Infelizmente para as teses da esquerda em geral e de muita direita em particular, apontando como principal suspeito da crise financeira internacional a falta de intervenção, regulação ou supervisão dos governos, nomeadamente do governo ianque (antes da aparição do redentor Obama, subentenda-se), a realidade por trás do nevoeiro da manipulação grosseira e da vulgata anti-mercado é bastante diferente. À medida que a depuração da montanha de factos e dados vai permitindo compreender melhor o que se passou, as conclusões da análise vão mostrando que os governos, e em particular o governo americano, têm graves responsabilidades. Em primeiro lugar na génese da crise, com a manipulação das taxas de juros, e subsequentemente no seu desenvolvimento com a intervenção directa nos mercados e nalguns operadores. A avaliar pelas políticas e pelas medidas adoptadas, a generalidade dos governos aparenta ter ainda menos fé nos mercados do que os seus detractores.
O relatório para o Congresso do GAO (Government Accountability Office), publicado o mês passado, mostra claramente como vários erros e falhas da responsabilidade do governo ou por ele tolerados, agravaram os riscos a que Fannie Mae e Freddie Mac, as duas Government Sponsored Enterprises (GSE) (2), já estavam expostas no quadro macroeconómico de excesso de liquidez com as taxas de juro artificialmente baixas do Fed, quadro igualmente da responsabilidade do governo americano.
Alguns exemplos de bombas de espoleta retardada à espera de explodir na Fannie Mae e Freddie Mac: esquema perverso de incentivos para os executivos, falta de competências operacionais e, acima de tudo, créditos de qualidade inferior não garantidos e à margem do esquema GSE e, cereja no topo do bolo, contabilidade de pendor criativo manipulada pelos próprios auditores do governo para inflacionar os resultados. E, acrescento eu, continuar a conceder créditos para que cada americano tivesse a sua casinha, assim se demonstrando, uma vez mais, que todos os infernos estão cheios de boas intenções.
(1) «Fannie Mae and Freddie Mac - Analysis of Options for Revising the Housing Enterprises’ Long-term Structures»
(2) «The government sponsored enterprises (GSEs) are a group of financial services corporations created by the United States Congress. Their function is to enhance the flow of credit to targeted sectors of the economy and to make those segments of the capital market more efficient and transparent. The desired effect of the GSEs is to enhance the availability and reduce the cost of credit to the targeted borrowing sectors: agriculture; home finance; and education. Congress created the first GSE in 1916 with the creation of the Farm Credit System; it initiated GSEs in the home finance segment of the economy with the creation of the Federal Home Loan Banks in 1932; and it targeted education when it chartered Sallie Mae in 1972 (although Congress allowed Sallie Mae to relinquish its government sponsorship and become a fully private institution via legislation in 1995). The residential mortgage borrowing segment is by far the largest of the borrowing segments in which the GSEs operate. Together, the three mortgage finance GSEs (Fannie Mae, Freddie Mac and the 12 Federal Home Loan Banks) have several trillion dollars of on-balance sheet assets.» [Fonte Wikipedia]
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
08/10/2009
CASE STUDY: a intervenção dos governos tem mais culpas no cartório do que a falta dela
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário