Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

30/04/2011

SERVIÇO PÚBLICO: o défice de memória (11)

[Actualização (1), (2), (3), (4), (5), (6), (8), (9) e (10)]

31-03-2011
Em consequência da inclusão no perímetro do OE dos défices das empresas públicas que cobrem os custos com menos de 50% de receitas próprias, segundo os critérios do Eurostat desde há vários anos não cumpridos pelo governo socrático, o INE corrigiu os défices de vários anos:
  • 2009 - 10,0%
  • 2010 - 8,6%

23-04-2011
«Défice de 2010 revisto em alta para 9,1 por cento do PIB»

Programa eleitoral do PS divulgado em 28-04-2011:

Moral da estória:
A verdade, ao contrário da mentira que tem um número infinito de versões, umas menos e outras mais estúpidas, é fácil de gerir. A mentira exige alguma competência na sua administração e deveria ser preferida pelos incompetentes. Em vez disso, a clique do pastor da IURD que controla o PS já foi atingida pelo princípio de Peter dos mentirosos e prefere a mentira. Sobrevive, com a cumplicidade dos novos situacionistas, à custa dos dependentes do partido do Estado e dos patetas incapazes de distinguir a mentira da verdade.

DIÁRIO DE BORDO: Imagens da NASA (5)

  Vulcão Sarychev nas ilhas Kuril, visto da ISS em 12-06-2009

29/04/2011

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: O PS é o partido do Estado e o PSD é o quê?

«Hoje temos mais de 6 milhões de pessoas dependentes de subsídios ou de ordenados da função pública. Seis milhões de pessoas que cativam perto de 87% de todas as receitas do Estado. Chegámos a estes 6 milhões de pessoas com anos e anos de PS e PSD competindo entre si para ver qual deles fazia crescer mais este número de dependentes do Estado e a terem como principal discurso distintivo os benefícios que dariam, caso fossem governo, a estas pessoas e às outras, já poucas que ainda não faziam parte do grupo.

Estes 6 milhões de pessoas que Medina Carreira define como “partido do Estado” não são apenas um problema económico. Elas tornaram-se um problema político, pois para boa parte destes 6 milhões de pessoas as eleições passaram a ser sinónimo de insegurança, daí a sua enorme disponibilidade para apoiarem ou tolerarem quem transmita uma imagem de poder, sobretudo se este poder for exercido com tiques de autoritarismo, coisa que não resolve nada, mas facilita muito a construção de uma imagem de líder.

É fácil e tentador dizer que esta rede de dependentes funciona como o escudo humano de quem está no poder, seja esse poder o do governo central, das autarquias ou o dos governos regionais. Mas essa é apenas uma parte do problema, a que nos diz respeito a todos nós. A outra parte do problema diz respeito ao PSD: o PSD foi tendo um discurso, cada vez menos eficaz, é certo, para estas pessoas, enquanto o argumentário eleitoral se centrou no dar. Agora que se entrou na fase da gestão do medo da perda, o PSD não tem discurso, enquanto o PS, antes pelo contrário, encontrou o que anos de desgaste e escândalos lhe tinham retirado: algo para prometer.

Todos os dias uma notícia, ou duas, ou três, dão conta de que o PSD quer tirar, cortar, destruir… enfim se propõe alterar no sentido da perda aquilo com que contam para a vida. Já o PS diz-lhes que mudará o menos possível e que vai defender o Estado social, uma entidade que se foi tornando tão mais omnipresente nas nossas vidas quanto mais o Estado gastava.

O termo “social” justificou ao Estado o nepotismo, a incompetência, o meter-se onde não é chamado, o despesismo e a corrupção. Sob o chapéu-de-chuva do Estado social, o Estado adopta procedimentos que lhe garantem dinheiro em caixa para o seu expediente, mas que colocam ainda mais em risco o futuro dos portugueses.»


[Helena Matos no Público, ler integralmente no Blasfémias]

SERVIÇO PÚBLICO: A obra de José Sócrates

Quadro do 4R – Quarta República no post «O “Orgulho” (!?) de Sócrates»

Que é feito do PRACE? (4) – lambendo (outra vez) as feridas auto-infligidas

Como a aldrabice se repete, sou forçado a repetir-me também e a republicar este post:

aqui e aqui se comentaram as medidas previstas na proposta de OE 2010 de extinção, reorganização ou reestruturação de 50 organismos, dos quais 9 já estariam extintos, reorganizados ou reestruturados em consequência de medidas já tomadas no âmbito do PRACE ou outras. Faltou dizer o que apurou João Duque (Caderno Economia do Expresso): a 1.ª, a 4º, a 5.ª, a 6.ª, a 7.ª, a 8.ª medidas «e por aí fora» referem-se a organismos criados nos últimos 4 anos pelos governos de José Sócrates.

Acrescento agora que o «O Partido Socialista pretende eliminar ainda este ano mais cerca de um milhar de cargos dirigentes e equiparados no Estado e fundir mais de 60 organismos e serviços, de acordo com seu programa eleitoral

Não é extraordinário? Será exagero concluir que o aparente sucesso destes anúncios é uma demonstração de uma idiotia congénita? Talvez seja, mas poderei ao menos citar Sobrinho Simões? «Admiramos secretamente os grandes aldrabões».

28/04/2011

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Simplesmente governador. Não é ministro e muito menos anexo (2)

Secção Res ipsa loquitur

Tirei o chapéu ao governador do BdeP por, perante a ameaça de submersão da banca pelos 40 mil milhões de euros de dívida pública, ter dado corda aos sapatos e tomado uma atitude firme perante os bancos, o governo e o presidente, levando a fechar a torneira que vinha alimentando o financiamento do estado falido e empurrando a declaração de falência para a frente.

Volto a tirá-lo por ter ontem denunciado a violação reiterada das normas orçamentais e a necessidade de responsabilizar os políticos e os gestores públicos. Dir-se-à que poderia ter dito muito mais. Lá poder podia, mas quem aguentou tantos anos um ministro anexo a branquear os mais atrozes atropelos financeiros e contabilísticos, tem que celebrar como uma aragem fresca a independência de Carlos Costa.

Confirmam-se, assim, os cinco afonsos.

É isso que eles querem? Acabar com as pontes e os feriados do Estado Sucial?

No PREC eram os capitães de Abril, agora os homens sem sono são os da troika. Ficaram a trabalhar nos feriados religiosos e na comemoração do Dia da Liberdade e já têm o pacote pronto. Sendo eles os culpados, é bom que trabalhem depressa e mandem o dinheiro rapidinho e se deixem de maus exemplos e desrespeito pelos direitos adquiridos.

BREIQUINGUE NIUZ: Here we go, again

Sky's the limit

Os investidores que arriscam o seu dinheiro especuladores estão a dizer ao governo: leiam o (Im)pertinências - está lá tudo (quase) sobre a incontornável reestruturação da dívida.

27/04/2011

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: Não nos podem deixar entalados

- Estamos mal, diz ela.
- A culpa é da Europa, disse ele.
- Pois é, responde ela.
- A União Europeia não nos pode deixar entalados…, remata ele.

[Conversa escutada de passagem entre um casal de reformados cumprindo o seu jogging matinal. Provavelmente é um paradigma do pensamento político-financeiro da maioria da «choldra ignóbil», como Eça chamaria, se ainda por cá andasse, ao eleitorado do século XXI. Como chamou à populaça do século XIX, pela boca de Carlos Eduardo. E, que diabo, um povo não pode escolher ser choldra? Pode sim senhor. Infelizmente, é cada vez mais difícil obrigar os outros povos a pagarem por isso.]

Lost in translation (101) – é um propósito inútil porque já o fizemos, queria ele dizer

«Esse grupo, que é constituído por ideólogos ultraliberais, visa uma única coisa que é a destruição completa do Estado Social em Portugal», garantiu Francisco de Assis, criatura por vezes assisada fora dos comícios e nem sempre demagógica.

