Era uma vez um Centeno
Pelo menos desde a posse do governo, a queda no estrelato socialista do Ronaldo das Finanças era já visível para os observadores mais atentos. Agora é visível para quase toda a gente que não é cega,
Quando se for embora para o aconchego do BdP, Centeno levará consigo as cativações e as culpas da paralisia do Estado Sucial e o PS renascerá purificado pronto para a distribuição do maná orçamental.
Boa Nova
«Portugal quer investir €2500 milhões na indústria espacial até 2030», anunciou o semanário de reverência, sendo metade financiada pela Agência Espacial Europeia e um quarto pelos "privados" (o que no patuá socialista significa a parte produtiva do país). Interrogou-se o Impertinente, e eu com ele, pois se nem um aparelho de raio X a cair de podre substituem, vão mandar para o espaço um quarto do orçamento anual do SNS?
“Em defesa do SNS, sempre”
E a propósito do quarto do orçamento do SNS a enviar para o espaço, quanta baba de indignação teriam os geringonços vertido se durante o anterior governo as mortes por complicações a gravidez duplicassem de um ano para outro? Ou se não houvesse cirurgiões nas urgências do Hospital de Faro. Muita, certamente.
E o que dizer das conclusões do relatório «O Estado da Saúde da UE» da Comissão Europeia que vem fazer luz sobre a mitologia do SNS que a esquerdalhada vem alimentando desde a sua criação? A despesa pública na saúde é em Portugal dois terços da média da UE e continua a descer. A percentagem das despesas com saúde directamente pagas pelos utentes em Portugal é 27,5% contra 15,8% na UE. Em 2017 não tinham médico de família 600 mil portugueses.
O choque da realidade com a Boa Nova
Na crónica anterior referi a campanha de João Galamba, secretário de Estado da Energia, para lavar a sua imagem borrada pelo medo do povo de Boticas e suja pelas suspeitas de envolvimento nos negócios do lítio - «o lítio de Galamba é o Freeport de Sócrates». Como parte da campanha anunciou urbi et orbi uma «mega fábrica de hidrogénio em Sines». Só foram precisos seis dias para a Holanda vir esclarecer que «ainda é cedo» para falar disso.
Na mesma crónica referi também outra Boa Nova do Ronaldo das Finanças que prometeu «reforço de investimento em 2020 seis vezes maior do que em toda a legislatura». Segundo o Expresso, que, como já escrevi inúmeras vezes, é uma fonte credível quando refere factos que o governo do Dr. Costa não aprecia, o investimento público per capita no próximo ano no Portugal Socialista será o quarto mais baixo, atrás de 25 países capitalistas - v. quadro abaixo. E, pior do que isso, o investimento público anual médio do Dr. Costa e do Ronaldo das Finanças é inferior ao realizado pelo governo "neoliberal" durante o resgate pela troika (convocada pelo Dr. Teixeira dos Santos em nome do seu chefe Eng. Sócrates). Do ponto de vista do caminho para o socialismo, pior é difícil.
Expresso |
Como se fosse mais um coelho tirado da sua cartola, o Dr. Costa quer pôr os "privados" a contribuir para as suas campanhas. Primeiro, quer que as empresas aumentem os salários em 2020 em 2,7%, como referência. E porquê? Porque, explica, «o que desejamos é que os salários em Portugal possam crescer acima daquilo que é a soma da inflação e da produtividade». Ora, como a inflação este ano andará pelos 0,4% e no próximo está previsto 1,6% , e como a produtividade (ou "protividade" como pronuncia o Dr. Costa) por pessoa em Portugal diminuiu de €33.100 em 2012 para € 33.000 em 2017, e em percentagem da média EU28 diminuiu de 64% para 61%, os 2,7% de aumento é o milagre socialista do Dr. Costa à custa da economia produtiva.
Se isso fosse tudo, já era muito, mas foi mais além, enquanto espera que os "privados" aumentem 2,7%, o governo pretende aumentar os funcionários públicos, a sua freguesia eleitoral, baseado na inflação de 2019 (0,4%) em vez da prevista para 2020 (1,6%).
Mas ainda há mais, o Dr. Costa também quer que os "privados" aumentem mais os jovens licenciados porque a diferença salarial entre eles e os trabalhadores com o ensino secundário tem vindo a diminuir, o que só um socialista não percebe porque é simplesmente o resultado de haver cada vez mais licenciados e, vivendo as universidades portuguesas em Marte, as qualificações desses licenciados não estão em linha com as necessidades dos "privados" (ou seja o país no patuá socialista).
Não admira, pois, que os "privados" se preparem para esmolar ao Dr. Costa a compensação por estas medidas vinda do orçamento, ou seja do bolso dos contribuintes.
Aumentando a freguesia eleitoral...
Mesmo que não lhes aumente o salário, o governo continua a aumentar o número de funcionários. Nos últimos 12 meses terminados em Setembro o emprego público aumentou em 18 mil (2,8%) para quase 690 mil.
... e os lugares para os boys
É disso que se trata quando o Dr. Costa pretende enfiar pela porta do cavalo a regionalização rejeitada em referendo em 1998, criando uma camada suplementar de apparatchiks entre o governo central e as autarquias a brincarem aos governos regionais no Portugal dos Pequeninos que em população equivale a uma grande cidade internacional e em área equivale à comunidade autónoma da Andaluzia.
Para os amigos tudo, para os inimigos nada, para os outros cumpra-se a lei
O ministro da Administração Interna e amigo do Dr. Costa mandou arquivar pelo SEF um processo de inquérito que sobre «suspeitas de corrupção e autorizações de residência ilegais para milhares de imigrantes». Ele explicou no parlamento que foi «por razões de legalidade e oportunidade». Só pode ter sido uma piada porque, de acordo com a doutrina em epígrafe, isso só seria aplicável aos «outros».
As dívidas não são para se pagar, foi isto que ele aprendeu
O princípio em epígrafe foi enunciado pelo Sr. Eng. José Sócrates numa conferência em Sciences Po no âmbito de um mestrado que lhe arranjaram durante a sua estadia em Paris, descansando da obra de cinco anos que deixou em Portugal entregue à troika e ao governo "neoliberal". Talvez porque os dois governos do Dr. Costa estejam guarnecidos com a tralha do Sr. Eng., a verdade é que este princípio de que as dívidas não são para se pagar continua a ser praticado. Este ano já foram realizadas cinco trocas de dívida totalizando 4,3 mil milhões de euros por prazos mais longos.
Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos
No terceiro trimestre o «consumo salva economia da estagnação» escreveu um jornal. Traduzido do jornalês isso quer dizer que a economia só cresceu 0,3% em relação ao trimestre anterior e a formação bruta de capital fixo caiu e espetou mais uns pregos no caixão do crescimento futuro. O consumo continua de boa saúde com 32 mil milhões de euros no terceiro trimestre e, segundo a tradição, continuará a prosperar no quarto com Fridays de todas as cores e o Natal.
1 comentário:
Excelente resumo da nossa miserável situação. Os sinais estão bem visíveis, porque seria diferente desta vez. A bancarrota será uma surpresa? Não, tudo previsível.
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