Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

31/01/2017

Que alívio! A culpa da derrapagem nas contas públicas também não é do Benfica...

A boa nova
«A culpa da derrapagem nas contas e na violação sistemática das regras orçamentais por vários países da zona euro é dos políticos. São os governos que não cumprem os planos que traçaram e acabam por ter défices e dívidas acima do previsto. Dito assim, não é um resultado que surpreenda muito quem tem acompanhado o debate sobre a austeridade dos últimos anos. Mas surge agora, pela primeira vez, quantificado no estudo “Fiscal Politics in the Euro Area”, publicado esta segunda-feira pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, da autoria de Vítor Gaspar, Luc Eyraud e Tigran Poghosyan.»

Foi assim que o Expresso, com coragem e desassombro, sintetizou o citado estudo do citado trio de luminárias que, com coragem e desassombro, esclareceu finalmente o mistério da culpa dos défices das contas públicas que afinal não é das agências de rating, nem da economia de casino, nem de Dona Merkel (desta já se sabia pelo menos desde as suas declarações sobre os refugiados), nem mesmo do Benfica (hipótese que os lagartos sopraram para os ouvidos dos mídia quando começaram a perder).

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: Crédito malparado e dívida pública - uma função zingarilho recursiva


O mito de Sísifo que a Economist evoca a respeito de Chipre não é de todo aplicável a Portugal que nunca tentou seriamente resolver o pedregulho do crédito malparado que não fez outra coisa se não aumentar. Para termos uma ideia do que vale o malparado estimado pela EBA em quase 20% do PIB, convém saber que foi apresentada uma proposta ao governo e ao BdeP para comprar o malparado por 8% do PIB.

Variação das fontes de financiamento (Expresso)

Se a isso juntarmos o crescente financiamento da dívida pública pelos bancos, temos criadas as condições para aumentar a propagação dos problemas da dívida pública aos bancos e dos problemas dos bancos à dívida pública. É uma espécie de função zingarilho recursiva: quanto mais o Estado se endivida mais os bancos se entropiam; quanto mais os bancos se entropiam mas o Estado se endivida.

30/01/2017

DIÁRIO DE BORDO: A souplesse vence a potência

Os 30 são os novos 20

Federer vs Nadal na final do Open da Austrália 2017

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (68)

Outras avarias da geringonça.

Começo pela paródia da redução da TSU em que Costa esperava que Passos Coelho e Cristas fizessem os papéis de Jerónimo e Catarina na peça por ele montada e em exibição em todos os teatros nacionais desde a estreia em 26-11-2016.

E ainda a propósito da redução da TSU, rejeitada pelo PCP e as suas sucursais, Arménio Carlos, o ministro do Trabalho da geringonça, deixou em nome da CGTP sérios avisos: «se permanecer nesta perspectiva, naturalmente que isto terá consequências do ponto de vista da contestação popular».


29/01/2017

COMO VÃO DESCALÇAR A BOTA? (7) - Apenas um chinelo de quarto, por agora (II)

Outras botas para descalçar.

«Alguns comentadores falaram muito sobre o problema da emissão a 4,2%, mas na mesma sessão, logo a seguir, desceu para abaixo de 4% a taxa de juro. E nas sessões seguintes esteve abaixo de 4%, o que significa portanto que não consolidou a tendência que se dizia que era preocupante» disse na semana passada o presidente dos Afectos e suplente a primeiro-ministro e a ministro das Finanças.


Bloomberg

Depois de ter descido para abaixo, o presidente dos Afectos e comentador residente em Belém não reparou que poucos dias depois o yield das OT a 10 anos subiu para cima.

Um dia como os outros na vida do estado sucial (30) - Conflito de interesses

Paulo Macedo, o novo presidente da Caixa, onde terá um salário de mais de 400 mil euros por ano acrescido de eventuais bónus, pediu ao BCE para manter a sua posição no Millenium BCP, a cujos quadros pertence há mais de 23 anos, argumentando que isso não representaria um conflito de interesses à luz da lei. É claro que o BCE, para quem conflitos de interesses tem outro significado, não foi na conversa e Paulo Macedo vai ter de terminar a relação contratual com o Millenium BCP.

Não vou fulanizar a questão e concluir que Paulo Macedo, um profissional competente, de repente se converteu num chico-esperto e aproveitador. Nada disso. Possivelmente Paulo Macedo, como português genuíno e pouco «estrangeirado», viu a manutenção dessa relação contratual, desse «vínculo», como no luso-juridiquês se diz (e quer dizer imenso, só por si), como algo não só legal mas eticamente aceitável neste país.

E é no eticamente aceitável que está o busílis. Porque se, para uma criatura com o status de Paulo Macedo, não há conflito de interesses nessa acumulação, para o português comum conflito de interesses será uma figura de retórica sem aplicação prática numa lusofonia onde só há conflito de interesses num caso de polícia.

28/01/2017

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: O presidente vai nu (4)

Outros nus do presidente.

Prossegue esta série de posts com mais manifestações de desencanto, falta de encanto, preocupação, cansaço, saturação ou mesmo agonia, pelas agitações espasmódicas do presidente Marcelo.

Desta vez são três manifestações que vão desde o historiador Rui Ramos até ao deputado bloquista Luís Fazenda (UDP, estalinista e maoísta), passando pela jornalista Maria João Avilez. À laia de teaser para a leitura das três peças, acrescento um curto comentário sobre cada uma delas.

Rui Ramos disseca com ironia a transformação da táctica em azáfama e exorta «alguém que nos faça o favor de proteger o presidente». No lugar dele eu exortaria alguém a que nos protegesse do presidente.

Luís Fazenda, em tempos UDP, estalinista e maoísta e um dos fundadores e próceres do bloquismo, vai às canelas do homem no estilo trauliteiro que faz parte da marca e de caminho constrói as inevitáveis teorias da conspiração sobre a presumível agenda oculta de Marcelo que, segundo ele, repousa no «desejo de regresso à alternância dos partidos ao centro, a saudade dos liberais europeístas». Alguém deveria explicar-lhe que Marcelo tem de comum com o liberalismo o mesmo que ele Fazenda tem com a social-democracia e o desejo de Marcelo tem mais a ver com a permanência (do próprio Marcelo) do que com a alternância, sobretudo se a alternância se materializasse com um Passos Coelho que ele detesta,

A visão  de Maria João Avilez, mais equilibrada mas igualmente crítica, foca-se na caução pública da governação da geringonça que Marcelo se presta a publicamente a fazer.

De uma maneira ou de outra, estas manifestações prenunciam o fim do estado de graça de Marcelo Rebelo de Sousa, o que, só por si, será um desfecho higiénico para mais um mal-entendido desta democracia defeituosa.

26/01/2017

Dúvidas (184) – Irá o Brexit consumar-se? (V)

Outras dúvidas sobre a consumação do Brexit.


Pois parece que sim, que se vai consumar. O governo inglês acabou de enviar ao parlamento para aprovação «A one-clause bill for Article 50», provavelmente a lei mais curta que alguma vez foi apresentada:
«(1)The Prime Minister may notify, under Article 50 (2) of the Treaty on European Union, the United Kingdom’s intention to withdraw from the EU. 
(2)This section has effect despite any provision made by or under the European Communities Act 1972 or any other enactment.»
That's it.

CASE STUDY: Trumpologia (10) - O Donald é um copycat

Mais trumpologia.