ESTADO DE SÍTIO: As figuras do regime (2)

Continuação de (1)]
  • Mal-amado do regime – Pedro Miguel de Santana Lopes
  • Banqueiro do regime - Ricardo Espírito Santo Silva Salgado
  • Tele-evangelista do regime - Francisco Anacleto Louçã
  • Ministro anexo do regime - Vítor Manuel Ribeiro Constâncio
  • Palhaço do regime – Alberto João Cardoso Gonçalves Jardim
  • Loura do regime - Edite Fátima Santos Marreiros Estrela
  • Cherne do regime - José Manuel Durão Barroso
  • Promessa do regime – António José Martins Seguro
[Não se sabe se continua]

26/04/2011

Conversa fiada (5) – maior do que a dívida, só a desfaçatez

«Reconheço e valorizo todos aqueles que apelam ao consenso, ao diálogo e à concertação entre todos os políticos. Foi isso que fiz já há muito tempo e há muito tempo que tenho vindo a falar nisso. Poderíamos ter evitado muita coisa se tivéssemos esse espírito
[Palavras de José Sócrates aos jornalistas no pátio de S. Bento no dia 25 de Abril]

Não se sabe o que mais admirar: se a maior desfaçatez de um primeiro-ministro desde a fundação, se a falta de discernimento de um povo em que pelo menos 1/3 não parece dar-se conta de tal desfaçatez, se a tolerância a essa desfaçatez de legiões de eméritos novos situacionistas que militam no PS e dele dependem para manterem as suas tenças.

SERVIÇO PÚBLICO: o défice de memória (10)

[Actualização (1), (2), (3), (4), (5), (6), (8) e (9)]

17-12-2008
O ministro das Finanças (MF) diz que o défice em 2009 será de 3% do PIB e não 2,2% .

05-02-2009
É aprovado pelo PS o Orçamento suplementar com uma previsão 3,9% do défice.

21-04-2009
O MF diz que «a despesa está perfeitamente controlada» e que o défice se mantém (3,9%)

15-05-2009
O MF diz que o défice será 5,9% em vez de 3,9%

04-07-2009
O MF mantém que o défice será 5,9%.

22-07-2009
José Sócrates diz que «está para nascer um primeiro-ministro que faça melhor no défice do que eu».

09-10-2009
O MF mantém a previsão de 5,9%.

03-11-2009
A CE anuncia uma previsão de 8% e o MF admite a revisão da estimativa anterior (5,9%).

24-11-2009
Défice do Estado dispara para 8,4% do PIB em 2009, em resultado do orçamento rectificativo redistributivo apresentado à AR.

12-01-2010
O ministro admitiu que o défice de 2009 será superior a 8% do PIB.

26-01-2010
Responsáveis do PSD, que tiveram com o Governo negociações sobre o OE, garantiam que o défice iria passar de um valor próximo de 8,7 por cento em 2009.

27-01-2010
Teixeira dos Santos revelou ... que o défice de 2009 atingiu o valor histórico de 9,3% do PIB.

01-02-2010
«Decidimos aumentar o nosso défice não por descontrolo, mas para ajudar a economia, as empresas e as famílias», disse José Sócrates, sem explicar porque não tinha o governo sido capaz de antecipar o défice que resultou das suas decisões, nem como tendo as ajudas sido de menos de 2% do PIB causam um aumento do défice de 2,2% para 9,3%.

27-10-2010
«Sim, sou inflexível. O défice de 2011 tem de ser 4,6%» disse Teixeira dos Santos justificando a ruptura da negociação do OE 2010 com o PSD.

31-03-2011
Em consequência da inclusão no perímetro do OE dos défices das empresas públicas que cobrem os custos com menos de 50% de receitas próprias, segundo os critérios do Eurostat desde há vários anos não cumpridos pelo governo socrático, o INE corrigiu os défices de vários anos:
2009 - 10,0%
2010 - 8,6%

23-04-2011
«Défice de 2010 revisto em alta para 9,1 por cento do PIB» (Acabou por ficar em 11,2%)

24-04-2011
«Agravamento do défice de 2010 sem impacto nas contas futuras»

26-04-2011
«Défice de 2011 acelera para 5,8% com mais quatro SCUT» [Este era o défice que em 27-10-2010 tinha que ser 4,6% e que dois dias antes não era impactado pelo agravamento do défice de 2011]

ESTADO DE SÍTIO: As figuras do regime (1)

A pretexto da efeméride, o (Im)pertinências decidiu elencar as figuras do regime:
  • Supremo tabelião do regime – Aníbal António Cavaco Silva
  • Supremo coveiro do regime – José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa
  • Mito do regime – Francisco Manuel Lumbrales de Sá Carneiro
  • Oráculo do regime – Henrique Medina Carreira
  • Face do regime – Mário Alberto Nobre Lopes Soares
  • Fugitivo do regime – António Manuel de Oliveira Guterres
[Continua]

25/04/2011

CASE STUDY: Poderá José Sócrates vir a ser a próxima vítima da síndrome da abrilada?

Qualquer cidadão com mais de 55 anos poderá reconhecer o que aqui escrevi há 7 anos:

«O meu 25 de Abril foi o dia em que comecei a descobrir que as coisas não eram o que pareciam ser. Em que comecei a descobrir que o país estava coalhado de democratas, socialistas e comunistas nunca antes vistos, nascidos nos escombros do colapso por vício próprio do edifício decadente do Estado Novo. Pouco a pouco, nos dias e meses seguintes, para minha surpresa, o coalho derramou-se pelo país numa maré do coming out, como lhe chamaríamos hoje. Em cada empregado servil, venerador, de espinha dobrada e mão estendida, havia um heróico sindicalista pronto a lutar pelos direitos dos trabalhadores e pelo «saneamento» do patrão.»

Sete anos depois, chamarei a isto a síndrome da abrilada: uma espécie de epidemia de conversões tardias de criaturas que durante anos, por vezes décadas, conviveram com a «situação» alegremente e sem «sobressaltos cívicos», para usar a expressão que o supremo tabelião do regime usou no seu discurso, depois de 5 anos sem sombra de um sobressalto cívico ou outro.

A manifestação original da síndrome da abrilada fez inúmeras vítimas, a começar por Marcelo Caetano. Sem querer fazer de pitonisa, nem ter competência para isso, admito e anseio, confesso, que a mesmo síndrome atinja desta vez José Sócrates. O meu mais anseio do que prognóstico, baseia-se em inúmeros sinais, mais ou menos discretos, de saída em andamento do comboio deste governo por parte de gente durante 6 anos nele comodamente viajando. O último e mais forte desses sinais vem duma personagem maquiavélica da política portuguesa que recentemente emitiu juízos laudatórios de razoabilidade e sensatez sobre Passos Coelho enquanto com ele se encontrava, a pretexto de lhe apresentar a caldeirada do «Compromisso», ao mesmo tempo que vem rareando cada vez mais os seus cumprimentos cada vez menos convincentes a José Sócrates. Há quem veja nisso uma antecipação por Soares da derrota do PS, uma tentativa de ressuscitar um grande bloco central, mantendo o PS no área do poder e prevenindo uma inevitável guerra interna de consequências trágicas se o PS fosse dele afastado.

Não sei se isso acontecerá, mas de uma coisa estou certo: se acontecer, o país e o PS amanhecerão coalhados de críticos de José Sócrates.

Depois da alucinação, a queda violenta no mundo real de um pastorinho da economia dos amanhãs que já não cantam

[Continuação desta alucinação]

A semana passada Nicolau Santos quis envergonhar os senhores que nos humilham, inspeccionando-nos as cuecas contabilísticas borradas, com os nossos prémios de arquitectura. Esta semana caiu na real, como dizem os brasileiros, que sabem muito bem o quanto é difícil, e produziu um artigo no caderno de Economia do Expresso com um título aterrador: «Querem a verdade? Ei-la

Depois de uma entrada em que, como bom praticante do jornalismo de causas, lamenta suspender momentaneamente o exercício de animação a que se dedica há anos, enumera as coisas agradáveis que a miséria das dívidas nos vai impedir de usufruir (desde as férias em sítios exóticos até comprar patés), e escreve: «o mais dramático é que chegámos aqui não por acaso, mas por uma tendência perfeitamente clara e definida».

Em vão, procurei no resto do texto uma explicação para o excelso jornalista económico só ter percebido há poucos meses a «tendência perfeitamente clara e definida» cujo início que ele próprio situa na década de 60.

24/04/2011

Estado assistencialista falhado (5) -

«Bem-estar dos portugueses está ao nível de países atingidos pela guerra». Atingidos pela guerra não me parece apropriado. Talvez mais vencidos na guerra da competência, diligência e honestidade e ocupados pela incompetência, falta de diligência e desonestidade.

