo de opiniões. Cadáveres alinhavados umas vezes por falta de vergonha, outras por incompetência.
Nesse artigo, sem nunca chamar os nomes aos bois, expõe-se o processo de criação da Ongoing alavancando uma hipoteca para obter empréstimos garantidos com as acções posteriormente compradas (PT e Impresa, presume-se), empréstimos directamente autorizados, insinua-se, pelo chefe dos Espíritos. Para olear toda esta maquinaria, sempre segundo Nicolau Santos, a Ongoing usa a sucursal da multinacional Heidrick & Struggles, onde Nuno Vasconcelos e o seu sócio Rafael Mora pontificam, para prestar serviços de gestão de carreira, corporate governance, etc. às empresas participadas da Ongoing e usar a «capacidade persuasão junto dos principais quadros dessas empresas» para influenciar decisões e (mais) compra de serviços. A cereja no topo do bolo, segundo Nicolau Santos, será a utilização dos meios de comunicação social «para justificar a sua estratégia e utilizá-los como arma de arremesso … e apoiar o governo de plantão (o que) é um bom cartão de visita para negócios onde o Estado tem influência».
Tudo isto parece suficientemente verosímil e é bom que seja exposto para mitigar a crescente asma da democracia portuguesa. A forma como é escrita a peça de artilharia não é uma honra para o jornalismo profissional.
NOTAS:
- «Apoiar o governo de plantão» é uma afirmação surpreendente vinda de Nicolau Santos, cuja prosa nos últimos 4 anos tem sido bastante dedicada ao lip service do governo socialista.
- Parece haver uma outra frente da mesma guerra, onde se usa armas mais pesadas e onde começam a aparecer os generais. Leia-se a entrevista de Henrique Granadeiro a propósito da entrega para gestão à Ongoing de 75 milhões de fundos da PTP.
24/10/2009
Estado empreendedor – (16) Cosec II
[Continuação de (5) e (11)]
Em Abril o primeiro-ministro anunciou a privatização da COSEC. Em Junho, o BPI numa estratégia de contenção de danos, aceitou vender os seus 50%. Em 1 de Julho ministro das Finanças anunciou no Parlamento o acordo fechado com a Euler Hermes - «o trabalho está feito», disse.
Em 15 de Julho, a Euler Hermes informou que iria estudar a oferta quando a recebesse. Em 17 de Setembro a a Euler Hermes disse que estava à espera que o governo se pronunciasse sobre as suas condições para fazer o acordo. Já nessa altura tudo indicava que a extorsão dos sujeitos passivos teria que aumentar um pouco mais para pagar o preço que a Euler Hermes pretendia. Em 22 de Outubro, «o trabalho feito» em 1 Julho continua por fazer e o governo não dá mostras de perceber que a Euler Hermes do grupo alemão Allianz (o maior grupo segurador mundial) pode fazer e faz vista grossa ao misto de cenoura e pau com que são tratados os empresários que não conseguem deixar de depender do governo (caso do BPI e da Sonae) e, com a mesma facilidade, faz orelhas moucas às cantigas com que se deliciam os empresários que vivem em comunhão de pessoas e bens com o partido Socialista (espécie muito numerosa, encabeçada pelos Espíritos).
É mais um caso paradigmático de intervencionismo socrático, quase sempre arbitrário e muitas vezes ditado por acidentes políticos (choraminguices de empresários numa sessão de propaganda, por exemplo), ignorância e negligência com o dinheiro dos contribuintes.
Em Abril o primeiro-ministro anunciou a privatização da COSEC. Em Junho, o BPI numa estratégia de contenção de danos, aceitou vender os seus 50%. Em 1 de Julho ministro das Finanças anunciou no Parlamento o acordo fechado com a Euler Hermes - «o trabalho está feito», disse.
Em 15 de Julho, a Euler Hermes informou que iria estudar a oferta quando a recebesse. Em 17 de Setembro a a Euler Hermes disse que estava à espera que o governo se pronunciasse sobre as suas condições para fazer o acordo. Já nessa altura tudo indicava que a extorsão dos sujeitos passivos teria que aumentar um pouco mais para pagar o preço que a Euler Hermes pretendia. Em 22 de Outubro, «o trabalho feito» em 1 Julho continua por fazer e o governo não dá mostras de perceber que a Euler Hermes do grupo alemão Allianz (o maior grupo segurador mundial) pode fazer e faz vista grossa ao misto de cenoura e pau com que são tratados os empresários que não conseguem deixar de depender do governo (caso do BPI e da Sonae) e, com a mesma facilidade, faz orelhas moucas às cantigas com que se deliciam os empresários que vivem em comunhão de pessoas e bens com o partido Socialista (espécie muito numerosa, encabeçada pelos Espíritos).
É mais um caso paradigmático de intervencionismo socrático, quase sempre arbitrário e muitas vezes ditado por acidentes políticos (choraminguices de empresários numa sessão de propaganda, por exemplo), ignorância e negligência com o dinheiro dos contribuintes.
23/10/2009
DIÁRIO DE BORDO: estórias do outro mundo
Já tive ocasião de contar o privilégio de ter conhecido pessoalmente Alf, aka Gordon Shumway, no verão de 2002, durante as suas férias com os Tanners na Quinta da Balaia, onde comeu todos os gatos das redondezas, apesar dos seus 245 anos - quando aterrou na casa dos Tanners já tinha uns bons 229 anos.
Uma vez ou outra, Alf telefona-me, via Skype, para confirmar ou saber pormenores de acontecimentos em Portugal que esporadicamente os noticiários de Melmac relatam pela rama. Voltou a telefonar ontem e não foi a propósito do caso Freeport – em tempos já me explicou que os casos de corrupção em Portugal não constituem notícia, segundo o critério jornalístico da Holomac (assim se chama a TV por holograma de Melmac). Foi a propósito das declarações dum tal Murteira Nabo que, segundo a Holomac, seria uma personagem estranha desdobrada em diferentes personas e falando por todas eles num intervalo de poucas horas.
Uma vez falou ao mesmo tempo em nome do governo e de presidente de uma «companhia de petróleos» (palavras do Alf), afirmando «o Governo jamais permitirá que a Galp seja controlada por interesses estrangeiros».
Outra vez, em nome do «capitão dos economistas», foi assim que Alf se lhe referiu, certamente lembrado dos seus tempos de capitão da equipa Bouillabaisseball, manifestando-se «satisfeito» com o novo governo. «Afinal o homem está ou não no governo?», perguntou Alf. Expliquei-lhe que já tinha sido secretário de estado e até ministro, episodicamente, quando em trânsito para a presidência da companhia dos telefones de onde tinha saído para bastonário dos economistas. «Bastonário dos economistas? Mas esses gagos jogam basebol?» perguntou. Não respondi, já sem pachorra. E que mais? perguntei.
«OK. Não percebo, mas adiante. Se ele não faz parte do governo como é "quer juntar ministérios da Economia e Finanças"?» Isso é ele a falar, disse-lhe. O papel do bastonário é falar, expliquei. O homem também fala noutras qualidades, como administrador do BES ou curador da Fundação Oriente ou presidente da Câmara Luso-Chinesa. «Uau, gemeu Alf, é essa coisa de Macau? Tem a ver com o caso do fax do Melão?», questionou excitado, recordando os ecos que ainda ouviu quanto esteve em Portugal. É Melância, mas para o caso não interessa. Tenho uma chamada no telemóvel, vou ter que desligar, ensaiei.
Não desistindo (Alf nunca desiste), «OK, só mais uma coisa». Explicou durante uma longa meia hora o resultado catastrófico da criação dum ministério da Economia em Melmac. Tão desastroso, que o desastre só foi maior quando juntaram o ministério da Economia com o das Finanças. Agradeci, mandei abraços e fui ver o Gato Fedorento a esmiuçar Dupont e Dupond.
Uma vez ou outra, Alf telefona-me, via Skype, para confirmar ou saber pormenores de acontecimentos em Portugal que esporadicamente os noticiários de Melmac relatam pela rama. Voltou a telefonar ontem e não foi a propósito do caso Freeport – em tempos já me explicou que os casos de corrupção em Portugal não constituem notícia, segundo o critério jornalístico da Holomac (assim se chama a TV por holograma de Melmac). Foi a propósito das declarações dum tal Murteira Nabo que, segundo a Holomac, seria uma personagem estranha desdobrada em diferentes personas e falando por todas eles num intervalo de poucas horas.
Uma vez falou ao mesmo tempo em nome do governo e de presidente de uma «companhia de petróleos» (palavras do Alf), afirmando «o Governo jamais permitirá que a Galp seja controlada por interesses estrangeiros».
Outra vez, em nome do «capitão dos economistas», foi assim que Alf se lhe referiu, certamente lembrado dos seus tempos de capitão da equipa Bouillabaisseball, manifestando-se «satisfeito» com o novo governo. «Afinal o homem está ou não no governo?», perguntou Alf. Expliquei-lhe que já tinha sido secretário de estado e até ministro, episodicamente, quando em trânsito para a presidência da companhia dos telefones de onde tinha saído para bastonário dos economistas. «Bastonário dos economistas? Mas esses gagos jogam basebol?» perguntou. Não respondi, já sem pachorra. E que mais? perguntei.
«OK. Não percebo, mas adiante. Se ele não faz parte do governo como é "quer juntar ministérios da Economia e Finanças"?» Isso é ele a falar, disse-lhe. O papel do bastonário é falar, expliquei. O homem também fala noutras qualidades, como administrador do BES ou curador da Fundação Oriente ou presidente da Câmara Luso-Chinesa. «Uau, gemeu Alf, é essa coisa de Macau? Tem a ver com o caso do fax do Melão?», questionou excitado, recordando os ecos que ainda ouviu quanto esteve em Portugal. É Melância, mas para o caso não interessa. Tenho uma chamada no telemóvel, vou ter que desligar, ensaiei.
Não desistindo (Alf nunca desiste), «OK, só mais uma coisa». Explicou durante uma longa meia hora o resultado catastrófico da criação dum ministério da Economia em Melmac. Tão desastroso, que o desastre só foi maior quando juntaram o ministério da Economia com o das Finanças. Agradeci, mandei abraços e fui ver o Gato Fedorento a esmiuçar Dupont e Dupond.
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TRIVIALIDADES: à atenção da vereação alfacinha
Se há coisas aflitivas na cidade de Lisboa, uma das mais dramáticas é a falta de urinóis que, como se sabe, é suprida pelos alfacinhas aliviando-se nos cantos. É um sintoma de subdesenvolvimento urbano. Adopte-se a solução de Houston, por exemplo.
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22/10/2009
Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (36) o Sócrates que há em Obama
Nem por sombras quero comparar os dois. Onde Obama tem uma carreira académica e universitária brilhante numa das melhores universidades no mundo, tem Sócrates um carreira baça e cheia de expedientes numa universidade definitivamente rasca. Onde Obama tem um currículo profissional curto mas apresentável, tem Sócrates uma sucessão de trapalhadas e coisas obscuras. Onde Obama tem uma folha (relativamente) limpa, tem Sócrates uma lista de suspeitas de trafulhices, pequenas, médias e grandes, que nos States lhe teriam acabado a carreira há mais de 10 anos.