Afinal Trump não vai construir um novo muro. Começado a construir por Bush pai e continuado pelo marido da sua adversária Hillary Clinton, o muro já existe em 1.130 km da fronteira com 3.141 km.

E ao nomear Senior adviser o seu genro Jared Kushner também não é o primeiro a romper com a regra de não nomear parentela para lugares oficiais. Teve dois precursores ambos democratas e lendas do American Dream.

JFK nomeou em 1961 como procurador-geral o seu irmão Robert, o mesmo que autorizou escutas nos quartos de hotel onde ficasse Martin Luther King e disse um dia «I did not lie awake at night worrying about the problems of Negroes». E Bill Clinton nomeou em 1993 a sua mulher Hillary para a Task force para a Reforma do Sistema de Saúde.

As suas políticas de anti-globalização, intervencionismo estatal e investimento público para puxar pela economia também não têm nenhuma novidade. Há décadas são defendidas pela esquerdalhada.

O seu discurso, a forma como lida com os mídia, a sua manipulação pela «pós-verdade» e os «factos alternativos», são uma cópia tosca do agitprop inventando pelos comunistas soviéticos nos anos 20. Não admira, por isso, que «1984», onde George Orwell retrata a distopia soviética, esteja a ser um best-seller, de novo, quase 70 anos depois.

CASE STUDY: Democracias defeituosas

«Declining trust in government is denting democracy» (The Economist)

«A AMÉRICA, que há muito se define como porta-estandarte da democracia para o mundo, tornou-se uma "democracia defeituosa" de acordo com o Índice de Democracia anual da Economist Intelligence Unit... A sua pontuação caiu para 7,98 em 2016 de 8,05 em 2015, ficando abaixo do limite de 8,00 para uma "democracia plena". O downgrade não foi uma consequência de Donald Trump, afirma o relatório. Em vez disso, foi causada pelos mesmos factores que levaram Trump à Casa Branca: uma erosão contínua da confiança no governo e nas autoridades eleitas, que o índice mede usando dados de pesquisas globais. No total, incorpora 60 indicadores em cinco grandes categorias: processo eleitoral e pluralismo, funcionamento do governo, participação política, cultura política democrática e liberdades civis

Democracy Index 2016 - Revenge of the “deplorables” (The Economist Intelligence Unit)

Finalmente estamos na mesma liga dos Estados Unidos: a liga das democracias defeituosas. Porquê? Repare-se nos scores de «Funcionamento do governo», «Participação política» e «Cultura Política». Voilà.

É claro que tudo seria diferente se tivessem incluído o factor «Afectos» onde, graças ao presidente Marcelo, rebentaríamos o score.

25/01/2017

COMO VÃO DESCALÇAR A BOTA? (6) - Apenas um chinelo de quarto, por agora

Outras botas para descalçar.

«Alguns comentadores falaram muito sobre o problema da emissão a 4,2%, mas na mesma sessão, logo a seguir, desceu para abaixo de 4% a taxa de juro. E nas sessões seguintes esteve abaixo de 4%, o que significa portanto que não consolidou a tendência que se dizia que era preocupante

Foram estas as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, comentador residente em Belém. É claro que esta elucubração, só por si, quando comparada com a bota da geringonça que o presidente dos Afectos terá de descalçar em devido tempo, é apenas um chinelo de quarto que sacudirá do pé com a habitual ligeireza.

E por falar no desceu para abaixo do presidente dos Afectos...

Era este o sobe e desce nos 12 meses que antecederam o resgate
... recordei o sobe e desce registado neste post dos tempos de Sócrates em que o próprio, o seu adjunto Teixeira dos Santos, o séquito socialista e o coro do jornalismo de causas trombeteavam cada descida com grande júbilo.

Com a verdade nos engana

Questionado pelo DN por haver «quem o acuse de ingerência em matérias governativas e de estar a presidencializar o regime», Marcelo Rebelo de Sousa garante que até tem «uma interpretação muito comedida dos poderes presidenciais».

Pode parecer que de Marcelo nos está a atirar areia para os olhos como de costume, mas é uma boa imagem do que tem sido a sua presidência a correr a trás do governo da geringonça, qual agente facilitador, justificando o que faz ou decide, atestando a bondade dessas decisões e a sua conformidade e felicitando-se com o que vê como um sucesso.

Antecipo que assim continuará enquanto puder porque o seu desejo doentio de popularidade e o pavor de não ser amado tornam-lhe impossível conviver com o rufar das pandeiretas da esquerdalhada e enfrentar as tropas que apoiam o governo, em particular os pelotões do jornalismo de causas.

24/01/2017

Lost in translation (284) - Discriminação encapotada no NYT

«Oscar Nominations 2017: 14 for ‘La La Land,’ and 6 for Black Actors»

Black actors? Não deveria ser African-American? E os Asian-American?  E os Hispanic-American? E os Indian-American? E os Native-American, sem os quais não haveria coboiadas?

No melhor pano cai a pior nódoa. Há um longo trabalho de educação que nos espera!

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (27)

Outras preces.

Há anos que não consigo ver mais do que alguns minutos das performances televisivas do agora presidente Marcelo. Pouco depois da sua ascensão a Belém, a minha tolerância reduziu-se rapidamente e desde há alguns meses tornei-me em absoluto incapaz de as ver.Tudo para dizer que não vi a entrevista presidencial de domingo.

Vou por isso comentar apenas dois detalhes amplamente documentados na imprensa. O primeiro foi a sua confirmação de continuar a privar com Ricardo Salgado, o que tem para mim dois lados. O lado positivo: o homem tem a coragem de não abandonar os seus amigos presumivelmente criminosos que deram emprego à sua eterna namorada; e o lado negativo: o homem não se distancia dos seus amigos presumivelmente criminosos que deram emprego à sua eterna namorada.

O segundo detalhe também tem para mim dois lados. O lado que confirma que mesmo que garanta só mudar de ideias se Cristo voltar à terra, o homem é bem capaz de o fazer sem Cristo se dignar aparecer-nos, como foi agora depois de ter deixado implícito que ficaria só por um mandato ter revelado que só lá para Setembro de 2020 é que decidirá, E o lado que confirma o que ele próprio concluiu ter dito Passos Coelho sobre a sua pessoa: «catavento de opiniões mediáticas».

Clicar para ampliar (Expresso)
Já agora, deixai-me fazer um prognóstico sobre o provável triste fim que pode esperar quem, esforçando-se por amanteigar uma esquerda que só o tolera porque a amanteiga, se sentir obrigado a largar a manteiga para ele próprio não se afundar, quando essa esquerda se afundar e levar o país consigo, uma vez mais. Nessa altura, pode muito bem Marcelo ficar sem esquerda e sem país. Para quem imagina que a popularidade de Marcelo é um seguro contra todos os riscos, lembremos, que Cavaco, odiadíssimo no final do seu segundo mandato, tinha no final do primeiro ano uma popularidade superior à de Marcelo.

23/01/2017

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (67)

Outras avarias da geringonça.

Começo pela paródia da TSU culminada por Costa a acusar o PSD de não aceitar fazer de suplente da geringonça, substituindo o PCP e o BE.

Corrigindo e completando o que escrevi a semana passada sobre o aumento das exportações: segundo os dados do Eurostat, aumentaram as exportações para a UE, mas caíram as para fora da UE e o total estagnou nos onze primeiros meses de 2016.