ESTADO DE SÍTIO: O FMI nosso amigo – meia dúzia de razões de alívio dos patriotas (2)

[Continuação de (1)]

Quais são as principais reformas estruturais (*) que não foram feitas até agora, de todo ou com a profundidade suficiente? Alguns exemplos: funcionamento da justiça, flexibilização da legislação laboral, serviço nacional de saúde, mercado de arrendamento, reforma administrativa, redução da presença do estado na economia. Certamente não por acaso, todas essas reformas fazem parte do chamado guião da troika.

Rapazes do FMI, sejam bem-vindos!

(*) «Reformas estruturais», segundo o chavão dos economistas do regime, são simplesmente reformas, porque as reformas que não são «estruturais» não são reformas.

SERVIÇO PÚBLICO: o défice de memória (9)

[Actualização deste, deste, deste, deste, deste e deste posts]
17-12-2008
O ministro das Finanças (MF) diz que o défice em 2009 será de 3% do PIB e não 2,2% .

05-02-2009
É aprovado pelo PS o Orçamento suplementar com uma previsão 3,9% do défice.

21-04-2009
O MF diz que «a despesa está perfeitamente controlada» e que o défice se mantém (3,9%)

15-05-2009
O MF diz que o défice será 5,9% em vez de 3,9%

04-07-2009
O MF mantém que o défice será 5,9%.

22-07-2009
José Sócrates diz que «está para nascer um primeiro-ministro que faça melhor no défice do que eu».

09-10-2009
O MF mantém a previsão de 5,9%.

03-11-2009
A CE anuncia uma previsão de 8% e o MF admite a revisão da estimativa anterior (5,9%).

24-11-2009
Défice do Estado dispara para 8,4% do PIB em 2009, em resultado do orçamento rectificativo redistributivo apresentado à AR.

12-01-2010
O ministro admitiu que o défice de 2009 será superior a 8% do PIB.

26-01-2010
Responsáveis do PSD, que tiveram com o Governo negociações sobre o OE, garantiam que o défice iria passar de um valor próximo de 8,7 por cento em 2009.

27-01-2010
Teixeira dos Santos revelou ... que o défice de 2009 atingiu o valor histórico de 9,3% do PIB.

01-02-2010
«Decidimos aumentar o nosso défice não por descontrolo, mas para ajudar a economia, as empresas e as famílias», disse José Sócrates, sem explicar porque não tinha o governo sido capaz de antecipar o défice que resultou das suas decisões, nem como tendo as ajudas sido de menos de 2% do PIB causam um aumento do défice de 2,2% para 9,3%.

27-10-2010
«Sim, sou inflexível. O défice de 2011 tem de ser 4,6%» disse Teixeira dos Santos justificando a ruptura da negociação do OE 2010 com o PSD.

31-03-2011
Em consequência da inclusão no perímetro do OE dos défices das empresas públicas que cobrem os custos com menos de 50% de receitas próprias, segundo os critérios do Eurostat desde há vários anos não cumpridos pelo governo socrático, o INE corrigiu os défices de vários anos:
2009 - 10,0%
2010 - 8,6%

23-04-2011
«Défice de 2010 revisto em alta para 9,1 por cento do PIB»

Recorde-se que o défice de 2010 ainda recentemente tinha sido milagrosamente reduzido de 7,3% para 6,9%.

Surpreendido? Só se não é um dos pouquíssimos frequentadores regulares do (Im)pertinências, onde pode ser encontrada uma lista de aldrabices contabilísticas, vasta mas longe, muito longe, de ser exaustiva. Tudo isto é um grande insulto à inteligência e, lamentavelmente, sou forçado a reconhecer que o terço dos portugueses, segundo as sondagens, ainda com opinião positiva do primeiro-ministro, ou gostam de ser insultados ou não são inteligentes.

23/04/2011

Eu não diria melhor

«Os políticos enganam-nos? Sim, desgraçadamente, é verdade que sim e esse é um problema grave. Mais grave do que isso só o reverso da medalha: se alguém nos disser a verdade toda, não votamos neles.»

Miguel Sousa Tavares na sua crónica «Brasil, Portugal, Europa» no Expresso

ESTÓRIAS E MORAIS: Sinais exteriores de riqueza

Estória

Morreu há dias Bijan Paksad, o alfaiate mais caro do mundo, com estabelecimento (House of Bijan) montado em Beverly Hills. Tinha uma carteira de clientes que faria inveja à Bugatti e incluía desde as celebridades de Hollywood, aos presidentes americanos, passando por tiranos (Vladimir Putin) e tiranetes. Entre estes últimos podemos encontrar José Sócrates cujo nome faz parte da lista pintada nos vidros da loja.

Segundo dizia, os seus clientes-alvo eram os homens que ganhavam mais de 100 mil dólares por mês e podiam por isso pagar um fato custando 50 mil. E aqui chegamos à pergunta incontornável: como pode uma criatura que, além de ter assinado uns horrorosos projectos das casinhas na Beira, não se lhe conhece qualquer outra actividade profissional, nem fortuna pessoal, comprar um fatinho que lhe custa 5 meses de ordenado? Para já não falar que o nome pintado no vidro lhe deve ter custado muito mais do que um fatinho. Com o guarda-roupa que o homem exibe em público bem pode ter sido o melhor cliente do de cujus.

E o que interessam essas coisas privadas ao desempenho do cargo? Muito. Em primeiro lugar, porque a vida privada dum primeiro-ministro tem que ser em grande parte pública – assim por alto, excluí-se certamente o que o homem faz dentro de sua casa e em particular na cama. Em segundo lugar, porque assim como não se sustentam democracias dirigidas por gente que não é democrata, também não se pode governar com integridade sem gente íntegra.

Moral

Quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vêm.

Mitos (38) – a crise internacional é a causa das nossas misérias

O (Im)pertinências já desmontou em várias circunstâncias (por exemplo aqui ou ali) este mito criado pelo marketing prodigioso do governo e amplificado pela central de manipulação, confrontando-o com o comportamento da China, Índia e Brasil a crescerem a dois dígitos ou quase, a África a 4 ou 5%, os Estados Unidos a 3%, a maior parte da Europa ao redor dos 2%, a OCDE a 2,9% e a economia mundial a crescer 4,5%.

Não tínhamos, porém, confrontado explicitamente o mito com o comportamento da própria economia portuguesa, como o fez Álvaro Santos Pereira no post «O mito da crise internacional» do seu blogue Desmitos, de onde extraí os seguintes gráficos:

Só não vê quem não quer ver que a nossa crise tem barbas e pouco tem a ver com a crise internacional, quer na sua génese quer no seu tempo. E, já agora, também se vê que não há governos inocentes por termos chegado onde chegámos e que a responsabilidade adicional de José Sócrates é a de ter cavado mais fundo o buraco dos antecessores e o que herdou de si próprio do 1.º governo.

22/04/2011

Lost in translation (100) – não me convinha nada estar a montar tudo outra vez, diria ele se fosse sincero

«[É] provavelmente a convicção generalizada de que, nesta crise que Portugal está a atravessar, deixar o PS na oposição não é boa ideia», disse José Miguel Júdice, o «MJ» da sociedade de advogados PLMJ cujo maior cliente é o governo a quem tem facturado nos últimos anos dezenas de milhões.

Pode o benefício da dúvida evoluir para o prejuízo da certeza? (5)

[Continuação de (1), (2), (3) e (4)]

Pode e é o que parece estar a acontecer ao «supremo tabelião do regime»: «pela primeira vez em dez anos, Cavaco Silva é o primeiro chefe de Estado a registar uma popularidade negativa, de acordo com o Barómetro da Marktest»

TRIVIALIDADES: Nada melhor para lhes abrir a cabeça do que lhes partir uma perna

«Desde que se me partiu uma perna que passei a ver as coisas de outra maneira», disse «Manuel Rocha director do Conservatório de Coimbra, músico na Brigada Victor Jara, militante activo do PCP e candidato a deputado» [via Blasfémias].

Qual a diferença entre uma perna ser partida por ciganos e uma perna ser partida por indígenas? Depende do dono da perna. Para a esquerda relativista, será imensa. A menos que se trate da própria perna.

21/04/2011

Golpe de estado? Troika toma as rédeas do país

Reacções da mídia ao que parece um golpe de estado:
Toma as rédeas? Porventura perguntareis: porquê rédeas. Que pergunta. Será preciso explicar?

