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12/12/2019

A notícia de que a desigualdade está a aumentar muito é um pouco exagerada

A semana passada o outro contribuinte citou no post «E se a desigualdade resultar mais da diferença nos rendimentos do "trabalho" do que da diferença entre "ricos" e "pobres"» o artigo «Capital, Trabalho e Desigualdade» de Luís Cabral publicado no dia 30 do mês passado, que questionava o mantra da desigualdade crescente.

Por coincidência, a Economist dedicou o número da semana 30-11 a 6-12 ao tema «Inequality illusions» e incluiu nesse número o artigo «Inequality could be lower than you think», cuja versão abreviada pode ser lida aqui. Baseado e citando dados de vários estudos recentes, o artigo punha seriamente em dúvida esse mantra, e concluía:

«O facto de reivindicações duvidosas serem feitas sobre a desigualdade não reduz a urgência de combater a injustiça económica. Mas exige garantir que as suposições nas quais as políticas se baseiam sejam precisas. Aqueles, como o Partido Trabalhista da Grã-Bretanha, que são a favor da redistribuição radical do rendimento e da riqueza, devem ter certeza de que a desigualdade é tão alta quanto eles pensam - especialmente quando suas políticas trazem custos indirectos, como dissuasão de riscos e investimentos. Segundo uma estimativa, o imposto sobre a riqueza de Warren deixaria a economia americana 2% menor depois de uma década.

Até que esses debates sejam resolvidos, seria melhor para os formuladores de políticas pisarem um terreno mais sólido. Os mercados imobiliários do mundo rico estão a privar jovens trabalhadores de dinheiro e oportunidades; é necessária mais construção nos locais que oferecem empregos atractivos. A economia americana precisa de uma revolução na aplicação da lei antitrust para revigorar a concorrência. E, independentemente das tendências da desigualdade, muitos trabalhadores de alto rendimento, incluindo médicos, advogados e banqueiros, são protegidos da concorrência por regulamentação e licenciamento desnecessários, além de restrições sem sentido à imigração altamente qualificada, que devem ser afrouxadas.

Essa agenda exigiria que os governos combatessem os NIMBYS (Not In My Back Yard) e os lóbis corporativos. Mas reduziria a desigualdade e impulsionaria o crescimento. E os seus benefícios não dependem de um conjunto de crenças sobre rendimento e riqueza que podem vir a mostrar-se erradas»

Os problemas são vários: (1) do lado da oferta de opiniões muitos dos profissionais praticam a ciência de causas; (2) do lado da procura é muito mais fácil ter crenças do que torrar a mioleira a analisar os factos e a estudar os assuntos, e (3) a humana tendência para desprezar os factos que não confirmam as crenças.

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