Não obstante as diferenças, há um je ne sais quoi que partilham. E não estou a pensar no culto do big government. Refiro-me à retórica como modo de vida, ao gosto da manipulação e, é disso que agora se trata, da dificuldade em aceitar as consequências de uma imprensa livre. Sócrates conduziu, com sucesso reconheça-se, a sua guerra contra a TVI. A TVI de Obama é a Fox News a quem acusa de aviar opiniões embrulhadas em notícias (“opinion journalism masquerading as news”). Terá alguma razão, mas não é mais ou menos o que a média que lhe é favorável vem fazendo talvez com menos decoro?
E que dizer da ofensiva da Casa Branca enviando os seus assessores para convencerem as agências de notícias e os canais a não aceitarem as notícias da Fox, sob pretexto de que são o megafone do Partido Republicano ("a Republican Party mouthpiece")?
Não obstante as diferenças, há um je ne sais quoi que partilham. E não estou a pensar no culto do big government. Refiro-me à retórica como modo de vida, ao gosto da manipulação e, é disso que agora se trata, da dificuldade em aceitar as consequências de uma imprensa livre. Sócrates conduziu, com sucesso reconheça-se, a sua guerra contra a TVI. A TVI de Obama é a Fox News a quem acusa de aviar opiniões embrulhadas em notícias (“opinion journalism masquerading as news”). Terá alguma razão, mas não é mais ou menos o que a média que lhe é favorável vem fazendo talvez com menos decoro?
E que dizer da ofensiva da Casa Branca enviando os seus assessores para convencerem as agências de notícias e os canais a não aceitarem as notícias da Fox, sob pretexto de que são o megafone do Partido Republicano ("a Republican Party mouthpiece")?
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ÉTUDE DE CAS: l’exception française – la France suicidaire (2)
[Continuação especulativa de (1)]
Antes de especular sobre a génese das tendências suicidárias dos franceses, deixai que especule sobre as razões que levaram quase toda a imprensa a não considerar dados estatísticos facilmente disponíveis e requerendo apenas uma aritmética elementar para os tratar, consideração que levaria a pôr em causa todo o edifício psico-sindical construído para justificar o que não precisaria de justificação. Ou, precisando, seria para explicar porque só houve 24 suicídios na France Télécom (FT) em 20 meses.
Confesso que alguns leitores do (Im)pertinências foram até mais longe do que a imprensa e concluíram que os dados estatísticos para o caso não interessavam nada face à sua inabalável fé. Pelo meu lado, acredito que a razão para não considerar os factos é o lema por muitos cultivado: se os factos contradizem a sua «teoria», tanto pior para os factos. No caso dum povo de poetas como o nosso, acresce a esse lema a congénita dificuldade de lidar com números, sejam dados estatísticos, sejam contas, sejam orçamentos, e a sublimação freudiana dessa limitação pela retórica, com mais ou menos substrato metafísico.
É diferente o caso da administração da FT, que ontem interrompeu as reestruturações para acabar com a «espiral de suicídios» (a semana passada tinha sido «vaga» o que mostra uma tendência para a coisa se retorcer). Pelo menos os dois administradores enarquistas - estudaram na École Nationale d’Administration, frequentada por la créme de la crème do regime - sabem muito bem fazer contas, saber que também sabem não ser relevante para este problema político - a visível crescente impaciência de Sarko.
Antes de concluir esta minha parte retórica, é preciso esclarecer que nem toda a imprensa desconsiderou os factos. Exemplos: a Economist («Bonjour tristesse») e o Monde («Pas de vague de suicides à France Télécom, selon un statisticien»). Que a taxa de suicídios na FT é inferior à média francesa, está pois suficientemente demonstrado nestes artigos e no meu post. Resta apenas compreender porque se suicidam tanto os franceses? Recorde-se que a taxa de suicídio é 35% mais alta do que a Alemanha, quase 60% mais alta do que Portugal e 2,5 vezes a do Reino Unido.
Qual será então a génese das tendências suicidárias dos franceses? A minha especulação é que a causa reside na grande distância hierárquica (power distance) que caracteriza a sociedade francesa, como foi amplamente constatado nos estudos de Geert Hofstede, inúmeras vezes citados no (Im)pertinências. Escrevi aqui, a propósito duns suicídios na Renault em Março de 2007, que a França é uma sociedade muito hierarquizada em que os subordinados têm muito pouco controlo sobre o seu trabalho e as suas vidas, o que, sabe-se hoje, tem efeitos nefastos no sistema imunitário e na saúde mental. Não é por acaso que todas as mudanças relevantes em França foram pela via de revoluções sangrentas ou por pressão de grandes conflitos sociais. Que outro país europeu queimou nos últimos anos milhares de carros (ainda o mês passado 15 numa noite numa só região) e adoptou legislação para compensar com 4 mil euros os proprietários pobres de veículos incendiados?
No coração da Óropa social, escrevi então a propósito da Renault, no seio dum dos campeões nacionais, as relações de trabalho estão pouco mais do que nos finais da década de sessenta, quando as pedras da calçada foram levantadas e os assustados patrões franceses descobriram Peter Drucker e a sua management by objectives com uma década de atraso e apressaram-se a desfraldar a bandeira da gestion participatif, a que foram timidamente acrescentando par objectifs.
Voilà.
Antes de especular sobre a génese das tendências suicidárias dos franceses, deixai que especule sobre as razões que levaram quase toda a imprensa a não considerar dados estatísticos facilmente disponíveis e requerendo apenas uma aritmética elementar para os tratar, consideração que levaria a pôr em causa todo o edifício psico-sindical construído para justificar o que não precisaria de justificação. Ou, precisando, seria para explicar porque só houve 24 suicídios na France Télécom (FT) em 20 meses.
Confesso que alguns leitores do (Im)pertinências foram até mais longe do que a imprensa e concluíram que os dados estatísticos para o caso não interessavam nada face à sua inabalável fé. Pelo meu lado, acredito que a razão para não considerar os factos é o lema por muitos cultivado: se os factos contradizem a sua «teoria», tanto pior para os factos. No caso dum povo de poetas como o nosso, acresce a esse lema a congénita dificuldade de lidar com números, sejam dados estatísticos, sejam contas, sejam orçamentos, e a sublimação freudiana dessa limitação pela retórica, com mais ou menos substrato metafísico.
É diferente o caso da administração da FT, que ontem interrompeu as reestruturações para acabar com a «espiral de suicídios» (a semana passada tinha sido «vaga» o que mostra uma tendência para a coisa se retorcer). Pelo menos os dois administradores enarquistas - estudaram na École Nationale d’Administration, frequentada por la créme de la crème do regime - sabem muito bem fazer contas, saber que também sabem não ser relevante para este problema político - a visível crescente impaciência de Sarko.
Antes de concluir esta minha parte retórica, é preciso esclarecer que nem toda a imprensa desconsiderou os factos. Exemplos: a Economist («Bonjour tristesse») e o Monde («Pas de vague de suicides à France Télécom, selon un statisticien»). Que a taxa de suicídios na FT é inferior à média francesa, está pois suficientemente demonstrado nestes artigos e no meu post. Resta apenas compreender porque se suicidam tanto os franceses? Recorde-se que a taxa de suicídio é 35% mais alta do que a Alemanha, quase 60% mais alta do que Portugal e 2,5 vezes a do Reino Unido.
Qual será então a génese das tendências suicidárias dos franceses? A minha especulação é que a causa reside na grande distância hierárquica (power distance) que caracteriza a sociedade francesa, como foi amplamente constatado nos estudos de Geert Hofstede, inúmeras vezes citados no (Im)pertinências. Escrevi aqui, a propósito duns suicídios na Renault em Março de 2007, que a França é uma sociedade muito hierarquizada em que os subordinados têm muito pouco controlo sobre o seu trabalho e as suas vidas, o que, sabe-se hoje, tem efeitos nefastos no sistema imunitário e na saúde mental. Não é por acaso que todas as mudanças relevantes em França foram pela via de revoluções sangrentas ou por pressão de grandes conflitos sociais. Que outro país europeu queimou nos últimos anos milhares de carros (ainda o mês passado 15 numa noite numa só região) e adoptou legislação para compensar com 4 mil euros os proprietários pobres de veículos incendiados?
No coração da Óropa social, escrevi então a propósito da Renault, no seio dum dos campeões nacionais, as relações de trabalho estão pouco mais do que nos finais da década de sessenta, quando as pedras da calçada foram levantadas e os assustados patrões franceses descobriram Peter Drucker e a sua management by objectives com uma década de atraso e apressaram-se a desfraldar a bandeira da gestion participatif, a que foram timidamente acrescentando par objectifs.
Voilà.
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21/10/2009
CASE STUDY: a pátria do capitalismo é o inferno dos capitalistas (4)
[Outros anjos caídos recentemente: (1), (2), (3)]
Só nos últimos dias foram acusados e detidos, por inside trading e outras miudezas, Raj Rajaratnam, fundador do Galleon Group, Anil Kumar, sócio proeminente da McKinsey, Danielle Chiesi, analista do hedge fund New Castle, entre outros.
Ui. Se a doutora Maria José Morgado por cá tivesse estes arrojos, seria pior do que o êxodo para o Brasil durante o PREC. Teríamos que implorar ao PCP que constituísse um governo de salvação nacional.
Só nos últimos dias foram acusados e detidos, por inside trading e outras miudezas, Raj Rajaratnam, fundador do Galleon Group, Anil Kumar, sócio proeminente da McKinsey, Danielle Chiesi, analista do hedge fund New Castle, entre outros.
Ui. Se a doutora Maria José Morgado por cá tivesse estes arrojos, seria pior do que o êxodo para o Brasil durante o PREC. Teríamos que implorar ao PCP que constituísse um governo de salvação nacional.
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eu diria mesmo mais
Efeitos secundários da medicina do Fed
Ben Bernanke, o presidente da Reserva Federal americana, apelou um dia destes à redução do défice orçamental e ao aumento da poupança. Faz lembrar o dealer que apela aos clientes para não estragarem a saúde consumindo tanto cavalo. Não seria melhor começar por travar as rotativas e atirar menos dinheiro para cima dos problemas?
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E pur non si muove
Votar com os pés (2)
Há dias especulou-se aqui sobre a provável sangria de gente qualificada que emigra à míngua de oportunidade profissional. Segundo o presidente do IEFP, citado pelo Expresso, contando apenas os licenciados registados nos centros de empregos, emigram todos os meses mais de uma centena.
Infelizmente, as políticas que um governo de inspiração socialista poderá tomar são do tipo que o Impertinente aqui ironicamente referiu: condicionar compulsivamente a procura de licenciados ao stock disponível, fruto de décadas de distorção da oferta de cursos sem saídas profissionais no mercado de trabalho. São políticas intervencionistas desse tipo que garantem a perenidade do problema que pretendem resolver e a prazo exigem outras políticas ainda mais intervencionistas, tudo a pretexto das chamadas falhas do mercado que, bem vistas as coisas, são geralmente falhas não do mercado mas das políticas que pretendem modificar o comportamento espontâneo do mercado.
Infelizmente, as políticas que um governo de inspiração socialista poderá tomar são do tipo que o Impertinente aqui ironicamente referiu: condicionar compulsivamente a procura de licenciados ao stock disponível, fruto de décadas de distorção da oferta de cursos sem saídas profissionais no mercado de trabalho. São políticas intervencionistas desse tipo que garantem a perenidade do problema que pretendem resolver e a prazo exigem outras políticas ainda mais intervencionistas, tudo a pretexto das chamadas falhas do mercado que, bem vistas as coisas, são geralmente falhas não do mercado mas das políticas que pretendem modificar o comportamento espontâneo do mercado.