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Tiro (mais um) no pé de Passos Coelho

«Fernando Nobre é … inconsistente politicamente, como abundantemente demonstrou na última campanha eleitoral e as televisões já começaram a evidenciar impiedosamente, relembrando algumas afirmações comprometedoras e as incoerências em que está a cair.
Nomeadamente penosa é a afirmação peremptória de que nunca seria candidato à Assembleia da República, invocando então razões de coerência e de independência. Por outro lado, não podemos esquecer que Fernando Nobre foi o mandatário da candidatura do BE ao Parlamento Europeu, nem podemos ignorar as posições deste Partido contrárias à União Europeia! Como é que agora pode integrar as listas de um Partido que defende a integração europeia, e ser proposto para segunda figura do Estado, sem que isso seja tomado como mais uma grave contradição e incoerência?

De resto, tenho as maiores dúvidas que a inclusão de Fernando Nobre nas listas do PSD se traduza numa mais-valia eleitoral. Pelo contrário: o cidadão comum olha para esta operação como uma 'caça ao voto' e creio que a generalidade dos eleitores que nele apostaram estão à nossa esquerda e são críticos dos Partidos. Serão provavelmente poucos os que vão acompanhar o candidato nesta transumância.

Mas, mais grave e chocante é o inexplicável compromisso de candidatar Fernando Nobre à Presidência da Assembleia (candidatura cujo desfecho está longe de ser garantido, mesmo com uma maioria parlamentar do PSD). Estamos a falar da segunda figura do Estado, que pode ser chamado em qualquer momento a substituir o Presidente da República, caso em que teríamos um político sem preparação e anti-europeísta no cargo cimeiro do Estado. Estamos a falar de um cargo que, para além das funções meramente protocolares, exige uma experiência parlamentar sólida (não é por acaso que sempre foram eleitos para o efeito personalidades com larga e consistente experiência política e parlamentar). Por outro lado, proporcionar a Fernando Nobre um mandato na Presidência da Assembleia, significa catapultá-lo para a candidatura seguinte à Presidência da República. Se ele decidir avançar, o PSD estará então em condições de lhe negar o apoio?»

Carta (aberta?) de António Capucho ao PSD Cascais, publicada no SOL

20/04/2011

CASE STUDY: Uma (outra) aplicação do efeito Lockheed TriStar ao TGV

aqui e aqui recentemente se escreveu sobre o efeito Lockheed TriStar numa aplicação particular ao TGV. Agora renasce o argumento universal, por assim dizer, que consiste em torrar mais dinheiro para salvar o que já foi ou irá ser torrado. Na circunstância, consiste em justificar os milhares de milhão de investimento e os milhares de milhão de perdas em décadas de exploração deficitária com a perda de 600 milhões de subsídios da UE se não começarmos a torrar os milhares de milhões até 2015.

SERVIÇO PÚBLICO: Serviço público de televisão? O que é isso?

Isso é também um reality show com «semelhanças com o de ‘Big Brother’: 13 pessoas, 24 câmaras, 90 dias, 24 horas … com uma forte componente multiplataforma e interactiva». Esclarecido? E não venham com mas. Que o serviço público custa isto, que custa aquilo (uns quase 3 mil milhões nos últimos 10 anos em taxas de contribuição audiovisual, indemnizações compensatórias e aumentos de capital). A coisa não tem preço. Ponto final.

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: O que tem que ser tem muita força

Estamos sempre a falar disso e estamos (quase) sempre em boa companhia:

George Soros (a quase boa companhia) já tinha dito: «It’s patently unjust that the Irish people should absorb all the losses made by the banks and that the bondholders should be totally free, and that I think will have to be modified… Greece in due course, maybe sooner rather than later, will also have to be restructured. Portugal also probably needs it, and that’s about it

Rodrigo Olivares-Caminal da Universidade de Londres: «Portugal estaria claramente melhor com uma reestruturação antes do resgate do FMI e UE.»

David Hannan deputado conservador do PE: «You don’t help an indebted friend by pressing more loans on him. There is an argument for helping Portugal by restructuring its existing debt; there is no argument whatever for increasing its liabilities.»

Avelino de Jesus, economista e professor do ISEG: «A ponderação da nossa situação leva-nos a sublinhar três exigências que a experiência alemã mostra serem incontornáveis:
1. A negociação da redução da dívida, o alongamento para um período adequado dos pagamentos e a redução dos juros para níveis moderados (próximos de 3,5%);
2. A entrada em acção de agentes políticos regeneradores, livres das responsabilidades pelas loucuras que provocaram o endividamento excessivo, com elevada capacidade negocial face aos credores;
3. A formulação e execução de uma política equivalente à desestatização/des nazificação da Alemanha que represente uma efectiva ruptura face ao persistente modelo estatizante que nos conduziu até aqui

Nuno Monteiro, professor de ciência política em Yale, e Eduardo Sousa, analista senior do Santander Totta: «A debt default would dispel the spectre of Weimar, with stagnant – or worse, contracting – economies leading to rising populist tendencies that could undermine democracy in member states and thus imperil European peace. A co-ordinated debt default would not endanger the stability of the euro and the EU. In fact, it might be the best way to preserve it.»

Lost in translation (99) – Rigor? Já fizemos engenharia orçamental no passado. Voltaremos a fazê-lo no futuro, queria ele dizer (XXIII)

Ainda não perceberam como se faz o milagre da execução orçamental? Para começo de explicação tomem lá: «os hospitais devem à indústria farmacêutica mais de mil milhões de euros e os prazos médios de pagamento são superiores a um ano quando deviam ser de um máximo de três meses, revelou a associação do sector». 0,6% já cá cantam. Procurem o resto.

19/04/2011

A alucinação terminal de um pastorinho da economia dos amanhãs que já não cantam

Por certo com um tremor emocionado na pena, Nicolau Santos escreveu no caderno de Economia do Expresso a bela peça ardentemente patriótica a seguir transcrita, onde aparentemente pretende saldar a dívida em boa parte contraída para construir casinhas (daí que os gajos do FMI saibam perfeitamente que não vivemos em cavernas, antes pelo contrário) com Pritzker e, de caminho, aproveita para redimir com Outstanding Structure as trafulhices nas contas.

NÃO UM MAS DOIS PRITZKER

Os senhores que aterraram esta semana na Portela e estão a vasculhar as nossas contas públicas saberão o que é um Pritzker? Pois digam-lhes que é o Prémio Nobel da Arquitetura. E que nós temos não um mas dois arquitetos que já o ganharam, Siza Vieira e Souto Moura. E expliquem-lhes que a arquitetura portuguesa é hoje objeto de atenção e estudo por parte dos seus pares em todo o mundo. E que há muito poucos países que tenham mais Pritzker que nós - e nenhum em que os dois sejam da mesma cidade.

Depois perguntem-lhes se sabem o que é o Prémio Outstanding Structure. Expliquem-lhes que é o Prémio Nobel para a engenharia na área das estruturas. Depois digam-lhes outra vez que temos dois. Um por causa da Igreja da Santíssima Trindade em Fátima, da responsabilidade de José Mota Freitas; outro pela estrutura do Aeroporto do Funchal, um projeto da de António Segadães Tavares. Revelem-lhes ainda que só há dois países no mundo que receberam mais vezes este prémio que Portugal: Estados Unidos e Alemanha.

Finalmente, mostrem-lhes que a exportação portuguesa de serviços de engenharia e arquitetura passou de €283 milhões em 2006 para 595 milhões em 2010. Talvez assim percebam que não somos uns selvagens que ainda vivem em cavernas
.

BREIQUINGUE NIUZ: agora é oficial (outra vez)

Republicação deste post a propósito do dilema dilacerante, atrasado 6 anos, do cristão-democrata, rigorosamente centrista, social-democrata, socialista, indeciso professor doutor Freitas do Amaral:

Depois ter sido compagnon de route do socialismo socrático durante vários anos e autor dum celebrado panegírico manteigueiro do engenheiro Sócrates, o professor Freitas do Amaral parece ter iniciado este ano um processo de branqueamento da sua persona política. Primeiro, sugerindo explicações que o governo deveria dar sobre o endividamento e a desorçamentação em curso, e agora prenunciando as tempestades que se foram formando durante 5 anos no bojo de supostas bonanças:
«Toda a gente já percebeu que, além da crise económica, Portugal está a viver neste momento uma crise política. Só o PS não quer reconhecê-la… É certo que a crise ainda não explodiu, mas as nuvens negras acumulam-se no céu e, para quem saiba olhar e queira ver, elas prenunciam uma tempestade
O insigne tremendo com a visão da tempestade

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Mais vale tarde do que nunca

Secção Albergue espanhol

Aqui no (Im)pertinências não temos em grande conta a doutrina do professor Carrilho, em particular a sua inclinação para a cóltura de Estado subsidiada, nem o seu inchadíssimo ego. Devemos, contudo, reconhecer que a criatura tem uma coluna, coisa cada vez mais rara nos meios socialistas onde predominam os moluscos.

