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26/11/2008

ESTADO DE SÍTIO: Saiu-lhe a sorte grande.

Quais são os 3 maiores obstáculos ou ameaças à maioria absoluta do PS nas próximas eleições?

Em primeiro lugar, o estado da ecoanomia . Crescimento anémico, estagnação, não convergência real com a EU, défice crescente da balança comercial, peso desmesurado das despesas públicas, défice reduzido à custo do aumento da carga fiscal, endividamento público e privado a aumentar, desemprego que se mantém. E, pior do que tudo, o que nos espera nos próximos meses e anos que é cada vez mais difícil de esconder. Para quem anunciou amanhãs que cantam não podia ser pior.

Os amanhãs que cantam do senhor engenheiro (OJE, 26-11)


Em segundo lugar, uma nova liderança do PSD que sucedendo ao desastre do doutor Menezes não podia ser pior.

Em terceiro lugar, a cooperação institucional reticente do doutor Cavaco, sobretudo depois do caso dos Açores.

Diz o sound bite (aprendido recentemente pelo senhor engenheiro) que há uma oportunidade em cada dificuldade.

Depois duma primeira fase em que o primeiro ministro, acolitado pelo pior ministro das Finanças da UE, tentou vender a ideia da imunidade da economia portuguesa à doença do capitalismo selvagem, rapidamente percebeu que podia debitar o estado da ecoanomia na conta da crise financeira global. Foi o que fez, aproveitando ainda para se creditar com «previsões menos negativas que os outros» e vamos ver o que vai fazer em ano de eleições com os estímulos fiscais propostos pela Comissão Europeia. A coisa passou e está a passar perfeitamente porque a esquerdalhada arrepia-se de excitação e a populaça treme só de ouvir falar em capitalismo, quanto mais selvagem.

Esgotado o silencioso período de nojo, a doutora Ferreira Leite começou a tentar falar e, pior do que isso, começou a tentar ironizar. Nem o esforço ingente dos interpretadores a explicar a hermenêutica do discurso da líder conseguiu apagar o ruído mediático produzido pela maior e melhor máquina de manipulação algum dia montada no país (o doutor Salazar, o Botas, está a roer-se de inveja no túmulo). Diga-se, por justiça, que (quase) tudo o que a doutora Manuela disse é (aproximadamente) verdade, mas como se sabe (ela não sabe) é preciso muito génio para conseguir um convívio harmonioso entre a verdade e a política.

Dos 3 obstáculos maiores restava a reticência do doutor Cavaco. É nessa altura que tomba dos céus ou, melhor ainda, se ergue das caves do BdeP o caso BPN. Perdeu-se a conta do número de ex-ministros, ex-secretários de estados, ex-amigos e amigos actuais do doutor Cavaco embrulhados nas teias da aranha do doutor Oliveira e Costa. Last but not least, muito oportuna e convenientemente, o pasquim «24 horas» denuncia o financiamento com cem mil euros da campanha do doutor Cavaco por um lote de accionistas do BPN. Imagine-se o que a maior e melhor máquina de manipulação vai fazer com este filão - cozê-lo em lume lento, pois claro. Está fora de causa que, com toda a probabilidade, o doutor Cavaco não tem qualquer responsabilidade no caso, a não ser a responsabilidade de não saber escolher com quem trabalha ou de quem é amigo. Para a central de manipulação pouco importa, tal como pouco importa se as boutades da doutora Manuela são ou não verdades.

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