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18/11/2008

CASE STUDY: os mitos da educação pública (4)

[Continuação de (1), (2) e (3)]

O que esperaria um CEO duma empresa com cerca de duzentos mil empregados que pretendesse lançar pela primeira vez um sistema de avaliação em que cada avaliador gastasse em média por ano 400 horas para avaliar os seus colaboradores? O despedimento (com uma indemnização confortável).

Contudo, tal sistema é impensável dir-se-á. Pois é. É impensável numa empresa, mas não na maior máquina do estado napoleónico-estalinista. Segundo as contas de Miguel Frasquilho, que costuma saber fazê-las, no sistema de avaliação que os lunáticos estacionados na avenida da República inventaram «cada professor que avalia seis colegas docentes (sim, os professores avaliam-se uns aos outros, imagine-se!...) gastará por ano mais de 400 horas (!) neste processo, tendo que preencher uma grelha com mais de 20 páginas, quase 300 registos de avaliação e mais de 600 registos de observação de aulas!».

É óbvio que da aplicação deste sistema kafkiano já resultaram e ainda resultarão mais danos do que a ausência dum sistema de avaliação que, recorde-se, nunca existiu. Já se sabe que os professores e com eles os restantes funcionários públicos e, para sermos honestos, os funcionários privados, querem tudo menos ser avaliados e tentarão escapar a qualquer sistema de avaliação, bom ou mau. É indiscutível que é necessário um sistema adequado de avaliação, mas é absolutamente insensato usar um modelo como este, só porque. A medicina errada não produz um estado mais saudável do que o da doença que pretendia curar.

A mim parece-me que a avaliação dos professores seria muito simples e objectiva se baseada nos resultados dos seus alunos (expurgados das condicionantes socioeconómicas exteriores à escola) obtidos com um sistema credível de avaliação com exames nacionais todos os anos. Tudo o resto só serve para atrapalhar.

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