Poderá a nomenclatura socratina dizer que a criatura anda ressabiado com o terem-lhe posto fim à principesca tença da UNESCO. Poderá, mas outros a quem cortaram a tença estão mais calados do que um túmulo. É por isso que é preciso saudar o seu artigo «O álibi» no DN onde denuncia a «incómoda exuberância do espectáculo» (o encontro da IURD, como lhe chamou JAS), o «bajular o líder no seu bunker», «indigência intelectual e o perfil ético de tantos "senadores" do PS», os «erros de governação do próprio PS», o «candidato eficaz … e governante medíocre».

Três afonsos para o excelentíssimo que só não leva cinco por que se atrasou mais de um ano.

Pode o benefício da dúvida evoluir para o prejuízo da certeza? (4)

[Continuação de (1), (2) e (3)]

Como se ficou a saber pelo Expresso o fim-de-semana passado, as águas do caso SLN-BP turvam-se cada vez mais e o papel de Cavaco Silva parece cada dia mais equívoco. Não se trata, pelo menos por agora, de ilegalidades e muito menos de crime. Trata-se de não saber o que pensar de um homem que, sendo o supremo magistrado na nação, como se dizia nos tempos do fascismo, ou o supremo tabelião do regime (*) como foi justamente apelidado um presidente que se encolhe nos momentos mais críticos, se pretende apresentar com uma imagem impoluta. Imagem sem aderência a uma personagem que já se sabia adquiriu acções a 1 euro e as vendeu a 2,4 euros um ano depois a um Oliveira Costa envolvido numa gigantesca fraude, a maior em quase um século. Acções que, sabe-se agora, Oliveira Costa tinha comprado a 2,1 euros e assim suportou (com que propósito?) um prejuízo de 275 mil euros para proporcionar a Cavaco Silva um ganho de 350 mil euros e outro tanto a sua filha?

É claro que podemos fintar a ética e dar explicações do tipo das que Sócrates deu no caso TVI («não tenho conhecimento formal»), mas nesse caso o que separaria Cavaco de Sócrates?

Que país é este com um presidente com a reputação assim manchada e um primeiro-ministro envolvido em mais trapalhadas e mentiras do que a totalidade dos primeiros-ministros, desde pelo menos a queda da 1.ª república? E, já agora, um país que tem um Duarte Lima, antigo presidente do grupo parlamentar de um dos dois partidos do poder, que aparece envolvido em trapalhadas que começam nos seus tempos de parlamentar com dezenas de contas bancárias por onde circularam milagrosamente milhões de contos, e continuam agora com estórias de morte no Brasil e, uma vez mais, sabe-se agora, envolvimentos no caso SLN-BPN - les bons esprits se rencontrent?

(*) Um belo achado que li algures e cujo autor, a quem presto as minhas homenagens, infelizmente não recordo.

18/04/2011

Como pode a cartilha esquerdista explicar estes fenómenos?

De acordo com a cartilha esquerdista, as agências de rating são, entre outras coisas, uma emanação do capitalismo neo-liberal cujo epicentro se situa em Wall Street. Quem diz Wall Street, diz Water Street, a apenas 3 km, onde fica a sede da Standard & Poor’s que acaba de baixar o outlook do rating AAA dos Estados Unidos.

17/04/2011

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Chegámos aqui um dia e um milhão de cada vez

Imagino ser muito traumático para os portugueses embriagados durante 6 anos pelo discurso encantatório do vendedor de automóveis, também conhecido como pastor da IURD, verem-se confrontados com a transição brusca do paraíso socrático para o inferno do mundo real.

Consigo, apesar de tudo, compreender que as legiões de portugueses afogados em dívidas para pagar a casinha, o chaço, o plasma e as merdas todas que a publicidade lhes diz que podem ter sem esforço, tentando acertar o fim do mês com o fim do ordenado, enfiados nos buracos negros informativos dos telejornais, desejosos do alívio das boas notícias, tenham sido vulneráveis à manipulação maciça da máquina mediática de Sócrates.

Não consigo, de jeito nenhum, compreender os pelotões de luminárias, intelectuais de trazer por casa, economistas mediáticos e de palestrantes em geral que durante esse mesmo período não perceberam perceberam bem demais o que se estava a passar e ficaram caladinhos a facturar as suas tenças. Ainda percebo menos os que fizeram isso e agora, mais ou menos disfarçadamente, consoante o seu talento de aldrabões, saltam em andamento do comboio e se preparam para apanhar o seguinte.

Perguntarão as legiões de afogados em dívidas, como chegámos aqui? A resposta é um milhão de cada vez. É parecida com a que costuma ser dada nos projectos que se atrasam anos (um dia de cada vez).

Secção Tiros nos pés
Cinco chateaubriands para os afogados em dívidas desejosos de boas notícias.

Secção Idiotas Inúteis
Cinco bourbons, cinco pilatos ou cinco ignóbeis para os pelotões de luminárias que não conseguem ser de outra maneira (a maioria), que perceberam e ficaram calados por cobardia ou por manha, respectivamente.

ESTADO DE SÍTIO: O FMI nosso amigo – meia dúzia de razões de alívio dos patriotas

Um sério indício de que o povo português é composto maioritariamente por idiotas é aceitação generalizada da demonização do FMI ensaiada por José Sócrates et pour cause. O caso dos jornalistas que propalam a tese socrática e o caso das luminárias, em especial as luminárias económicas, que a avalizam é diferente. A estes é-lhe aplicável o trilema de Žižek na variedade socialista.


  1. Pois não é verdade que o FMI já por cá andou 2 vezes em 1979 e 1983 a emprestar dinheiro e a endireitar (*) com sucesso as exauridas finanças públicas?
  2. Pois não é verdade que os nossos líderes políticos não têm tomates para tomar as medidas indispensáveis sem um diktat exterior?
  3. Pois não é verdade que o FMI irá acompanhar a execução orçamental e as nossas contas e limitará desse modo o risco dos nossos políticos aldrabões e dos nossos técnicos subservientes e sem ética profissional vigarizarem as contas?
  4. Pois não é verdade que o FMI, diferentemente dos nossos amigos da UE, declara pretender compatibilizar as medidas de consolidação orçamental com a necessidade de garantir o crescimento?
  5. Pois não é verdade que o FMI pretende dar-nos um período de carência de 5 anos precisamente nesse sentido?
  6. Pois não é verdade que o putativo demónio FMI nos quer emprestar dinheiro a uma taxa (3,25%) 35% a 45% mais baixa do que a taxa (5% a 6%) que os nossos amigos da UE nos querem aplicar?
Rapazes do FMI, sejam bem-vindos!

(*) Endireitar é algo que, por definição, não pode ser feito pela esquerdalhada, a não ser em estado de necessidade e, ainda assim, em outsourcing, como foi o caso de, com o país sem divisas, o Dr. Soares ter adjudicado a Ernani Lopes a pasta das Finanças para pôr de pé as medidas preconizadas pelo FMI.

16/04/2011

A caminho dos amanhãs que choram os pastorinhos abandonam o barco (5 Bis)

[Continuação de (1), (2), (3), (4) e (5)]

Não consigo deixar de me surpreender com as conversões nos últimos tempos. Uma das mais surpreendentes é a de Daniel Amaral. Como já aqui escrevi, só os burros não mudam, eu sei, mas serão precisos 4-anos-4 para perceber onde nos iria conduziria o governo de José Sócrates? Chamar agora «ilusionismo» aos seus golpes de teatro, a propósito das exportações, não será um pouco tarde? E desde quando o défice da balança corrente anda pelos 10% e é o mais alto da Zona Euro?

