Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

23/05/2019

Portugal dos Pequeninos, a Miami dos brasileiros

Em declarações à Bloomberg, inseridas numa peça com o título «Para muitos brasileiros ricos, Portugal está a tornar-se a nova Miami», o empresário brasileiro Ricardo Bellino, «que diz ter convencido Trump em três minutos em 2003 a investir em um resort de golfe de meio bilhão de dólares em São Paulo que nunca foi construído, vê Portugal como um país cheio de oportunidades». Que o Sr. Bellino veja tantas oportunidades deixa-me ligeiramente preocupado. De passagem, repare-se que o articulista Henrique [Champalimaud Simões de] Almeida, que parece ser mais um português no topo do mundo (*), faz equivaler todo o Portugal dos Pequeninos a uma só cidade americana.

Na mesma peça, o mesmo articulista escreve que «no Chiado, um dos bairros mais caros de Lisboa, alguns moradores dizem que sua vizinha, a brasileira Regina de Camargo Dias, é a mulher mais rica de Portugal. Camargo, uma das três irmãs que controlam a construtora e cimenteira Camargo Correa SA, está entre os brasileiros ricos que compraram casas na capital portuguesa, Lisboa, onde o preço pode chegar a 10 mil euros por metro quadrado (11.170 dólares por 10,8 pés quadrados)

O mundo, até para os portugueses no topo do mundo, é pequeno por várias razões. O articulista  tem entre os seus contactos LinkedIn um muito bem conhecido meu, e, por outra coincidência, a dona Regina não sei se é a mulher mais rica de Portugal mas é uma mulher da família Camargo Correia, maior accionista da Cimpor a quem o falecido Pedro Queiroz Pereira (um dos poucos empresários portugueses com tomates) fez uma OPA que morreu na praia por oposição da Caixa e do BCP e, dado o endividamento da Carmargo Correia, ficaram criadas as condições para o passo seguinte - a venda da Cimpor (ver a estória contada neste post pelo outro contribuinte).

Entretanto, em 2017 a Camargo Correia retira a Cimpor da bolsa e começa a procurar comprador para a InterCement que controlava 90% da Cimpor, para reduzir o seu pesadíssimo passivo. Encontrou e vendeu no final do ano passado a Cimpor ao fundo de pensões das Forças Armadas turcas OYAK. É um desfecho condizente com o capitalismo português falido e pendurado no Estado Sucial através da Caixa e do BCP que durante os anos de Sócrates foi um apêndice da Caixa.

(*) As expressões "portugueses/português no topo do mundo" têm 23 mil ocorrências numa pesquisa Google de hoje.

1 comentário:

Anónimo disse...

Intencionalmente, ou não, vós tendes sempre muita graça.