Continuam a surgir fissuras na geringonça na área da Saúde. O ministro admite que existam hospitais como parcerias público-privadas. Contudo, comunistas e bloquistas insistem em mais uma «reversão» com argumentos tão estúpidos que fazem dó - leia-se a propósito o que escreveu José Manuel Fernandes sobre a polémica com o BE (aqui citada).

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Os socialistas colonizados pelo berloquismo

Um destes dias, Francisco de Assis, um dos poucos socialistas que não sucumbiu à onda de oportunismo que varre o PS de Costa, somou dois mais dois e, face à comédia da TSU em que Costa exigiu ao PSD que substituísse o PCP e o BE, concluiu que seria melhor convocar eleições antecipadas. A isto reagiu mal Pedro Nuno Santos, aquele rapaz que teria posto as perninhas dos banqueiros alemães a tremer se o deixassem, e é agora o mecânico azeitador (*) do PS encarregado de olear as engrenagens da geringonça. Em resposta, Assis disse o que qualquer criatura com um módico de senso percebeu há muito: o Pedrito «deixou-se colonizar mentalmente pelo BE».

Outra que me foi tirada da boca foi dita por Sócrates. Sim, Sócrates, logo ele. Numa conversa telefónica registada para a posteridade no âmbito da «Operação Marquês» perante uma sugestão de um tal António Peixoto (o ghostwriter de «Câmara Corporativa», um blogue da quinta-coluna do socratismo, escrito sob o pseudónimo de Miguel Abrantes, um peão avençado pelo animal feroz), para usar também João Galamba para passar a escrito a narrativa dos «três embustes» que daria mais um livro da sua «autoria», Sócrates disse lapidarmente: «Não que ele fala muito. Temos de manter isto só entre nós».

(*) Segundo uma sugestão pertinente neste comentário.

22/01/2017

COMO VÃO DESCALÇAR A BOTA? (5) - Das duas, uma

Outras botas para descalçar.

Costa contou à Lusa (uma das câmaras de eco privativas do governo) que teve no Fórum Económico Mundial em Davos uma «reunião bilateral» com Christine Lagarde do FMI que o congratulou por Portugal ter tido «um resultado surpreendente para aquilo que eram as previsões iniciais do FMI» e pela performance do governo «não só para a consolidação orçamental, mas também para a criação de emprego, para o crescimento económico e para a estabilização do sistema financeiro», entre outros mimos que Costa confidenciou ao jornalista. (fonte)

Considerando: (1) ter sido «bilateral» a reunião; (2) Lagarde ter mais do que fazer do que ler os jornais portugueses e (3) o pendor para a efabulação auto-laudatória de Costa, hesitei entre tratar das supostas congratulações de Lagarde na secção ACREDITE SE QUISER ou nesta de descalçar botas.

Acabei por ficar com a das botas porque, em última instância, alguém vai ter de descalçá-las quando chegar o momento da verdade:  Lagarde ou o jornalista da Lusa, porque pelo menos um deles embarcou nas tretas de Costa.

Mitos (246) - Transferência dos recursos públicos

Expresso Diário
A peça acima já tem uns dias e é comparável a tantas outras que quase todos os dias lemos em jornais contaminados por um persistente enlevo ao Estado. Não sei porque comento esta e não alguma das milésimas que já me passaram pelos olhos. Talvez me tenha apanhado num mau momento.

O Estado pagou? Poderia ser à borla? Com que dinheiro pagou o Estado? Transferência de recursos públicos? Quais recursos públicos? O dinheiro dos contribuintes privados? Se não esse, só se for o dinheiro emprestado pelo contribuintes europeus.

Pode ser ignorância, só por si, mas o mais provável é a coexistência pacífica na mente do jornalista de ignorância com jornalismo de causas.

Para não gastar mais latim e não repetir o que já escreveu sobre o assunto José Manuel Fernandes, remeto o jornalista de causas que escreveu a peça para os seguintes dois artigos:

21/01/2017

DIÁRIO DE BORDO: Pensamento do dia

«In a time of deceit telling the truth is a revolutionary act.»
George Orwell 

Dúvidas (183) - O que quer ele dizer com isso?

Expresso Diário
Disse aquele senhor que está agora nas Necessidades e que gosta de «malhar na direita». Ou, pelo menos a jornalista do Expresso diz que ele disse. Imagino que a nova administração dos EUA deve ter respirado fundo e ficado aliviadíssima.

Talvez a criatura não tenha percebido a diferença entre ser apparatchik do agitprop (pode-se abandonar o trotskismo mas o trotskismo nem sempre nos abandona) e ser responsável pela diplomacia portuguesa. No contexto da diplomacia e em diplomatiquês o que ele disse significa que Portugal (enfim, a geringonça) poderia estar habilitado a ter reservas a uma nova administração do maior aliado português livremente escolhida pelos seus eleitores.

O que diria o MNE se a nova administração dos EUA declarasse que não tinha nenhuma reserva em relação ao governo socialista da geringonça suportado (nem sempre) por comunistas, estalinistas, maoístas, trotskistas, bombistas e vários outros istas?

20/01/2017

CASE STUDY: Trumpologia (9) - Aprendendo com Nixon

Mais trumpologia.

Uma sugestão do Economist Espresso para o discurso inaugural de Donald Trump (que ele não seguiu):

«Dado o humor amargo e zangado da época, um bom exemplo também poderia ser o discurso inaugural de Richard Nixon de 1969 que, num país à época atormentado por protestos, tumultos e violência, argumentou» 
"A América tem sofrido com a febre das palavras; da retórica inflamada que promete mais do que pode cumprir; de uma retórica irritada que fãs descontentes convertem em ódios ... Não podemos aprender uns com os outros até que paremos de gritar uns com os outros".

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: Costa e Tsipras, a mesma luta? (2)

Continuação de (1)

25-01-2015
António Costa. "Vitória do Syriza é um sinal de mudança que dá força para seguir a mesma linha"

17-01-2017
O défice em 2016 é o «mais baixo da democracia»

18-01-2017
Grécia garante meta orçamental mesmo com bónus nas pensões

Porquê a retórica da luta contra a «austeridade» foi substituída pela «obsessão neoliberal» do défice? Simples, meu caro Watson, porque o propósito de Costa e Tsipras não é resolver os problemas dos respectivos países (neste ponto não são nada originais), o propósito deles é manterem-se no poder (neste ponto continuam a não ser nada originais).

A originalidade está apenas em ambos subordinarem o propósito de resolver os problemas dos respectivos países ao propósito de se manterem no poder de uma forma original: comprarem as suas clientelas eleitorais com o dinheiro que ambos esperam continue a fluir dos contribuintes europeus, para o que estão condenados a manterem a eurocracia sossegada cumprindo os défices, sabe-se lá como - no caso de Costa, assimassado, frito e cozido.

19/01/2017

A mentira como política oficial (31) - A cair, diz Caldeira Cabral

Negócios

Fonte: Banco de Portugal
Mais facilmente cairá Caldeira Cabral nas escadas do n.º 15 da Rua Horta Seca do que a dívida pública. E falando de queda, se me é permitido um conselho, CC, com o seu fácies de Calimero, deveria precatar-se e instruir o seu public relations para não exagerar na distribuição de fotos pelos jornais, a propósito de qualquer inocuidade que a criatura bote da boca para fora, o que faz dele o ministro mais fotografado - ora veja-se esta galeria de poses.

A mentira como política oficial (30) - A «terceira via» de Costa


Fontes: recorte dos jornais indicados; quadro (simplificado) de Francisco Veloso publicado no negócios.

18/01/2017

CASE STUDY: O pensamento económico da Mouse School of Economics à luz do revisionismo de Costa

Como se sabe, o pensamento económico de Costa seria, se Costa tivesse um pensamento económico para além da sua inspiração na Banda do Casaco («Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos»), fundado na doutrina dominante da Mouse School of Economics.

E o que nos diz essa doutrina dominante? Várias coisas, mas fiquemos pelas mais importantes: incentivando o consumo (mesmo o de bens importados) a economia cresce; seja qual for o investimento, nomeadamente o investimento público, o multiplicador socialista converte o investimento em PIB k vezes (em auto-estradas k=18); a produtividade aumenta quando aumentam os salários.

Daqueles princípios resultam vários corolários, mas fiquemo-nos pelos mais importantes: o défice das contas públicas (a «obsessão» pelo défice é um dos crimes do neoliberalismo) e o défice das contas externas são irrelevantes («ninguém analisa a dimensão macro da balança externa do Mississipi ou de qualquer outra região de uma grande união monetária», disse sabiamente Vítor Constâncio por voltas de 2000); a «aposta no investimento público» e «numa estratégia assente em baixos salários (não) conseguiremos ser competitivos» (disse com igual sapiência Costa, um destes dias).

Inexplicavelmente, Costa na sua governação abandonou os três primeiros corolários, fixando-se obsessivamente no défice orçamental, anunciando todos os dias grandes «realizações» do seu governo em matéria de contas externas, dedicando uma importância inesperada às exportações (onde até o presidente dos Afectos também tem «feelings») e deixando cair o investimento público ao nível de 1995. Do pensamento da Mouse School of Economics resta-lhe, pois, o aumento dos salários para melhorar a competitividade. Passando das palavras aos actos aumentou o salário mínimo.

CROIS LE OU PAS: A Paris, sous l'égide du bouffon en chef

«Israel-Palestine peace talks: Descending into farce 

A gabfest involving diplomats from some 70 countries discussing peace between Israel and Palestine, held in Paris over the weekend, did not include Israel or Palestine. Officials aimed their rhetoric at Donald Trump while calling for an increasingly unlikely two-state solution. Reactions were muted: Israel’s government is distracted by a corruption scandal. The meeting felt less like a conference than a farewell tour of an ageing rock band.»

Foi isto que a Economist escreveu no seu Daily Dispatch a propósito da fantochada parisiense promovida por François Hollande.

17/01/2017

TIROU-ME AS PALAVRAS DE BOCA: Transformar o Estado social num Estado clientelar

«Mas o que fazem (PS, PCP e BE), de facto, é outra coisa: aproveitar a assistência financeira do BCE para distribuir rendas por grupos de dependentes do Estado, com os quais esperam cerzir uma “base social de apoio”. Assim se está a transformar o Estado social num Estado clientelar, isto é, num Estado onde os serviços públicos são menos importantes do que o emprego público

«Porque é que não pode haver oposição?», Rui Ramos no Observador

ARTIGO DEFUNTO: Como trespassar a falha de duas pernas de um tripé para uma quarta perna

«No enquadramento clássico do regime, o PCP e BE estavam fora do arco governativo por razões óbvias. Os obituários de Soares reavivaram essas razões. Nesse quadro, a direita, sobretudo o PSD, estava sempre presa a uma ética de responsabilidade tramada: estava na oposição, mas era sempre chamada à pedra nas horas h - caso contrário, o PS não conseguia governar e cairíamos num cenário à I República. Ora, foi este arranjo clássico que Costa destruiu para se manter no poder. António Costa rasgou décadas de convenções entre PS, PSD e CDS. Foi Costa que destruiu todas as pontes. Que pontes pode agora o PSD percorrer para chegar até Costa, que, para se aninhar no colinho da extrema-esquerda, queimou as regras não escritas que garantiam um mínimo de respeito entre PS e PSD? Por outras palavras, Costa libertou o gordinho. Já não há gordinho, porque já não há arco governativo. 

Se PCP e BE não estão ainda preparados para governar, então temos de ir de novo para eleições, por muito que isso irrite o Marcelinho dos afetos. Esta é a grande questão política. Até porque metade do país não pode ser tratada como o gordinho em quem se pode bater em impunidade. Costa desrespeitou a direita através da maior traição política em décadas. E agora exige à mesma direita que apareça desprovida de orgulho para lhe aprovar uma lei? Isto é transformar o maior bloco político, social e cultural do país (a AD, ou PaF) numa flor na lapela do PS. Não é aceitável nem desejável. A democracia não pode ser o pátio onde o rufia com boa imprensa faz o que quer.»

«O gordinho», Henrique Raposo no Expresso Diário

O tripé que precisa de apoio
O trespasse da responsabilidade pela recusa de duas das três pernas do tripé suportarem a geringonça, no que respeita à redução da TSU para compensar o aumento do salário mínimo, negociada pelo governo na Concertação Social, violando os acordos com o BE e os Verdes, para uma quarta perna (o PSD) é provavelmente uma das «reversões» mais extraordinárias que Costa e o PS conseguiram até agora. Quarta perna contra a qual as outras três há um ano construíram um tripé chamado geringonça.

É claro que não é tudo mérito de Costa. Uma parte é mérito do tripé do jornalismo de causas que infesta as redacções ter funcionado convenientemente, porque todos estavam interessados em entalar o PSD para não ficarem entalados e colocando em risco a geringonça face à evidência do voto contra de comunistas e bloquistas.

16/01/2017

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (66)

Outras avarias da geringonça.

Como escrevi a semana passada nesta crónica, o milagre da multiplicação da devolução de rendimentos da geringonça tem-se dado sobretudo nas importações de bens duradouros. No mês de Novembro as importações totais aumentaram 8,4% e, apesar do aumento das exportações, o défice comercial subiu 91 milhões em relação ao mesmo mês do ano passado e ficou em 781 milhões,

Por isso, os bancos privilegiam o financiamento do consumo e da compra de habitação (mais de 5 mil milhões até Novembro para comprar casinhas) e fica para trás o financiamento das empresas que diminuiu, o que de resto seria expectável quando se sabe que o investimento produtivo privado está em queda.

ACREDITE SE QUISER: Conflito de interesses? Qual conflito de interesses?

«Rio veio esta semana defender a nacionalização do Novo Banco. Não deixa de ser curioso que o mesmo seja presidente do conselho de administração de uma empresa do fundo Vallis, um dos maiores devedores do... Novo Banco.»  (Expresso)

15/01/2017

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (85) – Atrás de mim virá quem de mim bom fará

O anterior post anunciado como o último episódio de uma longa série não foi o último. Talvez seja este.

Rasmussen Reports
Se depois de 8 anos na Casa Branca, os americanos sentirem a falta de Barack Obama deve-se mais ao seu sucessor Donald Trump do que à bondade das suas políticas.

DIÁRIO DE BORDO: a passarada que me visita (29)

Felosa-comum ou felosinha (Phylloscopus collybita) tomando o seu brunch às 11:30 da manhã

14/01/2017

CASE STUDY: Trumpologia (7) - O período de graça acabou antes de começar

Mais trumpologia.

Depois de uma hebdomas horribilis de Donald Trump, que se contradisse e desdisse outra vez, várias vezes, com alegações de ter sido filmado pelos russos a fazer poucas-vergonhas, etc. (um enorme etc.), não admira ter a sua taxa de aprovação descido ao purgatório a caminho do inferno (37%). Ainda antes de tomar posse já há eleitores de Trump arrependidos.

Moral da estória (se a estória tivesse moral): um inimigo dos teus inimigos não é necessariamente teu amigo ou a doutrina Somoza é muito perigosa.

Mitos (245) - Desfazendo o mito de Louçã de um Trotsky salvífico

Mostrando distraidamente a sua costela trotskista de ex-militante da LCI e da IV Internacional, convenientemente camuflada para construir o frentismo bloquista, o conselheiro Louçã esforçou-se para limpar a folha de Leon Trotsky no seu prefácio à biografia de «Estaline», agora publicada pelo Expresso. José Milhazes no Observador não estava distraído e responde no Observador à pergunta que ele próprio faz: «Seria diferente se Trotski tivesse vencido Estaline na URSS?». Aqui vai um excerto à laia de teaser:

«Francisco Louçã assinala que a biografia de Estaline começa apenas “quando o biografado, já tem 44 anos, está no auge do seu poder, e por isso só cobre os últimos 21 anos da sua vida”, deixando de fora importantes momentos. Estou de acordo, pois isso permitiria também abordar algumas das imprecisões (ou talvez deturpações conscientes) escritas pelo próprio Dr. Louçã.

Muitas delas estão contidas no último parágrafo desse prefácio: “A tragédia do século XX é esta: uma revolução contra uma ditadura e uma guerra, que libertou milhões de servos e prometeu o fim da exploração, que se anunciou como a alvorada de uma humanidade cooperante, foi dominada por uma burocracia fechada, temerosa e por isso agressiva, cujo poder se ergueu sobre uma pirâmide de vítimas”.

Ora, como é sabido, a revolução comunista não foi feita contra uma ditadura, mas contra uma democracia pluralista saída da revolução de Fevereiro de 1917. Foi este pluralismo, por exemplo, que permitiu o regresso de Vladimir Lenine e Lev Trotski à Rússia e deixou escapar o poder para as mãos dos bolcheviques. Foi este pluralismo que convocou eleições para a Assembleia Constituinte em 1918, acto eleitoral livre onde os bolcheviques saíram derrotados e, por isso, não a deixaram ir além da primeira sessão. As eleições livres e pluralistas seguintes realizaram-se apenas em 1989, e os comunistas saíram delas fortemente enfraquecidos.»

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Distraído, mentiroso ou medroso?

Secção Musgo Viscoso

Para alguém que anda na política há mais de duas décadas, foi secretário de Estado de Guterres e ministro de Sócrates da Economia, primeiro, e das Finanças, depois, fazer um depoimento como o que fez na comissão de inquérito à Caixa só pode ser distraído, mentiroso ou está sob ameaça do animal feroz.

Respigo um entre muitos outros exemplos. Depois de há duas semanas o seu antecessor como ministro das Finanças de Sócrates ter admitido ser pressionado pelo animal feroz para nomear para a Caixa Santos Ferreira e o seu amigo Vara, Teixeira dos Santos diz que foi coincidência ter ele próprio nomeado a mesma dupla. Quanto a Vara explicou que «fez carreira na Caixa, era director, tinha conhecimento dos cargos de direção da Caixa e capacidade de liderança. Fazia a ligação entre a administração e a Caixa e sinalizava que os quadros da Caixa poderiam chegar à administração». Inexplicavelmente nenhum deputado presente na comissão de inquérito vomitou.

Com esta audição, Teixeira dos Santos merece cinco urracas pela falta de tomates, cinco bourbons por continuar igual a si próprio, cinco pilatos por ter passado o tempo a lavar as mãos das responsabilidades, e só não lhe atribuo cinco ignóbeis por não ter conseguido perceber se é distraído, mentiroso ou medroso.

Que a criatura com a sua songamonguice tenha conseguido atingir um estatuto de intocável do regime, depois das suas enormes responsabilidades no desastre socrático, diz mais sobre as nossas elites do que sobre ele próprio.

13/01/2017

ACREDITE SE QUISER: O sobe e desce

Sobe segundo a Aximage e recua segundo a Eurosondagem 

A defesa dos centros de decisão nacional (19) - Unintended consequences (VI)

[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7),  (8), (9), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17) e (18)]

Ainda a propósito de várias coisas do domínio do óbvio ululante referidas no post anterior, veja-se no diagrama seguinte o resultado do crescente endividamento e descapitalização das empresas traduzido na posição do controlo accionista estrangeiro nas 500 Maiores e Melhores Empresas (fonte Expresso) sempre superior a 40% em qualquer dos três indicadores.


Enquanto isso, resmas de empresários, de gestores, de políticos, de opinion dealers e de outras luminárias patrióticas escreviam e assinavam manifestos e incendiavam os mídia e os congressos na defesa dos centros de decisão nacional. Alguns dos empresários mais incendiados venderam pouco depois de se incendiarem as suas participações a estrangeiros.

12/01/2017

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (72) - Também tenho essa dúvida


«A adesão popular às exéquias fúnebres de Mário Soares foi extremamente baixa, em particular se comparada com a adesão demonstrada aquando da morte de Álvaro Cunhal. Ninguém com um mínimo de testa consegue refutar isso.

Significa isto que Cunhal era mais popular na data da sua morte do que Soares? Talvez. Ou, talvez signifique apenas que entre 2005 e 2017, algures, provavelmente no início desse período, o regime da mitologia abrilista tenha falecido e ninguém se lembrou de avisar os jornalistas.»

«Passado inesquecível», no Blasfémias

Se falamos em adesão popular às exéquias fúnebres, assim de repente lembrei-me do funeral de Salazar no dia 30 de Julho de 1970, também mais frequentado do que o de Soares, como se pode ver na foto da saída dos Jerónimos para Santa Comba Dão. Possivelmente porque a mitologia salazarista ainda não tinha falecido, o que me leva a concluir que, do ponto de vista dos funerais, o passamento dos pais da pátria deve ter lugar ainda em vida da mitologia aplicável.


CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: «É um movimento geral», disse ele (continuação)


Yields a 10 anos (Bloomberg) e emissão de OT a 10 anos em 11-01 ao juro mais alto desde Fevereiro de 2014 (negócios)
Enquanto isso, Costa em Goa observa «emocionado» o «movimento geral»

11/01/2017

CASE STUDY: Trumpologia (6) - Com amigos como o Vladimir, o Donald não precisa de inimigos

Mais trumpologia.

«U.S. intelligence agencies warned Donald Trump about claims Russian operatives held potential blackmail information against him involving alleged “perverted sexual acts” during stays in Moscow and St. Petersburg, according to reports.

It said that during a 2013 trip to the Russian capital, Trump made Russian prostitutes defile a Ritz-Carlton bed where President Obama and First Lady Michelle Obama had stayed on a previous occasion.

It said the incident was captured on surveillance cameras.» (fonte)

Confirmando-se esta notícia, se o ridículo fosse mortal, qualquer um no lugar de Trump estaria politicamente morto. Tratando-se de Trump, é melhor não apostar.