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20/10/2009
Democracia com falta de ar
No seu esmiuçar do deus ex machina da Ongoing, o Impertinente detectou o primeiro contra-ataque do Diário Económico ao grupo Impresa mas distraiu-se com o segundo, que é mais subtil. Neste segundo, o DE põe o dedo numa das feridas ao grupo Impresa – a dependência das receitas dos canais temáticos que representam mais de 40 milhões por ano, ou seja o dobro do EBITDA. Estes canais temáticos são pagos pela PT, Zon, Cabovisão e Sonaecom, entre outros. Imagine-se o que seria (será) dos lucros da Impresa se (quando) algum ou alguns dos clientes da SIC se mudar para outro produtor de conteúdos e recorde-se a participação da Ongoing na TVI, via Media Capital.
Evidentemente a PT tem uma crescente fatia de leão (via Meo) na compra de conteúdos à SIC. E quem tem o leão pela trela? Os Espíritos directa e indirectamente, via o veículo Ongoing. E ao colo de quem se sentam os Espíritos ou quem se senta ao colo dos Espíritos (é uma operação comutativa)?
Podemos estar a caminhar para uma só central de manipulação poder mover os cordelinhos em todos os canais: na RTP (onde sempre esteve), na TVI (pela via indicada) e SIC (pela via da chantagem financeira ou no limite pela tomada de posição pelos «veículos»).
Sendo a comunicação social um pilar essencial da democracia, será caso para dizer que a democracia começa a ficar asfixiada (seria isso que as luminárias do PSD queriam dizer?).
Evidentemente a PT tem uma crescente fatia de leão (via Meo) na compra de conteúdos à SIC. E quem tem o leão pela trela? Os Espíritos directa e indirectamente, via o veículo Ongoing. E ao colo de quem se sentam os Espíritos ou quem se senta ao colo dos Espíritos (é uma operação comutativa)?
Podemos estar a caminhar para uma só central de manipulação poder mover os cordelinhos em todos os canais: na RTP (onde sempre esteve), na TVI (pela via indicada) e SIC (pela via da chantagem financeira ou no limite pela tomada de posição pelos «veículos»).
Sendo a comunicação social um pilar essencial da democracia, será caso para dizer que a democracia começa a ficar asfixiada (seria isso que as luminárias do PSD queriam dizer?).
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CASE STUDY: quem é o deus ex machina da Ongoing? (6)
[Continuação de (1), (2), (3), (4) e (5)]
Na passada 6.ª feira, véspera de ser publicado o polémico artigo de Nicolau Santos aqui citado, já Nuno Vasconcelos estava a antecipar a resposta com uma conferência de imprensa onde prometeu esclarecer todas as dúvidas e demonstrar a inexistência de favores da PT e de conflitos de interesse com os Espíritos. Na 2.ª feira o seu empregado António Costa do Diário Económico deu o troco directamente a Nicolau Santos.
É preciso uma considerável soma de fé para dar como boas as explicações de Nuno Vasconcelos, a começar por afirmar que os 7% que detém na PT «custaram "700 milhões de euros à família" Rocha dos Santos» para reconhecer que foram integralmente financiados pela banca do regime, como já se sabia faz tempo. Talvez quisesse dizer que um dia a família há-de pagar os 700 milhões que hoje só valem 500 milhões. Como e quando irá pagar é um pouco misterioso quando se ficou a saber que no primeiro semestre o EBITDA foi cinco milhões. Fica-se com a sensação que a Ongoing é uma espécie de iceberg do qual Nuno Vasconcelos só mostra o que está à vista.
Na passada 6.ª feira, véspera de ser publicado o polémico artigo de Nicolau Santos aqui citado, já Nuno Vasconcelos estava a antecipar a resposta com uma conferência de imprensa onde prometeu esclarecer todas as dúvidas e demonstrar a inexistência de favores da PT e de conflitos de interesse com os Espíritos. Na 2.ª feira o seu empregado António Costa do Diário Económico deu o troco directamente a Nicolau Santos.
É preciso uma considerável soma de fé para dar como boas as explicações de Nuno Vasconcelos, a começar por afirmar que os 7% que detém na PT «custaram "700 milhões de euros à família" Rocha dos Santos» para reconhecer que foram integralmente financiados pela banca do regime, como já se sabia faz tempo. Talvez quisesse dizer que um dia a família há-de pagar os 700 milhões que hoje só valem 500 milhões. Como e quando irá pagar é um pouco misterioso quando se ficou a saber que no primeiro semestre o EBITDA foi cinco milhões. Fica-se com a sensação que a Ongoing é uma espécie de iceberg do qual Nuno Vasconcelos só mostra o que está à vista.
Asfixia quê?
Quem é que se terá lembrado da «asfixia democrática»? É uma pergunta retórica. Não interessa nada quem foi. Interessam os efeitos. Ainda hoje estou para saber se com isso se queria anunciar o notório perigo da «democracia asfixiada», devido ao crescente controlo dos meios de comunicação social pela central de manipulação, o que seria nesse caso uma asfixia não democrática ou totalitária. Seria tudo menos uma «asfixia democrática».
Se, como dizia o outro, a falta de clareza do discurso resulta da falta de clareza das ideias, estamos conversados. Foi irrelevante para os resultados? Pelo menos deve ter tido a importância que em política tem o ridículo - é fatal.
Se, como dizia o outro, a falta de clareza do discurso resulta da falta de clareza das ideias, estamos conversados. Foi irrelevante para os resultados? Pelo menos deve ter tido a importância que em política tem o ridículo - é fatal.
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19/10/2009
BLOGARIDADES: pensamento em curso
«Government's view of the economy could be summed up in a few short phrases: If it moves, tax it. If it keeps moving, regulate it. And if it stops moving, subsidize it.»
Ronald Reagan
Ronald Reagan
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A NYSE Euronext é muito melhor do que as empresas de sondagens
Os mercados de capitais compreendem muito bem o papel do ex-estradista Jorge Coelho na presidência executiva da Mota-Engil e antecipam o futuro das obras públicas e das adjudicações.
CASE STUDY: quem é o deus ex machina da Ongoing? (5)
[Continuação de (1), (2), (3) e (4)]
Ontem, citava o «Seremos todos parvos, senhores?» de Nicolau Santos no Expresso de sábado e a sua visão do deus ex machina da Ongoing e comentava as eventuais condicionantes dessa opinião. Nem de propósito, hoje António Costa do Diário Económico dava o troco a Nicolau Santos com um artigo de opinião com o mesmo título «Seremos todos parvos?», de onde extraio este saboroso naco:
Ontem, citava o «Seremos todos parvos, senhores?» de Nicolau Santos no Expresso de sábado e a sua visão do deus ex machina da Ongoing e comentava as eventuais condicionantes dessa opinião. Nem de propósito, hoje António Costa do Diário Económico dava o troco a Nicolau Santos com um artigo de opinião com o mesmo título «Seremos todos parvos?», de onde extraio este saboroso naco:
«Porque é que Nicolau Santos, director-adjunto do "Expresso", semanário do grupo Impresa que também controla a SIC, afirma que se o BES retirasse o financiamento à Ongoing, o grupo entraria provavelmente em colapso? Então, qual é o papel de um banco senão o de apoiar e financiar os projectos dos seus clientes, dos que apresentam resultados? E porque é que não pergunta o que sucederia se o BPI retirasse todo o apoio financeiro à Impresa, sociedade de que, aliás, o banco de Fernando Ulrich é accionista. Talvez entrasse em colapso. E, a propósito, quanto é que a Impresa recebeu da PT (e da Zon) nos últimos 15 anos a título de fornecimentos e serviços, por um contrato exclusivo para a SIC Notícias?»Zangam-se as comadres, falam-se algumas verdades. Se nesta teia emaranhada do complexo político-empresarial socialista considerarmos o lip service descarado que muitos jornalistas prestam a figurões da política, a sua impreparação e falta de profissionalismo, tem que chegar-se à conclusão que as coisas estão mais perigosas do que no tempo do salazarismo em que as «notícias» não enganavam ninguém, porque toda a gente sabia que eram o que restava do lápis azul.
18/10/2009
ARTIGO DEFUNTO: os portugueses são ego-excêntricos
Talvez para compensar as opiniões de Maitê Proença sobre a nossa terrinha, que despertaram a justa ira dos patrícios, o jornalismo de causas encheu o peito de ar, eriçou a crista e trombeteou os supostos feitos da nossa academia. O que têm a ver as reacções às ofensas da Maitê com os anúncios gongóricos dos feitos da academia? Imenso. São duas faces da mesma moeda que é a discrepância entre a auto-imagem colectiva dos portugueses, que se sentem como se a humanidade inteira estivesse a olhar para eles, e a imagem que deles têm os estrangeiros, que raramente reparam na existência dos patrícios. Alguns títulos gongóricos:
Qual seria o milagre? Mas contra factos não há argumentos, pensei, e lá fui ao citado ranking do Financial Times procurar o desagravo. Debalde, da Nova não havia rasto, nem aliás de qualquer universidade portuguesa na lista de 50.
O Masters in International Management que supostamente seria o mestrado da Nova, era afinal um mestrado da CEMS. E o que é a CEMS?
É a Community of European Management Schools. «Born in Europe in 1988, the CEMS alliance now includes 25 full academic members around the world, and 3 associate academic members - each a top school of its country. In line with CEMS' global ambition to offer the world's unique global MSc, more top schools in the world are in the process of becoming CEMS academic members.»
- «Mestrado da Nova em Gestão Internacional é o melhor do mundo, diz Financial Times» (TSF)
- «Segundo o “Financial Times”, a Universidade Nova representa em Portugal o melhor Mestrado em gestão do mundo» (Diário Económico)
- «Portugal tem o melhor mestrado do mundo», (Portugal Diário)
- «Melhor curso de mestrado em gestão é dado por Universidade portuguesa», (A Bola, sim é verdade, A Bola. Inspirada pelos feitos do professor Queiroz?)
Qual seria o milagre? Mas contra factos não há argumentos, pensei, e lá fui ao citado ranking do Financial Times procurar o desagravo. Debalde, da Nova não havia rasto, nem aliás de qualquer universidade portuguesa na lista de 50.
O Masters in International Management que supostamente seria o mestrado da Nova, era afinal um mestrado da CEMS. E o que é a CEMS?
É a Community of European Management Schools. «Born in Europe in 1988, the CEMS alliance now includes 25 full academic members around the world, and 3 associate academic members - each a top school of its country. In line with CEMS' global ambition to offer the world's unique global MSc, more top schools in the world are in the process of becoming CEMS academic members.»
No fim de contas, a Nova não está, pois, no topo do mundo, está no topo de Portugal. Será das melhores entre as piores, ou, vá lá, das assim-assim - o que já não é mau. O que é pena é Portugal não estar no topo do mundo. Mas isso é outra história, que dificilmente poderia ser contada por brasileiros que têm os mesmos defeitos dos portugueses, dilatados pelo calor. Foi o que escreveu Eça em As Farpas, o que aliás foi na época foi recebido no Brasil com gritos de lesa-pátria, pior recepção do que a das sandices de Maitê.
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CASE STUDY: quem é o deus ex machina da Ongoing? (4)
[Continuação de (1), (2) e (3)]
«Por outras palavras, tudo isto sugere que a liquidez que a PT injectou na Ongoing vai ajudar esta a comprar a Media Capital - Media Capital, por sua vez, que a própria PT tentara comprar, antes de ser impedida por via política de o fazer. Daí a supor-se que a PT possa estar por trás desta operação é uma tentação.
O processo é demasiado sinuoso, as ligações demasiado perigosas e os objectivos demasiado óbvios. Ou então se, estando todos nós a imaginar coisas que não existem com abasse em constatações que parecem muito plausíveis, não teria sido preferível a PT fugir a sete pés deste fósforo aceso ao pé de uma bomba de gasolina a verter?
Uma última nota a terminar. O BES não só é o maior investidor nos fundos da Ongoing, como o segundo maior financiador do grupo gerido por Nuno Vasconcelos. Pode mesmo dizer-se que, se de um momento para o outro, o BES retirasse todo o seu apoio financeiro à Ongoing, o grupo provavelmente entraria em sérias dificuldades, se não mesmo em colapso - o que dá alguma sustentabilidade I aos rumores que correm no mercado de que a Ongoing não é mais que uma criação do BES.
Se a isto juntarmos que o triângulo li PT-BES-Ongoing tem dado diversos sinais de óbvias ligações ao actual poder político, temos o pior caldo que a se pode servir a um país que necessidade de transparência e separação clara entre o poder político, o económico e a comunicação social.»
[Excerto de «Seremos todos parvos, senhores?» de Nicolau Santos no Expresso de ontem]
NOTA:
Em geral, aqui no (Im)pertinências temos sido bastante críticos das opiniões de Nicolau Santos, quase sempre contaminadas pelo jornalismo de causas. Esta sua visão da teia que os Espíritos estão a tecer em parceria com a banca estatal (CGD e Millenium bcp), pode estar igualmente contaminada por certas causas, mas é difícil não concordar que adere bastante bem aos factos conhecidos. Esta suspeita de contaminação reforça-se com a coincidência da saída de Nuno Vasconcelos da Administração da Impresa com esta súbita atenção do Expresso ao espiritismo dedicando, além do artigo de NS, o destaque na 1.ª página e a 2ª. e 3.ª páginas do suplemento Economia à PT, como «galinha dos ovos de ouro» para os seus accionistas, com destaque para o BES e Ongoing, tudo factos velhos de anos.
«Por outras palavras, tudo isto sugere que a liquidez que a PT injectou na Ongoing vai ajudar esta a comprar a Media Capital - Media Capital, por sua vez, que a própria PT tentara comprar, antes de ser impedida por via política de o fazer. Daí a supor-se que a PT possa estar por trás desta operação é uma tentação.
O processo é demasiado sinuoso, as ligações demasiado perigosas e os objectivos demasiado óbvios. Ou então se, estando todos nós a imaginar coisas que não existem com abasse em constatações que parecem muito plausíveis, não teria sido preferível a PT fugir a sete pés deste fósforo aceso ao pé de uma bomba de gasolina a verter?
Uma última nota a terminar. O BES não só é o maior investidor nos fundos da Ongoing, como o segundo maior financiador do grupo gerido por Nuno Vasconcelos. Pode mesmo dizer-se que, se de um momento para o outro, o BES retirasse todo o seu apoio financeiro à Ongoing, o grupo provavelmente entraria em sérias dificuldades, se não mesmo em colapso - o que dá alguma sustentabilidade I aos rumores que correm no mercado de que a Ongoing não é mais que uma criação do BES.
Se a isto juntarmos que o triângulo li PT-BES-Ongoing tem dado diversos sinais de óbvias ligações ao actual poder político, temos o pior caldo que a se pode servir a um país que necessidade de transparência e separação clara entre o poder político, o económico e a comunicação social.»
[Excerto de «Seremos todos parvos, senhores?» de Nicolau Santos no Expresso de ontem]
NOTA:
Em geral, aqui no (Im)pertinências temos sido bastante críticos das opiniões de Nicolau Santos, quase sempre contaminadas pelo jornalismo de causas. Esta sua visão da teia que os Espíritos estão a tecer em parceria com a banca estatal (CGD e Millenium bcp), pode estar igualmente contaminada por certas causas, mas é difícil não concordar que adere bastante bem aos factos conhecidos. Esta suspeita de contaminação reforça-se com a coincidência da saída de Nuno Vasconcelos da Administração da Impresa com esta súbita atenção do Expresso ao espiritismo dedicando, além do artigo de NS, o destaque na 1.ª página e a 2ª. e 3.ª páginas do suplemento Economia à PT, como «galinha dos ovos de ouro» para os seus accionistas, com destaque para o BES e Ongoing, tudo factos velhos de anos.
17/10/2009
São muitos os chamados, poucos os escolhidos
Fernando Ulrich, o presidente executivo do BPI, disse anteontem, por ocasião da Conferência BPI Pensões, «pessoalmente fiquei muito contente com os resultados eleitorais. Se o PS tivesse uma maioria havia um risco de se tornar um pouco mais arrogante.»
Se Portugal fosse um país normal a declaração de Ulrich não teria nada de extraordinário. Afinal é o ponto de vista dele e será o de muitos outros gestores e empresários, cujas vozes temerosas não se fizeram nem ser farão ouvir desalinhadas com o coro. É uma das razões porque não somos um país normal. Somos um país onde os gestores e empresários se atropelam para saltar no colo do governo, esperando umas migalhas do orçamento, uns subsídios, umas licenças, umas concessões, umas participações, umas adjudicações, uns negócios, ou, nos casos mais patológicos, talvez seja apenas uma atávica subserviência perante o poder. Está-lhes nos genes.
É por isso difícil enumerar os gestores ou empresários independentes - além de Ulrich e de Belmiro de Azevedo, não me está a ocorrer mais nenhum nesta manhã de sábado. É fácil encontrar exemplos de subserviência: cito apenas os Espíritos, concorrentes do BPI, supremos manteigueiros dos governos socialistas, o que até certo ponto se compreende, por várias razões, das quais só cito uma chamada Portugália.
Se Portugal fosse um país normal a declaração de Ulrich não teria nada de extraordinário. Afinal é o ponto de vista dele e será o de muitos outros gestores e empresários, cujas vozes temerosas não se fizeram nem ser farão ouvir desalinhadas com o coro. É uma das razões porque não somos um país normal. Somos um país onde os gestores e empresários se atropelam para saltar no colo do governo, esperando umas migalhas do orçamento, uns subsídios, umas licenças, umas concessões, umas participações, umas adjudicações, uns negócios, ou, nos casos mais patológicos, talvez seja apenas uma atávica subserviência perante o poder. Está-lhes nos genes.
É por isso difícil enumerar os gestores ou empresários independentes - além de Ulrich e de Belmiro de Azevedo, não me está a ocorrer mais nenhum nesta manhã de sábado. É fácil encontrar exemplos de subserviência: cito apenas os Espíritos, concorrentes do BPI, supremos manteigueiros dos governos socialistas, o que até certo ponto se compreende, por várias razões, das quais só cito uma chamada Portugália.
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Desconformidades,
Iguais mas diferentes
16/10/2009
ÉTUDE DE CAS: l’exception française – la France suicidaire (1)
Nas últimas semanas a comunicação social portuguesa tem feito eco da alegadamente anormal vaga de suicídios na France Télécom (FT) que atingiu ontem a quota de 24 suicidas nos últimos 20 meses (ver por exemplo o Monde).
Segundo os sindicatos franceses, citados pelo Monde, a vaga de suicídios dever-se-ia «aux conditions managériales, aux objectifs et à l'individualisation», segundo uns, à «stratégie du groupe, les nombreuses mutations que subissent ses cadres et la réduction des effectifs», segundo outros, ou, segundo os mais assanhados, ao «management par la terreur». Segundo a imprensa portuguesa, a génese do fenómeno seria aproximadamente a mesma (o que não admira porque os jornalistas portugueses partilham habitualmente as análises dos seus homólogos franceses ou ecoam as dos spin doctors portugueses). Os culpados são a «gestão do pessoal baseada no terror, na humilhação e no silêncio» (DN), ou a «forte pressão sobre os funcionários e a desumanização das condições de trabalho» (Expresso), ou o «controlo apertado de que são alvo, nomeadamente nos períodos de pausa, as pressões para aumentar a produtividade e a desumanização das relações na empresa» (JN).
Independentemente das causas, a primeira questão que se deve colocar é: o que representam em termos relativos, no quadro da sociedade francesa, 24 suicídios verificados na FT nos últimos 20 meses? Façam-se alguns exercícios de aritmética elementar:
Se os suicídios na FT estivessem em linha com a média nacional deveriam ter-se suicidado nos últimos 20 meses:
Primeiras conclusões (esquecendo o facto singular de nenhuma mulher se ter suicidado, que eu saiba):
Segundo os sindicatos franceses, citados pelo Monde, a vaga de suicídios dever-se-ia «aux conditions managériales, aux objectifs et à l'individualisation», segundo uns, à «stratégie du groupe, les nombreuses mutations que subissent ses cadres et la réduction des effectifs», segundo outros, ou, segundo os mais assanhados, ao «management par la terreur». Segundo a imprensa portuguesa, a génese do fenómeno seria aproximadamente a mesma (o que não admira porque os jornalistas portugueses partilham habitualmente as análises dos seus homólogos franceses ou ecoam as dos spin doctors portugueses). Os culpados são a «gestão do pessoal baseada no terror, na humilhação e no silêncio» (DN), ou a «forte pressão sobre os funcionários e a desumanização das condições de trabalho» (Expresso), ou o «controlo apertado de que são alvo, nomeadamente nos períodos de pausa, as pressões para aumentar a produtividade e a desumanização das relações na empresa» (JN).
Independentemente das causas, a primeira questão que se deve colocar é: o que representam em termos relativos, no quadro da sociedade francesa, 24 suicídios verificados na FT nos últimos 20 meses? Façam-se alguns exercícios de aritmética elementar:
- Taxa anual de suicídio da FT a nível mundial = 12 meses x (24 suicídios : 20 meses) : 187.000 empregados = 7,7 por 100.000
- Taxa anual de suicídio da FT em França = 12 meses x (24 suicídios : 20 meses) : 100.000 empregados = 14,4 por 100.000
- Taxa anual de suicídios da FT em França = 12 meses x (24 suicídios : 20 meses) : 2/3 de 100.000 empregados = 21,8 por 100.000
Se os suicídios na FT estivessem em linha com a média nacional deveriam ter-se suicidado nos últimos 20 meses:
- 20 x 20 : 12 = 33 empregados franceses, número 37,5% superior ao dos suicídios ocorridos.
- 20 x 30 x 2/3 : 12 = 33 empregados homens franceses, número por coincidência igual ao anterior.
Primeiras conclusões (esquecendo o facto singular de nenhuma mulher se ter suicidado, que eu saiba):
- A taxa de suicídio da FT é baixa pelos padrões franceses ou, dito de outra maneira, o clima dentro da FT, se for deprimente, não é tão deprimente quanto a maioria das empresas francesas
- A taxa de suicídio da FT não é baixa pelos padrões internacionais, porque estamos a compará-la com a da França que é uma sociedade com uma taxa de suicídios comparativamente elevada, mas, nesse caso, o problema é um problema francês e não especialmente da FT.