Há um mês e meio escrevi este post que, como se vê por este artigo do mesmo Daniel Amaral, continua actualíssimo. Como quase todas as conversões, também esta tem períodos de dúvida e fraqueza e o risco do convertdo cair em pecado outra vez. Lá vem o discurso de Bruxelas ter alegadamente alterado as regras a meio do jogo, quanto ao BPN e BPP e à inclusão das empresas de transporte no perímetro do orçamento, impedindo assim o governo de ajeitar o défice de 2009 e 2010. Acontece que as regras há vários anos estavam definidas e a única coisa que aconteceu a meio do jogo foi o governo ter que cumprir o que até agora fingia ignorar. Não há razões para o pastorinho Amaral irresponsabilizar o governo. Poderá haver razões para responsabilizar o Eurostat por ter andado a dormir na forma ou, pior ainda, ter andado a assobiar para o lado.

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (39) – o pior de tudo é ser verdade

Como se não fosse suficientemente mau para a gente honrada sobrevivente no PS, ler um editorial de jornal (José António Saraiva no SOL) baptizar de pastor da IURD o secretário-geral do seu partido e de encontro dessa seita o congresso do PS em Matosinhos, o pior de tudo é isso constituir uma imagem rigorosa do homem e do congresso.

Como foi possível a um partido tão cheio de tradições, com tantas luminárias e tantos egos sensíveis, tantos intelectuais orgânicos, tantos lutadores anti-fascistas, descer tão baixo? Será a sofreguidão do poder?

15/04/2011

De vitória em vitória até à derrota final

Silva Pereira, ministro-adjunto, felicitou-se com a redução da despesa pública no 1.º trimestre «como nunca aconteceu no Estado». Sabendo-se, como se sabe, o que têm dado estas auto-felicitações, quando os factos forem conhecidos, expurgados do nevoeiro contabilístico profusamente produzido pelo governo, será provavelmente mais uma realização «como nunca aconteceu» a juntar à dívida pública mais elevada nos últimos 160 anos, à dívida externa mais elevada dos últimos 120 anos, ao desemprego mais elevado dos últimos 80 anos e a segunda maior vaga de emigração desde meados do século XIX.

Post scriptum
Constato que a minha dúvida metódica está em boa companhia. Também Vítor Bento não acredita em milagres e João Duque diz que «essas despesas estão todas camufladas, são uma mentira».

14/04/2011

Um país de rabo entre as pernas

Ou pelo menos os líderes políticos deste país enfiaram definitivamente o rabo entre as pernas. Se bem percebo o que se passou, quer o governo quer o presidente da República foram mandados calar pelo comissário Olli Rehn. Um por não querer negociar com a oposição e outro por estar a pedir «imaginação às instituições europeias» para mandar a grana sem condições.

Isto é apenas o começo das humilhações. E não nos queixemos. Pusemo-nos a jeito e neste momento nenhum país nos respeita. Somos vistos como irresponsáveis e aldrabões inconfiáveis, que falam, falam, não resolvem nada e esperam ajudas e subsídios. É merecido? Podem tentar desculpar-nos com os políticos, mas quem escolheu os políticos que nos representam?

Com a nossa proverbial falta de virilina que nos leva a falar grosso para dentro e a ser atentos, veneradores e gratos para o exterior, não se admirem da Óropa nos vir a tornar num paradigma de país relapso e falhado e nos puna para servir de exemplo e de vacina.

Grau zero da insolvência

Se vendidas aos preços actuais de mercado as participações do Estado, incluindo a CGD, valeriam 12 mil milhões. A situação financeira actual do Estado é a de uma família que tem dívidas maiores do que o seu rendimento de dois anos e os bens de que pode dispor para vender não são suficientes para pagar as prestações dos próximos 6 meses.

O que têm o neo-liberalismo ou a crise mundial, ou as agências de rating, ou os especuladores, ou a Sr.ª Merkel ou a oposição ou a sofreguidão da oposição a ver com isto?

13/04/2011

NÓS VISTOS POR ELES: O nosso fa®do

«Novo governo em Portugal não fará grande diferença», Marcel Thieliant, economista do Credit Suisse.

Demissão de Sócrates «só adiou o inevitável» - Andrew Balls, analista da Pimco.

SERVIÇO PÚBLICO: A obra feita de José Sócrates

Quadro extraído de «O "orgulho" (!?) de Sócrates» de Miguel Frasquilho no Negócios online


Dívida pública 1850-2010 (Gráfico extraído do Quarta República)


Desemprego 1932-2011 (Gráfico extraído do Quarta República)

O radical chic não se entende

Perante o anúncio dos banqueiros do regime de que não comprariam mais dívida pública e o conselho de mandar vir o FMI, o deputado berloquista Pureza disse que é «um golpe de estado palaciano que pretende ditar, fora da democracia e contra ela, o destino do País no próximo futuro». A deputada socialista Ana Pasionaria Gomes, por seu turno, condenou-os por terem comprado dívida pública e assim «ajudarem a esmifrar o Estado e viverem à sua conta».

Sabendo-se que os bancos têm 40 mil milhões de dívida pública com um juro médio múltiplo do juro que pagam ao BCE nos empréstimos em que dão como colateral a dívida pública, se tivesse que escolher, escolhia a versão da pasionaria substituindo o Estado por contribuintes.

BREIQUINGUE NIUZ: A guerra dos economistas

A semana passada foram os economistas berloquistas que fizeram queixa das agências de rating ao PGR. Esta semana são economistas (e juristas) alemães que avançam com uma providência cautelar no tribunal Constitucional tentando impedir o resgate a Portugal.

As minhas simpatias vão mais para o lado dos economistas alemães, que estão a tentar que o dinheiro deles não seja mal gasto pelos portugueses, do que para o lado dos berloquistas que estão a tentar que as agências de rating abençoem a utilização do dinheiro alemão pelos portugueses.

12/04/2011

Lost in translation (98) – nós já sabíamos, mas é sempre reconfortante ter a confirmação

«Esperamos que os portugueses percebam que, se não virem a TVI, ficam mal informados», disse José Alberto de Carvalho o actual director de informação da TVI, acabado de chegar da RTP, reconhecendo ter andado vários anos a informar mal os portugueses como porta-voz da câmara de eco do governo.

Pro memoria (25) – o euro dos amanhãs que cantariam, segundo o ministro anexo

«...Sem moeda própria não voltaremos a ter problemas de balança de pagamentos iguais aos do passado. Não existe um problema monetário macroeconómico e não há que tomar medidas restritivas por causa da balança de pagamentos. Ninguém analisa a dimensão macro da balança externa do Mississipi ou de qualquer outra região de uma grande união monetária...», garantiu ufano Vítor Constâncio na tomada de posse como Governador do BdeP, em 23 de Fevereiro de 2000.

DIÁRIO DE BORDO: Um exercício de pactologia nacional – ainda o equívoco da crise mundial

aqui tinha escrito sobre o equívoco do chamado Compromisso Nacional acerca do papel da crise mundial nas nossas desgraças, que vieram para ficar, quando se assiste à China, à Índia e ao Brasil a crescerem a dois dígitos ou quase, a África a 4 ou 5%, os Estados Unidos a 3%, a maior parte da Europa ao redor dos 2%, a OCDE a 2,9% e a economia mundial a crescer 4,5%, segundo a estimativa do FMI.

Agora ficámos a saber que o mesmo FMI, prestes a emprestar-nos uns dinheiros para nos conseguirmos arrastar nos próximos anos, também prevê que Portugal será o único país do mundo em recessão em 2012. Continuar a tese da crise mundial é um exercício de ignorância ou de má fé, além evidentemente de um exercício perigoso pela irresponsabilização implícita da clique socrática, por esconder num nevoeiro analítico a génese da nossa crise e por induzir medicinas erradas – as mesmas de sempre que nos trouxeram até aqui.

SERVIÇO PÚBLICO: A mentira sem fronteiras



Prime minister, did you lie to me?