A defesa dos centros de decisão nacional (18) - Desfazendo alguns equívocos a propósito da acção promocional de Costa

[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7),  (8), (9), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16) e (17)]

A Generis, farmacêutica portuguesa que detém a marca com mais vendas e o segundo maior grupo de genéricos em Portugal, foi comprada pela Agile Pharma, uma subsidiária da indiana Aurobindo por 135 milhões de euros. (fonte)

Não, não é o enforcamento do homem. É apenas uma acção promocional (Público) 
Foi assim, sem indignações, sem dós de peito, sem dores na alma, que mais um «centro de decisão nacional» foi vendido à estranja, neste caso a indianos, no preciso momento em que Costa, um primeiro-ministro socialista, leva a cabo uma acção promocional na Índia.

Vem a propósito recordar várias coisas do domínio do óbvio ululante:
  • Em primeiro lugar, a compra de uma empresa portuguesa por estrangeiros não é investimento directo e, só por si, não tem consequências na capacidade produtiva da economia - é uma mera transferência de dinheiro para os bolsos dos vendedores;
  • A compra de empresas portuguesas por estrangeiros é um facto normal da economia global e não é, em si mesma, boa ou má;
  • Em princípio, significa que a empresa em causa é suficientemente atractiva e considerada viável para despertar o interesse; 
  • Pelo contrário, há razões de preocupação quando é preciso pagar para alguém comprar uma empresa portuguesa - como, entre outros, os casos do Banif e do Novo Banco - os restos do BES;
  • Porém, quando há um movimento significativo de empresas portuguesas a serem vendidas sem contrapartida em investimento alternativo pelos vendedores, isso confirma que os empresários e a economia portuguesa estão descapitalizados;
  • Descapitalização que não deveria surpreender ninguém, porque é o resultado da destruição do stock de capital que Portugal vem fazendo durante as últimas décadas e que explica uma das maiores dívidas líquidas ao estrangeiro.

CASE STUDY: Trumpologia (5) - O Donald talvez não caiba na caixinha em que o querem meter

Mais trumpologia.

Acredito que seja possível considerar Trump uma má escolha dos americanos para presidente do States (a de Hillary Clinton também não seria uma boa escolha) e isso não nos obrigar a dizer desconchavos a respeito do homem.

Por exemplo, dizer que o homem não sabe escolher gente capaz, quando escolhe o seu genro Jared Kushner, um judeu ortodoxo, licenciado por Harvard, para conselheiro principal, uma criatura que foi capaz de por ordem na caserna caótica de Trump durante a campanha e na transição, que, por acaso, faz parte de uma proeminente família ligada ao partido Democrata, ele próprio democrata desde sempre, liberal em questões sociais e de quem Bill de Blasio, mayor de Nova Iorque e um darling democrata, diz que «respeita muito (e) conhece há anos e considera-o uma pessoa muito razoável». (fonte)

Percebe-se que seja pouco canónico e susceptível de ser classificado como nepotismo nomear um genro como conselheiro. A não ser que se ache ter sido aceitável um presidente democrata (JFK) ter nomeado o irmão Robert procurador geral, ou outro presidente democrata (Bill Clinton) ter nomeado a sua mulher para tratar da Saúde Pública.

Em vez do irmão, Trump nomeou procurador geral Jeff Sessions, senador do Alabama, que está agora em audição no senado, onde já disse que não seria «a mere rubber stamp», o que qualquer outro também diria, e outras coisas talvez inesperadas considerando quem o nomeia, tais como: não apoia a expulsão dos muçulmanos dos EU; devido ao que disse na campanha, recusaria investigar Hillary Clinton; apesar de ter defendido o waterboarding, considera que actualmente a lei o torna absolutamente ilegal.

10/01/2017

Pro memoria (333) - Para cada um o seu Soares. Este é um dos meus Soares


«Em 9 de Maio de 1985. Ronald Reagan, de visita a Portugal, discursa na Assembleia da República
e conferencia com Mário Soares. No Parlamento os deputados do PCP ausentam-se e os da UEDS
não comparecem.» (Fonte: Fundação Mário Soares)
Recordando algumas das frases ditas pelo primeiro-ministro Soares durante a 2.ª intervenção do FMI pedida pelo seu governo, que também poderiam ser ditas a propósito da 3.ª intervenção do FMI (integrando a troika), pedida pelo governo socialista de Sócrates:

“Os problemas económicos em Portugal são fáceis de explicar e a única coisa a fazer é apertar o cinto”. DN, 27 de Maio de 1984

“Não se fazem omoletas sem ovos. Evidentemente teremos de partir alguns”. DN, 01 de Maio de 1984

“Quem vê, do estrangeiro, este esforço e a coragem com que estamos a aplicar as medidas impopulares aprecia e louva o esforço feito por este governo.” JN, 28 de Abril de 1984

“Quando nos reunimos com os macroeconomistas, todos reconhecem com gradações subtis ou simples nuances que a política que está a ser seguida é a necessária para Portugal”. Idem

“Fomos obrigados a fazer, sem contemplações, o diagnóstico dos nossos males colectivos e a indicar a terapêutica possível” RTP, 1 de Junho de 1984. Idem, ibidem

“A terapêutica de choque não é diferente, aliás, da que estão a aplicar outros países da Europa bem mais ricos do que nós” RTP, 1 de Junho de 1984

Portugal habituara-se a viver, demasiado tempo, acima dos seus meios e recursos”. Idem

“O importante é saber se invertemos ou não a corrida para o abismo em que nos instalámos irresponsavelmente”. Idem, ibidem

“[O desemprego e os salário em atraso], isso é uma questão das empresas e não do Estado. Isso é uma questão que faz parte do livre jogo das empresas e dos trabalhadores (...). O Estado só deve garantir o subsídio de desemprego”. JN, 28 de Abril de 1984

“O que sucede é que uma empresa quando entra em falência... deve pura e simplesmente falir. (...) Só uma concepção estatal e colectivista da sociedade é que atribui ao Estado essa responsabilidade. Idem

“Anunciámos medidas de rigor e dissemos em que consistia a política de austeridade, dura mas necessária, para readquirirmos o controlo da situação financeira, reduzirmos os défices e nos pormos ao abrigo de humilhantes dependências exteriores, sem que o pais caminharia, necessariamente para a bancarrota e o desastre”. RTP, 1 de Junho de 1984

“Pedi que com imaginação e capacidade criadora o Ministério das Finanças criasse um novo tipo de receitas, daí surgiram estes novos impostos”. 1ª Página, 6 de Dezembro de 1983

“Posso garantir que não irá faltar aos portugueses nem trabalho nem salários”. DN, 19 de Fevereiro de 1984

A CGTP concentra-se em reivindicações políticas com menosprezo dos interesses dos trabalhadores que pretende representar” RTP, 1 de Junho de1984

A imprensa portuguesa ainda não se habituou suficientemente à democracia e é completamente irresponsável. Ela dá uma imagem completamente falsa.” Der Spiegel, 21 de Abril de 1984

Basta circular pelo País e atentar nas inscrições nas paredes. Uma verdadeira agressão quotidiana que é intolerável que não seja punida na lei. Sê-lo-á”. RTP, 31 de Maio de 1984

“A Associação 25 de Abril é qualquer coisa que não devia ser permitida a militares em serviço” La Republica, 28 de Abril de 1984

“As finanças públicas são como uma manta que, puxada para a cabeça deixa os pés de fora e, puxada para os pés deixa a cabeça descoberta”. Correio da Manhã, 29 de Outubro de 1984

“Não foi, de facto, com alegria no coração que aceitei ser primeiro-ministro. Não é agradável para a imagem de um politico sê-lo nas condições actuais” JN, 28 de Abril de 1984

“Temos pronta a Lei das Rendas, já depois de submetida a discussão pública, devidamente corrigida”. RTP, 1 de Junho de 1984

Dentro de seis meses o país vai considerar-me um herói”. 6 de Junho de 1984»

Títulos inspirados (65) – O homem e a obra feita


Sugestão: porque não vender o Novo Banco ao Allahabad Bank (activos $36 mil milhões)?