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Desfazendo ideias feitas,
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Estado empreendedor – (15) a estrada para a bancarrota - 2.ª parte
Depois de se ficar a saber que a Estradas de Portugal aumentou o seu endividamento em 80% para 1,3 mil milhões de euros, a central de manipulação anunciou que, «apesar disso», os lucros em 2008 alcançaram 53,3 milhões.
Esquecendo por momentos que o passivo da EP equivale a 25 anos dos lucros de 2008, o que é o lucro da EP? Melhor, pode falar-se em lucro no caso duma empresa cujos proveitos são em grande parte resultantes de uma «Contribuição de serviço rodoviário» (Lei n.º 55/2007 de 31 de Agosto) fixada pelo governo e completamente arbitrária? Pode falar-se em lucro quando o governo faz reverter para a EP as portagens das SCUTS que os respectivos concessionários deveriam receber e, não as recebendo, vão continuar a ser-lhes pagas as compensações previstas nos contratos de concessão?
Toda esta engenharia mediática deveria ser um insulto à inteligência dos jornalistas económicos. Será um insulto ou apenas mais um manipulado que é preciso fazer seguir o seu curso? É certamente um insulto, se não à inteligência dos sujeitos passivos, pelo menos à sua bolsa.
Esquecendo por momentos que o passivo da EP equivale a 25 anos dos lucros de 2008, o que é o lucro da EP? Melhor, pode falar-se em lucro no caso duma empresa cujos proveitos são em grande parte resultantes de uma «Contribuição de serviço rodoviário» (Lei n.º 55/2007 de 31 de Agosto) fixada pelo governo e completamente arbitrária? Pode falar-se em lucro quando o governo faz reverter para a EP as portagens das SCUTS que os respectivos concessionários deveriam receber e, não as recebendo, vão continuar a ser-lhes pagas as compensações previstas nos contratos de concessão?
Toda esta engenharia mediática deveria ser um insulto à inteligência dos jornalistas económicos. Será um insulto ou apenas mais um manipulado que é preciso fazer seguir o seu curso? É certamente um insulto, se não à inteligência dos sujeitos passivos, pelo menos à sua bolsa.
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15/10/2009
Lost in translation (9) – as contas públicas não estão em ordem e vai ser preciso aumentar os impostos, queria ele dizer
José Sócrates disse à Visão que «os portugueses precisam de apertar mais o cinto». Deve ter sido a única verdade que o homem disse nos últimos anos. E como apertam os portugueses o cinto? Com a redução directa dos salários, não pode ser por causa dos direitos adquiridos. Com a redução indirecta resultante de uma desvalorização da moeda, não pode ser porque o governo não manda nada no BCE. Com mais desemprego, pode ser, mas o governo diz que a economia vai recuperar e o desemprego não aumentará. Com o aumento da carga fiscal, pode ser, mas o homem diz que «com as contas públicas em ordem não é preciso mais aumento de impostos, como tivemos que fazer em 2005».
Não me decido. Será o homem mitómano delirante ou simplesmente um vendedor de banha-de-cobra?
Não me decido. Será o homem mitómano delirante ou simplesmente um vendedor de banha-de-cobra?
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Conto do vigário
ESTADO DE SÍTIO: se a oferta de cursos não se ajusta às profissões, ajustam-se as profissões à oferta de cursos
No dia 1 foi publicada no Diário da República mais uma ejaculação do órgão legislativo Presidência do Conselho de Ministros «estabelece(ndo) a responsabilidade técnica pela direcção das actividades físicas e desportivas desenvolvidas nas instalações desportivas que prestam serviços desportivos na área da manutenção da condição física (fitness), ... bem como determinadas regras sobre o seu funcionamento».
Essas regras obrigam os «directores técnicos» e os «profissionais responsáveis pela orientação e condução do exercício de actividades físicas e desportivas» a serem titulares do «grau de licenciado na área do Desporto ou da Educação Física». Com esta abordagem o governo dá um primeiro passo para eliminar o desemprego entre os graduados nestas áreas e um segundo passo para eliminar no futuro o emprego propriamente dito.
Alguns exemplos de profissões a que um governo socialista poderá aplicar esta abordagem ejaculando legislação impondo a graduação adequada dos respectivos profissionais:
Esclarecimento:
Todas as licenciaturas e mestrados sugeridos fazem parte da lista de «Cursos do Ensino Superior que conferem Grau académico» da Direcção-Geral do Ensino Superior.
Essas regras obrigam os «directores técnicos» e os «profissionais responsáveis pela orientação e condução do exercício de actividades físicas e desportivas» a serem titulares do «grau de licenciado na área do Desporto ou da Educação Física». Com esta abordagem o governo dá um primeiro passo para eliminar o desemprego entre os graduados nestas áreas e um segundo passo para eliminar no futuro o emprego propriamente dito.
Alguns exemplos de profissões a que um governo socialista poderá aplicar esta abordagem ejaculando legislação impondo a graduação adequada dos respectivos profissionais:
- Guarda-nocturno – Licenciatura em Sociologia
- Arrumador de carros – Mestrado em Factores Humanos em Sistemas Tecnológicos de Transportes
- Criador de graffiti – Mestrado em Ilustração
- Sacerdotes – Licenciatura em Ciência das Religiões
- Bate-chapas - Licenciatura em Tecnologia Automóvel
- Autarcas – Licenciatura em Criminologia
- Pastores - Licenciatura em Ecologia e Paisagismo
- Homens-estátua - Licenciatura em Artes Performativas
- Funcionário da Previdência - Mestrado em Gerontologia Social
- Stripper masculino - Mestrado em Pedagogia do Instrumento
- Arquivista - Mestrado em Ciências Documentais
- Esteticista - Mestrado em Ciências Dermato-Cosméticas
- Desempregados - Licenciatura em Terapia Ocupacional
Esclarecimento:
Todas as licenciaturas e mestrados sugeridos fazem parte da lista de «Cursos do Ensino Superior que conferem Grau académico» da Direcção-Geral do Ensino Superior.
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Novas oportunidades
14/10/2009
CAMINHO PARA A SERVIDÃO: o peso crescente do estado napoleónico-estalinista
Número de páginas da 1.ª série do Diário da República em cada ano de 2000 a 2008 e extrapolação em 2009 com base no número de páginas em 09-10.
13/10/2009
Votar com os pés
Durante os séculos que durou a aventura dos descobrimentos, os portugueses com mais iniciativa e gosto pelo risco foram-se espalhando por esse mundo. Já no século passado tivemos 3 grandes fluxos migratórios para o Brasil entre as guerras, e no pós-guerra para a Europa (França, Alemanha e Luxemburgo) e para a África (Angola e Moçambique). Saíram os incomodados, quase todos pobres, mas inquietos, ficaram os acomodados.
Que esta anti-selecção contribuiu para o colectivismo, a falta de iniciativa e de gosto pelo risco e a dependência do Estado, endémicos em Portugal, não restam dúvidas. Só não se sabe até que ponto.
Já neste século, segundo um estudo de Helena Rato, do Instituto Nacional de Administração, aqui citado, por cada 15 imigrantes (provenientes do Brasil, de África e do Leste europeu) saem 100 portugueses. Que portugueses são estes? Ninguém sabe ao certo. Provavelmente uma parte significativa, muito mais significativa do que no passado, é gente com talento, qualificada e com iniciativa que vota com os pés contra a falta de oportunidades, a escassa mobilidade social, os incentivos errados, tudo perpetuado por elites corporativas gravitando à volta do Estado.
Consequência: à baixa histórica do stock de iniciativa e gosto pelo risco estamos a acrescentar a baixa do stock de talento. Quereis saber como serão as elites do futuro? Olhai para os políticos do presente.
Que esta anti-selecção contribuiu para o colectivismo, a falta de iniciativa e de gosto pelo risco e a dependência do Estado, endémicos em Portugal, não restam dúvidas. Só não se sabe até que ponto.
Já neste século, segundo um estudo de Helena Rato, do Instituto Nacional de Administração, aqui citado, por cada 15 imigrantes (provenientes do Brasil, de África e do Leste europeu) saem 100 portugueses. Que portugueses são estes? Ninguém sabe ao certo. Provavelmente uma parte significativa, muito mais significativa do que no passado, é gente com talento, qualificada e com iniciativa que vota com os pés contra a falta de oportunidades, a escassa mobilidade social, os incentivos errados, tudo perpetuado por elites corporativas gravitando à volta do Estado.
Consequência: à baixa histórica do stock de iniciativa e gosto pelo risco estamos a acrescentar a baixa do stock de talento. Quereis saber como serão as elites do futuro? Olhai para os políticos do presente.
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Estado empreendedor – (14) não se vê luz no fundo do túnel
A Refer, o Metropolitano de Lisboa e a CP devem no conjunto quase 12 mil milhões de euros. A Refer, que deve 5,3 mil milhões de euros, adicionou à dívida 430 milhões de euros nos últimos 12 meses terminados em Junho.
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12/10/2009
O radical chic mostra os seus limites
Antes do newspeak isto chamava-se uma derrota estrondosa, uma hemorragia. Abortos, casamentos entre pessoas do mesmo sexo, liberalização da erva, é uma coisa. Rotundas, buracos nas ruas, é outra muito diferente.
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CAMINHO PARA A SERVIDÃO: «efeitos preventivos»
«O Ministério Público determinou a abertura de um inquérito para investigar a autoria e circunstâncias em que nasceu a carta anónima recebida, há pouco mais de um mês, pela Polícia Judiciária, envolvendo um primo de José Sócrates nas suspeitas de corrupção no licenciamento do outlet de Alcochete.» (i online) Parece que as informações são «objectivamente falsas» o que pressuporia que poderão ser subjectivamente verdadeiras, isto é o informador estaria convicto da sua veracidade. Se fosse assim, porquê admitir que pode «estar em causa em crime de difamação e a tentativa de dificultar uma investigação»?
Contudo, o mais interessante é que «se pretende criar um "efeito preventivo". Transmitir um "sinal de que o lançamento de informações falsas para a praça pública será punido" e evitar novas tentativas de "intoxicação”»
Esta vontade de punir o informador, o bufo segundo a vulgata anti-fascista, revela duas coisas. A primeira é que 35 anos depois do colapso dos últimos vestígios do salazarismo ainda não se desvaneceu a mentalidade resistente. A segunda é que continua inscrita na matriz lusitana o espírito de cumplicidade associado ao colectivismo atávico velho de séculos que inspira a protecção dos correligionários e leva a denegrir quem quebra a omertà e dá com a língua nos dentes.
Diferentemente, os sistemas judiciários modernos tendem a proteger o whistleblower, reconhecendo o papel sanitário que desempenha no desmantelamento do crime organizado e dos sistemas de protecção baseados em organização semi-clandestinas, como a Mafia, a 'Ndrangheta e a Camorra, ou, para apontar exemplos mais próximos de nós, as maçonarias ou maxime a simbiose entre as maçonarias e o Partido Socialista. É mais um sintoma do arcaísmo da cultura doméstica, emboscado por trás dos modernismos fracturantes como a promoção do aborto ou o casamento homossexual, para não ir mais longe.
Contudo, o mais interessante é que «se pretende criar um "efeito preventivo". Transmitir um "sinal de que o lançamento de informações falsas para a praça pública será punido" e evitar novas tentativas de "intoxicação”»
Esta vontade de punir o informador, o bufo segundo a vulgata anti-fascista, revela duas coisas. A primeira é que 35 anos depois do colapso dos últimos vestígios do salazarismo ainda não se desvaneceu a mentalidade resistente. A segunda é que continua inscrita na matriz lusitana o espírito de cumplicidade associado ao colectivismo atávico velho de séculos que inspira a protecção dos correligionários e leva a denegrir quem quebra a omertà e dá com a língua nos dentes.
Diferentemente, os sistemas judiciários modernos tendem a proteger o whistleblower, reconhecendo o papel sanitário que desempenha no desmantelamento do crime organizado e dos sistemas de protecção baseados em organização semi-clandestinas, como a Mafia, a 'Ndrangheta e a Camorra, ou, para apontar exemplos mais próximos de nós, as maçonarias ou maxime a simbiose entre as maçonarias e o Partido Socialista. É mais um sintoma do arcaísmo da cultura doméstica, emboscado por trás dos modernismos fracturantes como a promoção do aborto ou o casamento homossexual, para não ir mais longe.
11/10/2009
A prova de Ferro e o silogismo imperfeito da justiça portuguesa
O antigo ministro do PS Ferro Rodrigues, acusado por um ex-aluno da Casa Pia de ser cliente de Carlos Silvino, propôs uma acção contra o ex-aluno acusando-o de difamação. O Ministério Público arquivou o inquérito de falsas declarações, o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa resolveu não pronunciar o aluno e o Tribunal da Relação de Lisboa resolveu agora arquivar o recurso interposto por Ferro Rodrigues, pronunciando-se no mesmo sentido do TIC - o ex-aluno não mentiu.
Vamos ver se eu percebo. O MP e dois tribunais, o de 1.ª e o de 2.ª instância, concluíram que o ex-aluno não mentiu quando acusou Ferro Rodrigues de actos pedófilos. Certo? Certo. Não tendo mentido, terá dito a verdade. Certo? Errado. Nenhum tribunal o está a julgar por esses alegados crimes e o Ministério Público, que se saiba, não tem em curso nenhum inquérito.
Vamos ver se eu percebo. O MP e dois tribunais, o de 1.ª e o de 2.ª instância, concluíram que o ex-aluno não mentiu quando acusou Ferro Rodrigues de actos pedófilos. Certo? Certo. Não tendo mentido, terá dito a verdade. Certo? Errado. Nenhum tribunal o está a julgar por esses alegados crimes e o Ministério Público, que se saiba, não tem em curso nenhum inquérito.
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DIÁRIO DE BORDO: a passarada que me visita (8)
Toutinegra-de-cabeça-preta (Sylvia melanocephala)
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10/10/2009
Estado empreendedor – (13) a estrada para a bancarrota
Do final do primeiro semestre do ano passado para o final do período homólogo este ano, a empresa pública Estradas de Portugal aumentou o seu endividamento em 80% atingindo o valor de 1,3 mil milhões de euros.
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Estado empreendedor – (12) o custo milionário do megafone RTP
Nos últimos nove anos a RTP engoliu 2,4 mil milhões de euros em taxas de contribuição audivisual, indemnizações compensatórias e aumentos de capital.
Para que serve a RTP? Para prestar o serviço público de televisão? Errado. Se a programação da RTP diferir da concorrência privada, só se for para pior. Se falamos da cóltura derramada na 2 seria melhor ir ver as audiências.
Para que serve então a RTP? Para megafone do governo em exercício. Sendo assim, se o governo fosse ao menos um gestor diligente do dinheiro extraído aos sujeitos passivos, não seria preferível por uma fracção do custo dos dois canais públicos comprar tempo de antena nos canais privados? Por exemplo, 30 minutos por dia para os discursos do querido líder; 15 minutos para anúncios de novos empreendimentos do Estado; etc.
Para que serve a RTP? Para prestar o serviço público de televisão? Errado. Se a programação da RTP diferir da concorrência privada, só se for para pior. Se falamos da cóltura derramada na 2 seria melhor ir ver as audiências.
Para que serve então a RTP? Para megafone do governo em exercício. Sendo assim, se o governo fosse ao menos um gestor diligente do dinheiro extraído aos sujeitos passivos, não seria preferível por uma fracção do custo dos dois canais públicos comprar tempo de antena nos canais privados? Por exemplo, 30 minutos por dia para os discursos do querido líder; 15 minutos para anúncios de novos empreendimentos do Estado; etc.
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09/10/2009
O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: la classe
Premier jour de classe à Ville Saint Laurent. Le 1er septembre 2009, le directeur fait l'appel des élèves.
- "Mustapha El Ekhzeri
- "Présent"
- "Achmed El Cabul"
- "Présent"
- "Kadir Sel Ohlmi"
- "Présent"
- "Mohammed Endahrha"
- "Présent"
- "Ala In Ben Oit"
Silence.
- "Ala In Ben Oit".
La classe demeure silencieuse.
- "Pour la dernière fois: Ala In Ben Oit".
Soudain un garçon dans la dernière rangée se lève et dit au directeur,
- "C'est moi, peut-être moi, mais ça se prononce: Alain Benoit."
(Enviado por JB]
- "Mustapha El Ekhzeri
- "Présent"
- "Achmed El Cabul"
- "Présent"
- "Kadir Sel Ohlmi"
- "Présent"
- "Mohammed Endahrha"
- "Présent"
- "Ala In Ben Oit"
Silence.
- "Ala In Ben Oit".
La classe demeure silencieuse.
- "Pour la dernière fois: Ala In Ben Oit".
Soudain un garçon dans la dernière rangée se lève et dit au directeur,
- "C'est moi, peut-être moi, mais ça se prononce: Alain Benoit."
(Enviado por JB]
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se non è vero
Estado empreendedor – (11) a montanha das linhas de crédito pariu o rato das exportações
Depois de anunciar várias vezes a nacionalização da COSEC (na verdade, ainda apenas foi comprada a quota do BPI que, por razões que não carecem de explicação, achou preferível vender do que ficar na lista negra), a pretexto de «facilitar» o crédito à exportação, o governo tem agora razões para perceber que, quanto mais assume as dores dos empresários subsídio-dependentes e queixinhas que lhe querem saltar para o colo, mais se atola na lama da asneira. Segundo o ministério da Economia, insuspeito de contaminação pelo pessimismo e, pelo contrário, centro de culto do optimismo galáctico do querido líder, de três mil milhões de euros de linhas de crédito à exportação postas à disposição pelo governo os exportadores apenas usaram um quinto.
Então o governo não pode fazer nada, perguntarão os adoradores do Estado? Pode. Por exemplo, tratar de pôr a justiça a funcionar.
Então o governo não pode fazer nada, perguntarão os adoradores do Estado? Pode. Por exemplo, tratar de pôr a justiça a funcionar.
08/10/2009
Lost in translation (8) – os tribunais portugueses não funcionam porque os juízes são surfistas, queria ele dizer
«A modernização na área da Justiça feita em Portugal não tem paralelo em nenhum país europeu» disse o querido líder durante a visita ao Portugal Tecnológico, salientando que a justiça portuguesa está «na crista da onda da utilização das tecnologias de informação e de comunicação».
Hesito entre concluir que o homem sofre de mitomania delirante ou é simplesmente um vendedor de banha-de-cobra.
Hesito entre concluir que o homem sofre de mitomania delirante ou é simplesmente um vendedor de banha-de-cobra.
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Conto do vigário,
E agora José?
Ameaçados com o pau da privatização os pilotos foram acometidos de «bom senso»
A propósito dos lamentos do camarada Jerónimo de Sousa, apostei que «a divulgação da eventual privatização (da TAP) não passa de mais uma manobra da central de manipulação do nosso querido líder com vista a olear os neurónios da negociação nas emperradas mentes dos pilotos, ameaçando-os com o pau da privatização que eles devem odiar mais do que o camarada secretário-geral».
Nem de propósito, hoje os jornais anunciam que o apelo ao «bom senso» dos pilotos surtiu efeito e estão dispostos a sentar-se deixando cair a pré-condição de assegurar a «reposição parcial do poder de compra».
Nem de propósito, hoje os jornais anunciam que o apelo ao «bom senso» dos pilotos surtiu efeito e estão dispostos a sentar-se deixando cair a pré-condição de assegurar a «reposição parcial do poder de compra».
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direitos adquiridos,
procurando o acolhedor colo estatal,
TAP
CASE STUDY: a intervenção dos governos tem mais culpas no cartório do que a falta dela
Infelizmente para as teses da esquerda em geral e de muita direita em particular, apontando como principal suspeito da crise financeira internacional a falta de intervenção, regulação ou supervisão dos governos, nomeadamente do governo ianque (antes da aparição do redentor Obama, subentenda-se), a realidade por trás do nevoeiro da manipulação grosseira e da vulgata anti-mercado é bastante diferente. À medida que a depuração da montanha de factos e dados vai permitindo compreender melhor o que se passou, as conclusões da análise vão mostrando que os governos, e em particular o governo americano, têm graves responsabilidades. Em primeiro lugar na génese da crise, com a manipulação das taxas de juros, e subsequentemente no seu desenvolvimento com a intervenção directa nos mercados e nalguns operadores. A avaliar pelas políticas e pelas medidas adoptadas, a generalidade dos governos aparenta ter ainda menos fé nos mercados do que os seus detractores.
O relatório para o Congresso do GAO (Government Accountability Office), publicado o mês passado, mostra claramente como vários erros e falhas da responsabilidade do governo ou por ele tolerados, agravaram os riscos a que Fannie Mae e Freddie Mac, as duas Government Sponsored Enterprises (GSE) (2), já estavam expostas no quadro macroeconómico de excesso de liquidez com as taxas de juro artificialmente baixas do Fed, quadro igualmente da responsabilidade do governo americano.
Alguns exemplos de bombas de espoleta retardada à espera de explodir na Fannie Mae e Freddie Mac: esquema perverso de incentivos para os executivos, falta de competências operacionais e, acima de tudo, créditos de qualidade inferior não garantidos e à margem do esquema GSE e, cereja no topo do bolo, contabilidade de pendor criativo manipulada pelos próprios auditores do governo para inflacionar os resultados. E, acrescento eu, continuar a conceder créditos para que cada americano tivesse a sua casinha, assim se demonstrando, uma vez mais, que todos os infernos estão cheios de boas intenções.
(1) «Fannie Mae and Freddie Mac - Analysis of Options for Revising the Housing Enterprises’ Long-term Structures»
(2) «The government sponsored enterprises (GSEs) are a group of financial services corporations created by the United States Congress. Their function is to enhance the flow of credit to targeted sectors of the economy and to make those segments of the capital market more efficient and transparent. The desired effect of the GSEs is to enhance the availability and reduce the cost of credit to the targeted borrowing sectors: agriculture; home finance; and education. Congress created the first GSE in 1916 with the creation of the Farm Credit System; it initiated GSEs in the home finance segment of the economy with the creation of the Federal Home Loan Banks in 1932; and it targeted education when it chartered Sallie Mae in 1972 (although Congress allowed Sallie Mae to relinquish its government sponsorship and become a fully private institution via legislation in 1995). The residential mortgage borrowing segment is by far the largest of the borrowing segments in which the GSEs operate. Together, the three mortgage finance GSEs (Fannie Mae, Freddie Mac and the 12 Federal Home Loan Banks) have several trillion dollars of on-balance sheet assets.» [Fonte Wikipedia]
O relatório para o Congresso do GAO (Government Accountability Office), publicado o mês passado, mostra claramente como vários erros e falhas da responsabilidade do governo ou por ele tolerados, agravaram os riscos a que Fannie Mae e Freddie Mac, as duas Government Sponsored Enterprises (GSE) (2), já estavam expostas no quadro macroeconómico de excesso de liquidez com as taxas de juro artificialmente baixas do Fed, quadro igualmente da responsabilidade do governo americano.
