Segundo os sindicatos franceses, citados pelo Monde, a vaga de suicídios dever-se-ia «aux conditions managériales, aux objectifs et à l'individualisation», segundo uns, à «stratégie du groupe, les nombreuses mutations que subissent ses cadres et la réduction des effectifs», segundo outros, ou, segundo os mais assanhados, ao «management par la terreur». Segundo a imprensa portuguesa, a génese do fenómeno seria aproximadamente a mesma (o que não admira porque os jornalistas portugueses partilham habitualmente as análises dos seus homólogos franceses ou ecoam as dos spin doctors portugueses). Os culpados são a «gestão do pessoal baseada no terror, na humilhação e no silêncio» (DN), ou a «forte pressão sobre os funcionários e a desumanização das condições de trabalho» (Expresso), ou o «controlo apertado de que são alvo, nomeadamente nos períodos de pausa, as pressões para aumentar a produtividade e a desumanização das relações na empresa» (JN).
Independentemente das causas, a primeira questão que se deve colocar é: o que representam em termos relativos, no quadro da sociedade francesa, 24 suicídios verificados na FT nos últimos 20 meses? Façam-se alguns exercícios de aritmética elementar:
- Taxa anual de suicídio da FT a nível mundial = 12 meses x (24 suicídios : 20 meses) : 187.000 empregados = 7,7 por 100.000
- Taxa anual de suicídio da FT em França = 12 meses x (24 suicídios : 20 meses) : 100.000 empregados = 14,4 por 100.000
- Taxa anual de suicídios da FT em França = 12 meses x (24 suicídios : 20 meses) : 2/3 de 100.000 empregados = 21,8 por 100.000
Se os suicídios na FT estivessem em linha com a média nacional deveriam ter-se suicidado nos últimos 20 meses:
- 20 x 20 : 12 = 33 empregados franceses, número 37,5% superior ao dos suicídios ocorridos.
- 20 x 30 x 2/3 : 12 = 33 empregados homens franceses, número por coincidência igual ao anterior.
Primeiras conclusões (esquecendo o facto singular de nenhuma mulher se ter suicidado, que eu saiba):
- A taxa de suicídio da FT é baixa pelos padrões franceses ou, dito de outra maneira, o clima dentro da FT, se for deprimente, não é tão deprimente quanto a maioria das empresas francesas
- A taxa de suicídio da FT não é baixa pelos padrões internacionais, porque estamos a compará-la com a da França que é uma sociedade com uma taxa de suicídios comparativamente elevada, mas, nesse caso, o problema é um problema francês e não especialmente da FT.
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