09/01/2017

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: O presidente vai nu (3)

Outros nus do presidente.

O que Vasco Pulido Valente pensa de Marcelo Rebelo de Sousa é bem conhecido e não se enquadra na classe dos desapontamentos ou simplesmente das saturações com a verborreia e agitação febris da criatura. Só o cito porque a sua mão, bem servida por um afiado escalpelo, faz dissecações inigualáveis das figuras do regime. Registo para memória futura que a audiência de Marcelo dos Afectos mingua acentuadamente. Esse facto é para mim um revigoramento da minha enfraquecida expectativa do discernimento da opinião pública.

«Marcelo não é um produto político, é um produto da RTP e da TVI, mas não percebeu ainda uma das regras básicas da sua verdadeira profissão ou confundiu o papel de Presidente da República com o seu antigo papel de entertainer. As pessoas gostavam das conversas com Judite de Sousa porque queriam passar um bom bocado a ouvir dizer mal dos senhores que nos pastoreiam e que todos nós detestamos do fundo do coração. O dispensador de “afecto” (seja lá o que isso for), com os seus beijinhos, as suas selfies, os seus beberetes, a sua falsa naturalidade e o seu falso sorriso, também diverte e também não explica. E pior do que isso faz com que Marcelo entre dia a dia pela nossa casa adentro, sempre com a mesma fita e futilidade. Esta over-exposure, que o mais mesquinho cómico tenta evitar para não perder a graça, não incomoda Marcelo. Para ele, quanto mais melhor. Não calcula quanto tempo vai a populaça achar graça ao espectáculo, nem mede a dificuldade de mudar de pele, quando tiver de dizer à populaça: “Hoje, minhas senhoras e meus senhores, não estou aqui como o Marcelo do Afecto, estou aqui como Presidente da República”. Ninguém acredita. Mas, fora isto, o quê? E é precisa uma solução porque a cidadania resolveu ignorar, e bem, o discurso de Ano Novo de Marcelo (?), do Presidente (?), de quem ao certo? Só 637.000 pessoas o ouviram, a mais baixa audiência de sempre, tirando as de Cavaco em 2013 e 2016, e longe das dele próprio na TVI (entre um milhão e meio e dois milhões). Um destes dias, o homem acaba a falar sozinho.»

«Um destes dias, Marcelo acaba a falar sozinho», Vasco Pulido Valente no Observador

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (65)

Outras avarias da geringonça.

É possível ter o pior de dois mundos? É sim. Veja-se o caso da geringonça que tentou aplicar o modelo do costume da Mouse School of Economics aumentando o rendimento disponível (da sua clientela eleitoral, note-se), para assim aumentar a procura interna e, por essa via, incentivar as empresas a investirem. A partir daí o multiplicador faria o milagre da multiplicação. Ao que parece, apesar do surto de compras de Natal (7 mil milhões de euros levantados das caixas MB, mais 8% do que no ano passado), os efeitos na procura interna foram limitados. Se alguma coisa se multiplicou foram as importações de bens duradouros, à cabeça dos quais os veículos particulares de que foram importados 207 mil em 2016, um aumento de 16,2% em relação a 2015 que também já tinha aumentado.

08/01/2017

COMO VÃO DESCALÇAR A BOTA? (4) - O tudólogo sucumbido

Outras botas para descalçar.

Miguel Sousa Tavares, o tudólogo (ver aqui porquê), depois de um ano a vilipendiar a obra de Costa, sucumbiu ao charme indiscreto da geringonça.

Na sua coluna habitual do Acção Socialista Expresso onde derrama todas as semanas as suas visões, começa por invocar o «impensável elogio» do Financial Times a Costa. Talvez seja um problema de inglês técnico que não lhe permitiu ir além do título - «Costa confounds critics as Portuguese economy holds course». Se tivesse lido, por exemplo, os dois últimos parágrafos perceberia que, se há elogio do FT, não é seguramente à governação de Costa mas à sua habilidade para chutar a bola para frente e iludir os problemas.

Mas o pior vem quando dá largas à sua tudologia e escreve a seguir sobre os feitos de Costa, tais como: «um crescimento acima de 1,2%» (acreditem, ele escreveu isso) e «um défice público claramente abaixo dos 3%» (esta, ele tem desculpa porque nesta altura já tinha esgotado a sua ciência). Encerra o assunto com um definitivo «os números são o que são».

MST será assim mais um a ter de descalçar a bota da geringonça, que talvez nunca venha a aperceber-se ter calçada como, até hoje, não percebeu ter o pé na bota dos Espírito Santo, que lhe foi enfiada pelo compadre Ricardo Salgado. Por isso, voltou na mesma peça a atribuir a responsabilidade pela falência do GES e do BES («um bom banco, o melhor a trabalhar com empresas e o mais conceituado lá fora») a... Passos Coelho (acreditem, foi isso que ele escreveu) que não deixou a Caixa emprestar 700 mil euros ao BES (na verdade, Passos Coelho disse não lhe competir dar ordens à Caixa para emprestar dinheiro).

07/01/2017

DIÁRIO DE BORDO: R.I.P.

Mário Soares, obrigado (principalmente por isso)

Fonte Luminosa 1975

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: «É um movimento geral», disse ele

Variação comparada dos yields das OT a 10 anos de Portugal, Espanha e Grécia (Bloomberg)
Crescimento anual do PIB
                                           3.º trimestre 2016                      4.º trimestre 2017 (previsão)
Portugal                             1,6%                                           1,3%
Espanha                             3,2%                                           2,4%
Grécia                                1,8%                                           1,0%
Irlanda                               6,9%                                           3,6%
(Fonte: Trading Economics)

Juros a aumentar e acima de 4%? É um «movimento geral (...) temos vindo a acompanhar, estamos muito confiantes, já que vão sendo conhecidos os dados fundamentais da nossa economia», disse Costa.

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (26)

Outras preces.

«Marcelo felicitou Cuba "em nome do povo português" pelo 58.º aniversário da revolução

Mensagem não foi revelada no site da Presidência da República.» (Público)

Não ter a menor ideia do que foi a revolução que colocou no poder a ditadura comunista da família Castro é grave. Felicitar à socapa «em nome do povo português» a oligarquia castrista é um abuso inadmissível.

No próximo Outubro (pelo calendário juliano) ou Novembro (pelo calendário gregoriano), no centenário da insurreição bolchevique de 1917 vai Marcelo felicitar com um beijo na boca Guennadi Andreievitch Ziuganov, presidente do Partido Comunista da Federação Russa, o sucessor do partido Bolchevique?