Alguns exemplos de bombas de espoleta retardada à espera de explodir na Fannie Mae e Freddie Mac: esquema perverso de incentivos para os executivos, falta de competências operacionais e, acima de tudo, créditos de qualidade inferior não garantidos e à margem do esquema GSE e, cereja no topo do bolo, contabilidade de pendor criativo manipulada pelos próprios auditores do governo para inflacionar os resultados. E, acrescento eu, continuar a conceder créditos para que cada americano tivesse a sua casinha, assim se demonstrando, uma vez mais, que todos os infernos estão cheios de boas intenções.
(1) «Fannie Mae and Freddie Mac - Analysis of Options for Revising the Housing Enterprises’ Long-term Structures»
(2) «The government sponsored enterprises (GSEs) are a group of financial services corporations created by the United States Congress. Their function is to enhance the flow of credit to targeted sectors of the economy and to make those segments of the capital market more efficient and transparent. The desired effect of the GSEs is to enhance the availability and reduce the cost of credit to the targeted borrowing sectors: agriculture; home finance; and education. Congress created the first GSE in 1916 with the creation of the Farm Credit System; it initiated GSEs in the home finance segment of the economy with the creation of the Federal Home Loan Banks in 1932; and it targeted education when it chartered Sallie Mae in 1972 (although Congress allowed Sallie Mae to relinquish its government sponsorship and become a fully private institution via legislation in 1995). The residential mortgage borrowing segment is by far the largest of the borrowing segments in which the GSEs operate. Together, the three mortgage finance GSEs (Fannie Mae, Freddie Mac and the 12 Federal Home Loan Banks) have several trillion dollars of on-balance sheet assets.» [Fonte Wikipedia]
07/10/2009
Jerónimo Bourbon de Sousa
Dos comunistas se pode dizer o que Napoleão Bonaparte no seu regresso da ilha de Elba terá dito dos Bourbons que entretanto tinham voltado a reinar em França: ils n'ont rien oublié ni rien appris. Os nossos bourbons reinaram episodicamente pouco mais de um ano, o suficiente deixaram uma herança que dura há mais de 3 décadas e que, por grande azar seu, tem aproveitado sobretudo aos partidos do poder para colocar o seu pessoal nas empresas públicas sobreviventes e no mastodôntico aparelho de estado cujas bases os nossos bourbons lançaram.
Ainda hoje a memória do PREC impregna os nossos bourbons, como nos mostra o seu secretário-geral na sua «inquietação profunda» com a eventual privatização da TAP anunciada no plano de recuperação que vai ser apresentado ao governo por um qualquer comité. Vem a propósito confessar-vos que aposto que a divulgação da eventual privatização não passa de mais uma manobra da central de manipulação do nosso querido líder com vista a olear os neurónios da negociação nas emperradas mentes dos pilotos, ameaçando-os com o pau da privatização que eles devem odiar mais do que o camarada secretário-geral.
Os argumentos de Jerónimo de Sousa contra a privatização estão à altura dos argumentos dos pilotos para a «reposição do poder aquisitivo»: empresa de «referência à escala internacional» (terá JS algum dia falado com passageiros da TAP?), «perde a economia nacional» (é difícil a economia nacional perder mais do que com uma empresa que vive há anos em estado de irremediável falência) e «perdem os trabalhadores» (aqui temos que lhe dar razão – muitos trabalhadores da TAP só têm a perder direitos adquiridos e é por isso é que os clientes da TAP têm tudo a ganhar).
Ainda hoje a memória do PREC impregna os nossos bourbons, como nos mostra o seu secretário-geral na sua «inquietação profunda» com a eventual privatização da TAP anunciada no plano de recuperação que vai ser apresentado ao governo por um qualquer comité. Vem a propósito confessar-vos que aposto que a divulgação da eventual privatização não passa de mais uma manobra da central de manipulação do nosso querido líder com vista a olear os neurónios da negociação nas emperradas mentes dos pilotos, ameaçando-os com o pau da privatização que eles devem odiar mais do que o camarada secretário-geral.
Os argumentos de Jerónimo de Sousa contra a privatização estão à altura dos argumentos dos pilotos para a «reposição do poder aquisitivo»: empresa de «referência à escala internacional» (terá JS algum dia falado com passageiros da TAP?), «perde a economia nacional» (é difícil a economia nacional perder mais do que com uma empresa que vive há anos em estado de irremediável falência) e «perdem os trabalhadores» (aqui temos que lhe dar razão – muitos trabalhadores da TAP só têm a perder direitos adquiridos e é por isso é que os clientes da TAP têm tudo a ganhar).
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CASE STUDY: quem é o deus ex machina da Ongoing? (3)
[Continuação de (1) e (2)]
Recordem-se as ligações da Ongoing com o BES e de ambos com a PT, o financiamento de 600 milhões do BES e do Millenium bcp à Ongoing, a compra anunciada pela PT duma participação da Media Capital (holding da TVI) que se metamorfoseou numa compra pela Ongoing.
É neste contexto que deve tentar perceber-se o racional da decisão da PT para os seus fundos de pensões (mais exactamente os fundos das pensões dos seus empregados), que se esperaria tivessem uma estratégia de investimento conservadora, investirem 75 milhões de euros em fundos geridos pela Ongoing, sabendo-se que a gestão de fundos da Ongoing ainda tem a tinta fresca e a sua expertise e experiência estão por comprovar, to say the least. (*)
No mesmo contexto se deve tentar perceber igualmente a reacção freudiana do administrador da PT que jura que «os fundos [da Ongoing] onde investimos não são parte neste processo da TVI. Não são nem vão ser».
(*) Não é extraordinário que um dos jornais que publicitou esta operação da PT foi ... A Bola? Os spin doctors da Ongoing ainda têm muito que aprender - podem aproveitar com José Eduardo Moniz, cuja foto aparece a ilustrar a notícia.
Recordem-se as ligações da Ongoing com o BES e de ambos com a PT, o financiamento de 600 milhões do BES e do Millenium bcp à Ongoing, a compra anunciada pela PT duma participação da Media Capital (holding da TVI) que se metamorfoseou numa compra pela Ongoing.
É neste contexto que deve tentar perceber-se o racional da decisão da PT para os seus fundos de pensões (mais exactamente os fundos das pensões dos seus empregados), que se esperaria tivessem uma estratégia de investimento conservadora, investirem 75 milhões de euros em fundos geridos pela Ongoing, sabendo-se que a gestão de fundos da Ongoing ainda tem a tinta fresca e a sua expertise e experiência estão por comprovar, to say the least. (*)
No mesmo contexto se deve tentar perceber igualmente a reacção freudiana do administrador da PT que jura que «os fundos [da Ongoing] onde investimos não são parte neste processo da TVI. Não são nem vão ser».
(*) Não é extraordinário que um dos jornais que publicitou esta operação da PT foi ... A Bola? Os spin doctors da Ongoing ainda têm muito que aprender - podem aproveitar com José Eduardo Moniz, cuja foto aparece a ilustrar a notícia.
06/10/2009
ARTIGO DEFUNTO: as dificuldades dos jornalistas com a aritmética
Citando o Jornal de Notícias, o Diário Económico titula «Famílias portuguesas perdem 17 mil milhões com a crise» e acrescenta «o impacto da crise financeira nas poupanças das famílias atinge os 17 mil milhões de euros. … A quebra nas poupanças das famílias dava para pagar todos os troços do TGV e o Novo Aeroporto de Lisboa.»
As famílias portuguesas não podem perder o que não têm. Como se pode confirmar no Destaque do INE de 28 de Setembro de 2009 «Contas Nacionais Trimestrais por Sector Institucional - 2.º Trimestre de 2009», a poupança bruta no ano acabado no 2.º trimestre de 2009 não atinge sequer esse valor. E, por acaso, no mesmo período até aumentou para 8,6% do PIB relativamente ao ano acabado no 1.º trimestre, atingindo um pouco mais de 14 mil milhões de euros.
Se a displicência asneirenta tivesse sido produzida no «24 horas», ainda vá. Num jornal de economia (talvez não por acaso propriedade da Ongoing) merecia despedimento com justa causa.
As famílias portuguesas não podem perder o que não têm. Como se pode confirmar no Destaque do INE de 28 de Setembro de 2009 «Contas Nacionais Trimestrais por Sector Institucional - 2.º Trimestre de 2009», a poupança bruta no ano acabado no 2.º trimestre de 2009 não atinge sequer esse valor. E, por acaso, no mesmo período até aumentou para 8,6% do PIB relativamente ao ano acabado no 1.º trimestre, atingindo um pouco mais de 14 mil milhões de euros.
Se a displicência asneirenta tivesse sido produzida no «24 horas», ainda vá. Num jornal de economia (talvez não por acaso propriedade da Ongoing) merecia despedimento com justa causa.
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05/10/2009
CASE STUDY: os suspeitos do costume parecem estar inocentes
Como todos se lembram, a volatilidade dos preços do petróleo tem sido atribuída aos especuladores, essa classe de renegados capitalistas que fazem arfar de ódio o senhor Jerónimo de Sousa, espumar de raiva o professor Louçã e não deixam de excitar o engenheiro Sócrates que vê neles mais uns putativos bodes expiatórios dos desaires da política económica do seu governo. Para sermos rigorosos, esses renegados excitam todos os políticos, incluindo Paulo Portas, Ferreira Leite e, claro, Cavaco Silva, esse político entre parêntesis.
Já em 2008 um relatório da Commodity Futures Trading Commission (CFTC) punha em causa o papel dos especuladores no aumento dos preços do ano anterior. O mês passado a CFTC publicou, pela primeira vez, dados desagregados por tipo de operador revelando que os especuladores (essencialmente swap dealers e money managers), ao contrário do que se esperaria, tinham maiores volumes de posições longas do que de posições curtas. Ao contrário, os produtores e os utilizadores, tinham uma situação inversa, mostrando um comportamento mais especulativo do que os especuladores.
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Estado empreendedor – (10) sequelas do assalto ao Millenium bcp
A estória é conhecida. Joe Berardo compra acções do Millenium bcp com empréstimos, primeiro da Caixa (onde à época era presidente Santos Ferreira, o actual presidente do Millenium bcp que sucedeu a Filipe Pinhal, homem de confiança de Jardim Gonçalves), do BES (por esta e por outras razões Filipe Pinhal escreveu o que escreveu sobre Ricardo Salgado, o banqueiro do regime socialista) e do Santander. Depois do afastamento da administração Filipe Pinhal, o próprio Millenium bcp financiou Berardo na compra de mais acções do próprio banco. Santos Ferreira reeditava assim um processo semelhante ao de Jardim Gonçalves.
A coisa correu mal porque as acções do Millenium bcp, que Berardo deve ter comprado a um preço médio de cerca de 2 euros, foram caindo até quase 50 cêntimos. Correu mal para Berardo e para os bancos que o financiaram, a quem Berardo tinha oferecido como garantia as próprias acções do bcp. O Santander, que não faz parte complexo político-empresarial socialista português (nem do espanhol), perante a insuficiência da garantia exigiu um reforço e dispunha-se a executar a dívida se tal não acontecesse. Pelo caminho Berardo ofereceu como garantia, que o Santander recusou mas os bancos do regime aceitaram, a colecção de arte que o governo de Sócrates alojou no CCB a expensas dos sujeitos passivos.
O desfecho do episódio, revelado pelo Expresso e não desmentido por Berardo, foi o Millenium bcp, cujo Conselho de Remunerações é presidido por Berardo, prestar uma garantia à primeira interpelação (on first demand) ao Santander, pessoalmente aprovada por Santos Ferreira, que já tinha aprovado empréstimos, primeiro na Caixa e depois no Millenium bcp.
Que este emaranhado de conflitos de interesse pareça normal neste país é apenas um sintoma de como o governo de José Sócrates contribuiu para tornar este país ainda mais anormal.
A coisa correu mal porque as acções do Millenium bcp, que Berardo deve ter comprado a um preço médio de cerca de 2 euros, foram caindo até quase 50 cêntimos. Correu mal para Berardo e para os bancos que o financiaram, a quem Berardo tinha oferecido como garantia as próprias acções do bcp. O Santander, que não faz parte complexo político-empresarial socialista português (nem do espanhol), perante a insuficiência da garantia exigiu um reforço e dispunha-se a executar a dívida se tal não acontecesse. Pelo caminho Berardo ofereceu como garantia, que o Santander recusou mas os bancos do regime aceitaram, a colecção de arte que o governo de Sócrates alojou no CCB a expensas dos sujeitos passivos.
O desfecho do episódio, revelado pelo Expresso e não desmentido por Berardo, foi o Millenium bcp, cujo Conselho de Remunerações é presidido por Berardo, prestar uma garantia à primeira interpelação (on first demand) ao Santander, pessoalmente aprovada por Santos Ferreira, que já tinha aprovado empréstimos, primeiro na Caixa e depois no Millenium bcp.
Que este emaranhado de conflitos de interesse pareça normal neste país é apenas um sintoma de como o governo de José Sócrates contribuiu para tornar este país ainda mais anormal.
04/10/2009
Estado empreendedor – (9) o contributo para o crescimento
«Os dados do Fundo Monetário Internacional indicam que o PIB português por habitante, ajustado ao poder de compra, deverá ser de 22.223 dólares. Na Eslováquia, o poder de compra previsto é de 22.481 dólares.
A confirmarem-se estas previsões, Portugal terá um dos piores desempenhos da Zona Euro desde 2006. Até 2010, a economia nacional terá um crescimento médio de 0,1%, o que significa a sua estagnação.
Quanto à Eslováquia, que ultrapassa o nosso país, colocando a economia nacional como a mais pobre da Europa, consegue, entre 2006 e 2010, um crescimento extraordinário de quase 5% ao ano, apesar de a queda prevista para 2009 ser bastante superior à portuguesa.» (Rádio Renascença)
Cortesia do governo de José Sócrates (e, para sermos justos, dos dois de Guterres e, com muito menores culpas no cartório, do governo Barroso-Lopes).
Não é extraordinário que continue a ter aceitação a tese da crise de crescimento portuguesa com quase 10 anos se dever à crise financeira internacional, que pelos vistos, em termos relativos, parece afectar menos os outros países? Não é igualmente extraordinário num país em que o Estado, na monarquia como na república, sempre teve uma fortíssima intervenção na economia, se atribua o atraso económico à insuficiente intervenção?
A confirmarem-se estas previsões, Portugal terá um dos piores desempenhos da Zona Euro desde 2006. Até 2010, a economia nacional terá um crescimento médio de 0,1%, o que significa a sua estagnação.
Quanto à Eslováquia, que ultrapassa o nosso país, colocando a economia nacional como a mais pobre da Europa, consegue, entre 2006 e 2010, um crescimento extraordinário de quase 5% ao ano, apesar de a queda prevista para 2009 ser bastante superior à portuguesa.» (Rádio Renascença)
Cortesia do governo de José Sócrates (e, para sermos justos, dos dois de Guterres e, com muito menores culpas no cartório, do governo Barroso-Lopes).
Não é extraordinário que continue a ter aceitação a tese da crise de crescimento portuguesa com quase 10 anos se dever à crise financeira internacional, que pelos vistos, em termos relativos, parece afectar menos os outros países? Não é igualmente extraordinário num país em que o Estado, na monarquia como na república, sempre teve uma fortíssima intervenção na economia, se atribua o atraso económico à insuficiente intervenção?
03/10/2009
Estado empreendedor – (8) o contributo para a transparência nos negócios
Segundo o Global Corruption Report 2009: Corruption and the Private Sector da Transparency Internacional, o score de Portugal no Corruption Perceptions Index de 2008 baixou para 6,1 e o country rank desceu para 32 (compara com 6,5 e 28 em 2007, respectivamente). Cortesia do governo de José Sócrates.
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CASE STUDY: os mitos da educação pública (7)
[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5) e (6)]
Se há factos universais, seguramente um deles é a ineficiência, frequentemente associada a ineficácia, dos serviços prestados pelo Estado. A educação não é excepção. Um pouco por todo o lado a imensa maioria das escolas públicas presta um ensino de qualidade evanescente; à medida que a educação se universaliza e o ensino obrigatório se prolonga, o Estado tem mostrado uma crescente incapacidade para lidar com a massificação do ensino. A legião de adoradores do Estado, que inclui praticamente toda a esquerda e uma grande parte da direita, confunde, deliberadamente ou não, o ensino financiado pelo Estado com o ensino prestado pelo Estado. O que as experiências das charter schools - escolas privadas financiadas com fundos públicos e administradas por pais, professores ou comunidades, ou por uma mistura de todos eles – têm mostrado é que é indispensável fazer a distinção entre a administração da escola e o seu financiamento.
Uma vez mais, um novo estudo de Caroline Hoxby da Stanford University sobre a experiência das charters schools na cidade de Nova Yorque mostra que os resultados destas são claramente superiores às das escolas públicas convencionais. Esta tem sido a conclusão de praticamente todos os estudos congéneres, mas os defensores do ensino público (principalmente a influente corporação dos professores, directamente ou através dos lóbis partidários) sempre argumentavam que esses indesmentíveis melhores resultados se deviam ao nível de vida e educacional dos pais dos alunos das charter schools ser geralmente mais elevado. Infelizmente para esta tese, o estudo de Caroline Hoxby mostra que os alunos de famílias pobres das charter schools obtêm resultados praticamente tão bons quanto os das famílias da classe média alta.
Se há factos universais, seguramente um deles é a ineficiência, frequentemente associada a ineficácia, dos serviços prestados pelo Estado. A educação não é excepção. Um pouco por todo o lado a imensa maioria das escolas públicas presta um ensino de qualidade evanescente; à medida que a educação se universaliza e o ensino obrigatório se prolonga, o Estado tem mostrado uma crescente incapacidade para lidar com a massificação do ensino. A legião de adoradores do Estado, que inclui praticamente toda a esquerda e uma grande parte da direita, confunde, deliberadamente ou não, o ensino financiado pelo Estado com o ensino prestado pelo Estado. O que as experiências das charter schools - escolas privadas financiadas com fundos públicos e administradas por pais, professores ou comunidades, ou por uma mistura de todos eles – têm mostrado é que é indispensável fazer a distinção entre a administração da escola e o seu financiamento.
Uma vez mais, um novo estudo de Caroline Hoxby da Stanford University sobre a experiência das charters schools na cidade de Nova Yorque mostra que os resultados destas são claramente superiores às das escolas públicas convencionais. Esta tem sido a conclusão de praticamente todos os estudos congéneres, mas os defensores do ensino público (principalmente a influente corporação dos professores, directamente ou através dos lóbis partidários) sempre argumentavam que esses indesmentíveis melhores resultados se deviam ao nível de vida e educacional dos pais dos alunos das charter schools ser geralmente mais elevado. Infelizmente para esta tese, o estudo de Caroline Hoxby mostra que os alunos de famílias pobres das charter schools obtêm resultados praticamente tão bons quanto os das famílias da classe média alta.
02/10/2009
Dignitários do soarismo e do socratismo partilham connosco os seus estados de alma
Primeiro foi o incontornável Alfredo Barroso, que, do alto da autoridade moral que lhe conferem os tempos passados na chefia da Casa Civil do ex-presidente Soares, acolitando-o no patriótico esforço de conferir estabilidade aos governos de Cavaco Silva, disse a respeito deste último, e a propósito das trapalhadas em que se deixou emaranhar, «o grande estabilizador transformou-se no grande perturbador».
Depois foi a também incontornável Elisa Ferreira, que do alto da autoridade moral que lhe confere o cargo de deputado europeu, confessou o seu avassalador afecto à cidade dispondo-se a abandonar um cargo «reconhecidamente bem pago, relativamente fácil e menos violento do que ser presidente da câmara» e perder «uma gamela para vir para o Porto por amor à cidade». Elisa Ferreira não explicou a sua motivação profunda para aceitar candidatar-se à gamela.
Bem hajam.
Depois foi a também incontornável Elisa Ferreira, que do alto da autoridade moral que lhe confere o cargo de deputado europeu, confessou o seu avassalador afecto à cidade dispondo-se a abandonar um cargo «reconhecidamente bem pago, relativamente fácil e menos violento do que ser presidente da câmara» e perder «uma gamela para vir para o Porto por amor à cidade». Elisa Ferreira não explicou a sua motivação profunda para aceitar candidatar-se à gamela.
Bem hajam.
ARTIGO DEFUNTO: Um fabricante que não fabrica é um operador que ainda já não opera (2)
Fez agora um ano, tratou-se aqui da Jet Republic. Não seria preciso ter um desconfiómetro especialmente sensível para concluir que, dado o que sabia, antes de lançar os foguetes como o fez o jornalismo de causas, sempre afobado a fabricar as boas notícias que a narrativa do governo socrático espera, seria sempre «melhor esperar para ver o que vai sair».
Já saiu e não é preciso esperar mais. Como explicou Jonathan Breeze, CEO da Jet Republic, devido aos «esperados fundos que não chegaram … temos de abandonar a actividade de forma imediata». Como é sabido, qualquer actividade pode manter-se desde que os esperados fundos cheguem – é um princípio de gestão à altura dos standards do socialismo pós-moderno, que o homem da Jet Republic não se cansou de louvar quando há um ano anunciou os amanhã que cantariam.
Já saiu e não é preciso esperar mais. Como explicou Jonathan Breeze, CEO da Jet Republic, devido aos «esperados fundos que não chegaram … temos de abandonar a actividade de forma imediata». Como é sabido, qualquer actividade pode manter-se desde que os esperados fundos cheguem – é um princípio de gestão à altura dos standards do socialismo pós-moderno, que o homem da Jet Republic não se cansou de louvar quando há um ano anunciou os amanhã que cantariam.
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