O meu propósito não é encontrar o "verdadeiro" valor da taxa de letalidade, algo que não existe visto que depende de inúmeros factores e varia no tempo. O meu propósito é simplesmente questionar a opinião, dominante nos mídia e geralmente aceite pela opinião pública, de que esta pandemia é tão letal que justificaria destruir a economia para salvar milhões de vidas supostamente em risco. E questionar essa opinião dominante tentando mostrar como ela é fundada em interpretações erradas de factos verdadeiros, na melhor hipótese, ou baseada em dados incompletos ou mesmo falsificados, na pior hipótese.
Não vou especular sobre teorias da conspiração, como por exemplo, de que existe uma intenção consciente de empolar a letalidade para justificar uma interferência do Estado, sempre acolhida com alegria por quase todas as esquerdas (e por várias direitas). Não sei se existe, mas o que existe certamente é, por um lado, a tendência humana para procurar factos que confirmem os seus pré-conceitos (sim, não estou imunizado contra este vírus, tomo medicação...) e por outro a tendência para a conformidade que leva um grande número de pessoas a partilhar as ideias que julgam ser da maioria do grupo onde se integram, tendências exacerbadas pelo pânico alimentado pelos mídias a quem objectivamente convém.
Num post anterior lembrei a distinção entre taxa ou coeficiente de letalidade, que relaciona o número de óbitos com o número de infectados, e a taxa de mortalidade que relaciona o número de óbitos causados por uma epidemia com a população, num caso e noutro com referência a uma determinada área (mundo, pais, região, cidade, etc.). O post seguinte focou-se na dificuldade de estimar taxa de letalidade da pandemia devido às causas de mortes incluírem por e com Covid-19 e, principalmente, porque o número de testes é ainda muito reduzido, só são identificados uma parte dos infectados e, devido à grande transmissibilidade do vírus, o número real de infectados é muito maior.
Ainda no post seguinte, citei uma dezena de estimativas que sugerem isso mesmo. Vou acrescentar mais algumas estimativas provenientes de fontes que considerei credíveis com a informação de que dispunha. Em todos os casos trata-se de factos verificados ou, excepcionalmente, de opiniões razoavelmente suportadas em factos.
- 06-03 - Teste em mais de 100 mil pessoa na Coreia do Sul, mostraram que uma letalidade cerca de 0,6% (fonte)
- 19-03 - Estimating clinical severity of COVID-19 from the transmission dynamics in Wuhan, China, letalidade de 1,4%
- 08-04 Testes pelo Rigshospitalet na Dinamarca permitiram estimar a letalidade em 0,16%
- 10-04 - O distrito de Heinsberg na Renânia Norte-Vestfália, apresentava uma letalidade de 0,37%
- Actual - A Islândia apresentava hoje uma letalidade de 0,56% (fonte)
Como referi num post anterior, as taxas de letalidade (geralmente com a designação errada de taxa de mortalidade) citadas nos mídia portugueses são várias vezes maiores. Nalguns casos é citada a OMS (a agência das Nações Unidas que deu cobertura à dilação do atraso da comunicação da pandemia na China e à falsificação de dados) que garantiu que esta pandemia é dez vezes mais mortal que o vírus da gripe de 2009, o que equivale a dizer que fará mais de dois milhões de mortos.
O que explica estas discrepâncias? Aparte os casos de falsificação pura e dura, as sobrestimativas da letalidade resultam muito mais da subestimação do número de infectados, ou seja do denominador da taxa de letalidade, do que do número de óbitos no numerador, apesar deste também estar inflacionado pela consideração de todas mortes de pessoas infectadas e apenas aquelas causadas pelo vírus.
Por isso, penso que vale a pena analisar alguns factos e estimativas que comprovam a subestimação do número de infectados, o que farei num post seguinte.
(Continua)
1 comentário:
Qualquer que seja a taxa de letalidade do COVID, vai ser com certeza muito inferior aos efeitos colaterais das medidas tomadas pelos governos para combater a pandemia.
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