I feel cheated. Big time. And by the leader of a Western European nation no less!
A few months ago, Jose Socrates, the prime minister of Portugal, was in Doha and made an appearance on Al Jazeera's business programme Counting the Cost, which is fronted by yours truly.
Obviously I wanted to talk about Portugal's precarious debt situation, and all the talk from markets and analysts that the country's visit to the EU and IMF for a financial bailout was a foregone conclusion.
There's a link to that specific programme and interview here.
Watch it, if you've got 10-15 minutes spare, and tell me if you think Mr Socrates was being genuine when he told me "we don't need any kind of help but confidence". And when he assured me that a financial bailout wouldn't be necessary.
Because two weeks ago he was forced out as prime minister. Predictably so, I have to say, because garnering support for more austerity measures was always going to be politically difficult.
But now, in what's amounting to a parting shot, he's ended up going to the EU and IMF for the very bailout which he told me he didn't need!
Now I'm trying to figure out, Mr Socrates... (if you're reading this)... did you lie to me, or did you just not know how bad the situation really was?
Did you deceive, or were you delusional? Or were you just putting a brave face for the TV cameras?
See, now I'm confused as well as feeling cheated! Argh!!
Okay, I'll dispense with the personal dramatics now and get to the point.
Europe is still in bad economic shape. No one can deny that. So would a leader like Mr Socrates have been better served coming clean earlier?
Perhaps he didn't have to fully admit during that interview back in January that Portugal would definitely need a bailout... but maybe he could have acknowledged the market's concerns, and conceded that he would in fact go to the EU and IMF if the situation warranted, and if it was in Portugal's best interests.
Wouldn't the market and analysts and investors have liked that better?
Yes there'd have been some immediate bad press, but in the long run I wonder if it would have served people better?
And by people, I mean politicians AND the public.
It is the eternal conundrum of business and economics. Say nothing, and risk the destructive power of rumour. Tell all, and risk people not liking the truth of the situation.
But if there's even a chance of that 'awful truth' emerging later on down the road, isn't it better throwing up a few signposts ahead of time, so it's not such a shock when it does happen?
I'm not a politician or an economist. I'm a journalist who observes and questions such people and their actions.
I can't put myself in Mr Socrates' shoes - leading a country and having to make decisions which affect so many millions of people.
Frankly I think it takes an extraordinary type of person to even want to do that.
But while I'm pretty confident he did what he thought was best for Portugal at the time, and in going to the EU and IMF now is doing the very same... I also wonder if Mr Socrates himself were to watch that interview again, would he still think he said the right thing on that January afternoon in Doha?


Kamahl Santamaria, apresentador da Aljazeera que entrevistou José Sócrates em Janeiro deste ano [enviado por AB]

11/04/2011

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (38) – silêncio apenas brevemente interrompido por sussurros quase inaudíveis

«Estes seis anos de governação não foram perfeitos (e os eleitores farão o seu julgamento), mas o estado a que chegámos tem uma explicação mais longa no tempo e não se resolve apenas com mais austeridade. Sem demagogia, considero que um futuro mais digno exige políticos que sirvam o País. Pode parecer irrealista mas não tenham dúvidas que pode ser possível, um dia
[Manuel Arcanjo, no Negócios online]

À atenção dos senhores dos compromissos: tomem nota deste nome, porque não há muitos mais com quem se possa fazer um princípio de conversa.

O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: O estado simplex

10/04/2011

DIÁRIO DE BORDO: Um exercício de pactologia nacional

Ao ler o texto do Compromisso Nacional (com maiúsculas para acentuar a transcendência da iniciativa) assinado por 47 personalidades, a memória faiscou-me e recordei o inefável professor Carrilho e o neologismo que há uns anos inventou, por mim diligentemente preservado no Glossário das Impertinências:

Pactologia
«Recurso à conversa dos consensos para ocultar a incapacidade de se assumirem posições difíceis, em nome das quais, justamente, se foi eleito».

O professor Carrilho não se deu ao trabalho de definir «consenso» e deixou-me o encargo de o fazer também no Glossário:

Consenso
Um acordo virtual, sobre matérias que não se sabe exactamente quais são, mas sobre as quais se suspeita existirem opiniões muito diferentes, que nenhuma das partes está muito interessada em conhecer. Durante o processo de procura do consenso todos se sentem obrigados a fingir boa vontade para chegar a resultados práticos que, em definitivo, ninguém quer chegar. Há dois desfechos possíveis para o consenso: o positivo e o negativo (em rigor equivalem-se nos efeitos finais). No consenso positivo concorda-se com «grandes princípios», o que entre gente sem princípios não significa o que significa. No consenso negativo concorda-se que não se concorda, por a outra parte estar de má fé como se demonstrou durante o processo negocial (quem está de má fé é afinal o único ponto insusceptível de consenso).

Esclarecidas estas questões metodológicas, constato que o amplo consenso conseguido no Compromisso Nacional é, como não podia deixar de ser, baseado em equívocos, o menor dos quais não é o de esperar que o próximo governo seja «suportado por uma maioria inequívoca».

Os equívocos começam no diagnóstico onde predomina a tese oficial da esquerdalhada, agora convertida em tese de bloco central, de que na génese da crise portuguesa está a crise financeira e económica mundial cuja origem foi nos Estados Unidos (where else?). O facto da China, a Índia e o Brasil crescerem a dois dígitos ou quase, a África a 4 ou 5%, os Estados Unidos a 3%, a maior parte da Europa ao redor dos 2%, a OCDE a 2,9% e a economia mundial a crescer entre 3 e 4% 4,5% segundo a estimativa do FMI, não parece abalar o diagnóstico do compromisso. Só faltou dizer que a crise se deveu à ganância do capitalismo neo-liberal. Por cá teríamos talvez uns problemazitos, coisa de pouca monta, e por fatalidade, pelo fado ou pelo destino somos «mais vulneráveis».

Para usar a síntese de Carlos Abreu Amorim, «hoje, a nossa média do crescimento económico é a pior dos últimos 90 anos. Temos a maior dívida pública dos últimos 160 anos e a dívida externa mais alta dos últimos 120. O desemprego é o mais elevado dos últimos 80 anos e conhecemos a segunda maior vaga de emigração desde meados do século XIX». Como e porquê chegámos aqui? Não há responsáveis por isto? Somos todos responsáveis? [vou escrever sobre a minha responsabilidade, um dia destes]

Dirão os «pragmáticos», os diagnósticos não interessam. O que interessa são as medidas. Ah é? E as medidas não são soluções para os problemas que os diagnósticos pretendem identificar? E como se consegue o milagre de chegar a acordo quanto às soluções quando não há acordo sobre os problemas? Concretizando, se a nossa crise resulta da crise financeira criada pela ganância do capitalismo neo-liberal americano, só temos que esperar que o camarada Obama trate do assunto. Nós por cá todos bem. Vamos continuar a insuflar a ficção do Estado Sucial, a engordar o «monstro» do doutor Cavaco, a alimentar as corporações que o habitam e a abençoar a promiscuidade entre este Estado e o empresariado do regime.

Os equívocos continuam na medicina dos compromissos. Compromisso entre o presidente, o governo e os principais partidos para mais um PEC - o PEC 4.1, uma versão melhorada do rejeitado pelo parlamento que agora aprovará o que antes rejeitou. Compromisso entre os principais partidos, com a bênção presidencial, para assegurar o suporte por uma «maioria inequívoca».

Além de equívocos potencialmente nocivos, como todos os equívocos o são, estes compromissos são inúteis porque em matéria de medidas de curto prazo, isto é em matéria de PEC, o que se fará é o que o eixo Paris-Bruxelas-Frankfurt-Berlim mandar que seja feito. A curto prazo, qualquer governo fará o papel de gestão do protectorado portucalense. A diferença são as reformas a médio e longo prazo que o país precisa para sair do buraco onde o conduziu a presença asfixiante do Estado omnipresente. E nesta matéria não há compromissos – haverá alternativas, se as houver, o que também não é certo se o PSD continuar a ser um PS com outra gente e os mesmos hábitos.

09/04/2011

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Simplesmente governador. Não é ministro e muito menos anexo

Secção Res ipsa loquitur

Tiremos o chapéu ao governador do BdeP por, perante a ameaça de submersão da banca pelos 40 mil milhões de euros de dívida pública, ter dado corda aos sapatos e tomado uma atitude firme perante os bancos, o governo e o presidente, levando a fechar a torneira que vinha alimentando o financiamento do estado falido e empurrando a declaração de falência para a frente.

Cinco afonsos (inclui estes dois de reserva) pela firmeza de Carlos Costa, que assim envergonhou, mais uma vez, o ex-ministro anexo Constâncio.