06/01/2017

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: O presidente vai nu (2)

Outros nus do presidente.

Mais uma dissidência (nada inesperada, tratando-se de um Insurgente) na exaltação do presidente dos Afectos Marcelo. Enquanto forem poucos e fora da manada serão aqui acolhidos.

«Um país que não se importa que Marcelo queira ser popular com afetos e beijinhos para preencher o vazio de poder que surgirá caso a geringonça falhe. A mensagem de ano novo apelando a mais crescimento é um aviso tão fácil e valioso quanto os afetos que distribui. Ele sabe que não há crescimento sem contenção orçamental e que a conseguida foi à custa de artimanhas contabilísticas e do BCE. Para Marcelo está tudo bem, ao mesmo tempo que, prevenindo, se desresponsabiliza. Este Presidente gosta de mergulhar, mas o país não tinha de ir com ele.»

«Os mergulhos de Marcelo», André Abrantes Amaral no jornal i

Bons exemplos (116) - Honestidade intelectual

A honestidade intelectual é rara à direita como à esquerda, mas a falta dela à esquerda, num país onde predomina o analfabetismo funcional, é mais grave porque potenciada pela ocupação dos mídia por agendas predominantemente esquerdizantes. É por isso que devemos saudar quem à esquerda escapa à doutrina Somoza e escreve com inteligência e independência coisas assim:

«Não quero apagar as minhas discordâncias com uma série de políticas seguidas por esse governo, desde a (tentativa de) desvalorização fiscal à custa da TSU à insistência em medidas inconstitucionais, em vez de procurar alternativas válidas que exigiam um reformismo mais laborioso. Nem quero minimizar o papel do Banco Central Europeu na saída limpa do resgate. Apenas estou a dizer que, apesar de erros pelo caminho, Coelho conseguiu, no meio da tempestade, levar Portugal a um porto aceitável, o que, em dados momentos, poucos considerariam provável. E, apesar de governar num período tão difícil, Coelho “ganhou” as últimas eleições.

Dir-me-ão que é o momento de virar a página no PSD. Que o anúncio do Diabo em 2016 correu mal. Mas, infelizmente, basta ver como as taxas de juro da dívida portuguesa têm evoluído nos últimos tempos (actualmente, nos 3,9%), como o BCE tem vindo, paulatinamente, a recuar na sua política monetária (que foi um autêntico balão de oxigénio para Portugal) e como se discute com cada vez mais insistência uma reestruturação da dívida para perceber que nunca o Diabo esteve tão próximo. Na verdade, o grande defeito de Passos Coelho é, ao mesmo tempo, simples e difícil de superar: ninguém quer que ele tenha razão.»

05/01/2017

BREIQUINGUE NIUZ: Sympathy for the Devil

Please allow me to introduce myself
I'm a man of wealth and taste
I've been around for a long, long year
Stole many a man's soul to waste

Bloomberg

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (145) – «Vergonhoso» é 2,6€ por mês. «Baixo mas bom» é 2,11€

O governo PSD-CDS aumentou em 2014 as pensões mínimas em 2,60€ por mês. Reacção da APRE (Associação de Pensionistas e Reformados) pela boca da socialista Rosário Gama: «Aumento de 7 cêntimos por dia é vergonhoso».

O governo PS da geringonça aumentou em 2017 o complemento solidário para idosos em 2,11€ por mês. Reacção da mesma socialista: «é baixo, mas é bom que exista».

(Recordado muito a propósito no Insurgente)

ESTADO DE SÍTIO: Habituem-se (6)

Outros Habituem-se

Um artigo do FT com o título «Costa confounds critics as Portuguese economy holds course», que poderia traduzir-se como «Costa mantém a economia a funcionar e confunde os críticos», teve uma inusitada atenção dos mídia e produziu, entre outros, títulos como os seguintes:

Financial Times: Governo de Costa “superou as expectativas”
Costa "confundiu os críticos" e superou as expectativas, avalia o Financial Times
António Costa superou expectativas, diz Financial Times
​Costa supera expectativas do “Financial Times”
Governo de Costa surpreendeu o Financial Times pela positiva
Governo. Financial Times fala em expetativas superadas, mas deixa alertas
Financial Times: Primeiro ano de Governo de Costa “superou expectativas”
Governo de Costa surpreendeu o Financial Times pela positiva
Financial Times: Costa "supera expectativas" no primeiro ano como primeiro-ministro

As avaliações que fazemos na vida e principalmente na política são influenciadas sobretudo pelas expectativas. Como as expectativas em relação à geringonça têm sido razoavelmente modestas e limitada a esperança de vida que lhe têm atribuído, é natural que só a sua sobrevivência seja considerado um feito. Para essas expectativas contribuiu involuntariamente Passos Coelho a anunciar a chegada de um diabo que ainda não chegou e, enquanto houver dinheiro ou crédito para lubrificar a clientela eleitoral da geringonça, não chegará, como não chegou no passado.

E, desta vez, Costa conta não só com a boa imprensa com que o PS costuma contar, como conta com todo o jornalismo de causas afecto a comunistas e bloquistas e, principalmente, com a tropa de choque sindicalista do PCP. Sem esquecer o presidente dos Afectos Marcelo que, enquanto convier aos seus joguinhos, levará Costa e a geringonça ao colo.

Falando no diabo de Passos Coelho, cito Meneses Leitão que escreveu no jornal i o que pode ser considerado um truísmo na política: «se há coisa que um político nunca pode fazer é assumir-se como profeta da desgraça e muito menos prometer o inferno aos seus eleitores. Porque de duas uma: ou o diabo não vem, e o político passa por falso profeta, ou o diabo vem, e o político passa por mensageiro do diabo».

No que me toca, embora considere que as políticas da geringonça são nocivas para o país e a prazo inviáveis, nunca lhe augurei uma vida curta. Três semanas depois da tomada de posse de Costa escrevi o primeiro post desta série de que este é a sexta sequela.

Voltando ao artigo do FT, Peter Wise, o autor do artigo, é demasiado wise para escrever a peça laudatória que os mídia portugueses implicitam, apesar dos esforços para lhe massajar as meninges de Ricardo Paes Mamede, um economista e dirigente do Manifesto 3D (um agrupamento que se propunha recompor a extrema esquerda portuguesa). Leia-se o seguinte excerto (tradução livre):

«O sucesso de Costa nas sondagens e no aumento do consumo privado deve muito à reversão das medidas de austeridade introduzidas durante o programa de ajustamento 2011-2014. Costa tomou a iniciativa rapidamente de restaurar os salários do sector público, as horas de trabalho, os feriados e as pensões do Estado até os níveis anteriores ao resgate. As reformas do mercado de trabalho também foram revertidas.

Schmieding (chief economist da Berenberg) adverte: "Infelizmente, esta é exatamente a maneira errada de atrair investimento estrangeiro suficiente para se aproximar, digamos, das taxas de crescimento do PIB espanhol".

De acordo com a UE e o FMI, o Sr. Costa está a atingir objectivos orçamentais através do congelamento do consumo público intermédio em áreas como a saúde e da redução do investimento público. Os críticos temem que isso esteja minimizando o problema muito grave da dívida pública. "É como se uma família dissesse que gastou apenas 1.000 euros a mais do que ganhou, enquanto viu sua dívida bancária aumentar 5.000 €", disse um académico.»