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06/05/2019

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (186)

Outras avarias da geringonça e do país.

Não vou esmiuçar a pantomina da demissão anunciada de Costa que já foi aqui e aqui tratada pelo outro contribuinte deste blogue, vou apenas reter a sua moral. Quando dois políticos oportunistas e sem princípios da oposição fazem uma jogada para superar em oportunismo e falta de princípios o político oportunista e sem princípios que está no poder, deveriam interrogar-se antes se estão à altura dele nesse departamento. Já se sabia e confirmou-se: não estão à altura.

Mais uma baixa no governo de Costa, a do chefe de gabinete de secretário de Estado da Protecção Civil por suspeita de fraude relacionada com fundos comunitários, fraude envolvendo um ror de gente ligada à grande família socialista, incluindo empresários tugas de empresas com sede na Alemanha - note-se a propósito que o semanário de reverência refere o assunto na primeira página com um título destinado à quem só lê títulos: «empresas alemãs na mira da PJ».

Já virei a página e ficou na mesma. Quero saltar daqui para fora

O Ronaldo das Finanças, ou o «mão-de-vaca terrível», o que «quer mesmo é saltar daqui para fora», segundo João Duque que, tendo estudado no mesmo ISEG e sendo 6 anos mais velho, até talvez tendo sido seu professor, deve saber do que fala. Não admira que queira saltar ASAP, porque tem obrigação de perceber que a cartola de onde tirou os coelhos está a ficar vazia e que a página que o Costa diz ter virado afinal é a mesma.

Veja-se por exemplo o programa dos doze sábios, entre eles o Ronaldo (releia-se a série de posts «Os amanhãs que cantarão, segundo o PS, ou o triunfo da fé e da esperança sobre a experiência») que previa que os défices para 2016, 2017, 2018 e 2019 seriam 3,0%, 2,7%, 2,1% e 1,4% e foram (sem medidas pontuais) 2,4%, 0,8%, 0,0% e 0,0% (previsão). Quanto ao crescimento do PIB previa-se 2,4%, 3,1%, 2,8% e 2,4% e o crescimento efectivo foi 1,9%, 2,8%, 2,1% e 1,9% (previsão). Conclusão: mais austeridade e menos crescimento. Os amanhãs não cantaram.

Não é só a prever o futuro que o mão-de-vaca mostra dotes invulgares. É também a prever o passado, como quando disse há dias no parlamento, a propósito da carga fiscal que tem vindo a aumentar: «nós hoje ainda estamos a pagar uma grande parte do colossal aumento de impostos» do governo anterior, mostrando um notável desembaraço com os factos que nos dizem que durante o seu ministério as receitas fiscais aumentaram 3,4 mil milhões até 2017 em relação ao «colossal aumento» em 2018 e aumentaram mais 4,3 mil milhões, atingindo 35,4% do PIB nesse ano, mais 1% do que em 2015, com um PIB que entretanto cresceu 12% em termos nominais. E este ano só no 1.º trimestre os impostos arrecadados superaram os orçamentados em 400 milhões.

Boa nova

Continua o anúncio de boas novas, esta semana interrompido pela pantomina «se aprovam demito-me». Ainda assim tivemos as baixas na gravidez nas profissões de risco com 100% do salário e a redução do imposto de circulação dos veículos importados - a redução será só no próximo ano o que dará a oportunidade de a anunciar de novo.


L'État c'est nous

Uma vez mais, o departamento socialista de transportes, também conhecido por CP, «voltou a aceitar atrasos na circulação regular para que um comboio fretado pelo PS pudesse circular com prioridade. Objetivo: levar militantes para uma ação de pré-campanha socialista em Aveiro» (Observador).

Face à insubordinação da Ordem dos Enfermeiros e da sua bastonária, a ministra da Saúde não esteve com meias medidas e mandou averiguar se há «ilegalidades resultantes de intervenções públicas e declarações dos dirigentes» e auditar as contas da instituição, determinando uma sindicância ao sindicato dos enfermeiros, que é aquilo que a ordem é. Quem se mete com o PS, leva, bem avisava o saudoso estradista Coelho, agora remetido ao papel de compère da revista à portuguesa montada pelo bonzo da Marmeleira na TVI.

Engordando a freguesia eleitoral

Mil novos técnicos foi o número de fregueses que o ministério da Finanças anunciou que iriam ser contratados para a «conceção, planeamento, monitorização e avaliação de políticas públicas». Parece que estamos a falar do ministério soviético do Plano.

Contudo, tal fartura não chega para dotar a equipa responsável pela implementação da nova Lei de Enquadramento Orçamental aprovada em 2015 que além de não ter recursos já «mudou três vezes de chefe nos últimos meses», como nos informa o semanário de reverência um fonte credível para os podres deste governo. Já por diversas vezes (aqui, aqui aqui) me referi à regulamentação sucessivamente adiada por este governo, por razões que se entendem perfeitamente e que radicam, como aqui escrevi, nas limitações que daí resultarão para a proverbial criatividade orçamental socialista.

Desta vez será diferente?

O crescimento do produto pode não ter a pujança proclamada, mas, em contrapartida a dívida voltou a aumentar 1,1 mil milhões em Março atingindo 250,4 mil milhões. Isto apesar o investimento efectivo continuar deprimido. Segundo João Duque, na entrevista em que baptizou o mão-de-vaca terrível, «somando o investimento efetivo que o INE publicou conclui que foi investido nos últimos três anos: 10 mil e 400 milhões de euros. Isto foi o triénio mais baixo desde 1995. Se compararmos com o período da Troika houve uma quebra de 6%, mas se compararmos com a média dos últimos 20 anos, de 95 a 2015, então houve uma quebra de 30%. Isto a preços de 95 porque, em termos reais, as quebras são superiores a 40% no período com a Troika e quase 50% face ao período anterior à entrada da Troika».

Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos

Nos dois primeiros meses deste ano o crédito à habitação cresceu 13,1% em relação ao período homólogo do ano passado. Em contrapartida, apesar do stock de crédito ao sector produtivo da construção e do imobiliário desceu no mesmo período quase a mesma percentagem. Também as viagens ao estrangeiro aumentaram 13,1% em 2018 relativamente a 2017. O comércio a retalho teve um aumento homólogo de 4,9% em Fevereiro e 4,2% em Março.

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