As agências de rating são como os alcatruzes – umas vezes para cima, outras vezes para baixo

Quatro economistas ligados ao ao berloquismo, tele-evangelismo e causas fracturantes vão apresentar uma denúncia ao PGR contra a Moody’s, a Fitch e a Standard & Poor’s por «violações ao dever de apresentação objectiva e imparcial de recomendações de investimento a que estão obrigadas» as quais, segundo eles, configuram «comportamentos presumivelmente criminais» criando «um conflito de interesses na actividade destas agências de notação financeira, em particular quando baixam os ratings a estes países [Portugal, Espanha, Grécia ou Irlanda, entre outros], fazendo aumentar os juros das suas dívidas e influenciando a evolução de um mercado em que actuam os fundos financeiros que são seus proprietários».

Se eu investisse em dívida pública portuguesa, adicionaria outra denúncia: a da manutenção do rating da dívida portuguesa, fazendo diminuir os juros numa altura em que aqui no (Im)pertinências já era evidente o nível de junk. Para citar um único exemplo, a Standard & Poor’s só em Abril do ano passado baixou o rating de longo prazo da dívida portuguesa de A+ para A-, numa altura em que a Grécia já era BBB+, o que constitui uma clara violação «ao dever de apresentação objectiva e imparcial de recomendações de investimento a que estão obrigadas».

08/04/2011

BREIQUINGUE NIUZ: Espera-se a todo o momento o anúncio da rodagem do docudrama «Realengo, uma Columbine tropical» dirigido por Michael Moore

«Um homem armado invadiu uma escola da zona de Realengo, no Rio de Janeiro, disparando indiscriminadamente, sendo relatadas as mortes de 13 pessoas, 12 delas crianças

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: A batota como política orçamental oficial

Montagem da Infografia do Negócios online

Pro memoria (24) - José Sócrates, de animal feroz a pedinte, em apenas 18 dias

  • 19-03-2011 «Eu não estou disponível, da minha parte, para governar com o FMI»
  • 04-04-2011 «Entre nós e o FMI há 10 milhões de portugueses»
  • 06-04-2011 «O Governo decidiu dirigir à Comissão Europeia um pedido de financiamento»
Lembrete aos distraídos: o «pedido de financiamento» à CE vai ser atendido pelo FEEF o qual, como se sabe, só fará um empréstimo em conjunto e sob as condições acordadas com o FMI.

07/04/2011

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: É também uma questão de incompetência (2)

Como se pode ver no gráfico, a concentração da dívida a vencer a curto prazo é tão grande que conseguir a sua renovação nas condições actuais exigiria um custo tão elevado que engoliria a poupança, aniquilaria o investimento e liquidaria a economia. Ou então nos obrigará a um bailout do FEEF-FMI (já se viu que a FMI virá sempre no pacote – felizmente), a uma reestruturação da dívida com reescalonamento e muito provavelmente a um haircut e à renegociação dos juros, como aqui no (Im)pertinências se vem prescrevendo há muitos meses.

O parágrafo anterior foi escrito há duas semanas e também se aplica, palavra por palavra, ao gráfico do WSJ aqui ao lado.

Ó Luís vê lá na … se … como é que fico … vou olhar prós …


Se o homem convertesse um módico das suas competências mediáticas e manipuladoras em competências de governação e perseguisse o interesse do país e não o da sua clique, outro galo cantaria e não estaríamos onde nos conduziu.

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (37) – ainda haverá gente honrada no PS?

«O socialista Narciso Miranda defendeu hoje que o Governo caiu porque José Sócrates quis, considerando que foi um "golpe de mestre"» e considera Sócrates «parte do problema e não de qualquer solução». Ainda haverá gente honrada no PS? A pergunta é (im)pertinente porque, salvo erro, a nomenclatura socialista não parece considerar um paradigma de honradez Narciso Miranda, um dos raríssimos socialistas a expressar opiniões heréticas.

Conversa fiada (4) – aldrabice até ao fim

«O factor fundamental que levou a que o Governo solicitasse esta ajuda foram as dificuldades financeiras do sector financeiro, nomeadamente quanto ao risco de falta de liquidez e de levantamento de depósitos, e não tanto por dificuldades de financiamento do Estado», disse uma «fonte governamental» à agência pública Lusa central de manipulação da clique socrática.

BREIQUINGUE NIUZ: Seis em cada dez portugueses têm aquilo que merecem

Segundo a sondagem da Católica:
  • 57% dos portugueses não consideram o governo socialista responsável pela bancarrota do Estado;
  • 61% não perceberam ainda que chegámos ao fim da linha e o bailout é indispensável.

Os amigos hermanos são para as ocasiões

Elena Salgado, a ministra espanhola da Economia diz que «não há risco de contágio e que a economia espanhola é “mais competitiva” e tem um “maior potencial” do que a economia portuguesa».

A memória dos banqueiros é mais curta do que a dos povos


Fernando Ulrich (BPI)
29 Outubro – “Entrada do FMI em Portugal representa perda de credibilidade”
26 Janeiro – “Portugal não precisa do FMI”
31 Março – “por que é que Portugal não recorreu há mais tempo ao FMI”

Santos Ferreira (BCP)
12 Janeiro – “Portugal deve evitar o FMI”
2 Fevereiro – “Portugal deve fazer tudo para evitar recorrer ao FMI” 4
 Abril – “Ajuda externa é urgente e deve pedir-se já”

Ricardo Salgado (BES)
25 Janeiro – “não recomendo o FMI para Portugal”
29 Março – “Portugal pode evitar o FMI”
5 Abril – “é urgente pedir apoio .. já”

[Do Cachimbo de Magritte - cheguei lá pelo Insurgente]

06/04/2011

BREIQUINGUE NIUZ: Já por lá passámos a correr há um mês e meio

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (50) – read my lips or see my leaps?

Como que a dar razão ao WSJ, quando escreveu «no one has done more to revive the reputation of Bush-era antiterror policies than the Obama Administration», vários anos depois de ter anunciado o encerramento de Guantanamo e de ter prometido julgar os detidos em tribunais civis, o presidente Obama decidiu que Khalid Sheikh Mohammed e outros acusados terão um julgamento militar em Guantanamo. Com dois anos e meio de atraso e depois de muita demagogia o obamismo converte-se ao bushismo.

Felizmente vamos ter a oportunidade em breve de agradecer ao senhor engenheiro o que tem feito por nós

«Hoje, a nossa média do crescimento económico é a pior dos últimos 90 anos. Temos a maior dívida pública dos últimos 160 anos e a dívida externa mais alta dos últimos 120. O desemprego é o mais elevado dos últimos 80 anos e conhecemos a segunda maior vaga de emigração desde meados do século XIX.» (Carlos Abreu Amorim no JN)

05/04/2011

Chamem os bombeiros. A casa está a arder

Segundo Pedro Santos Guerreiro do Jornal de Negócios, houve ontem uma reunião secreta no BdeP dos presidentes dos maiores bancos, presume-se que sejam Caixa, BES, BCP, BPI e Santander. Nessa reunião os presidentes informaram que não comprarão mais dívida pública. Uma pergunta e uma dúvida. Pergunta: se a reunião foi secreta como ficou o JN a conhecer o que lá foi dito? Dúvida: se o que lá foi dito é mesmo o que disserem que foi, onde irão os bancos buscar as belas margens (entre 3% e 5% conforme os prazos) que estavam a obter entre as taxas dos leilões e as taxas do BCE?

CASE STUDY: O que esperar do Mecanismo Europeu de Estabilidade?

Um dos propósitos das manobras dilatórias de José Sócrates era arrastar-se sem bailout até ao Conselho Europeu de 25 de Março onde supostamente seria criado (e foi) o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE). O MEE, esperava ele, viria a comprar abundantemente dívida pública no mercado primário a taxas de juros para amigos em troca das suas promessas envelopadas em PECs.

Erro dele, má fortuna. O MEE só funcionará a partir de 2013, em qualquer caso muito para além do adiamento possível da insolvência portuguesa, e, pior do que tudo, os empréstimos do MEE terão preferência no reembolso e obrigarão os Estados devedores a incluir nas novas emissões de dívida a colocar nos mercados uma cláusula que obrigará os investidores a participarem na eventual reestruturação da dívida incluindo haircut, perdão e/ou redução de juros, e o mais que for necessário. Imagine-se a que preços irão ser colocadas estas emissões e que yield irão ter.

Além disso, o acesso ao MEE terá como condição a adopção de programas de consolidação orçamental que farão inveja ao FMI.

Pior a emenda do que o soneto.